Lucas Headquarters #79 – O Renascimento de Mercedes
Depois de, há duas semanas, e no rescaldo do surpreendente anúncio
da Himeka, ter escrito uma entrada deste artigo um bocadinho mais sóbria (que
podem ver aqui), é com felicidade que vos digo que este é um dos artigos que
mais tenho ansiado por escrever, sobretudo à medida que as semanas iam passando
desde aquele momento em que Mercedes Moné (fka Sasha Banks) chegou à NJPW em
pleno WrestleKingdom.
E esta é a magia de quando se escrevem artigos semanais: Numa
semana estamos a pegar numa notícia menos boa para escrever alguma coisa, e
noutra já estamos todos empolgados porque aconteceu algo que reunia as mais
elevadas expectativas da nossa parte e queremos falar sobre isso.
E, por muito que queiramos dar a volta ao texto e arranjar
outro tópico, o tema esta semana não podia ser outro que não a estreia de
Mercedes nos ringues da NJPW, no Battle In The Valley, contra KAIRI. E estreia
de sonho, diga-se de passagem, porque saiu de lá com tudo: Com a vitória,
reações extremamente positivas dos fãs, e mais importante ainda, com o IWGP
Women’s Championship.
Confesso que Mercedes Moné é uma wrestler que já tive
em melhor conta do que tenho agora, muito por culpa da forma pouco esclarecida
e algo “à pita do liceu”, passo a expressão, como saiu da WWE, pondo em risco o
combate mais impactante de um show (neste caso do RAW) como é o Main
Event (ou como é suposto que seja, pelo menos).
No entanto, também não tenho dificuldades em assumir que o
papel dela, daqui para a frente, começaria a ser semelhante ao da Charlotte
Flair: Tendo já o seu currículo construído e tendo ganho indiscutivelmente o
seu lugar num futuro WWE Hall of Fame (que esperamos que ainda seja distante),
Mercedes começaria a ser empurrada pela garganta dos fãs abaixo, tirando
oportunidades que neste momento pessoas como Liv Morgan ou Raquel Rodriguez
merecem muito mais. O mesmo se diria, por exemplo, de Asuka, se esta não
tivesse andado perdida no meio do roster pelo menos nos últimos dois a
três anos.
Portanto, é só natural que Mercedes comece a olhar para
outras oportunidades, a procurar outras formas de manter o público investido
nela, a explorar outros mercados que se calhar muitas wrestlers não têm
a coragem de explorar. Mas já iremos abordar essa questão daqui a mais um
bocadinho.
Segundo, parece-me a mim que, independentemente de Mercedes
estar ou não em desacordo com os responsáveis da WWE na altura em que bateu com
a porta, uma saída da WWE pareceu-me sempre uma forte hipótese nestes últimos
dois a três anos.
Isto porque veio muitas vezes a público a informação de que Moné estava insatisfeita com o modo como as coisas estavam a correr por lá, e a própria também não fez por menos para alimentar a especulação.
Apesar de ter
contado várias conquistas individuais nesse período de tempo (duas vezes
Women’s Tag Team Champion com Bayley e Naomi, e ainda um reinado como SmackDown
Women’s Champion, que terminou num excelente combate contra Bianca Belair, que
muito comoveu ambas as wrestlers), Mercedes andou sempre num entra e sai
da WWE, colocando a sua carreira em suspenso: Uma pausa de quatro meses por
depressão depois de ter perdido os Women’s Tag Team Championships com Bayley e
outra de três, depois do referido combate no Maior Evento do Ano.
Até que acontece aquilo que todos nós sabemos e, mais uma vez, o percurso de Mercedes fica em suspenso. Mas ela aqui até se revelou boazinha para com a WWE, uma vez que, se tivesse sucesso nas suas duas principais concorrentes (AEW e IMPACT) provavelmente os responsáveis da WWE ficariam com quantidades tão grandes de azia que nem um pack de seis caixas de Rennie remediava a coisa.
E atenção que, relativamente à hipótese AEW, é bem possível
que isso aconteça, quanto muito devido à parceria que ambas as empresas têm e
que desemboca, todos os anos, numa edição do Forbidden Door. Mas eu não sei se
gostava de ver isso acontecer, porque não me apetece aturar a malta que tem
como único argumento para ignorar o trabalho da All Elite o clássico “a AEW
só subsiste de rejeitados da WWE”. Não quer dizer que não seja verdade, mas
é fácil contradizer esse argumento com o simples facto de que o único ex-WWE
que agora está em posição de destaque é, inconfundivelmente, Jon Moxley.
Até que aparece o mercado japonês. New Japan Pro
Wrestling/World Wonder Ring STARDOM. Ter uma run fora dos EUA era tanto um objetivo da
carreira de Mercedes como ter uma run fora do Japão é um objetivo para
muitas joshis. Mas creio que não é por aí que a escolha “Japão” se acaba
a revelar benéfica para ela.
Toni Storm. Bea Priestley. Jamie Hayter. Piper Niven. Quatro
nomes de uma lista já de si algo extensa, a que se juntam agora Mariah May e
Mercedes Moné. O Japão tem-se revelado, mais do que nunca, terreno fértil para
o desenvolvimento de muitas wrestlers. E com resultados: Afinal destas
quatro, só Bea Priestley (que agora responde por Blair Davenport) é que está
numa posição de menor destaque.
Voltemos, então, ao dia 18 de Fevereiro e ao combate de
estreia de Mercedes contra KAIRI. Confesso que não sabia muito bem como reagir
a este combate (já tinha visto Mercedes botchar o próprio finisher
quando apareceu pela primeira vez) mas confesso que fiquei agradavelmente
surpreendido, não só pela qualidade do combate em si mas pela influência de lucha
libre do qual Mercedes parece ter bebido um pouco.
Se fiquei desiludido por KAIRI ter tido um reinado de mais ou
menos três meses? Sim. Mas, a aura que Mercedes traz consigo hoje em dia é
gigante, precisamente pelo trabalho que fez na WWE e que ela, se calhar, sente
que não foi valorizado. Mas como “não há mal que sempre dure” no wrestling como
em tudo na vida, acredito que ela acabará por voltar para retificar alguns dos
erros que, também ela, possa ter cometido.
No horizonte, está um combate com AZM pelo título (que ainda
não tem data) e um combate com Mayu Iwatani, já marcado para o All Star Dream
Queendom 2, a 23 de Abril. Creio que já não existem grandes dúvidas sobre
aquilo de que Mercedes é capaz, mas quem a acompanha terá também a oportunidade
de ver o enorme contributo de Iwatani e da atual High Speed Champion para o wrestling
atual.
O que acharam da estreia de Mercedes Moné no Battle In The
Valley? O que esperam dela nesta aventura pelo Japão? Que expectativas
têm para os combates com AZM e Mayu Iwatani em Abril?
E assim termina mais uma edição dos “Lucas Headquarters”! Não
se esqueçam de passar pelo site do WN, pelo nosso Telegram, deixem opiniões aí
em baixo, sugiram temas, o costume. Para a semana, se tudo correr bem, cá
estarei com mais um artigo.
Peace and love, e até ao meu regresso!
(fechemos a edição desta semana com o incrível tributo de Mercedes Moné a Hana Kimura. Enquanto houver um fã que fale nela ou um(a) wrestler que lhe preste homenagem, a memória da Dangerous Flower jamais se apagará. #RememberHana)