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Literatura Wrestling | Yes! My Improbably Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 3 - Parte 1


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!




Capítulo 3: "Makin' Groceries" 
Terça-Feira, 1 de Abril, 2014 - 19:18

O Sol ainda só está a começar a descer quando as rodas do avião atingem o asfalto de Nova Orleães, apenas um pouco antes das 6 da tarde. Para quem já esteve num palco para uma conferência de imprensa, com transmissão em directo, para o maior evento de sempre da tua organização, já tem sido um dia longo, a sentir-se mais longo ainda com um voo de três horas e meia (mesmo que facilmente seja um breve salto para alguém que já fez uma viagem de um fim-de-semana para sair do Japão). Não há jet-lag a registar assim que equipas de câmaras capturam a chegada de Bryan e Brie e sua caminhada pelo aeroporto, antes da viagem até ao seu hotel no Quarteirão Francês de NOLA.

Títulos. Relacionamentos. Nutrição. Daniel Bryan tem as suas prioridades. É isto que envia o "Yes!" Man da WWE à montra da Whole Foods Market, no centro da cidade, quase imediatamente após a sua chegada à cidade. Ele e Brie dão entrada para o seu quarto de hotel e em seguida separam-se: Brie tem uma apresentação, Bryan segue para tratar dos mantimentos, "makin' groceries" como diz a gíria de Nova Orleães. É um ritual comum para Daniel Bryan, cuja rotina de estrada ao fim-de-semana normalmente inclui chegar a uma cidade na Sexta-Feira, de seguida encontrar o mercado orgânico mais próximo e abastecer-se para vários dias de viagem.

"Densidade de nutrientes é importante para mim," explica ele. "A nossa agenda é brutal. Tentar reabastecer tudo o que seja simplesmente vital. Não podes sempre confiar nas lojas para que cozinhem super saudável. Prefiro ter um batido de proteínas, uma fruta fresca e uns vegetais, que uma porcaria de salada de frango de um restaurante de fast-food." Sumariza, "É bom ter comida densa em nutrientes pronta para sempre que a precisares."

O corredor dos produtos é um corredor diferente daquele que a maioria de espectadores da WWE está habituados a ver Daniel Bryan caminhar. Ele empurra um carrinho médio e cuidadosamente selecciona uma quantidade séria de produtos - cenouras vibrantes, verdes, sete maçãs, sete bananas, múltiplas garrafas de sumos frescos - enquanto preenche uma lista de compras não-oficial para si e para a sua noiva. Apenas pára para cuidadosamente verificar os pacotes e as listas de ingredientes e para assinar um autógrafo para outro freguês/fã , encima de um recipiente de framboesas que repousa no seu carrinho. De algum modo, tudo isto é rotina.

"Tenho feito quase todas as compras para nós," diz Bryan, explicando que a instável agenda da sua quase-esposa tem vindo a aumentar desde a chegada do reality show "Total Divas". "Mas não sou tão bom a fazer compras como a Brie," admite ele francamente. "Tendo a gastar demais."

Bryan circula, de secção em secção, à procura de sustento para dias. Um Superstar do "círculo quadrado" que costumava andar com pequenos pacotes de sementes de abóbora nos bolsos do casaco, o "Yes!" Man é conhecido entre os seus amigos e base de fãs pela sua dieta única. Em Maio de 2013, Bryan desenvolveu uma intolerância à soja que o levou a abandonar o veganismo. Mas assim que as suas compras progridem pelo corredor das sobremesas dentro, torna-se aparente o quanto ele desfruta uma boa doçaria vegana. Bryan delira com mousse à base de abacate com pedaços de alfarroba, mas ele anda à caça de um biscoito de manteiga de amendoim específico para a Brie. Finalmente se contenta com sabor de chocolate e noz da Uncle Eddie, que se espera que o casal venha a partilhar.

"Tenho uma queda para os doces muito forte, mas oriento-me. Oriento-me com estas guloseimas saudáveis," comenta ele timidamente.

Esta superfície comercial em específico - que acontece vangloriar-se da sua mensagem de acessibilidade a comida saudável nesta particular vizinhança de NOLA - apela não só às necessidades dietéticas de Bryan mas também aos princípios e valores entranhados desde a nascença na expansão natural de Aberdeen. Em resumo, este é o seu tipo de lugar, até o cheiro terreal no ar.

Bryan cumprimenta um caixeiro, paga, e em seguida dirige-se de volta ao hotel para esperar pela sua noiva prestes a regressar. Passou de fato a t-shirt, de um palco no epicentro da cidade de Nova Iorque à secção de congelados de uma mercearia em Louisiana. Agora, enquanto ele ali está, a segurar os sacos de papel castanhos com as compras, enquanto espera por um elevador no lobby do Hotel Roosevelt, Bryan involuntariamente te lembra, pela vista, que ele é tudo a que um Campeão de topo da WWE nunca se assemelhou. Contudo, numa questão de dias, planeia erguer os símbolos dourados mais cobiçados em todo o "sports entertainment" para a sucessão de "Yes!" mais empática até então.

O elevador apita, as portas fecham-se, e a sua primeira noite em Nova Orleães rapidamente desaparece assim que o Domingo de Wrestlemania se aproxima cada vez mais.


Diz-se frequentemente que não escolhes por quem te apaixonas, que eu acredito que seja verdade. Também acredito que não escolhes aquilo por que te apaixonas. Às vezes coisas apenas se agarram à tua imaginação e nunca largam - e essa tem sido a minha experiência com wrestling profissional. A minha introdução ao wrestling é uma das minhas memórias mais antigas, e tenho-o adorado desde então.

Disse "uma das" e não "a" memória mais antiga porque a minha memória mais antiga envolve-me a queimar-me no rabo. Após todos os banhos na casa do meu avô Austin, Billie Sue e eu embrulhar-nos-íamos em toalhas e íamos para a beira do seu fogão a lenha para secar. No clima frio de Washington, o calor era sempre bom. Um dia, por volta dos quatro anos de idade, aproximei-me um pouco demais e queimei as minhas pequeninas nádegas no fogão - foi tão mau que cada bochecha fez bolha. Mais do que a própria queimadura, a memória mais vívida é da dor que sentia a cada vez que ia à sanita. Tenho sorte por não ter cicatrizes, especialmente visto que passo tanto tempo em televisão pública de calções curtos. Também existem algumas plateias ao vivo que já viram a minha traseira. Como é que pais iam explicar aquelas cicatrizes aos miúdos?

"Se eu te mostrar, tens que me prometer que não contas a ninguém," sussurrou o novo miúdo da turma. Tinha sido o primeiro dia do Abe como estudante da Escola Primária Central Park de Aberdeen, mas ele já tinha feito amigos. No final do dia escolar, o Abe andava a ser perseguido à volta de uma mesa pelo meu melhor amigo Warren, enquanto cantava "La cucaracha, la cucaracha! Por favor não me acertes no rabo!" Ele e o Warren vieram para minha casa nessa mesma tarde.

Encontrámo-nos sozinhos no meu quarto, agrupados à volta da mochila do Abe. Warren e eu estávamos entusiasmados com o que Abe tinha para nos mostrar. Abe olhou para um lado e para o outro como se suspeitasse de alguém a vigiar-nos enquanto lentamente abria o fecho da mochila. Ele conferiu para ter a certeza que não íamos contar a ninguém antes de ir buscar lá dentro um monte de revistas. Revistas de wrestling. Abe entregou uma revista a cada um e eu foquei-me nas imagens. Homens com músculos enormes com equipamentos ridículos lutavam com homens igualmente ridículos. Havia gigantes, anões, Indianos, cowboys, Russos, homens com pintura facial e picos - eu nunca tinha visto semelhante coisa! Era mágico. Warren rapidamente perdeu o interesse mas eu não conseguia parar de desfolhar cada página. Convenci o Abe a emprestar-me algumas das revistas e foi através das suas páginas gastas que eu me tornei viciado em wrestling.

Não passou muito tempo até os meus pais me encontrar a ler as revistas que eu devia ter mantido em segredo. Esconder coisas nunca foi o meu forte. Felizmente, não tinha com que me preocupar. Apesar de eles próprios não serem fãs de wrestling, os meus pais não estavam chateados. Eles até gostaram do facto de eu estar a tentar ler. E mais, eles viam que me fazia feliz.

Antes de me aperceber, os meus pais começaram a trazer-me para casa revistas de wrestling quando viam que tinha saído uma nova. Lenta mas seguramente, tornei-me um leitor melhor, o que era importante porque eu perdi muita escola.

Eu tenho muitas teorias doidas, muitas delas demasiado idióticas para serem impressas. Perguntem ao Nigel McGuinness sobre os meus pensamentos em relação à evolução do tamanho do pénis. Mas esta teoria idiota pertence um pouco a esta história, portanto cá vai.

É crença minha que, graças à medicina moderna, humanos pararam de evoluir de forma a produzir adultos saudáveis. Digo isto porque muitas crianças que teriam morrido há duzentos anos atrás agora vivem para se reproduzir com sucesso. Eles então passam as suas deficiências genéticas para os seus filhos, que depois passam-nas para os seus filhos, e por aí fora. Eu sou um desses: doente a minha infância inteira e ainda frequentemente doente em adulto. Sem a medicina moderna, eu certamente já teria falecido antes de poder procriar. E quem sabe, ainda posso. Independentemente, referir-me-ei a mim mesmo, afectivamente, como um "defeito."

Bri também é um defeito. Deixá-la-ei explicar os seus próprios defeitos no seu próprio livro, se ela escolher escrever um. Antes de começarmos a namorar, eu apontei-lhe isto e também lhe disse que seria genéticamente irresponsável para ambos termos filhos, visto que enfraqueceria a evolução dos humanos daqui para a frente. O que devíamos fazer, como espécie, seria a reprodução de superatletas inteligentes, como ao ter o John Cena a fazer bebés com a Jackie Joyner-Kersee. Tornou-se a nossa pequena piada privada, ambos sermos defeitos. E iremos, a certa altura, tentar o nosso melhor para a involução da nossa espécie.

A minha doença persistente começou com asma viral e, como descobrimos mais tarde, eu era alérgico a erva e árvores e quase todo o pêlo de animal - o que não me impedia de tentar dormir com a minha beagle Millie quase todas as noites. Muitas vezes eu acordava com os olhos quase completamente cerrados de inchaço. Após as minhas alergias serem descobertas, comecei a levar injecções semanais (facilmente mais de 150 doses), o que me ajudou até certo ponto. Ainda assim, sempre que estava lá fora ou a praticar desporto, a relva tomava a melhor sobre mim. Acabei por apanhar ainda várias infecções respiratórias, e havia alturas em que eu perderia uma ou duas semanas de escola de uma vez. Um Dezembro, perdi quase o mês inteiro antes das férias do Natal. Perder tanta escola, suspeito eu, tornou-me ainda menos social, mas olhando para o lado positivo, tornei-me confortável a entreter-me sozinho e a desenvolver os meus interesses.

Eu ainda assim conseguia sempre boas notas, muito por causa da escola ser relativamente fácil para mim. Matemática parecia um pequeno puzzle divertido para eu decifrar e eu gostava de ler. Isso basicamente cobre a educação primária.

Estando doente todo o tempo, nunca aprendi a nadar devidamente porque as aulas eram durante a escola. Não consigo nadar em freestyle, para trás, para os lados. Mas se nadar à cão e chapinhar fosse um desporto Olímpico, eu até era capaz de ter uma chance por ter passado tanto tempo a treinar enquanto os restantes estavam todos a aprender a nadar como deve ser.

Para além do nado, estar doente não me impediu de fazer muito. Apesar das minhas alergias à relva, eu estava sempre a praticar desporto, muito devido a adorar estar ao ar livre. Em diferentes alturas, joguei praticamente de tudo - futebol, futebol americano, basebol e basquetebol. Fiz corrida, atletismo, pratiquei wrestling e até tentei golfe num Verão, com uns tacos emprestados por um amigo.

Pratiquei todos os desportos e não era bom em nenhum deles. Nunca tive a mentalidade necessária para ser bom em desporto. Eram apenas jogos para mim e relativamente sem importância; era difícil para mim preocupar-me com ganhar ou perder. Desde que não houvesse muita pressão, eu divertia-me. Por isso é que eu adorava os treinos. Algumas pessoas detestavam os exercícios e viam o treino como trabalho. Eu via como sendo capaz de jogar contra os meus amigos, sem pressão. Gostava dos exercícios em quase todos os desportos porque era divertido para mim ver melhorias funcionais.

Um bom exemplo da minha mentalidade atlética estava no quanto eu gostava de atletismo. Mesmo que eu só tenha praticado atletismo por um par de épocas, era o meu favorito porque havia tantas modalidades onde participar. Fiz arremesso de peso, atirei dardos e corri variadas distâncias, desde os 100 metros aos 3200, e ainda testei os meus dotes com o disco e em todas as modalidades de salto. Mais uma vez, tentei de tudo e era podre em tudo - especialmente no salto à vara, que eu adorava. A sério, o que há a não adorar? Corres com um pau na mão e usas-lo para saltar o mais alto que conseguires e depois aterras num colchão grande e fofo. A cena é que, eu não sou grande fã das alturas, logo eu praticava e praticava e praticava, porque era divertido, mas nunca passava nada acima dos oito pés. Pessoas conseguem oito pés em saltos simples em altura. A minha única realização atlética verdadeira foi ser nomeado MVP do esquadrão C no meu segundo ano de liceu, em basquetebol. Pelo menos, eu gosto de dizer às pessoas que eu fui o MVP. O prémio que tive foi, na verdade, um prémio do treinador por todo o trabalho duro e todos os bons estudantes do segundo ano jogavam na equipa do colégio. Suponho que afinal não seja assim grande realização.

(...)


No próximo capítulo: O "Literaturas Wrestling" tirará uma breve pausa mas há mais desta obra para vos dar logo. E continuará o terceiro capítulo e a olhar para passado e juventude de Bryan. Desde os seus primeiros empregos ao quanto também ele ligava àqueles avisos para "não tentarem isto em casa"!

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