Lucas Headquarters #216 – Survivor Series: Serão os WarGames o formato ideal?
Ora então boas tardes, comadres, compadres, duendes e renas!!
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias, nesta que é a primeira edição deste último mês do ano e que
chega tarde e a más horas porque quando a família se mete no meio, já se sabe o
que acontece.
Ora, eu quis publicar esta edição no Sábado – como é, de resto,
a regra da esmagadora maioria dos casos, fora pontuais e justificadas exceções –
mas, como ainda não tinha visto o Survivor Series, decidi ver primeiro e
escrever depois, certo de que, fosse qual fosse o desfecho, haveria matéria
suficiente para refletir por esta semana. E parece que não me enganei, bem pelo
contrário, acertei em cheio.
Bem sabemos que a WWE é capaz do melhor e do pior, e isso não
se refere apenas ao produto em si: Refere-se também às opiniões e aos pontos de
vista, naquilo que são naturais reações mais apaixonadas (ou mais incendiárias,
dependendo de como correm as coisas) que justificam a paixão dos fãs. Há sempre
quem ache que o PLE foi bom, há sempre quem pensei que não foi nem carne, nem
peixe, e há sempre quem pense que foi mau. É assim que funciona.
O caso do Survivor Series este ano não foi exceção: Houve
reações positivas, reações mistas e reações negativas. Mas eu notei, entre
tantas opiniões que tenho lido desde ontem de manhã, que a esmagadora maioria
das opiniões que se podem encontrar por essa internet fora relativamente a este
PLE foram marcadamente negativas.
Não pude deixar de reparar, também, na especificidade dessas
mesmas opiniões: Houve quem se referisse ao PLE no geral, usando os quatro
combates como ingrediente para formar um bolo que corresponde à avaliação daquilo
que foi visto; e houve quem se referisse a pontos mais específicos, como o
regresso de Liv Morgan no combate entre o John Cena e o Dominik Mysterio, o Jey
Uso a reproduzir a própria entrada em meio ao WarGames masculino e – o ponto
mais comum entre estas abordagens mais específicas – o homem mistério que
contribuiu de sobremaneira para o desfecho do WarGames masculino (e que os
jornalistas da especialidade pensam saber quem é – não vou revelar o nome, tenham
lá paciência, se ainda há uma réstia de kayfabe viva, que seja mantida e
da forma mais sagrada possível).
WarGames. Quando falamos de WarGames, falamos de uma estipulação muito
mais antiga do que aquilo que, à partida, se possa pensar. Uma estipulação que apareceu
na NWA, no já longínquo ano de 1987, e cujo conceito foi cunhado por – quem mais?
– Dusty Rhodes, o American Dream. Não vale a pena estar a contar aqui
toda a história e tudo aquilo que são os cânones e as regras da coisa, se quiserem
uma perspetiva mais histórica daquilo que são os WarGames, têm a edição #117
deste espaço, que escrevi há dois anos a esta parte e que podem ler aqui.
Desde a sua “conceção” (se é que é possível usar este termo)
até ao ponto em que nos encontramos, os WarGames enquanto estipulação já
nasceram, cresceram, alcançaram o pico de popularidade na WCW, foram brutalmente
obliviados da memória coletiva com o fim desta, foram ressuscitados pela WWE em
2015 e levemente modificados pela AEW uns anos mais tarde – tudo isto sem
perder a noção do conceito original, o que é um ponto positivo, quer se esteja
mais familiarizado com a versão da WWE ou com a versão da AEW, denominada Blood
And Guts.
O curioso é que, no wrestling como em tudo na vida, o
que é antigo é, quase sempre, o mais popular. Não há qualquer problema com
isso, a meu ver – é um coping mechanism que o ser humano utiliza para se
escudar da crueldade do presente, mesmo que o passado também não tenha sido uma
coisa propriamente benigna ou digna de recordação. Ainda hoje há milhares de
fãs que imploram, quase a pés juntos, por um regresso da Attitude Era e da
Ruthless Aggression Era, mesmo sabendo que a WWE/TKO não quer saber dessas
suplicas para nada, e também me parece que já deixaram isso claro por várias
vezes.
No caso dos WarGames, tenho visto o efeito contrário, ou
quase contrário. Parece que era um conceito que toda a gente estava entusiasmada
por ver ressurgir – sobretudo nos tempos áureos do NXT – mas que agora, toda a
gente diz que parece não encaixa mais ou que perdeu o sentido.
E antes de entrarmos na discussão se os WarGames ainda nos
servem ou não, deixem-me dizer-vos que ambos os WarGames deste ano foram
francamente mais. O feminino acabou por ser melhor do que o masculino, não por
questões de star power (aí acredito que as coisas estivessem mais ou
menos equilibradas entre si) mas porque, não sabendo quanto a vocês, mas eu
acho que as histórias do lado feminino estão melhor construídas do que do lado
masculino, e grande parte disso se deve a uma humanização de nomes como
Charlotte Flair e Rhea Ripley que ainda não vimos, por exemplo, com Roman
Reigns. Isto é, mesmo estando fora da rota do título – e espero que assim se
mantenham por mais uns tempos, até porque agora regressou a Liv Morgan – continuam
a ter propósitos que não sejam, ou que não se restrinjam, tão somente, a estar
no topo.
Com Roman Reigns ainda não vimos isso. Houve uma ténue
evolução desde há um ano para cá, na medida em que Roman Reigns deixou de ser
um heel “a cem por cento” e passou a ser um tweener, acrescentando
uma maior profundidade à sua gimmick de Tribal Chief, profundidade essa
que, apesar de bem-vinda, não é suficiente. Ainda se nota muita da arrogância,
muita da prepotência e soberba que marcou e que deu vida àquela que foi a sua gimmick
durante quatro anos. Aliás, viu-se isso ao longo das semanas que antecederam
este Survivor Series (sobretudo no RAW antes do PLE) e até após o combate, pese
embora entre Cody e Roman, tudo o que aconteceu pareçam ser águas passadas…
Será que os WarGames ainda cumprem o seu
propósito?
Recuperemos, pois, a premissa inicial do artigo desta semana,
pegando, como sempre, naquilo que tem sido o feedback dos fãs relativamente
ao Survivor Series. Será que o Survivor Series, num formato que incorpora os
WarGames, ainda cumpre o propósito de proporcionar bons combates e boa
continuação das storylines?
Vejamos. Há muita gente que diz que os WarGames já não
funcionam, que era melhor que se voltasse ao formato de “guerra entre as brands”
que culminaria no tradicional 5-on-5. Eu, pessoalmente, não sei se concordo.
Não sei se concordo porque eu acho que a questão não está no
facto de os WarGames existirem ou não, dos 5-on-5 elimination matches existirem
ou não, porque, no fundo, se os 5-on-5 elimination
matches fossem mal bookados como os WarGames deste ano foram, toda a gente estaria a implorar por
um regresso dos WarGames, assim como se, no próximo ano, os WarGames voltarem a
ser tão mal bookados como foram os deste ano, toda a gente
voltará a implorar por um regresso dos 5-on-5 elimination matches. É
aquela pescadinha de rabo na boca, estão a ver?
Contudo, uma coisa me parece
certa: Parece-me que os WarGames são, neste momento, uma “desculpa” para juntar
aleatoriamente uma dúzia de estrelas para que estas proporcionem um bom
espetáculo, sem que para isso haja uma história convincente ou um fio condutor
que possibilite manter o interesse. O que é que eu quero dizer com isto?
Quando se preparam os WarGames Matches,
muito embora as storylines fiquem,
muitas vezes, relegadas para um plano menor, há sempre uma que assume destaque
e atua como fundamento para a razão pela qual as duas equipas se enfrentam,
isto é, aquela storyline atua como
razão para a existência daquele combate.
Nos últimos anos tivemos, por
exemplo, storylines relacionadas com o papel de Roman
Reigns como Tribal Chief, quer
seja de forma mais direta (por exemplo, a integração de Sami Zayn, como nos
WarGames de 2022) ou de forma mais indireta, como a reação de certos wrestlers ao passado de Roman Reigns na Bloodline e a forma
como eles lidam com isso (como, por exemplo, nos WarGames do ano passado, em
que o foco foi a coexistência pouco pacífica entre o Tribal Chief e CM Punk).
A questão é que, muitas vezes, se
põe o foco na storyline errada, e
por essa razão o combate acaba por não produzir o efeito desejado, ou então são
acrescentados elementos que, à partida, são estranhos àquela storyline (ou até à estipulação em si) e acabam por estragar
toda a dinâmica de um combate.
Um exemplo disso é o War Games masculino
deste ano: Bronson Reed até entrou bem no combate, fazendo-se notar com pelo
menos três Tsunamis e marcando posição. Uns minutos mais tarde, CM Punk
consegue acertar um GTS em Logan Paul e o combate chega a um ponto decisivo.
Mas depois… aparece-nos aquele homem misterioso, cuja identidade ninguém conhece,
mas que todos suspeitam conhecer. Que necessidade havia de se introduzir este
elemento estranho? O que é que ele vem acrescentar ao combate e à storyline que eles necessitem assim tão desesperadamente?
Serve isto para dizer que sim: O
juízo que tem sido feito dos WarGames – sobretudo do masculino – é justo, é
fundamentado, é acertado. Os combates estiveram, evidentemente, abaixo do
esperado por uma série de razões, e isso acabou por deixar uma enorme mancha
num PPV que, por ser um dos chamados “quatro grandes”, tem, também, a obrigação
de ser consistente.
Porém, o motivo que se apresenta
para justificar o falhanço dos WarGames enquanto estipulação é superficial e
pouco preciso. Percebo que a preferência pelo clássico formato 5-on-5 elimination match tenha até um fundamento histórico-famoso, na
medida em que foi assim que o Survivor Series ganhou um lugar na História da
WWE. Mas esse mesmo formato já não era perfeito antes do ressurgimento dos
WarGames, e também não o passa a ser agora. Assim como os WarGames enquanto
estipulação incorporada no PLE não eram uma má ideia quando ressurgiram em 2022
e também não passam a sê-lo só porque este correu mal. Há, isso sim, que
melhorar a nível do booking, mas
mudar a estipulação por si só não resolve nada.
E vocês, o que acharam do Survivor
Series: WarGames deste ano? Acham que a WWE devia regressar ao formato original
do PPV?
E assim termina mais uma edição de "Lucas
Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas nossas
redes sociais, deixar sugestões aí em baixo... o habitual. Para a semana cá
estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!


