Lucas Headquarters #117 - WarGames: A história de um filme de ação contada no ringue
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Bem-vindos
sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!
Brrrrr, que agora é que vem frio à séria, e mesmo a um mês do Natal!! Lá está,
é aquele ditado que acaba sempre por cumprir-se: “Ande o frio por onde andar, no Natal vem cá parar”. Mas digam-me:
Estão quentinhos? Manta enroscadinha nas pernas? Espero que sim, porque a
edição desta semana vai ser muito interessante, sobretudo para a malta que
gosta de saber a história por detrás de certas estipulações de combates.
Mas antes de irmos diretos ao assunto que me traz até vós este fim-de-semana, contem-me cá: O que é que acharam do Full Gear? Sinceramente, tendo em conta outros PPV que a Elite apresentou ao longo deste ano, acho até que não foi nada de especial.
Não quero, com isto, dizer que foi
mau – longe disso, se há coisa que a AEW é é positivamente consistente. Mas,
quando se tem um combate que vale pelo show
todo (Hangman Adam Page vs Swerve Strickland, naquele que, para mim, foi
o melhor Texas Death Match que me lembro de alguma vez ter visto) corre-se
sempre o risco do resto do card ficar,
irremediavelmente, para segundo plano.
E não podíamos falar de Full Gear sem falarmos da contratação de Will Ospreay. Eu sei, eu sei: Havia muita gente que esperava que ele acabasse na WWE, mas a verdade é que a sua contratação por parte da AEW acaba por ser normal, ele que já tinha feito, tal como Kota Ibushi, uma mão cheia de aparições pela companhia de Tony Khan. E detesto desapontar-vos mas… com Okada não será diferente. A WWE anda a tentar seduzi-lo, mas quem tem dois dedos de testa rapidamente verá que o que estão a dar ao Nakamura tem tanto de push como a CMTV tem de canal de televisão nada sensacionalista.
Adiante. Hoje é noite de Survivor Series, um dos quatro grand
slams do ano para a WWE (ao lado do Royal Rumble, WrestleMania e
Summerslam). E se é verdade que a marca registada do Survivor Series tem quase
sempre sido os cinco contra cinco de eliminação (num dos quais Undertaker se
estreou, fez esta quarta-feira 33 anos), nos últimos anos há uma outra
estipulação que tem marcado este PPV.
E é precisamente a História dessa estipulação que vos quero
contar hoje. Uma estipulação que, se calhar, à altura em que surgiu (final dos
anos 80) muita gente achou que era demasiado… arrojada, que não ia dar certo – mas
a verdade é que hoje, à luz, talvez, de uma lembrança póstuma, permanece como
uma das mais geniais criações saídas da imaginação de Dusty Rhodes. ´
Tanto que, anos depois da sua morte em 2015, a WWE fez
questão de a ressuscitar como forma de homenagem ao seu criador: Primeiro, no
NXT, onde ficou eternamente célebre, em parte, devido ao icónico grito de
William Regal (que já todos tentámos imitar!) e depois no Main Roster, onde já
há um par de anos permanece como o tema principal do Survivor Series,
misturando-se com o conceito de “batalha de brands” que, honestamente, já
começava a tresandar a cliché.
Esta estipulação traduz-se à letra como “Jogos de Guerra”.
Mas, como usar levianamente a palavra “guerra” em tempos tão criticamente
sensíveis para todos nós é um risco demasiado grande, deixem-me apenas citar o
título e dizer que esta estipulação cuja história hoje vos conto é como se
fosse um típico filme de ação contado num ringue. Ou melhor, em dois, porque
Dusty Rhodes achou que conter tanta ação num ringue só não era suficiente.
WarGames: As regras
Duvido muito que haja alguém que não conheça – ou não esteja
minimamente familiarizado – com as regras dos WarGames. Mas isto é quase
protocolar e serve, quanto mais não seja, para situar quem lê e dar contexto.
As regras dos WarGames estão rodeadas da tal peculiaridade
logística que ainda agora falei – sobretudo o facto de termos não um, mas dois
ringues – e podem parecer confusas ao início, mas na verdade são bem fáceis de
perceber.
Participam neste combate duas equipas, ambas contendo três a
cinco wrestlers, sendo que, regra geral, o número de wrestlers por cada equipa quase sempre varia entre quatro a cinco. Cada
uma delas vai ser encabeçada por um capitão.
Logisticamente falando, temos dois ringues dispostos lado a
lado, cada qual envolto numa jaula aberta, tornando isto numa espécie de Steel Cage Multi Men Tag Team Match. Uma
vez mais, isto varia de empresa para empresa: Na NWA e na WCW a jaula era
totalmente fechada, assemelhando-se assim a um Hell in a Cell.
Na versão atual usada pela WWE, existem no palco da arena
existem duas jaulas mais pequenas, que vão conter os participantes. A uma das
equipas é dada uma vantagem, e ao fim de cinco minutos, o membro da equipa
avantajada (escolhido pelo capitão) entra finalmente em combate, causando uma
situação handicap. Depois disto, o
período passa de cinco para dois minutos, e os membros de ambas as equipas vão
entrando alternadamente até que todos estejam dentro dos ringues e os WarGames
possam oficialmente começar (isto embora a ação já esteja a acontecer antes
disso).
A vantagem, quase sempre dada à equipa heel (para efeitos de heat
e reações do público), era dada inicialmente através do velho método da “moeda
ao ar”, mas hoje, obviamente, o método usado faz-se através de um simples
combate entre dois dos representantes.
Nos primeiros anos de vigência do combate, a vitória
decidia-se por subjugação ou ainda…
rendição. Quer isto dizer que um wrestler
podia simplesmente render-se (similar ao que se faz num I Quit match) com a diferença de não
estar preso numa subjugação. Na versão da WWE, a vitória decide-se pelos meios
usuais: pinfalls e subjugações, sendo
que, obviamente, desqualificações não existem neste caso.
Blood and
Guts Match: Que diferenças?
Com o ressurgimento dos WarGames na WWE a correr de vento em
popa, é óbvio que a All Elite Wrestling iria tentar replicar o conceito, numa
daquelas situações de “posso copiar o teu TPC?” “podes, mas certifica-te que
não parecem iguais”.
E assim nasceu o Blood and Guts Match, um combate em
tudo igual aos WarGames que a WWE tirou do baú, mas com uma diferença: Na
versão original, a vitória poderia dar-se por knockout, condição que não
se verificou na versão usada pela empresa de Tony Khan.
A curiosa origem dos WarGames
Que o criador e impulsionador desta estipulação é nada mais
nada menos do que Dusty Rhodes, isso já toda a gente sabe. E não deixa de ser
poético que o filho Cody participe finalmente no conceito criado pelo próprio
pai, já que mesmo estando na All Elite Wrestling, nunca chegou a participar na
versão dos WarGames idealizada por Tony Khan – denominada Blood and Guts – e
que converge em quase tudo com o conceito originalmente idealizado.
Mas se o nome do criador dos WarGames é sobejamente
conhecido, a fonte de inspiração para a estipulação, essa, nem tanto. E isto
não acontece por ignorância dos fãs, longe disso, mas porque a fonte de
inspiração vem de uma área que, embora faça uso, muitas vezes, da ação que é
essencial ao wrestling, nada tem a ver com a modalidade. Ainda assim,
muitos fãs de wrestling são também fiéis apreciadores daquela que se
conhece como sendo a Sétima Arte: O cinema.
O filme em questão é Mad Max: Além da Cúpula do Trovão (originalmente
Mad Max Beyond Thunderdome), uma película de ação pós-apocalíptica em
que Mad Max chega a uma cidade governada por Turner, torna-se gladiador e é
abandonado no deserto para ser adotado por um bando de órfãos selvagens, que
interpreta a sua chegada como um sinal e o convence a voltar à cidade.
Já que se falou em Cody Rhodes, não deixa de ser inquietante
que o ano em que o filme foi lançado (1985) é precisamente o ano de nascimento
do segundo filho do criador desta estipulação, e que a sua participação num WarGames
Match se dê quase quarenta anos depois do lançamento do filme.
O combate foi inicialmente concebido como uma estipulação de
assinatura dos The Four Horsemen e inicialmente era chamado de WarGames:
The Match Beyond. O combate seguia o curso normal, mas a parte conhecida
como The Match Beyond só começava quando todos os participantes em
questão estivessem em ringue, sendo aplicadas as rendas originalmente
idealizadas.
O melhor WarGames de sempre
Seria sacrilégio falar nos WarGames sem falar daquele que se
considera ser o melhor WarGames Match de sempre.
E aqui, como é natural, não existe um consenso absoluto – há
quem considere o primeiro combate desta estipulação (que opôs Road Warriors,
Nikita Koloff e Dusty Rhodes aos The Four Horsemen, no Great American
Bash de 1987) como o melhor WarGames de sempre, mas a critica especializada
entende que esse título vai para o WarGames de 1992, em que a equipa conhecida
por Sting’s Squadron (composta por Sting, Nikita Koloff, Dusty Rhodes,
Ricky Steamboat e Barry Windham) se opôs à Dangerous Alliance de Arn
Anderson, Bobby Eaton, “Stunning” Steve Austin, Larry Zbysko e Rick Rude).
O vigésimo quarto WarGames Match da história teve lugar no último WrestleWar de sempre (ocorrido a 17 de Maio de 1992) e fica marcado pela interferência de Madusa (aka Alundra Blaze) que deu o telefone que pertencia a Paul E. Dangerously (nka Paul Heyman, na altura manager da Dangerous Alliance) a Arn Anderson, fazendo-o passar por uma brecha da estrutura.
Pouco depois, Sting entrou em combate a rubricou mais uma performance para a
história da sua lendária carreira, com foco especial em Arn Anderson e Rick Roode.
No final, o esquadrão que liderou venceu a aliança adversária, numa contenda
com 23 minutos de duração.
IYO SKY: Totalista dos WarGames
modernos
Quando os WarGames ressurgiram em 2017, já a memória de Dusty
Rhodes enquanto criador do combate estava meio apagada. Isso abriu espaço a que
uma nova wrestler pudesse escrever o seu nome na História dos WarGames:
IYO SKY.
A wrestler japonesa marcou uma era no NXT e está
atualmente a repetir façanha no Main Roster, sendo a atual WWE Women’s
Champion e uma parte essencial das Damage CTRL. Mas a Genius of the Sky não só
marcou uma era na brand amarela como gravou perpetuamente o seu nome na
História do combate, ao ser a única wrestler ao participar em todas as
edições femininas dos WarGames organizadas pela WWE, o que faz dela a totalista
dos WarGames desde que a empresa trouxe o conceito de volta à sua programação.
E vocês, são fãs dos WarGames? Qual o vosso WarGames Match
favorito?
E assim termina esta edição mais histórica de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram… para a semana cá estarei com mais um artigo!
Peace and love, até ao meu regresso!! Que seja um grande Survivor Series!!