Ultimas

Lucas Headquarters #192 – A purga


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! Espero sinceramente que a edição desta semana vos encontre. Só isso. Bem ou mal, mas que vos encontre. Porquê? Porque isto é tanta coisa… é o Papa Leão, é o Dérbi, é o Papa Leão em dia de Dérbi… sinto que já quase ninguém fala nos meus artigos (bem, para vos ser honesto, isso acontece quando há Leões e Dérbies e quando não há também, portanto, estamos bem).


Ora, hoje o assunto é solene. É solene e não deixa, também, de ser triste. Eu confesso que gostava de vos falar noutra coisa, mas o meu tempo para acompanhar wrestling tem sido reduzido nesta última semana porque ando a preparar projetos (não só aqui no site, mas no plano pessoal também) portanto o meu foco para esta semana vai ter de se virar única e exclusivamente para este assunto.


E está certo que estamos a chegar a um ponto em que falar destes tópicos é, em bom português, “bater no ceguinho”, mas acho que está na altura de confessarmos que não conseguimos ficar indiferentes cada vez que a WWE faz uma daquelas suas purgas em massa, acabando a despedir dezenas de wrestlers que às vezes contrata só para impedir que outras empresas o façam.


Ficamos zangados, atónitos, perguntamo-nos “porquê?” (e eu dou por mim a fazer essa pergunta em quase todas as vezes que isso acontece) mas nunca ficamos indiferentes. Talvez porque este negócio tantas vezes cruel significa demasiado para nós, de tal maneira que não pensemos que quem dá o corpo (e não raras vezes, a vida) pelo nosso entretenimento não mereça fazer parte dele e disfrutar de todas as coisas boas que traz, sejam de que natureza for.


Talvez porque, em meio a toda esta aventura do wrestling, nós ainda fechamos, muitas vezes, a nossa mente ao presente e não pensamos no futuro, isto é, de cada vez que acontece uma onda de despedimentos destes, vemos os wrestlers a ser dispensados, a não ver os seus contratos renovados e pensamos, muitas vezes, que é o fim das carreiras deles, que fora da WWE, ou da AEW, ou de qualquer outra empresa, nunca mais vão ter o sucesso que tiveram até ali.


Talvez porque, num ato de raiva catártica, usamos as dispensas e os despedimentos, os cortes salariais e os contratos não renovados como escudo para descarregar a nossa raiva e frustração nas empresas ou nos donos das companhias; para termos finalmente razões e argumentos sólidos e válidos para lhes apontarmos o nosso dedo acusador que se acha dono de toda a razão.


Talvez porque – e isto não é um caso tão raro assim – muitos dos wrestlers que são dispensados após serem tratados como pesos mortos são, no fundo do nosso coração, wrestlers que apreciamos, apesar de, na altura, não nos importarmos muito com eles, numa de tentar, também nós, branquear o ato de dispensar trabalhadores.


Pode dar-se um destes quatro cenários, e qualquer um deles será legítimo. Mas a verdade é que nós nunca ficamos indiferentes.


E a mais recente onda de despedimentos dentro da WWE não tem tanto a ver com noções de lealdade (como eu fiz questão de assinalar aqui em Setembro de 2023, quando abordei uma onda de despedimentos dentro da empresa que aconteceu mais ou menos por essa altura e que afetou nomes como Dolph Ziggler, Elias (nka Elijah) e Matt Riddle, sendo uma consequência natural da fusão entre a WWE e a UFC que havia sido oficializada havia pouco tempo), mas ao mesmo tempo tem. 


Não tem tanto a ver com aceitar migalhas para continuar a ter alguma exposição naquela que é a maior empresa de wrestling a nível mundial, mas ao mesmo tempo tem. Não tem tanto a ver com o fazer o que lhes é pedido, por mais degradante que possa parecer, de modo a não ter que ficar noventa dias parado enquanto os salários e os cheques vão caindo que nem tordos na conta dos colegas, mas ao mesmo tempo tem. 


Tem a ver com tudo isso, porque foi isso que os wrestlers que foram despedidos e que não viram os seus contratos renovados fizeram. Um deles já foi Mr. Money In The Bank, World Champion, foi um dos poucos que, num período conturbado como o da pandemia, se predispôs a carregar a empresa nas suas costas (juntamente com o Drew McIntyre, que era o WWE Champion na altura em que a maleita rebentou).



Uma das outras nunca teve a exposição que merecia (sabe-se lá porquê, e agora também não vale a pena tentar saber). Se calhar não era tão boa em ringue. Se calhar não era uma fonte de carisma (ou, no mínimo, alguém polarizador que suscitasse diferentes reações no mesmo público).


Mas foi alguém que teve a humildade de descer onde tudo começou quantas vezes fossem necessárias. Alguém que, no meio do azar, utilizou o facto de ter perdido algum espaço (que outras já vinham conquistando) para poder ajudar quem precisava de ganhar mais experiência, ou de aprender/adaptar-se ao modo como a WWE funciona.



Obviamente que já perceberam de quem é que eu estou a falar. Shotzi e Braun Strowman, caso ainda não tenham lá chegado. E podia ter escolhido falar logo das restantes dispensas/não-renovações, mas escolhi falar destas primeiro sobretudo porque chego a uma conclusão que não queria ter de tirar: Talvez a forma como a WWE trata os seus wrestlers quando o assunto é ver-se livre deles (e sim, a expressão é mesmo esta) não tenha mudado assim tanto. 


Quanto muito, o que mudou foi a perceção que nós criamos acerca da forma como Triple H gere estes assuntos, porque temos para com ele uma perceção totalmente diferente (em quase tudo) daquela que tínhamos para com Vince McMahon, de quem já estávamos habituados a ver as maiores megalomanias.


E agora, muitos de vocês poderão dizer-me “ah, mas a WWE é uma empresa, sempre foi assim e sempre assim será”. E, como sempre, têm toda a razão. A questão é que, desde que houve a fusão com a UFC e a subsequente criação do grupo TKO, a WWE passou a olhar para o aspeto económico de uma forma que se calhar roça um bocadinho a obsessão, isto quando é perfeitamente capaz de gerar lucro de forma continuada porque vai haver sempre gente a comprar merch, vai haver sempre gente a ir aos shows e PLE’s…



E depois quem é que paga o preço disso? Aqueles wrestlers que, como já disse, são excelentes company men, aliando não só a qualidade do seu trabalho como também a recetividade de fazer tudo o que a empresa pede sem grandes protestos, apenas pelo bem do entretenimento. Se olharmos exclusivamente a esse parâmetro, Shotzi e Braun Strowman são dos wrestlers mais fiáveis que a WWE tinha atualmente (é claro que há mais, lembro-me agora do Kofi Kingston, que mesmo antes dos New Day fez sempre tudo o que lhe foi pedido, mas para efeitos de artigo foco-me só nestes dois nomes).


O mesmo se aplica, por exemplo, a Gigi Dolin. Gigi Dolin tinha o potencial para ser um dos grandes nomes da Divisão Feminina da WWE nos próximos anos (inclusive foi a wrestler que apadrinhou a estreia de Sareee quando esta passou pelo NXT). Só que andou todo o tempo entretida a fazer parte de várias stables, e a WWE nunca lhe deu a hipótese de mostrar aquilo que realmente é capaz de fazer. E ela, reclamou? Prendeu o machinho, como se costuma dizer? Foi para as redes sociais fazer birra? Não. Entregou tudo. Mesmo que aquele não fosse o papel que ela queria, verdadeiramente, desempenhar.



Com Dakota Kai, mas sobretudo com Cora Jade, por exemplo, o caso já é um pouco diferente. Tudo o que se disse sobre Shotzi, Braun e Gigi poderia ser dito sobre Dakota Kai. Dakota Kai foi uma wrestler em quem Triple H viu algo que Vince McMahon nunca chegou a ver. Há dez anos, por exemplo, passou pela STARDOM, foi Artist of STARDOM Champion (ao lado de Hiroyo Matsumoto e Kellie Skater, isto embora o seu reinado não tenha sido muito grande, durou apenas dois meses e pouco).



Tudo isto lhe valeu um bilhete para o primeiro Mae Young Classic, onde deixou uma excelente impressão: Derrotou Kavita Devi na primeira ronda e Rhea Ripley na segunda, tendo caído nos quartos-de-final para a vencedora Kairi Sane. Teve um bom período no NXT (onde serviu de complemento a uma Raquel Rodriguez que estava na sua melhor fase e que chegou, inclusive, a ser NXT Women’s Champion) mas saiu em 2022. 


E aqui é que está o plot twist: Supostamente, Dakota Kai disse que não estava nos seus planos renovar o contrato quando saísse. Então, mas se a intenção era essa, porque é que ela voltou dois meses depois para formar as Damage CTRL com a Iyo e a Bayley? Pois… Não é que ela não quisesse renovar contrato, mas sabia que foi tratada muito abaixo daquilo que merecia.




Já Cora Jade, é um caso que me deixa triste, não tanto por ter sido dispensada, mas pelas razões que levaram a isso. Cora Jade é uma wrestler com um potencial imenso, muitíssimo jovem ainda (24 anos apenas) mas que parecia estar já a querer trilhar um percurso semelhante ao de Rhea Ripley (apenas com a diferença de que a Mami muito provavelmente já era campeã com essa idade). Tudo parecia estar a alinhar-se para que Cora Jade fosse um dos grandes nomes da nova geração de wrestlers da empresa.



Mas as lesões, infelizmente, estragaram tudo. Cora Jade rompeu o ligamento cruzado anterior de um dos joelhos (lesão grave, como bem sabemos) no NXT Deadline de 2023, e ficou de fora nove meses. Regressou apenas na estreia do NXT na CW no início de Outubro passado, para impedir Giulia de ganhar o NXT Women’s Championship logo no seu primeiro teste de fogo, isto na tentativa de gerar algum heat (pardon the pun). Não conseguiu: A sua contemporânea Roxanne Perez já estava a milhas dela em todos os aspetos, e nem a breve dupla que ambas fizeram conseguiu recuperar os nove meses de carreira que perdeu. Se calhar, até foi melhor assim.




Quanto a Katana Chance, Kayden Carter e Shayna Baszler, não tenho nada a apontar que não tenha já dito. As primeiras duas até funcionavam bem como dupla, mas a ribalta chegou até elas numa fase em que a Women’s Tag Team Division está para lá de morta.


Relativamente a Shayna Baszler, é uma saída que me deixa alguma mágoa, sobretudo depois daquele período entre 2018 e 2020 em que ela esteve em alta no NXT e chegou a ter algum destaque na WWE (sobretudo quando quis armar-se em vampira e morder a Becky Lynch em pleno RAW) mas, aos 44 anos de idade, já não lhe resta muito tempo para se destacar, e com a fornada de novos talentos que a WWE se prepara para lançar nos próximos, é justo dizer que o que era para ser já foi, e os seus melhores tempos já ficaram para trás.





Em suma, o que me fica de toda esta “purga” que a WWE realizou recentemente é a forma como acabou por destruir todo um midcard do presente e do futuro, midcard esse que até parecia bastante sólido, sobretudo no aspeto feminino (que é aquele que quase sempre se viu mais necessitado). 


Fica aquela impressão que tantas vezes reiterei na edição de hoje: Se nos queremos ver livres daqueles que, mesmo em papéis pouco dignos, dão tudo de si pela empresa que gerimos, que impressão é que criamos nos outros? Às vezes, manter um roster sólido e um balneário coeso é mais importante do que pensar somente no lucro. Mas quem sou eu para dizer isto, não é?


O que acharam desta onda de despedimentos? O que esperam para o futuro dos wrestlers que saíram?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site e pelas nossas redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… O costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!! E antes que me esqueça, bom Backlash!!

Com tecnologia do Blogger.