Lucas Headquarters #191 - Ano Zero
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!! Que tal foi esse Dia do Trabalhador? Bom? Não aproveitaram
as promoções? Vocês sabem, aquelas que o Pingo Doce fez aí… nevermind.
Ora, hoje, como seria de esperar, trago para vocês as
rupercussões do que se passou neste último Domingo (27 de Abril), no All Star
Grand Queendom da STARDOM. E sim, o título do artigo desta semana faz mesmo
lembrar um título de um qualquer videojogo que está na berra, mas neste caso,
quando deixo implícito que a STARDOM vai entrar no seu “Ano Zero”, é mesmo
porque vai entrar no seu ano zero. Mas já lá vamos.
É interessante verificar o quanto a STARDOM evoluiu em termos
daquilo que era a organização do seu calendário. Passo a explicar.
Normalmente, toda a empresa de wrestling tem aquele
PPV (ou PLE, conforme queiram) que é considerado pelos fãs, pela crítica e pela
própria empresa como sendo o seu principal PPV: A WWE tem a WrestleMania,
o TNA tem o Bound for Glory, e assim por diante (a altura em que se
realiza é perfeitamente indiferente e nunca tem, regra geral, qualquer
significado simbólico associado).
A STARDOM não tinha disso. Sim, se calhar podemos considerar o 5-STAR GP e a Goddesses of STARDOM Tag League como sendo os ápices do calendário da empresa, e até as alturas do ano em que ocorrem confirmam isso: O 5-STAR GP acontece sempre ao longo do Verão (as datas deste ano até já foram anunciadas), e começa, geralmente, na altura em que estamos ali entre o Forbidden Door e o Summerslam (depois do primeiro e antes do segundo).
Desde
que Taro Okada tomou as rédeas da empresa que a sua duração foi encurtada,
passando de pouco mais de dois meses (de finais de Julho até finais de
Setembro/inícios de Outubro) para apenas um (de finais de Julho a finais de
Agosto). O Goddesses of STARDOM Tag League acontece, por sua vez, quando a WWE
entra no caminho para o Survivor Series e a AEW anda ali entre o WrestleDream e
o Full Gear (Outubro-Novembro, portanto). A duração, essa, mantém-se quase
sempre a mesma: vai de três semanas até um mês, no máximo. Já com Rossy Ogawa
assim era.
A questão aqui é que a STARDOM não tinha um PPV equivalente à
WrestleMania, mesmo quando a sua empresa-irmã, a New Japan, tinha o
WrestleKingdom, que já vem, bem sabemos, de décadas. Havia torneios para fazer
equivalência com o Best of Super Juniors, mas PPV declarado… nunca houve. Essa
questão ficava, geralmente, ao critério dos fãs, que escolhiam o Dream Queendom
(PPV que acontece sempre no último fim-de-semana do ano civil) como o ápice do
ano para a empresa (e era essa a sensação que o Rossy Ogawa nos dava).
Felizmente, isso parece estar a mudar. Desde há dois anos
para cá (a primeira edição foi em 2023) que a STARDOM estabeleceu o All Star
Grand Queendom e que nos tem feito sentir que aquele sim, é o culminar de um
ano para a empresa.
O primeiro ponto que parece comprovar isso é que este evento
tem sido, desde o seu estabelecimento, bastante pródigo em surpresas, desde o
abrupto fim do reinado de Giulia como World of STARDOM Champion em 2023 (perdeu para Tam
Nakano após apenas 115 dias como Campeã, depois de ter conquistado o título das
mãos de Syuri no Dream Queendom de 2022) até à excomunhão de Starlight Kid
daquilo que ainda eram as Oedo Tai e mais tarde se viriam a tornar as H.A.T.E.,
entrando Thekla para o seu lugar. A primeira foi deveras mais surpreendente do
que a segunda, até porque Starlight Kid acabaria por dar excelente conta do seu
recado ao fundar as Neo Genesis.
[Vidéo] Les highlights du main event de #STARDOM All Star Grand Queendom 2023 Giulia VS Tam Nakano!pic.twitter.com/3waaHG8BCt
— Global Catch (@global_catch) April 23, 2023
OEDO TAI TURNS ON STARLIGHT KID???#STARDOM pic.twitter.com/6PsKyV4hXQ
— Peps🪭 (@Peps_Wrestling) April 27, 2024
O segundo ponto é, mais uma vez, a questão do calendário. O All Star Grand Queendom acontece, quase sempre, no final do mês de Abril. O que é que também acontece quase sempre no final do mês de Abril? A WrestleMania. Coincidência? Quase de certeza que sim, só que eu gostava de culpar a WWE por andar a copiar coisas de outras empresas e desta vez não posso, porque a WrestleMania apareceu há quase tanto tempo como a minha mãe.
Voltemos a falar da expressão “Ano Zero” e, com isso,
mergulhemos definitivamente naquilo que aconteceu no passado Domingo. “Ano
Zero”, a bem dizer, é algo que a STARDOM já atravessa mais ou menos desde que
houve todo aquele escândalo que levou à saída do Rossy Ogawa, isto há quase um
ano e meio. Só que, nessa altura, seria de certa maneira incorreto utilizar
essa expressão “Ano Zero”, porque acima de tudo aquilo que havia era incerteza,
muita incerteza.
Havia vários nomes a partir em debandada (Giulia estava de
malas aviadas para a WWE, MIRAI, Utami Hayashishita, Mai Sakurai e outras
tantas já se tinham comprometido com aquilo que viria a ser a MARIGOLD) e havia
uma recém-ultrapassada crise de lesões, que foi igualmente origem de muitas
incertezas.
Chegados a este ponto, parece-me que é mais apropriado dizer
que a STARDOM está, finalmente, a atravessar aquilo que é o seu “Ano Zero” e a
começar de novo. A poeira já assentou (pese embora tenham sido muitas as
decisões polémicas e muito pouco consensuais que Taro Okada tomou) e a malta
parece, finalmente, estar disposta a dar uma oportunidade à nova administração,
depois de um ano a suportar aquelas que foram as muitas “dores de crescimento”
e a habituação de Taro Okada ao novo posto, que lhe trouxe muitas
responsabilidades e que o colocou, como sabemos, no olho do furacão (aqui entre
nós, o mini-círculo do joshi é um dos mais exigentes que existe dentro
do grande círculo do wrestling).
Mas outra razão pela qual a STARDOM está também em Ano Zero é
porque, pela primeira vez desde que, em 2020, Arisa Hoshiki se retirou e Hana
Kimura faleceu (tudo num intervalo de três dias) a empresa se vê privada de
nomes que foram determinantes para o seu crescimento e desenvolvimento ao longo
da última década, ainda para mais numa fase em que a WWE haveria de contratar
Kairi Sane e IYO SKY num curto intervalo de tempo. (podíamos falar de Himeka?
Podíamos, com certeza. Mas o impacto que a sua curta carreira deixou foi mais
emocional que objetivo, e estará sempre mais associado aquilo que foram as
então Donna del Mondo como um grupo mais do que a algum destaque ou mérito
individual).
De um modo geral, é este o grande impacto que a edição do All
Star Dream Queendom nos deixa: A tristeza de um fechar de vários ciclos (e
também, o facto de tal acontecer de diferentes formas) mas a expectativa de
saber que novas oportunidades surgirão, sobretudo agora que a poeira assentou e
que há vários nomes a (re)ssurgir.
Que ciclos são esses? Segue então a análise.
Tam Nakano
Comecemos do mais óbvio para o menos óbvio. Podia até começar
pela Mayu Iwatani (e já vão perceber porquê, mas se leram o primeiro artigo do
ano saberão a razão) mas vou começar pela Tam, porque o seu adeus aos ringues
já era algo que estava em equação pelo menos desde o Verão de 2021 (lembro-me
porque, na altura em que fiz a edição #40 deste espaço – a primeira vez que
falei de STARDOM – já se colocava essa hipótese).
Tam Nakano perdeu o career vs career que teve contra
Saya Kamitani, combate esse que foi o Main Event do All Star Grand Queendom. De
acordo com a estipulação, Nakano foi, pois, obrigada a encerrar uma carreira de
nove anos, onde conquistou praticamente tudo, foi líder de uma das grandes stables
da empresa e até foi dupla campeã ali em meados de 2023, durante uma mini-feud
com Mina Shirakawa pelo Wonder of STARDOM Championship.
Tam Nakano and Saya Kamitani sat together at the entrance and embraced as black feathers fell from above.
— meraWRESTLING (@meraWRESTLING) April 27, 2025
Tam pointed towards the sky and the lights went out.
And just like that, Tam Nakano's pro-wrestling career has come to an end.#STARDOM pic.twitter.com/mtOIslLL3b
Confesso que nunca fui grande fã da agora ex-líder das Cosmic
Angels (e, pelo que tenho visto ao longo destes anos a acompanhar o joshi, pertenço a uma minúscula parcela de gente que nutre pela Tam o mesmo
sentimento que eu) e, antes que me perguntem, não é pela sua carreira ter terminado
de forma altamente cinemática e emotiva que isso alguma vez mudará. Nada contra
a Tam Nakano, mas simplesmente há bastantes lutadoras que são superiores a ela
no ringue, e a sua gimmick é um bocadinho…
estereotipada, digamos.
Mas é inegável o quanto Tam influenciou
a STARDOM – e a indústria do wrestling no geral –
em menos de uma década. Pelo que conquistou, pela forma como liderou o seu
grupo, pela forma como sempre se apresentou perante o seu público. Poucos wrestlers têm a honra e o condão de dizer que a sua carreira
serviu de inspiração para que aqueles que até ali eram meros fãs quisessem,
evidentemente, seguir os seus passos e subir ao ringue. Tam Nakano é uma dessas
wrestlers.
Mas é inegável o quanto Tam influenciou
a STARDOM – e a indústria do wrestling no geral –
em menos de uma década. Pelo que conquistou, pela forma como liderou o seu
grupo, pela forma como sempre se apresentou perante o seu público. Poucos wrestlers têm a honra e o condão de dizer que a sua carreira
serviu de inspiração para que aqueles que até ali eram meros fãs quisessem,
evidentemente, seguir os seus passos e subir ao ringue. Tam Nakano é uma dessas
wrestlers.
"Everything is because of you."
— JJ Williams (@JJWilliamsWON) April 27, 2025
~ Saya Kamitani to Tam Nakano via translation.#STARDOM pic.twitter.com/5LHN3kGD1y
O que é que o futuro reserva para as Cosmic Angels? Não sabemos. Natsupoi parece ser a mais bem posicionada para assumir o posto de liderança do grupo, ela que sempre foi uma espécie de second-in-command dentro das Kozuen, mesmo imediatamente depois de ter entrado. Será que alguma das rookies se vai revelar como a líder que o grupo precisa?
Serão Saori Anou ou Yuna Mizumori, na
sua infinita experiência, a oferecer uma liderança forte e firme? Tantas
perguntas… Uma coisa me parece certa: Tam Nakano tinha um modelo de liderança que,
na minha opinião, apenas Giulia e Syuri conseguiram igualar. Uma liderança com
carisma, com presença e com identidade. As Cosmic Angels vão certamente ficar órfãs
disso.
Mayu
Iwatani
Mais uma vez, eu podia ter começado
por falar da Mayu, até porque quem leu o primeiro artigo de 2025 sabe que uma
das minhas previsões para este ano era que aquela que era até aqui considerada
o “ícone” da STARDOM iria acabar por assinar pela MARIGOLD (e isso faz-me
constatar que até agora acertei em duas das três previsões que fiz, nada mau).
Mas não o fiz porque, volto a dizer, o fim de carreira de Tam estava há muito
mais tempo em equação.
Não quer isto dizer que a saída de
Mayu Iwatani não seja uma ferida enorme no panorama da STARDOM, porque é.
Arrisco até dizer que é uma ferida que vai demorar um longo tempo a curar.
Mayu Iwatani esteve na STARDOM desde
o primeiro dia, e muito poucas pessoas estariam dispostas a aguentar o barco
nas empresas delas da forma que Mayu aguentou na sua. Num dos períodos em que a
STARDOM poderia ter sofrido mais com as ausências de talento (aquele período
entre 2017 e 2020 em que Kairi Sane e IYO SKY vão para a WWE, Arisa Hoshiki é
obrigada a terminar a carreira devido a lesão em meio a um dos melhores reinados
do Wonder of STARDOM Championship e Hana Kimura falece tragicamente) Mayu Iwatani
aguentou o barco com a firmeza e liderança de quem navega aquele mar melhor do
que qualquer outro marinheiro. Mayu Iwatani foi a primeira IWGP Women’s
Champion, e mesmo aquele título não tendo o destaque que se calhar a própria
queria que tivesse (espero que com Syuri isso mude) ela carregou o título
durante dois anos. DOIS ANOS!! Se isto não é icónico, eu não sei o que é…
É certo que este não é o fim do
fenómeno que é Mayu Iwatani, que continuará certamente a dar-nos o dom da sua
presença na MARIGOLD. Mas para a STARDOM, perder Mayu Iwatani é quase como
perder uma mãe. Felizmente, Taro Okada parece estar a dar sinais de que trará
Sareee para fazer o papel de madrasta…
Thekla
Este acaba por ser o ciclo menos
importante a ser fechado. Thekla não é uma péssima wrestler (nem tão
pouco uma má wrestler) mas
sejamos honestos: O estilo dela adequa-se muito mais à cena americana do que
propriamente à japonesa. Todo o hype que ela
gera vem mais dos seus maneirismos enquanto Toxic Spider do que
propriamente daquilo que ela faz dentro do ringue. Repito: Ela não é uma má wrestler. Mas talvez isto explique o porquê de ela ter sido quase
sempre uma terceira roda nas stables onde
esteve.
Nas H.A.T.E., não foi mais do que
uma bully que cumpre o mesmo papel daqueles caramelos
que se oferecem no fim da montra do Preço Certo: Compôr o ramalhete. Nunca
chegou a ter uma feud de
destaque que servisse para que realmente pudéssemos ver o seu potencial, e
limitou-se apenas a servir de corrimão para que as outras colegas se apoiassem
na escadaria até ao sucesso.
Diz-se que estará de malas feitas
para a América, e que tanto WWE como AEW estarão de olho nela. Na minha
opinião, com as recentes adições de Megan Bayne e Mina Shirakawa ao roster da Elite, será muito pouco provável que Tony Khan
queira avançar para a sua contratação. E também não me surpreenderia se Thekla
acabasse por escolher a WWE: O seu compatriota Gunther está lá, e a sua fiel
amiga Giulia também. Estará para vir uma reunião das Mafia Bella? O tempo dirá. Mas, a julgar pelo modo como correu
esta última storyline (uma das
coisas mais ignóbeis que já vi nos últimos tempos) não me parece que a STARDOM
vá acusar muito a ausência da austríaca.
Tendo em conta o fechar destes três
ciclos, de quem acham que a STARDOM vai sentir mais falta? Que expectativas têm
para este “recomeço” da empresa?
E assim termina mais uma edição de
“Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site e pelas nossas
redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… O costume. Para a semana cá
estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!