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Lucas Headquarters #118 – O regresso de Punk a "casa" (ou o "worst kept secret" do wrestling)


Janeiro 2014. Vince McMahon chama CM Punk ao backstage.


Vince McMahon: “Filho, tenho uma missão para ti.”


CM Punk: “Diga, senhor!”


Vince McMahon: “O meu eu do futuro disse-me que daqui a uns cinco anos vai surgir uma nova empresa de wrestling”.


CM Punk: “O senhor tem um eu do futuro?”


Vince McMahon: “Tenho. Ele diz que eu vou estar sob investigação e tal, tipo… LOL!! Mal sabe ele que se não conseguem provar os crimes dos políticos, também não me conseguem pôr dentro do “chlindró.”. Mas não interessa: O que preciso que faças é que tires sete anos de férias e que vás para essa companhia e a destruas por dentro. Custe o que custar. Nem que antes disso tenhas de vir cá para fora dizer que isto aqui na WWE é tudo uma valente m**** e que nunca mais voltas a lutar. O que interessa é que eles caiam na conversa primeiro, e que faças o que tens a fazer depois”.

CM Punk: “Certo. Então e depois?”


Vince McMahon: “Depois podes voltar”.


CM Punk: “Tem a certeza, senhor?”


Vince McMahon: “Claro. O meu eu do futuro disse-me que o moço que vai ser o presidente dessa empresa tem falta de pulso firme, é jovenzinho, tem cadastro limpo… ele é muito inocente nestas coisas. De maneira que vais lá, deixas aquilo de pantanas, ele como não tem uma dúzia de lacaios de meia idade a obedecerem-lhe faz um “coletivo de juízes” com os wrestlers, eles expulsam-te, mas como não têm, à partida, moral para tomar decisões dessas, isso só vai servir para colocar a malta do nosso lado.”


CM Punk: “Compreendo. Parece um plano um bocado arriscado, mas eficaz”.


Vince McMahon: “Não te preocupes, pá. A malta aqui sabe o valor que tens. O público adora-te. O meu eu do futuro disse-me que, pela altura em que o plano estiver cumprido, a AJ Lee já terá terminado a carreira. Portanto, como recompensa, se isto der mesmo bom resultado, eu deixo-te trazer a AJ Lee para o primeiro Royal Rumble depois do teu regresso. Agora vai, estamos a contar contigo!”.


(Se pensarem bem no modo como as coisas aconteceram desde 2014 até agora, até vos vai parecer que tudo aconteceu do modo que este diálogo descreve). 


Ora então boas tardes, comadres, compadres, duendes e renas do Pai Natal!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais um “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! E eis que chegámos ao último mês do ano, Dezembro, mês de muita festa, muita comida, a malta que tem queda para a filosofia vai dizer que é um mês de agradecimento e reflexão… E na verdade até é, porque daqui a umas semanas vamos estar a passar em revista tudo o que aconteceu (de bom e de menos bom) nestes doze meses.


E por falar em coisas que aconteceram, o que é que acharam do Survivor Series? Bem bom, não foi? Os WarGames foram fantásticos, os restantes combates foram um bocadinho apressados, o que é normal, dois WarGames ocupam, à vontade, pouco mais de uma hora, e a WWE já se apercebeu – e bem – que maior nem sempre quer dizer melhor. 



Quem, como eu, acompanha o mundo louco que é o futebol (independentemente do clube que apoia) certamente já deve ter ouvido falar nesta frase: “O futebol é o momento”.


E esta é uma frase que dói cá dentro, que muitas vezes custa um bocado a engolir, porque nós, humanos, somos seres que são feitos de processos. Nós pensamos, planeamos, pesamos prós e avaliamos contras antes de executarmos. Ao contrário do que diz o icónico tema de entrada do Matt Hardy, nós não “vivemos para o momento”. Sim, ele chegará, será mais duro ou mais leve conforme as circunstâncias em que nos encontrarmos, mas ele chegará. E quando ele chega, só nos resta aproveitá-lo (se for positivo) ou tirar lições e coisas a corrigir (se for negativo).


A semelhança que o futebol e o wrestling têm é que nada nestes dois desportos permanece estático. Há sempre coisas que estão constantemente a acontecer, e muitos de nós, não sendo jornalistas, não temos acesso a muitas delas, e quando temos, aquilo que os nossos olhos vêem é apenas uma ínfima parte do que aconteceu. É apenas a ponta do icebergue (no Titanic, tho).


CM Punk voltou a pisar terreno da WWE depois de quase dez anos em que esteve de costas voltadas com a empresa (e com o wrestling, numa fase inicial, embora isso fosse apenas fogo de vista). 


E, como não poderia deixar de ser, o público de Chicago foi ao sétimo céu e mais além, ao ouvir as primeiras notas de guitarra que pontuam esse clássico dos Living Colour chamado “Cult of Personality” e ao ver o seu herói local surgir, qual D. Sebastião a voltar para salvar a Pátria perdida, para confirmar aquilo que julgávamos a pés juntos não saber, que negávamos com toda a força que os nossos “nãos” podem trazer: Phil Brooks, ele mesmo, está de regresso ao ponto zero, à casa de partida, àquela empresa que lhe deu tudo e tudo lhe tirou.



E porque é que se diz que “o wrestling é o momento”? Porque, neste momento, não existe wrestler que seja melhor exemplo disso do que CM Punk. Neste momento não existe wrestler que melhor exemplifique o quão fácil é mudar uma opinião, um ponto de vista, uma abordagem a qualquer situação, do que Phil Brooks.


Portanto, muito contra a vontade de quem, ainda hoje, critica a sua decisão de voltar onde tudo começou, CM Punk acaba por ser, em última análise, um arquétipo, um modelo do ser humano, porque não vale a pena estarmos aqui a fazermo-nos de santos: Todos nós já dissemos “desta água não beberei” e acabamos a beber dessa mesma água porque estávamos com sede e não tínhamos mais onde beber.




Obviamente que CM Punk não é nenhum santo no meio desta história, os casos Brawl Out e Brawl In serão eternas manchas na sua carreira e currículo, mas tudo o que dissermos sobre o que aconteceu no Sábado só dará azo a duas coisas. 


Em primeiro lugar, fomenta o tribalismo, e em segundo, dá razão àquela velha máxima que os invejosos usam para salvar a pele: “Falem bem ou mal de mim, o que interessa é que falem de mim!”. E é isso que está a acontecer, e que acontecerá – obviamente, durante os próximos meses e possivelmente até à Wrestlemania, já que depois disso se espera que o impacto deste retorno já tenha arrefecido.



Este regresso está revestido de coincidências e de detalhes que nos vão, no mínimo, deixar a pensar durante uns tempos. É um regresso que não se dá apenas para causar impacto em si mesmo, porque se fosse por isso, muito dificilmente todo este processo teria sido mantido semanas em segredo (e sim, venham dizer-me que o CM Punk só assinou o contrato na noite do próprio retorno… isso pode até ter acontecido, mas eu não acredito que não houvesse pelo menos um princípio de acordo há pelo menos um mês).


O regresso de CM Punk é um regresso estratégico, e isto acontece a vários níveis. É um regresso que demonstra como o paradigma mudou (e ainda há duas semanas, creio, vos falei aqui disso – numa altura em que ainda não se sabia bem qual era o futuro de Will Ospreay), que se situa entre a necessidade e a hipocrisia. A parte da hipocrisia já meio que falámos dela aqui, mas falta precisamente falar da necessidade.


A necessidade explica-se de forma muito simples e óbvia. A WWE perdeu Edge (nka Adam Copeland) e o já supracitado Will Ospreay para a Elite. Roman Reigns irá, provavelmente, perder o título na Wrestlemania 40 (ainda assim, quando o assunto é Roman Reigns e o Undisputed Universal Championship, aquilo que vos tenho a dizer é “nunca fiando…”) e, com a perda do título, irá passar definitivamente a part-timer. 


O interesse em Okada mantém-se, mas não houve desenvolvimentos significativos no processo, encontrando-se o wrestler japonês provavelmente no mesmo limbo onde Will Ospreay se encontrou até ao Full Gear.





Seth Rollins anda a lutar, passando o estrangeirismo, “in borrowed time”, com uma lesão nas costas que já tem quatro, cinco anos, e que lhe pode, potencialmente, encontrar o tempo de carreira que ainda tem pela frente se este não dar um tempo ao círculo quadrado.


O futuro de Drew McIntyre, apesar de haver uma certa mudança na sua gimmick (não vou chamar àquilo um heel turn de pleno direito, a mim continua a parecer-me que McIntyre se posiciona mais como um “anti-herói” dentro da dinâmica da WWE) continua incerto. Não há fumo branco quanto à renovação do seu contrato, e não se sabe se ele continuará a aparecer na programação da empresa.



Como já mencionei aqui, o paradigma mudou. Quando a AEW surgiu, a WWE conseguia contratar todos os nomes de topo, enquanto a Elite contratava Kenny Omega, Young Bucks e Chris Jericho e o resto do roster era feito de oportunidades dadas aos nomes mais promissores do circuito independente. 


Eu não sei se repararam (e as últimas contratações que a AEW fez são reveladoras nesse aspeto) mas hoje em dia, a Elite consegue, com relativo à vontade, assegurar os serviços dos nomes de topo enquanto a WWE se vê obrigada a construir todo um roster feito de moços e moças que levam anos a mostrar-se nas indies.


Toda esta conjugação de fatores dá fundamento à questão da necessidade: Com a WWE a perder todos os nomes de topo para a concorrência, com um dos seus campeões a necessitar de descanso, com outro a passar a part-timer depois da WrestleMania e um dos seus grandes nomes numa incerteza contratual, a empresa precisa de um wrestler de renome para colocar no topo.



Outra questão, menos visível a olho nu, tem a ver com os direitos televisivos. Numa altura em que a WWE anda a empreender muitos esforços com a questão dos acordos de direitos televisivos (até se fala que uma das consequências de um possível futuro acordo será a mudança do dia de emissão do Monday Night RAW), o regresso de CM Punk pode ajudar e muito a resolver essa questão. Basta pormos as coisas da seguinte forma: Qual é o canal de televisão que não quer emitir um programa de wrestling em que Phil Brooks esteja presente?


CM Punk e o problema do tribalismo

 



Já começa a ser um tópico comum e tem sido recorrentemente falado por aqui, inclusive na entrada de hoje já foi referenciado de forma mais ou menos direta, com mais ou menos floreado, mas a verdade é que esta é a consequência mais natural do regresso de CM Punk, pelo que tem de ser falada aqui.


E isso acontece não só pelo fenómeno do tribalismo em si, que se manifesta por “dá cá aquela palha” – passo a expressão – mas porque, nos últimos dias, têm vindo a público novos detalhes sobre o despedimento de Punk na AEW.


Naquele diálogo humorístico com que abri a edição de hoje, faço referência a um “coletivo de juízes” feito pelos wrestlers. Ora, veio a público que Bryan Danielson esteve à cabeça de um “comité de disciplina” que votou pela expulsão de Punk da companhia. Danielson é visto como um “compasso moral” dentro da AEW – por outras palavras, apresenta uma elevada ética de trabalho e é visto como um líder de balneário.




Isto só prova uma coisa aquilo que já nas edições 57, 58 e 106 (quando falei do Brawl Out e do despedimento de Punk da AEW) tinha dito a respeito de Tony Khan: Tem a virtude de tornar muito do fantasy booking dos fãs em realidade, não descansa enquanto não levar o wrestling para junto das massas, marcando grandes eventos, enchendo grandes estádios… mas na hora da verdade, na hora de mostrar que é ele o presidente da AEW e que a sua autoridade deve ser tida em conta, claudica. Esconde-se. Diz que teme pela vida quando vive melhor do que metade do roster que tem em mãos (e eles nem vivem assim tão mal).


Se assim não fosse, porque é que Tony Khan haveria de colocar o destino da carreira de CM Punk na AEW nas mãos daqueles que, comparado com ele, são iguais em termos de estatuto? Ainda se fosse nas mãos dos Young Bucks ou do Kenny Omega, que são Vice-Presidentes Executivos (e, na prática, têm poder para quase tudo), ainda se justificava. Agora, que virtudes e privilégios tem Bryan Danielson por ser um “compasso moral” e um líder de balneário?



Como se não houvesse cartas suficientes para jogar nesta versão wrestling da “Guerra dos Tronos”, todos nós sabemos como é o CM Punk. Alguém que, no que toca ao wrestling, consegue misturar kayfabe e realidade de uma maneira tão exímia que quase pensamos que é um talento nato. Um desbocado. Um iconoclasta. Alguém que não tem medo de dizer o que pensa, não importa se o alvo é Vince McMahon ou Tony Khan. A sua personalidade (e recentes conflitos) só vão atirar lenha nesta fogueira.


Os “apoiantes” da AEW vão orgulhosamente falar do incidente que houve com Jack Perry para repudiar este próximo passo da sua carreira. Por sua vez, os “apoiantes” da WWE vão citar os nomes do próprio Punk, Jade Cargill e Cody Rhodes como nomes a quem a AEW não conseguiu encher completamente as medidas (e Cody foi um dos que ajudou a fundar a empresa). 




Serve isto para dizer o quê, em jeito de conclusão? Que CM Punk provavelmente continua a ser um lobo em pele de cordeiro, que a WWE já o avisou que à primeira escorregadela, está fora, não importa o quão boa seja a sua relação com Triple H neste momento. 


Mas, se há três meses tínhamos apenas informações do modo como CM Punk se tinha comportado, com as informações que respeitam a Bryan Danielson, uma coisa nos parece certa: CM Punk teve comportamentos reprováveis que levaram ao seu despedimento da Elite, mas não se pode dizer que certos colegas de balneário não o tenham querido ver pelas costas.


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Independentemente de tudo isto, o regresso de CM Punk vai, de certa forma, “rejuvenescer” o wrestling, na medida em que poderá trazer de volta muitos fãs que deixaram de acompanhar WWE e o wrestling em geral. Dá-se, então, uma win-win situation: A WWE volta a ganhar público e Punk, sozinho, afigura-se como uma fonte de rendimento: Arenas vão encher, as vendas de merch vão aumentar, e a empresa vai, obviamente, lucrar. 


Uma coisa é certa: Se o homem a ocupar a cadeira do poder fosse Vince McMahon, este pedaço de História que vimos no Sábado passado não teria sido possível. Mas parece claro que Phil Brooks está a voltar a ter amor por aquilo que nasceu para fazer.




O que dizem do regresso de CM Punk à WWE? Como vos parece que a AEW reagirá a isto?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!

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