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Slobber Knocker #102: Pescoços não são para brincadeiras...


Bem-vindos a esta nova edição do Slobber Knocker. Como já devem supor pelo título e pela altura que atravessamos, será um tema sério. Para os lutadores em questão, mais sério ainda.

Todos nós já sabemos uma coisa. E se não o souberem, deviam convencer-se já disso. O wrestling é uma modalidade que deve ser praticada com segurança, mas não é por isso que se deva achar que eles andam ali a aterrar em algodão ou a fazer que fazem. As lesões são bem sérias e há algumas mais sérias do que outras. Que o diga Daniel Bryan, que já se viu prejudicado com o azar de sofrer com a mais temida: lesão no pescoço.

Desde o momento em que essa parte tão frágil e vital é afectada, pode acontecer do pior ao mais leve - nunca acontecendo algo bom. Carreiras encurtam e algumas acabam logo. No seguinte artigo, pretendo listar alguns casos de lutadores bem conhecidos por nós, que já se viram com problemas às custas de fracturas e lesões naquele ponto sensível que é o pescoço...

Daniel Bryan


O caso presente e que deu ideia ao artigo. Daniel Bryan, o Superstar que finalmente chega ao merecido topo, encontra-se, neste momento, de baixa como consequência de uma dessas preocupantes lesões. Foi acontecer-lhe das piores e na pior altura. Quando tinha conseguido, finalmente, escalar a enorme escada ao topo e tornar-se WWE World Heavyweight Champion. Ainda estávamos nós e ele no início de saborear um reinado longo e promissor, que colocaria Bryan no topo de forma permanente - ou assim esperávamos nós - e aparece-lhe este azar.

Assim até parece que Bryan não está destinado a ter um reinado longo e, olhando para dentro da história e do universo "kayfabesco", aquele cinto parece dar-lhe azar. Claro que agora servirá como uma boa e fácil ferramente para heat dos seus rivais e apenas aumentará o seu seguro estatuto de "underdog". Mas cai com peso e que nem uma bomba.

Já sabemos que a sua cirurgia foi com sucesso e que já está tudo aberto para que tenha uma boa recuperação. Por muito que custe não o ter por TV, é uma situação em que temos que lhe dar o tempo necessário para recuperar bem e ainda não se sabe o tempo necessário para tal. Não lhe façam uma à Cena - e não devem fazer - em que apressam as coisas e, mal podem, já o têm a dar ao litro no ringue. Kane fica aqui com os louros e até detém alguns deles na realidade, apesar de se poder considerar que esta lesão de Bryan tenha sido uma acumulação de lesões e que não vem propriamente de agora. Nos seguintes casos, procuro justificar as causas das lesões.

Steve Austin


Um caso conhecido e do qual até falei recentemente, mas por outras andanças que não estas. Stone Cold é um lutador já retirado há uns bons anos mas que ainda nem é assim tão velho. Aliás, ainda nem sequer se pode chamar de velho. E o que não falta é malta mais velha que prosseguiu para além dele. Mas porquê retirar-se tão cedo? Fez tudo o que tinha a fazer? Realmente fez, carreiras como a dele há poucas e já é um Hall of Famer consagradíssimo. Mas isso não é razão. A sua carreira foi mesmo encurtada à força.

Tudo começou com um inesquecível episódio em 1997, no SummerSlam, num combate com Owen Hart, pelo título Intercontinental. Steve Austin estava marcado para vencer o combate e tornar-se o Campeão naquela noite. Mas um piledriver mal aplicado por Hart lá fez os estragos e procedeu a fracturar o sacana do pescoço de Austin ali mesmo, em pleno conbate. O "Rattlesnake" até chegou a ficar paralisado. Plano inicial abortado, então. Ou então não. Assim que recuperou os seus movimentos, amanhou e improvisou um roll-up que lhe conseguiu a vitória e o título, tal como planeado e mesmo de pescoço partido. É claro que não pôde manter o cinto mas fica aí uma prova de homem de barba rija e com eles no sítio.

Mas já tinha acontecido algo que não tinha volta a dar: séria lesão no pescoço. Se até lhe chegou a retirar o movimento dos seus membros por breves momentos, é porque a coisa era séria. Precisou do seu tempo de recuperação, mas recuperou bem. Depois disso, Stone Cold ainda fez muita coisa excelente, muitos episódios lendários, muito combate histórico. Continuou a encabeçar a Attitude Era e fez mais para acrescentar à lenda "Stone Cold" depois disso do que antes. Mas aquilo estava sempre ali a chatear. Até que, a partir de 2001, esse bichinho doloroso começava a falar cada vez mais alto. E em 2003, após o seu combate final com The Rock na Wrestlemania XIX, Austin foi "despedido" por Eric Bischoff, com uma verdade num atestado médico: a lesão de 1997, tornava a fazer-se sentir e não era nada boa ideia continuar a competir.

Com isto, Stone Cold só teve uma coisa a fazer: reformar-se. Tanto ele como os fãs se podem dar como satisfeitos pela fantástica carreira que teve e pelo legado que deixou. Actualmente, vai dando umas pistas de que ainda tem um último combate dentro dele. Mas todos sabemos que, mesmo tendo sido um Superstar enorme, Austin não foi o mesmo após aquela fractura e ainda hoje vai sentindo as dores...

Edge


Outro conhecidíssimo caso que veio a ter um desfecho menos feliz, recentemente. Mas, podia ter sido pior, se não tivesse parado a tempo, portanto temos que nos dar por contentes por Edge já não competir. É para o bem dele. E em relação ás lesões no pescoço, já sabemos que Edge não teve uma súbita, já vinha a coleccioná-las. Várias lesões em vários sítios até, mas claro que tinha que ser no maldito pescoço a que fazia mais diferença.

Edge já era um lutador que "se punha a jeito" para isto. Nem sempre preferia fazer os combates mais simples e "standard" e tinha que fazer algumas maluqueiras e levar alguns bumps. E em ambiente de escadotes, e de preferência, com algumas mesas e cadeiras à mistura... Edge até se sentia bem confortável. Mesmo que estivesse a cair delas abaixo, ou arremessado por John Cena para um monte de mesas, do cimo da escada ou a levar com Jeff Hardy encima, por um escadote dentro, ou a empurrar Foley para dentro de uma mesa a arder, indo ele junto. Tudo coisas a que Edge se sujeitava. Como é que um lutador destes se ia poder safar das lesões durante tanto tempo?

Em 2003, na altura em que ia juntar-se à equipa de Chris Benoit e Brock Lesnar, para defrontar a equipa de Kurt Angle e a World's Greatest Tag Team (Charlie Haas e Shelton Benjamin) no No Way Out, a sua primeira grave lesão no pescoço levou-o a cirurgia e afastou-o dos ringues. Por muito tempo, esteve fora dos nossos ecrãs por mais de um ano. Com tanto tempo de baixa, seria de esperar que fosse algo sério que viesse a voltar a sentir-se mais tarde. 

Anos mais tarde, a acumular a outras lesões variadas que veio a sofrer ao longo dos anos, com constantes problemas no pescoço, na coluna e... Praticamente em toda a parte central do corpo, juntam-se todos aqueles bumps que conhecemos dele - basta ter a ideia de que os exemplos que enumerei anteriormente, uns parágrafos acima, aconteceram todos depois da sua primeira grave lesão. Com isto, a condição física de Edge foi piorando. Já não conseguia mexer os braços após os combates. O spear ainda era a sua marca e associávamo-lo a ele, mas estava cada vez mais reduzido a um empurrão que o lutador que sofria tinha que vender. E no seu último Smackdown como activo, corre-nos um arrepio pela espinha ao ver a forma como ele não se levanta e leva as mãos ao pescoço e às costas, após aplicar um spear. Teve que ser. Os médicos não o autorizaram a prosseguir e assim teve que ser. Sujeitava-se a ficar paralisado totalmente, do pescoço para baixo ou num pior mas tambem possível cenário... Podia morrer. Tudo coisas que não queremos para Edge, que tanto admiramos e o "Rated R Superstar" teve que se retirar.

Aqui está mais um caso grave que levou a um final abrupto de carreira e que podia ter sido muito pior, se não tivesse sido devidamente prevenido a tempo. Hoje sentimos a falta de Edge, mas também... Quem ia querer um Edge com a vida por um fio a fazer coisas que já não podia? 

Lita


As senhoras também sofrem lesões. As senhoras rijas também as aguentam bem. E não devem haver assim tantas mais rijas que a Lita. A também Hall of Famer e que já teve boas ligações com o indivíduo da entrada anterior também já não compete, apesar da impecável forma em que se encontra, e talvez tenha sido para o melhor, não fosse a coisa piorar.

Todos sabemos que Lita não era como as Divas comuns. Esta já sangrou, já bumpou, já levou dos mais brutos finishers, já atravessou mesas - ainda é a única mulher a ter participado num combate TLC - e o seu estilo em ringue não é dos mais seguros. Seria de prever que estragos se viessem a dar. Mas aí é que está a parte engraçada: não foi em ringue que ela se lesionou, o que indica que ela aí sabe muito bem o que faz, principalmente se estiver acompanhada por outras profissionais. Foi a dar uns passos noutra área, na representação, em TV, que sofreu o bump da vida dela. É demasiado caricato.

Mas é verídico. Nas filmagens de um episódio final de temporada da série Dark Angel - essa mesma, com a Jessica Alba - em 2002, Lita era convidada e vinha para andar à porrada, porque é isso que ela orgulhosamente faz bem. Mas talvez lhe tivesse dado jeito uma colega de ringue. Nas filmagens de uma cena de luta, Lita parte para um hurricanrana - a manobra mais comum em qualquer briga, já todos a fizemos a andar à bulha na escola - e a pessoa com quem ela "competia" não a segurou durante toda a manobra e fê-la cair no chão, sobre a cabeça e o pescoço. Cirurgia foi necessária e já estragou qualquer plano que houvesse para ela na WWE.

Foi aparecendo como comentadora no Sunday Night Heat, para dar um ar da sua graça, mas acabou por ser retirada dessa posição também, após uns meses. Mas foram necesários dezassete meses de reabilitação e recuperação para que Lita pudesse definitivamente voltar ao activo e a fazer aquilo que tanto gostava. É muito tempo. E também é possível que a tenha limitado, pois foi a partir daí que a vimos a ocupar mais o lugar de manager - mesmo que se mantivesse em competição, viamo-la mais a apoiar Matt Hardy ou Edge ou, naquela situação bizarra... Kane. E, lá está, nem sequer foi em ringue. Tudo é perigoso aparentemente, principalmente se andarmos a fazer hurricanranas.

Durante o processo de cura, consta-se que Lita tenha procurado, nada mais nada menos, que Steve Austin para ajudá-la e apoiá-la no seu processo de recuperação. Como já vêem pela sua anterior inclusão, Austin tem a sua experiência com essa situação...

Kurt Angle


Este caso é bem conhecido e até já é lembrado como heróico. E não deve haver algo de que Angle se orgulhe mais do que esta proeza - a não ser a sua medalha olímpica, que está directamente relacionada com a lesão.

É um caso diferente dos anteriores porque não podemos dizer que lhe tenha encurtado a carreira. Essa carreira ainda dura até agora, mesmo que já esteja a rastejar um pouco. E foi depois desse incidente que começou a sua carreira no wrestling profissional propriamente dito, no "sports entertainment", que deu imensos frutos. Mas com certeza que deixou a sua marca. Nem que seja como um grande feito.

Nos Jogos Olímpicos de 1996, Kurt Angle representava a sua nação na modalidade de wrestling "freestyle", de pesos pesados. Angle tinha uma longa e árdua tarefa para conseguir o ouro e as coisas só dificultaram ainda mais quando, durante os treinos, lesionou sériamente o seu pescoço, causando umas duas severas fracturas. Mas conseguiu passar na mesma e graças à sua força de vontade - e a algumas injecçõezinhas contra a dor, no pescoço, que Angle admitiu que já estava a começar a viciar - compareceu nas Olimpíadas do Verão de 1996... E o sacana ganhou, derrotando o lutador Iraniano Abbas Jadidi.

A sua carreira no wrestling profissional começaria depois disso, daí que, volto a dizer, não seja totalmente correcto dizer que lhe encurtou a carreira que ainda prossegue. Mas com certeza que ainda se faz sentir. E sempre que alguém desafiar Angle, ele lembra como ele ganhou uma medalha "WITH A BROKEN FREAKIN' NECK!" E actualmente, batalha com todo o tipo de lesões diferentes, sugerindo que a reforma já não deve estar tão longe - apesar que é o joelho que lhe faz passar mais trabalhos...

Hardcore Holly


Mais um daqueles indivíduos de quem já conhecemos bem a sua dureza. Até nos lembramos bem daquele grotesco corte nas costas após um bump numa mesa, num combate com Rob Van Dam, já na ECW moderna. Mas há mais para além disso que provem o quão duro é um gajo que tem "Hardcore" no nome. O problema é que isso nem sempre lhe compensa e por vezes traz-lhe umas consequências negativas.

Holly tem uma má fama num aspecto - por vezes tem a mania de ser "stiff". Isto é, não colaborar com o colega, fazer peso morto, tentar contrariar o que o adversário tenta fazer, etc. Uma péssima característica para um lutador, ainda para mais alguém que ainda tenha alguns bons seguidores e admiradores, como Hardcore Holly. E é claro que tinha que chegar o dia em que a coisa corre mal.

Num combate com Brock Lesnar, quando este ainda era um jovem monstro em imparável crescimento, Hardcore Holly estava agendado para ser mais uma das suas vítimas. E chega a altura de Lesnar aplicar uma powerbomb em Holly. Mas, retorna esta má característica do lutador e ele decide não colaborar com Lesnar e deixar fazer peso morto, durante a execução da manobra, não permitindo a Lesnar erguê-lo totalmente para aplicar o move como deve ser. Brock Lesnar até pode ser um indivíduo forte, mas sem cooperação as coisas não vão correr bem. E neste caso correu pior para Holly, o culpado. Lesnar não conseguiu erguê-lo totalmente e foi obrigado a deixá-lo cair... Sobre a cabeça e o pescoço, causando a fractura que o colocou de baixa durante treze meses. Talvez se possa dizer que tenha aprendido a mal, se realmente aprendeu.

Há casos em que um lutador fazer um mínimo shoot inofensivo para lembrar o seu valor - como da vez em que William Regal deu umas aulas de wrestling a Goldberg em plena TV da WCW, mostrando-se como muito superior e irritando-o - até pode ter a sua piada. Situações destas já não e correu mal para Hardcore Holly. Actualmente encontra-se semi-retirado mas ainda trabalhou bastante após a lesão. É possível que ainda sinta as dores hoje em dia...

Jesse Sorensen


Para finalizar, um caso mais recente, jovem e assustador. Jesse Sorensen, um miúdo novo que parecia estar a ser tratado como a próxima "big thing" dentro da X Division e que não parecia ver fim para o seu crescimento dentro da TNA. Mas teve e foi da pior das formas, apanhando o susto da sua vida pelo meio.

No início do ano de 2012, no PPV Against All Odds, Sorensen enfrentava Zema Ion para definir um candidato principal ao título da X Division de Austin Aries. O combate até ia correndo bem e consta-se que o plano inicial era de que Sorensen vencesse. Mas uma manobra perigosa de Ion - apenas típica da X Division - teve uma má aterragem sobre Sorensen, fracturando-lhe a cervical e deixando-o paralisado. Zema Ion venceu o combate porque assim teve que ser, Jesse Sorensen não podia sequer mexer-se e teve que ser retirado do ringue ainda imóvel.

Zema Ion não foi castigado - não teve culpa, afinal - e Sorensen ficou de fora. Recuperou os seus movimentos mas seria necessário um ano ou mais para recuperar inteiramente. Foi-lhe dado um outro trabalho dentro da companhia, por trás da cortina, para se ir mantendo activo por lá antes do seu regresso, que ia sendo antecipado. Mas nunca aconteceu e Jesse abandonou a companhia, aparentemente, não nos melhores termos. Desde então já apareceu na Ring of Honor, com o seu nome ligeiramente alterado para Jessy Sorensen, numa derrota para Tommaso Ciampa.

Tinha apenas 22 anos quando se deu o incidente. Essa é a idade que vou fazer no próximo ano, assusta um pouco saber que há assim a possibilidade de ficar paralisado do pescoço para baixo ou de ter toda a vida em risco a qualquer momento, mesmo que não ande por aí aos tombos. E dói pensar que uma carreira podia ter acabado ali mesmo, quando ainda estava apenas a começar. Agora já está pronto para competir, mas será que terá uma carreira tão longa, com esse feio incidente já no currículo?

Sete casos enumerados neste Slobber Knocker com um tema mais trágico, mas que achei que podia ser abordado. A ter em conta para quem acha que o wrestling não tem qualquer tipo de perigo. E a recordar o quão rápido uma carreira pode acabar e o quanto pode encurtar. Cabe a vós comentar o assunto e os lutadores em questão e até acrescentar mais casos que conheçam e que aqui não constem. pois é para isso que escrevo. Planeio estar aqui na próxima semana com novo tema que puxe um mínimo de conversa.

Em relação ao caso de Daniel Bryan e à palavra que vai correndo por aí, deixo então até lá a pergunta:

Acham que o "Diving Headbutt" devia ser retirado para protecção dos lutadores?

Cumprimentos,
Chris JRM

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