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Historically Speaking - Cada um por si



“Se desejas perceber alguma coisa, observa o seu início e o seu desenvolvimento.” – Aristóteles


O capítulo de abertura

Esta é a minha época do ano preferida em todo o ano do wrestling. A época da Royal Rumble.

Desde que vi a Royal Rumble em 1990 em VHS, fiquei completamente apanhado por este conceito único. Sou um mark por combates de multi-lutadores ou torneios e assim sendo este foi um combate feito para mim. Na minha opinião a Royal Rumble é uma daquelas coisas que independentemente do quão má seja, é sempre boa.
E é desde 1996, na era em que os pay-per-views mensais se tornaram normais, que a Royal Rumble se tornou na primeira paragem oficial na “Road to Wrestlemania”. É o início das eliminatórias que nos vão levar para a grande final. É o primeiro capítulo de uma grande estória. E, na maioria das vezes, cumpre todas as expectativas.

Eu podia divagar eternamente nesta crónica sobre como a Royal Rumble é excelente ou sobre o porquê de ser uma importante parte no panorama do wrestling profissional Norte-Americano, mas durante as próximas três semanas acho que vocês vão começar a compreender. É isso mesmo, Janeiro é o “Mês Royal Rumble” aqui no “Historically Speaking”. Nesta e na próxima semana vai-se resumir tudo a factos, figuras, pensamentos, memórias e ideias sobre o evento, seguindo-se um pequeno desvio no formato habitual das crónicas na semana que antecede a Rumble, quando analisarei individualmente os 30 participantes no grande evento deste ano.

Os Intangíveis

O combate da Royal Rumble para um olhar destreinado e inexperiente parece uma completa confusão de acção, com falta de fluídez e ritmo e aparentemente sem estrutura alguma. Quase ironicamente, este combate é provavelmente um dos combates da WWE melhor coreografádos e organizados do ano. A ideia original de Pat Patterson desenvolveu realmente uma vida própria e tornou-se conhecida pelas suas próprias tendências e expectativas.


Por exemplo...


O “push Diesel”

Este conceito ganhou o nome depois do desempenho de Diesel na Royal Rumble de 1994, em que este entrou no ringue e eliminou os quatro homens que lá estavam, livrando-se ainda dos três competidores que apareceram de seguida. Isso fez com que Diesel fosse visto como uma superstar de credibilidade, dando-lhe o seu primeiro push na WWF. Antes deste acontecimento Diesel era apenas o guarda-costas silencioso de Shawn Michaels que na maioria das vezes era mantido fora da acção, quando acompanhava HBK, ou que aparecia esporádicamente no low-card. Este momento na Rumble fez os fãs ( incluindo aqui o vosso amigo quando jovem) levantarem-se e repararem no grandalhão. Em menos de um ano a partir desse momento, ele já havia vencido os três títulos de maior destaque da WWF, tornando-se na cara da companhia.

Em 1997 este tipo de push foi novamente usado para ajudar Steve Austin a ganhar ímpeto. Ele limpou o ringue, esperando depois pelos três participantes seguintes, atirando-os um-a-um para fora do ringue, olhando ansiosamente para o seu “relógio” entre a entrada de cada novo adversário. Austin foi o único a receber este destaque na Rumble e a conseguir ainda ganhar o combate. Desde aí este “mecanismo” tem sido usado como uma forma de credibilizar e aumentar a popularidade de concorrentes que são tidos como prováveis vencedores ou que estão a receber um push elevado, mas acabando por não serem os vencedores.

E tem vindo a acontecer ao longo dos anos, com Rikishi em 2000, com Kane em 2001 e com Undertaker em 2002. Este último não só credibilizou o “Deadman” como também foi instrumental para elevar o novato Maven. Ainda o ano passado tivemos outro exemplo do “push Diesel” com o The Great Khali, que limpou o ringue completamente, sendo eliminado pouco tempo depois.
Homens como Rikishi, Kane e Khali não estavam destinados a ganhar a Royal Rumble, não sendo atractivos o suficiente para o main event na Wrestlemania, mas o “push Diesel” permitiu que estes enormes homens continuassem a ser vistos com respeito por parte do público e colocando-os em posição para um grande combate mais tarde.

Como uma previsão prematura, vejo o Umaga a ter um momento do género de Diesel no combate deste ano.


A eliminação em Gang

Em oposição a um homem a despachar toda a competição temos um homem a ser despachado pela competição em uníssono. Para um Super Heavyweight ser eliminado por todos os adversários em conjunto pode ser quase tão benéfico como ter um “push Diesel”. Em 1990, Earthquake eliminou dois homens rapidamente sendo que depois, num espaço de dois minutos, os restantes seis ou sete lutadores no ringue o mandaram por cima das cordas. Apesar de ter estado no ringue durante um tempo tão escasso ele ficou tido como uma ameaça. Ele livrou-se sozinho de dois homens e, ao forçar o resto dos participantes a trabalharem juntos, mostrou que ele era visto como um grande perigo que precisava de ser combatido rapidamente. Resumindo, apesar de não ter ganho, saíu do ringue com a credibilidade de ser um adversário perigoso e de respeito.

Em 1993 Yokozuna levou a “eliminação em gang” a um nível completamente novo, resistindo e ganhando o evento após ter deitado por terra sucessivas tentativas dos adversários em gang, mostrando que o tamanho realmente interessa num evento como este.

Em 2000, esta “técnica” foi utilizada para eliminar Rikishi, que no mesmo combate recebeu o “push Diesel” e a “eliminação em gang”. Big Daddy V, outrora como Mabel ou Viscera, competiu em diversas Royal Rumbles sendo responsavél por eliminações em gang em 1994 e em 2007.

Se Big Daddy V ou Mark Henry entrarem no combate deste ano, esperem por um spot deste género, ou pelo menos uma tentativa.


Eliminação Sobre-Humana

Uma alternativa à eliminação em gang, sendo quase a “parte B” deste fenómeno, é a “eliminação sobre-humana”, em que um ou dois homens são responsáveis pela eliminação dos competidores fisicamente mais imponentes do combate.

Há alguns exemplos desta regra. Um deles foi quando Demolition eliminou Andre the Giant em 1990, também Hulk Hogan consegui-o com Earthquake em 1991. Enumerando mais alguns casos destes, Lex Luger livrou-se de Mabel e Mantaur em 1995, Chris Benoit eliminou Big Show em 2004 e John Cena mandou Viscera para fora do ringue em 2005. É obvio que estas eliminações promovem imenso quem as consegue, fazendo esse homem parecer uma verdadeira estrela e herói, capaz de eliminar uma ameaça do tamanho do mundo sozinho. Quanto aos super heavyweights que são eliminados, também não são causados grandes danos na sua reputação pois estes são previamente apresentados como grandes ameaças no combate.

Um super heavyweight na Rumble deste ano ( penso que talvez Umaga) vai de certeza ser eliminada por alguma superstar “sobre humana”, provavelmente Triple H ou Bobby Lashley.


O Confronto do Supremo Poder

Este tipo de confrontos é usualmente reservado quando dois babyfaces de topo são deixados sozinhos no ringue. É uma maneira fácil de levar a multidão à pura loucura, plantando ao mesmo tempo as sementes para um eventual grande combate que possa ganhar raízes. Começou em 1989 com Hulk Hogan e Macho Man, mas tornou-se realmente material de veneração e verdadeiramente icónico com o confronto final entre Hogan e Ultimate Warrior em 1990. Foi a ingrediente perfeito para a explosão no grande combate do main event da Wrestlemania VI entre ambos. Aconteceu novamente em 2002 quando o sempre escaldante “Stone Cold” Steve Austin e um Triple H acabado de regressar se confrontaram. Em anos mais recentes aconteceu no fim do combate para determinar o vencedor, destacadamente o encontro entre John Cena e Batista em 2005, e entre Shawn Michaels e Undertaker no ano passado.

Apesar de não ver isto necessariamente a acontecer este ano, com talento como Undertaker, Triple H ou Batista a participar, há a possibilidade real que exista um frente-a-frente deste género.


O Homem de Ferro

Num combate que vai ter a duração de, no mínimo dos mínimos, 30 minutos há a necessidade de implementar algum tipo de profissional talentoso para manter tudo em sintonia e para que o combate se desenvolva. Assim sendo, todos os anos desde 1990, um ou dois homens são seleccionados para ser “homem de ferro” ou “estimuladores do combate” no combate da Royal Rumble. Esse ou esses profissionais, são talentosos o suficiente para manter as peças do combate unidas e com coerência, tornando-o interessante durante os momentos mais parados. Eles entram nas primeiras etapas do combate, saíndo por norma quando estão decorridos três quartos deste. É verdadeiramente uma boa maneira para elevar lutadores fisicamente mais pequenos. Ficamos com a imagem de que apesar de não terem o tamanho ou a força para dominar o combate, conseguem ter resistência e energia para ultrapassar a sua competição. Homens como Ric Flair, Shawn Michaels, Steve Austin, Chris Benoit e Rey Mysterio usaram esta faceta de “homem de ferro” para se elevarem com a vitória na Royal Rumble, enquanto outros como Ted DiBiase, Rick Martel, Bob Backlund, The Rock, Randy Orton e Triple H usaram-no não só para terem uma boa imagem na derrota mas também para manter a fluídez do evento.

Procurem por um Heel conivente para ser o “estimulador de combate” deste ano, talvez alguém como Shelton Benjamin ou John Morrison.


O “Bushwacker Luke”

O “Bushwacker Luke” é o nome não oficial para a eliminação mais rápida na Rumble. Apesar de oficialmente o tempo mais curto no ringue pertencer a Warlord em 1989, a eliminação de Bushwacker Luke de 1991 foi crescendo como uma lenda da Royal Rumble, sendo referida usualmente aquando a existência de Battle Royals de curta duração. Considerando que isto não acontece todos os anos para não se desgastar demais, uma ou várias eliminações rápidas são virtualmente garantidas. Desde Rumbles cheias delas como em 1995, 1997 e 2004, a um evento como o de 1998 em que o tempo de permanência da maioria dos lutadores foi longo, houve sempre pelo menos um lutador que saíu pouco depois de entrar. É um dia de trabalho rápido e sem grande esforço para o eliminado e um aumento de consideração enorme para com o homem que efectua essas eliminações, do ponto de vista dos fãs, podendo complementarmente proporcionar um spot mais virado para a comédia.

Com apenas alguns dos participantes deste ano conhecidos, já é de alguma forma fácil prever que isso aconteça com homens como Jimmy Wang Yang ou Shannon Moore.


#30 Azarado

Os motes para a Royal Rumble incluem frases como “Cada um por si” ou fala-se da “sorte no sorteio”. No entanto, e apesar de o homem que retira o #30 ter matemáticamente maiores hipóteses de ganhar o combate, isso nunca aconteceu até o ano passado, quando o Undertaker ganhou em 2007 com a posição #30. Estou certo que isto foi feito para manter a impresibilidade no evento. Logicamente, se o lutador com o #30 nunca ganhasse, a previsibilidade seria evidente. Porém, realizado esse feito, não contem com uma repetição até daqui a alguns anos.

Tenho a certeza que a posição #30 vai ter novamente destaque. No passado Heels arrogantes como Ted DiBiase, Curt Hennig, X-Pac ou Booker T usaram o lugar final para se gabarem acerca de terem o caminho facilitado para a vitória.

Alguém como The Miz ou Mr. Kennedy seria um perfeito #30 este ano.


Entradas Surpresa

De forma a manter o Rumble interessante durante o decorrer do combate, é regularmente necessário recorrer à inclusão de participantes aleatórios ou surpresa. Estes adicionam um elemento de surpresa e excitação em torno do combate. É difícil manter a atenção do público durante 60 minutos, por isso é imperativo arranjar uma forma de combater isso de forma a que o decorrer do combate se vá constantemente inovando. Esta ideia começou em 1991, quando o “participante mistério” foi revelado na noite do combate como sendo Brian Knobs dos Nasty Boys. Desde aí, a surpresa e mistério têm sido usados para voltar a apresentar velhas caras conhecidas ( como Big Show e Haku em 2001) ou apenas para uma performance de uma só noite (como com Bob Backlunk em 2000).

Este ano eu não procuro por uma surpresa vinda de fora mas sim o regresso de alguém anunciado antes ou durante o combate, aquando sua vez de entrar. Será quase uma obrigação trazer de volta Bobby Lashley ou trazer alguém como Steve Blackman, Jim Neidhat ou Bart Gunn para obterem um bom pop do público.

A perspectiva

Normalmente por esta altura do ano eu já pensei em alguns possíveis cenários de como fazer o booking da Royal Rumble por motivos de entretenimento pessoal. Mas neste momento, todos os sinais indicam que será Undertaker ou Triple H a ganhar, o que tira alguma da piada de fazer este “fantasy booking”. Outros homens como Shawn Michaels e Batista poderiam ser vencedores legítimos, mas os seus bookings futuros não parecem apontar a um desfecho a seu favor este ano. Alguns grandes nomes e potenciais vencedores como Chris Jericho, JBL, Rey Mysterio e Ric Flair vão participar em combates de singles e provavelmente não no combate da Royal Rumble em si. Estou certo que com o passar das semanas e com o aumento do contingente de lutadores no combate, os meus “sentidos Rumble” vão começar a despertar e vou voltar a ter aquele bichinho da Royal Rumble dentro de mim.

Por esta semana o cofre está fechado...



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