Lucas Headquarters #123 – Donna del Mondo non c’è piu
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Ainda a ressacar dos festejos de Fim de Ano, suponho. Sejam bem-vindos à primeira edição de 2024 de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias, hoje excecionalmente ao Domingo!!
Que
tal foi a vossa entrada no novo ano? No meio de tanta gente, como diz a canção?
Sozinhos com os gatos? Seja como for, renovo os votos que vos deixei na semana
passada e espero que 2024 corresponda às vossas aspirações, não só no que toca
a wrestling, mas sobretudo na vossa
vida pessoal, académica e profissional. Bom Ano para todos!!
Presumo, talvez pela força do cliché, que estavam à espera de outro tipo de artigo esta semana. De um artigo que talvez fosse mais… previsível, à falta de melhor termo. Chegaram aqui com a ideia de que, já que há três semanas se fez a retrospetiva do ano que passou (assim um bocadinho fora de tempo e algo em cima do joelho, para dizer a verdade) nesta semana eu iria puxar da minha “bola de cristal” (see what I did there?) e fazer previsões muito pouco astrológicas para este ano.
Vai-se a ver e se calhar ainda posso, porque os desejos de Bom Ano, pelos
vistos, são válidos até ao fim do mês, tal como os desejos de Feliz Natal
começam a ganhar expressão assim que acaba o Halloween (“então, se não nos virmos mais, um Feliz Natal!”).
E a verdade, meus caros comensais do wrestling, é que eu também tinha na ideia entrar em 2024 com um
artigo dessa natureza, embora não soubesse muito bem se o havia de fazer por
cliché, porque não tinha mais nada que falar (o que, na maior parte das vezes,
é mentira) ou porque simplesmente é divertido jogar umas larachas para o ar e
ver no que dá.
Mas achei por bem começar este ano como terminei 2023, sobretudo porque o mundo ainda parece funcionar a meio gás e, quando isso acontece, valha-nos o wrestling japonês para nos pôr a pensar. Eu tenho cá para mim que esse funcionamento a meio gás se deve ao facto de que ainda andamos todos a processar o facto de que 2004 foi há 20 anos, portanto venho aqui deixar esse pequeno detalhe para que todos vocês, como eu, se sintam velhos.
Tal como a semana passada, esta semana foi rica em
acontecimentos para o wrestling das
Terras do Sol Nascente (difícil é não haver semana que nos traga qualquer coisa
nesse aspeto). Wrestle Kingdom. NOAH The New Year (e a estreia
de The Great Sakuya, a filha do
grande Keiji Muto aka The Great Muta). E STARDOM em dose dupla: New Year Stars
e Ittenyon.
Tendo em conta aquilo que vimos no segundo evento (e que será
o meu objeto de análise para esta semana) o primeiro evento passa um bocadinho
despercebido, mas para a história fica um rookie
tournament que confirma Yuzuki como um valor de futuro (mas só diz isso a
esta altura quem não viu a sua estreia contra Momo Watanabe no New Blood West
em Novembro). Mas, ao fim e ao cabo, quero acreditar que parte daquilo que
aconteceu no Dream Queendom e no New Year Stars teve influência na decisão que
vamos analisar.
As Baribari Bombers (Giulia, Thekla, Mai Sakurai) perderam os
Artist of STARDOM Championships para as God’s Eye (mais propriamente para o
subgrupo Abarenbo GE de Syuri, MIRAI
e Ami Sourei).
Maika conquistou o World of STARDOM Championship na semana
passada, vencendo Suzu Suzuki no Dream Queendom.
Giulia está com o futuro incerto, com uma mudança para a WWE
a parecer um dado cada vez mais adquirido (veremos em que moldes, se vai passar
pelo NXT ou se vai diretamente para o Main
Roster) mas com a permanência na STARDOM a continuar a ser uma
possibilidade.
E é com este contexto em mente que a própria Giulia anunciou uma decisão…. Inesperada, chocante e que nos deixa, no mínimo, a antever alguns cenários: As Donna del Mondo (DDM) chegam ao fim depois de três anos de existência.
É uma decisão que surpreende, não só por vir de quem vem, mas por
se saber das implicações que pode ter e porque a dinâmica natural das stables na STARDOM é que estas se
mantenham, mas que as suas líderes vão mudando com o passar dos anos,
dependendo do rumo que dão às suas carreiras.
Para melhor explicar este ponto, vou dar-vos os exemplos de
duas stables da STARDOM que passaram,
no início desta década, por esse tipo de mudanças: Oedo Tai e Queen’s Quest.
A formação das Oedo Tai data de 2015 e dá-lhe, quase com
certeza, o estatuto de stable mais
duradoura da STARDOM. A stable foi
fundada por Kyoko Kimura e Act Yasukawa, nestes oito anos já teve como líderes,
para além de Kyoko e Yasukawa, Hana Kimura, Kagetsu e Natsuko Tora, sendo esta
última a atual líder.
A questão é que a stable teve que se reinventar, isto depois de um período em que Kris Wolf começou a lutar fora do Japão e Kagetsu deu os primeiros sinais do fim de carreira.
Hana atuou a solo, mas mantendo o nome da stable
e tentando até recrutar Mayu Iwatani para se juntar a ela, no que resultou
num combate pelo Wonder of STARDOM Championship no STARDOM Shining STARS 2017 de 11 de Junho, em que, se Hana
perdesse, as Oedo Tai deixariam de existir; e se Mayu perdesse, seria obrigada
a juntar-se ao grupo. O combate acabou em no
contest depois de Kagetsu ter regressado e atacado Mayu e o árbitro, no que
serviu para marcar o início da sua liderança.
A fundação das Queen’s Quest data de 2016, e antes de Utami Hayashishita, a stable teve como líderes Io Shirai (nka IYO SKY) e também Momo Watanabe. Io Shirai acabaria por deixar a liderança da stable quando, em 2018, assinou pela WWE; Momo Watanabe escreveria… um pedaço de História, a bem dizer.
Momo Watanabe tornou-se a primeira líder de um grupo a trair as
companheiras, resultado de uma feud entre
as Queen’s Quest e as Oedo Tai que culminou num 8-Woman Elimination Tag Match
entre os grupos, na qual Watanabe traiu AZM e se juntou às Oedo Tai como a Black Peach que todos conhecemos.
Portanto, o que é que estes dois exemplos nos dizem, ou
melhor, mais do que dizer alguma coisa, que ideia é que nos dão? Que as DDM
poderiam ter continuado a existir, poderiam ter-se também reinventado, mesmo
que Giulia acabasse por ir para a WWE. Não seria uma má decisão se Maika, do
alto do seu estatuto recém-conquistado enquanto World of STARDOM Champion,
assumisse a liderança do grupo.
O problema aqui é que as Donna del Mondo se confundem com Giulia e vice-versa. Giulia é a verdadeira Donna del Mondo, não só pelo que aguentou enquanto líder da stable (e já lá iremos) mas pelo facto de ela própria representar, em carne e osso, o conceito da stable. E isto acontece porque Giulia é, em certa medida, uma gaijin (termo japonês que significa “estrangeiro” e que é aplicado a wrestlers não japoneses), uma vez que é filha de pai italiano.
O problema aqui é que as Donna del Mondo se confundem com
Giulia e vice-versa. Giulia é a verdadeira Donna del Mondo, não só pelo que
aguentou enquanto líder da stable (e
já lá iremos) mas pelo facto de ela própria representar, em carne e osso, o
conceito da stable. E isto acontece
porque Giulia é, em certa medida, uma gaijin
(termo japonês que significa “estrangeiro” e que é aplicado a wrestlers não japoneses), uma vez que é
filha de pai italiano.
Mas mais do que o direito jus sanguinis, Giulia é a verdadeira Donna del Mondo porque foi ela quem, ao longo destes três anos, tornou as DDM no grupo responsável por trazer tanto público para a empresa.
Desde a sua fundação, em 2020, até esta passada quinta-feira,
Giulia assumiu-se como o corpo das DDM não só por ter exercido o papel de
líder, mas também por todas as provações por que passou nesse papel. Formou a stable porque a acusaram de não ter
amigas, e quando as tinha, perdeu-as quase de rajada: Falo-vos, obviamente, dos
incidentes com Syuri e MIRAI, e da traição de Natsupoi, tudo ao longo dos
primeiros sete meses de 2022. E mesmo assim, conseguiu vencer o 5 STAR GP desse
ano e conquistar o World of STARDOM Championship, consolidando ainda mais a
aura que havia construído em seu redor.
Portanto, mesmo que a hipótese de reinvenção das DDM sob
liderança de Maika existisse (e era legítima, Maika tinha ganho esse estatuto
ao longo do ano que passou, cimentado ainda mais pelo facto de ser World of
STARDOM Champion) esta nunca poderia resultar tão bem como se as DDM
continuassem a existir. Porque os responsáveis da STARDOM sempre olharam para
Giulia como o foco das Donna del Mondo, em grande parte devido ao star power que carrega consigo.
O foco foi sempre “como
irá Giulia reagir às acusações de não ter amigos?”, “como irá Giulia reagir às
saídas de Syuri e MIRAI, sobretudo depois de não ter conquistado o World of
STARDOM Championship no World Climax?”, “como irá Giulia reagir à traição de
Natsupoi no STARDOM Midsummer Champions in Nagoya?”. E esse foco até se
justifica, porque a maior parte dos fãs olham sempre para Giulia antes de todas
as outras, mas tira espaço à DDM para evoluir para um novo capítulo como não o
fez com as Oedo Tai e com as Queen’s Quest.
E agora, impõe-se fazer a pergunta da praxe: O que se segue para Giulia, Maika, Mai
Sakurai e Thekla?
O caso de Giulia parece ter uma solução cada vez mais óbvia,
e essa solução passa pela WWE. O contrato da anglo-nipo-italiana termina já
daqui a dois meses, e apesar de não existirem, para já, indicações óbvias de
que o seu futuro passará pela América, a verdade é que o fim das Donna del
Mondo só vai intensificar os rumores que a levam à empresa detida pela TKO.
Se Giulia optar por permanecer na STARDOM (algo que é
perfeitamente possível acontecer e que não deve ser descartado até ao
aparecimento de novas informações), poderá ocorrer uma aliança com Suzu Suzuki
que deverá levar à formação de novo grupo. Mas formar uma nova stable de modo repentino tão pouco
depois de ter terminado aquela que fundou e liderou durante quatro anos… é uma
hipótese muito pouco plausível (pelo menos para já) e que terá de ser
acompanhada por uma storyline tão boa
como a que envolveu Suzu e Maika.
Falando de Maika, também era perfeitamente possível a
formação de uma stable ao lado de
Suzu Suzuki e Mei Seira, mas fazê-lo seria remexer numa história que teve um
excelente desenvolvimento e colocar reticências onde esteve um categórico ponto
final. Para além disso, e tendo em conta que as Crazy Star ainda não
encontraram stable dentro da STARDOM,
a hipótese de Maika seguir uma carreira a solo sem se filiar a nenhum grupo é
perfeitamente exequível, e no caso de Suzu e Mei tem resultado perfeitamente.
Thekla deverá fazer nova pausa na carreira durante uns meses
para regressar à Áustria natal, pelo que quaisquer suposições sobre a sua
carreira ficarão para um eventual regresso. Mai Sakurai é, de longe, o elo mais
fraco do grupo, pelo que acabará por se perder no lowcard, infelizmente.
Falando do legado que as DDM deixam, dizer que são a melhor stable da História da STARDOM é
arriscado e injusto tendo em conta que antes das DDM já outras stables estavam em atividade. Mas não
será errado dizer que as Donna del Mondo foram a stable que mais impacto teve no público da STARDOM fora do Japão,
porque os momentos mais emocionantes destes últimos dois anos tiveram a sua
rubrica. E isso fá-las conquistar um lugar especial na nossa memória coletiva
enquanto fãs de wrestling.
Que análise fazem ao legado das Donna del Mondo? Acham que o
fim do grupo foi a melhor opção? O que acham que se segue para cada uma das
integrantes?
E assim termina a primeira edição de 2024 de “Lucas
Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo site, pelo Instagram, pelo Telegram… e, se tudo correr bem, para a
semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!