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Lucas Headquarters #90 – Foi um prazer, Himeka!



Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais um “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias e, assim sem dar por ela, já chegamos às 90 entradas neste nosso cantinho de divagação, às vezes séria e às vezes não. E que aventura tem sido!!


No entanto, o artigo desta semana, por mais redondo que seja em termos de números, é daqueles que me custa muito escrever (e para a próxima semana será igual). É um artigo que carrega uma certa tristeza, mas também uma certa incerteza. Mas é um artigo que, apesar de tudo, revela também gratidão.


O artigo desta semana é, em certa medida, uma sequela à edição 77 (que vou deixar aqui para quem não leu). Nessa edição falei sobre um fenómeno que, apesar de começar a entrar lentamente em “desuso” – vamos dizer assim – ainda é muito comum no que toca ao joshi: Os fins de carreira antes dos 30 anos. 


E sim, quando pronuncio esta frase, ainda me parece estranho, sobretudo se tivermos em conta que, no wrestling ocidental, há pessoinhas que vão até aos 60 e 70 anos sempre a mandar grandes quedas no ringue – Sting e Ric Flair são dois brilhantes exemplos disso.




Mas no wrestling feminino japonês essa não é a norma – ou, pelo menos, vai começando a não ser. Quando o chamado joshi wrestling começou a entrar pela porta do mainstream adentro (muito por conta dos talentos que a STARDOM foi revelando e que foram sendo caçados pela WWE, que já nem preciso dizer quais são), fins de carreira abaixo dos 30 anos (ou, no máximo dos máximos, antes dos 35) eram a lei. 


Neste primeiro parâmetro, destaca-se o nome de Hiromi Mimura, que se estreou aos 29 anos (em Outubro de 2015) e terminou a carreira com 31 (em Março de 2018). Ou seja, o seu percurso nem chegou aos três anos de duração. O que é certo é que Mimura foi mãe um ano depois, portanto a questão do seu fim de carreira ter sido precipitado pela maternidade será sempre plausível.



Tivemos ainda um caso mais conhecido, o de Hazuki. Atualmente a desfrutar do melhor período da sua carreira (e preparadíssima para um push a solo), Hazuki está já na sua segunda run como wrestler, sendo que a primeira começou aos 16 anos em Julho de 2014 e terminou aos 22, em Dezembro de 2019. 


A julgar pelo Hazuki nos tem mostrado nos últimos meses, claramente ter-se retirado aos 22 anos terá sido uma decisão precipitada, já que estamos perante uma wrestler muito mais madura e que, claramente, terá ainda muito mais para dar – e ainda bem, a sua evolução desde o último Verão tem sido positivamente surpreendente.



A questão é que estas duas retiradas praticamente não mexeram connosco. O primeiro caso porque, verdade seja dita, nem sequer deu para aquecer, e ficou a sensação de que mal tinha entrado e já estava a sair. O segundo porque, na sua ausência, a “geração de ouro” da STARDOM – Utami Hayashishita, Saya Iida, Arisa Hoshiki, Himeka, Giulia… - começava a despontar. Toda aquela excitação em relação ao futuro faria com que nos esquecêssemos um bocadinho da ausência – ou ausências - do passado.


Até que chegamos a 2020 e assistimos, de forma repentina, a três fins de carreira que acontecem por razões tão distintas e paralelas que, à primeira vista, seria impossível pensar que tal sucessão de retiradas aconteceu num espaço de meses.


Em Fevereiro, Kagetsu sai de cena aos 28 anos, embora tenha saído da reforma por uma vez, no primeiro Hana Kimura Memorial Show, onde voltou a juntar-se a Hazuki e às duas integrantes da Tokyo Cyber Squad (Death Yama-san e Konami) para enfrentar Asuka (não a que hoje está na WWE e era conhecida como Kana, mas a que nasceu em 1998), Syuri, Natsupoi e Mio Momono.


Em Maio, dia 20, Arisa Hoshiki abdica do Wonder of STARDOM Championship após mais de um ano como campeã e também ela arruma as botas por motivos de ordem física. E tão somente três dias depois, dá-se a maior tragédia do joshi no passado recente: Hana Kimura sacrifica a própria vida após ser vítima de cyberbulling em virtude da sua participação no conhecido reality show Terrace House, ela própria estando a ser preparada para ser a próxima figura de proa da STARDOM para esta década e contando apenas 22 anos de idade.



A sombra da trágica morte de Hana Kimura vai, aos poucos, deixando de pairar (pelo menos de uma forma tão permanente) e a STARDOM atravessa um período relativamente pacífico em termos de estabilização do seu roster. Não perde talentos para a concorrência e não vê finais de carreira antecipados até Fevereiro deste ano, quando Himeka decide dar por terminado o seu percurso na modalidade – algo que aconteceu a 28 de Abril passado, com o último combate a ter lugar no evento Jumbo Forever! da Pro Wrestling WAVE.




Como disse mais acima, os casos de Hiromi Mimura e Hazuki não foram alvo de grande comoção popular – pelo menos é a impressão que dá – mas, pelo que tive oportunidade de ir vendo, o adeus de Himeka mexeu com muitos fãs, eu incluído.


Há toda uma dinâmica de renovação no wrestling que o torna um fenómeno interessante de acompanhar, isto se pormos de lado as dez mil razões que já estou implicitamente “farto” de enumerar. 


Mas no caso do joshi, essa dinâmica parece ser ainda mais evidente, isto porque, até há uns anos atrás, parecia estar em constante evidência. Wrestlers que eram ainda jovens (mas que estavam no auge da carreira e sentiam que já tinham feito tudo o que achavam possível) saíam, para que as novas gerações pudessem entrar, brilhar, sair e dar espaço, com o ciclo a repetir-se a cada três, quatro anos.


Pela forma como explicou essa decisão, Himeka pareceu querer seguir este mesmo caminho – o da renovação. Ela nunca se sentiu capaz de ser uma peça fundamental da equação STARDOM (como são Utami Hayashishita, Giulia, como foi Arisa Hoshiki e como teria sido Hana Kimura) e sempre teve a humildade de reconhecer que, embora lhe tenha faltado um push individual, se calhar havia outras wrestlers mais merecedoras disso do que ela. 


E nem sequer era por uma questão de falta de capacidade ou de sobrestimação: Rossy Ogawa por várias vezes quis arranjar para Himeka o proverbial lugar ao sol. Mas o público sempre a conheceu como uma das metades da sumarenta laranja conhecida por MaiHime, que durante anos deu brilho ao fértil pomar que foi – e espero que continue a ser – a stable conhecida por Donna del Mondo. Talvez ela se sentisse realizada nesse papel.






Podemos sentir-nos tentados a dizer que Himeka terá tido alguma falta de ambição, porque normalmente uma carreira no wrestling quer-se sempre feita no sentido da progressão e nunca da estagnação. Mas esse, sinceramente, não é um argumento com o qual eu vá concordar muito. Mesmo que nunca tenha tido a predisposição para ser uma das principais figuras da STARDOM a nível individual, Himeka termina o seu percurso com um reinado como Goddess Tag Team Champion e outro como Artist of STARDOM Champion (remember MaiHimePoi?).


Para além disso, foi figura de destaque numa das melhores formações da DDM que incluiu, para além da líder Giulia, a Toxic Spider Thekla, a atual Goddess of STARDOM Tag Team Champion MIRAI e uma das vencedoras do 5 STAR GP e ex-World of STARDOM Champion Syuri. 


Portanto, seria mais assertivo dizer que Himeka contribuiu, em maior ou menor medida, para que pelo menos duas das suas (ex)-companheiras de stable ganhassem destaque nesta altura do campeonato. E isso é tão ou mais valioso do que ganhar um título.




O adeus de Himeka (cuja cerimónia de despedida acontece amanhã, num Korakuen Hall onde se espera ter lotação esgotada) mexeu comigo não só por esse aspeto, por essa ideia errada que fica de que poderia ter tido uma carreira melhor, mas também porque é uma wrestler que termina o seu percurso em plena primavera da vida. 


Não revelando a minha idade – por motivos óbvios – posso dizer que, se falarmos da linha do tempo, a Himeka é minha contemporânea, tendo nesta altura 25 anos de vida. Ora, nenhum fã fica feliz por ver uma wrestler com tanto talento arrumar as botas por vontade própria aos 25 anos, mas ao menos encontra conforto no facto de ser uma decisão da qual a própria Himeka não se arrepende.


Penso que é justo dizer que Himeka nunca perdeu o controlo da sua carreira, no sentido em que este percurso pareceu gozar da grande virtude que é ter sido terminado quando a própria wrestler quis que fosse e como fosse. Muitos wrestlers não chegam, sequer, a ter essa hipótese: Ou porque o corpo diz que não dá mais, ou porque, infelizmente, fazem a travessia para o Olimpo do wrestling antes do devido tempo.


E, por último, uma palavra para a própria Himeka: Arigato gozaimasu. Obrigado. Por teres sido parte de tantas horas que passei à frente do ecrã a tentar esquecer por um bocadinho os momentos ou dias menos bons que tive. 


Pela forma como, com humildade, entregaste o teu corpo para que nós nos divertíssemos. Ficam os “e ses…” e a esperança de voltares um dia. Mas se não voltares, ficamos-te agradecidos na mesma. És e serás sempre parte da grande família do wrestling, metade das MaiHime, pedacinho das DDM.  És e serás sempre a nossa Jumbo Princess.




Sugiram temas, deixem comentários, contem-me os vossos momentos favoritos da carreira da Himeka… tudo isso. Para a semana cá estarei, e conto com vocês para honrarmos a memória da Hana Kimura, quando vão passar na terça-feira (23) três anos da sua triste e inesperada partida.


Até para a semana, gente boa!




 


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