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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 12 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Foi num show da ROH chamado Tokyo Summit a 14 de Setembro de 2008, que eu venci o Global Honored Crown (GHC) Junior Heavyweight Championship do Yoshinobu Kanemaru, que foi o primeiríssimo campeão do título e tinha-o detido por múltiplas vezes. Durante as minhas várias digressões ao Japão, foi o único título de singulares que eu ganhei. Apesar de o ter por apenas um mês, eu estava agradado por me terem dado a oportunidade de ser campeão, como eu era apenas o segundo wrestler gaijin a vencer o título. Acabei por perder o título para o KENTA na seguinte tour da NOAH num espectáculo em Hiroshima a 13 de Outubro. (Eu consolei-me ao comer mais bolachas Country Ma'am.) Fui muito bem tratado pela Pro Wrestling NOAH, e foi apenas mais um exemplo do porquê que eu adorava lutar no estrangeiro, no geral.

Quando voltei a casa da digressão no Japão, fiquei chocado por descobrir que o Gabe Sapolsky tinha sido despedido da Ring of Honor, e eu estava devastado. Gabe tinha sido o booker desde a origem, e tínhamos uma excelente relação de trabalho. Ele sempre ouvia as minhas ideias e era honesto comigo quando as coisas eram boas e quando as coisas não eram tão boas. Infelizmente, o lado do negócio da ROH tinha ficado estagnado, e a organização estava a perder uma significativa quantidade de dinheiro. A popularidade do wrestling tinha entrado em declínio, e a quantidade de pessoas à procura de alternativas para o wrestling que viam na televisão era limitada. Então o Cary Silkin, o único dono da ROH e o indivíduo cujas finanças mantinham-na a flutuar, decidiu fazer mudanças.

Cary adorava wrestling e cresceu como um grande fã da WWE quando o Bruno Sammartino era o campeão. Ele coleccionava antigos posters e revistas de wrestling e adorava mostrá-los a pessoal que os apreciava. Ele frequentemente me dava velhas revistas de wrestling, da qual saiu a minha favorita com o "Nature Boy" Buddy Rogers na capa numa pose de wrestling icónica.

Quando o Cary decidiu substituir o Gabe, ele foi por alguém que ele achasse que incorporaria alguma da ideologia mais old school que ele adorava. Entre Adam Pearce, um wrestler independente conhecido pelo seu estilo tradicional. Ele era um dos melhores mauzões na cena independente e tinha lutado pelo país todo, a fazer pessoas odiá-lo.

Enquanto o Gabe agendaria espectáculos mais longos nos quais os participantes em quase todos os combates tentavam roubar o show, Pearce queria espectáculos mais curtos com os tipos do undercard a trabalhar duro, mas sem rebentar todos os truques do livro. Cary também estava a tentar fazer cortes orçamentais, e ele achou que o Pearce estivesse mais disposto a usar menos performers em cada espectáculo. Apesar de eu honestamente não achar que uma mudança de bookers fosse tornar a companhia rentável, entendi porque é que Cary fez a mudança.

Anteriormente à sua rescisão, o Gabe estava a agendar-me com o Claudio Castagnoli (Cesaro) numa rivalidade que era suposto culminar em Dezembro no Final Battle, o maior show da ROH do ano. O combate foi preparado no Manhattan Center num momento incrível em que o Claudio me esmagou a cabeça sob uma cadeira de aço. Quando o Pearce chegou a bordo, tinha um plano diferente. Ele acabou a minha feud com o Claudio de imediato, o que nos desapontou a ambos. Em vez disso, Pearce agendou-me contra o Morishima, que não tinha estado na ROH todo o ano, numa combate chamado "A Fight Without Honor," um combate raro na Ring of Honor onde vale absolutamente tudo. Dado o nosso passado juntos, foi uma manobra inteligente, e os fãs em Nova Iorque estavam entusiasmados para o ver.

O meu momento mais orgulhoso como lutador independente foi o Final Battle da ROH de 2008. Na WWE, há um estigma em relação a wrestlers independentes que antes de chegarmos à WWE, todos apenas lutámos à frente de cem pessoas nalgum arsenal algures. Sim, a maior parte de nós fizemos isso. Mas também fizemos coisas como este espectáculo. A 27 de Dezembro de 2008, a Ring of Honor atraiu uma plateia recordista de mais de 2500 fãs ao Hammerstein Ballroom em Nova Iorque. Fizemos isso sem ter um programa televisivo e sem ter estrelas de grande nome do passado do wrestling. Fomos nós. Todos nós. Criámos algo que os fãs queriam ver, e apesar da Ring of Honor ser um produto niche, nós fomos capazes de reunir uma quantidade enorme de apoio dos fãs baseado na qualidade do nosso wrestling e na crença dos fãs de que o que estavam a ver era importante.

A Ring of Honor moveu o espectáculo do Manhattan Center para o Hammerstein Ballroom, uma sala maior no mesmo edifício. No evento principal, lutei com o Morishima no nosso combate mais sangrento e violento até então. Foi um verdadeiro "grudge match," a culminar em mim a dar as cotoveladas em crucifixo na cara - com uma corrente à volta do braço - e depois a colocá-lo no Cattle Mutilation. A plateia explodiu quando eu ganhei, e foi um óptimo final para um excelente espectáculo.

Com todos os meus problemas de saúde a começar a acumular, decidi dar uma última tentativa à WWE e dei a mim mesmo todo o ano de 2009 para ser contratado. Se não resultasse, iria cortar nas minhas datas independentes e retomar os estudos, mudando onde focaria a minha energia.

Em 2009, tinha começado mesmo a gostar de kickboxing e grappling de submissão, mas infelizmente, não havia qualquer lugar para treinar em Aberdeen. Eu conduziria uma hora até Olympia, treinaxa kickboxing num ginásio, depois dirigia-me a outro ginásio para treinar jiu-jitsu. Tentava fazê-lo algumas vezes por semana, mas quando eu estava exausto de viajar, a última coisa que eu queria fazer era passar duas horas num carro só para treinar. Se eu ia mudar o meu foco no final do ano, ia passar o ano seguinte a fazer o que quisesse. Com isso em mente, nesse mês de Janeiro, mudei-me para Las Vegas.

Nos meus dias de folga do wrestling, quis focar-me nas artes marciais. Não me mudei para lá para a farra. De facto, como cidade, Las Vegas não me diz muito. Todos os turistas, o jogo, luzes cintilantes - nada disso é a minha cena. Porém, Vegas também é o lar da UFC e com isso, existe um monte de óptimos ginásios de MMA lá. Após experimentar várias das opções, acabei por me assentar na Xtreme Couture, propriedade do ex-UFC Heavyweight e Light Heavyweight Champion Randy Couture. Tive sorte por fazê-lo.

Comecei a treinar quatro dias por semana em dias que eu não estava a lutar ou a viajar. O ginásio estava apenas a dez minutos da minha casa, e eu podia treinar kickboxing às 9 da manhã e depois partir directo para grappling de submissão por duas horas após isso. Nada de viagens longas ou de tentar fazer tempo entre as aulas.

Neil Melanson era o treinador principal de grappling da Xtreme Couture na altura, e ele cedo começou a notar o quão regularmente eu aparecia. Após cerca de seis semanas de treino, Neil perguntou-me qual era a minha ideia e se eu estava interessado em lutar. Não estava, eu apenas gostava daquilo. Além disso, eu estava interessado em usar mais artes marciais legítimas no meu estilo de wrestling. Quando ele se apercebeu que eu era um wrestler profissional, ele achou brutal. Ele adorava wrestling durante a Attitude Era e até tinha considerado practicá-lo ele próprio. Neil é um tipo grande, cerca de 1.95m, e densamente musculado. Seria fácil imaginá-lo a ter muito sucesso no mundo do wrestling. Neil também sabia muito sobre a história do wrestling profissional e a sua transição de uma competição atlética real para o entretenimento que é hoje. Daquele momento para a frente, o Neil mostrou-me coisas fixes que ele achou que podiam ser boas para o pro wrestling.

Continuei a treinar arduamente e conseguia sentir-me a melhorar. Pouco tempo depois eu ficaria até depois da aula com o Neil e também o ajudava com algumas das coisas em que ele estava a trabalhar. O Neil dir-me-ia exactamente o que estava a tentar fazer, e eu tentaria todos os tipos de maneiras diferentes de me defender contra elas. Se eu fizesse algo que realmente o desorientasse, ele punha-me a fazê-lo mais uma e outra vez até ele a descobrir. Se ele estivesse a praticar grappling com alguém e algo que esse adversário fizesse lhe desse problemas, ele também me mandava fazer isso. Assistir à forma como ele abordava a aprendizagem era inspirador, e entretanto, aprendi cada vez mais.

Uma das coisas em que me destaquei foi num lock no ombro chamado "omoplata", a mesma manobra que usei contra o Roderick Strong na Ring of Honor. Mas quando cheguei a Vegas e treinei com grapplers que realmente sabiam o que estavam a fazer, eles eram capazes de sair da manobra. Neil mostrou-me como impedir que um gajo rolasse para fora ao puxar-lhe a cabeça enquanto tinha o ombro preso. Ele chamou à manobra o LeBell Lock em homenagem a Gene LeBell, com quem Neil tinha treinado. Ainda utilizo essa preensão hoje, apesar de agora ser conhecida como o "Yes!" Lock. Outra coisa fixe em treinar com o Neil foi ter-me colocado nesta estranha linhagem do catch wrestling, luta de captura: o Strangler Lewis treinou o Lou Thesz; Lou Thesz treinou o Gene LeBell; Genel LeBell treinou o Neil; e o Neil treinou-me a mim. Aí têm! Estou directamente ligado ao Strangler Lewis, o melhor pro wrestler da sua era!

Algum tempo depois, Neil apresentou-me ao Gene, um velho "colorido" que ainda conseguiria arrancar-te a cabeça hoje em dia. Ele esteve no canto da Ronda Rousey numa luta antes de ela atingir o estatuto grande. O Neil e eu fomos a um espectáculo e de seguida reunimo-nos brevemente com o Gene e a sua esposa, e foi um prazer conhecê-los. Eu estava honrado por conhecer o Gene e ainda mais honrado por ele vagamente me conhecer. Por essa altura, eu estava a usar o LeBell Lock na TV da WWE e até tinha os comentadores a chamar-lhe isso, pelo que eu acho que ele ficou agradecido.

Também em Janeiro, a Ring of Honor conseguiu um acordo televisivo com a HDNet, uma estação pertencente ao famoso bilionário Mark Cuban. A HDNet focava-se em força na demográfica masculina dos 18 aos 35 anos, mostrando muita MMA, e esperavam que o estilo mais atlético de wrestling que a ROH incluía apelaria às pessoas que regularmente assistiam à estação. Para a ROH, havia a esperança de que estar na TV viria a expor o produto a pessoas que normalmente não o veriam, e originalmente tínhamos um excelente horário ao Sábado à noite.

Os primeiros shows televisivos foram filmados na velha ECW Arena, e assistir ao pequeno edifício a sofrer uma metamorfose com a equipa de produção da HDNet foi incrível. Obviamente não se via tão polido como a WWE, mas para um espectáculo de wrestling independente, via-se óptimo. Levaram-me a uma tour no camião da produção , e pudemos trabalhar com a malta que produz televisão.

A Ring of Honor também tinha trazido o Jim Cornette e um ex-escritor da WWE chamado Dave Lagana para ajudar a formatar o programa. O Adam Pearce nunca tinha escrito TV antes - era um animal completamente diferente - mas fizeram um bom trabalho, e o programa foi vastamente diferente tanto da TNA como da WWE. Para o programa de uma hora, existiriam algumas curtas entrevistas, mas o foco estava sempre nos combates. Visto que o programa tinha apenas sessenta minutos, os espectadores nem sempre tinham a chance de ver os seus favoritos todas as semanas. Eu, por exemplo, tipicamente faria apenas um combate a cada três episódios, fazendo curtas entrevistas ou interferências pelo meio.

Infelizmente, o programa de TV não aumentou o negócio para a Ring of Honor, pelo que eu visse. O comparecimento estava estagnado, e ouvi dizer que as vendas de DVDs estavam igual. Apesar do programa nunca ter arrancado propriamente, foi uma óptima introdução à produção de wrestling de TV. Enquanto que antes eu podia lutar por quanto tempo, mais ou menos, eu achasse que fosse necessário, os tempos para os combates em televisão precisavam de ser concisos. Se eu tivesse vinte minutos para actuar, significava que o combate, as entradas e as consequências, todas precisavam de acontecer em vinte minutos ou menos. Se não estivesses dentro do teu tempo, eles teriam que editar o teu combate ou cortar outra coisa do programa. Admito que me excedi no tempo em alguns dos meus combates. Levou-me algum tempo para descobrir quanto tempo as coisas realmente tomariam, mas tentei aprender rapidamente. A primeira vez que a entrevista de alguém foi cortada porque o meu combate passou do tempo, senti-me horrível.

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No próximo capítulo: E chega o grande momento. A tal chamada. O grande passo. As grandes dúvidas. E até a grande despedida. Não devem perder a próxima parte para saberem como Bryan chegou à E...

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