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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 10 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


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Toda a minha perspectiva sobre como eu abordava o dojo mudou quando lá fui em Agosto de 2002 e conheci um wrestler da New Japan chamado Shinya "Togi" Makabe que estava a administrar o exercício. Eu saí-me muito bem nesse dia, e no final da sessão, ele falou com todos os atletas que ali estavam, através de um intérprete.

"Não podes cá vir por apenas um dia e esperar que já vais para a New Japan," disse ele, antes de apontar para o Rocky Romero, o TJ Perkins e o Ricky Reyes. "Estes gajos estão aqui todos os dias. Eles mostram a sua determinação, trabalham duro. E se quiseres ter sucesso, precisas de trabalhar igualmente duro."

Essas palavras realmente ressoaram comigo. Eu estava a trabalhar arduamente em Fremont, mas ninguém estava a ver esse trabalho árduo. A esse ponto, eu sabia o que precisava de fazer.

Quando voltei a Fremont, disse ao Roland que precisávamos de falar. Expliquei-lhe que, apesar de estar muito grato pela oportunidade que me dera, para a minha carreira andar para a frente, eu precisava de me mudar para Santa Monica e treinar no Inoki Dojo a tempo inteiro. Esperava que Roland ficasse chateado ou no mínimo, desapontado, mas não ficou. Acho que "excitado" será uma palavra forte mas estava definitivamente aliviado. Eu não tinha sido capaz de trazer muitos alunos novos para a escola, e mesmo que Roland não me estivesse a pagar montes de dinheiro, era suficiente para colocar algum stress nas suas finanças. Ele achou que era uma óptima ideia para ambos. Então em inícios de Setembro, coloquei as malas de novo no meu carro e mudei-me para Santa Monica.

Descobri que todos os tipos que treinavam no Inoki Dojo viviam localmente. E com "localmente", refiro-me à versão Los Angeles de localmente. Por vezes levava ao TJ Perkins duas horas para chegar ao dojo, só por causa do trânsito. Antes de me mudar, falei com a Hiroki Inoki (filha do Antonio Inoki) e o seu marido, Simon, que administravam o lugar juntos. Eles disseram que adorariam receber-me mas que havia um problema em relação a onde viveria. Los Angeles é cara, e apesar de ter sido capaz de juntar algum dinheiro a trabalhar para Roland, uma renda de 1000$ por mês baixa as tuas poupanças num instante. Foi quando eu perguntei se podia viver no dojo. O casal considerou-o, fizeram algumas chamadas, e depois disseram-me que esse arranjo podia resultar. Mal me conheciam, mas eu tinha reputação de ser honesto e responsável. Olhando para trás, acho chocante que tenham concordado, tendo em conta que eu era apenas um estranho que deixaram viver na sua muito bonita e cara instalação. Da perspectiva deles, suponho que fosse bom saber que alguém estava lá todo o tempo para vigiar o lugar.

Inicialmente dormi no meu saco-cama nos tapetes de wrestling, mas após alguns meses, eu arranjei uma cabana dos excedentes do exército e coloquei-a sobre a área do escritório. Era apenas um monte de contraplacado para ali, mas dava-me um pouco de privacidade no caso de precisar de me deitar enquanto o dojo estava ocupado.

Treinar lá foi brutal. Ao início, Shinya Makabe - cujo conselho me persuadira a agir - era nosso treinador e ensinou-nos a maneira New Japan de fazer as coisas. Assim que ele saiu, um lutador de MMA chamado Justin McCully guiou-nos através de práticas, misturando cenas de pro wrestling com jiu-jitsu e kickboxing. Era um sítio divertido para se estar e trabalhávamos arduamente.

Muito para minha surpresa, foi-me oferecida uma digressão de três semanas com a New Japan em Outubro, apenas um mês após lá ter começado a treinar a tempo inteiro, juntando-me ao Ricky Reyes e ao Rocky Romero, que faziam equipa juntos como os Havana Pitbulls. Eu estava encantado. A digressão foi incrível. A New Japan era a maior companhia de wrestling no Japão na altura, e lutávamos em frente a, no mínimo, mil pessoas todas as noites. O destaque, no entanto, foi a minha primeira vez a lutar no Tokyo Dome.

O Tokyo Dome é enorme. Tem capacidade para sessenta mil pessoas para um espectáculo de wrestling. Quando lá entrei pela primeira vez estava maravilhado. O telhado em forma de cúpula é uma estrutura de pressão pneumática, sustentada pela pressurização do interior do edifício. Quando chegámos, entrámos numa sala que parecia um cofre. Fecharam a porta pela qual entrámos - na altura pude sentir a pressão a alterar-se - e em seguida abriram outra porta grande para entrar para o estádio. Tudo isso era feito para estabilizar a pressão e manter o telhado, como eu lhe chamava, "inflado." Para mim, o edifício era uma proeza da engenharia moderna.

Num espectáculo chamado Spiral a 14 de Outubro, fiz equipa com os Pitbulls contra o Masahito Kakihara, o Tiger Mask, e um dos meus wrestlers favoritos de todos os tempos, Jushin "Thunder" Liger. Pela altura em que eu andava no liceu, Liger tinha vindo aos Estados Unidos e lutou para a WCW múltiplas vezes, incluindo um combate de alta categoria com o Brian Pillman, que foi incrível para o seu tempo.

Pouco antes do nosso combate, o árbitro Masao Tayama, que falava um Inglês perfeito e estava sempre lá para nos ajudar, deu-nos um conselho na brincadeira: "Não olhem para a plateia quando descerem a rampa." Eu conseguia entender o porquê. A rampa em direcção ao ringue no Tokyo Dome era longa, talvez umas cem jardas, e era intimidador para três gajos que nunca tinham lutado frente a uma plateia minimamente perto desse tamanho.

Tinham um carro de golfe a levar-nos para a zona do palco, de onde faríamos a nossa entrada. Todos os três estávamos tontos que nem meninas - já para não falar um pouco nervosos - porém, quando saímos, não pude evitar olhar para o público. Havia mais de trinta mil pessoas na assistência, e apesar de ser provável que menos de dez porcento da audiência tivesse sequer ouvido falar de nós os três, não importava. Eu estava hipnotizado e com sorte por ter chegado ao ringue sem tropeçar em mim mesmo. Lembro-me de nada do combate, apenas que tive dificuldade em evitar um sorriso estampado na cara durante o seu decorrer. Pouco tempo depois, acabaria a viver no dojo e faria mais viagens ao Japão.

Apesar de anteriormente estar completamente focado no wrestling, viver no Inoki Dojo forçou-me a estar rodeado por wrestling constantemente. Não havia saída. Às vezes era sufocante, mas foi sem dúvida bom para o meu desenvolvimento. O ideal de Inoki de infundir pro wrestling com artes marciais legítimas abriu-me os olhos para tudo o que era possível com o formato, e como resultado, eu tinha desempenhos melhores que nunca.

Em Abril de 2003, na ROH, lutei naquele que - até àquele ponto - foi o melhor combate da minha carreira. Foi contra o Paul London que, apesar de relativamente novo para a ROH, era adorado pelos fãs devido ao seu carisma, à sua habilidade de vender dor, e ao seu estilo daredevil de wrestling. Paul tinha treinado com o Rudy Boy Gonzalez em San Antonio, e tínhamos descoberto que tínhamos química instantânea da primeira vez que lutámos, uns meses antes. O combate inicial que tivemos foi relativamente curto, abaixo dos quinze minutos, mas os fãs gostaram, e o Gabe agendou a revanche para ser um combate "Two-out-of-Three Falls."

Tanto o Shawn Michaels e o William Regal me tentaram impingir a ideia de que, mais do que manobras, o contar de história era a parte mais importante de um combate. Apesar de ter tentado aprender o máximo de técnicas que pude, ao longo dos anos, também me foquei sempre em maneiras diferentes de contar histórias. O nosso rematch passou dos quarenta minutos, e não só foi o combate mais longo que eu já tinha tido, como pela primeira vez, tinha mesmo conseguido contar uma história num combate. Não lutei outro combate na ROH até sete meses, e essa foi a forma perfeita de sair.

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No próximo capítulo: Bryan continuará a crescer na New Japan e até já vai dar as suas primeiras visitas ao Reino Unido! Claro que, tanto num sítio como no outro, tem histórias muito caricatas para contar, que não podem perder!

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