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O verdadeiro significado do talento


O talento no wrestling parece ser subjetividade na visão de fãs que encaram a modalidade como mero palco para a mecanização de atores guiados pelos writers. Entretanto, o sucesso na modalidade – que perfaz-se, em parte, devido ao talento – é algo bastante complexo e nem todos estão fadados a ele.

Findados os meus compromissos nas últimas semanas, os quais me impediram de postar por algum tempo, pensei em debater algo que me chamou a atenção no último mês de 2014. Devido a minha agenda, o segundo semestre foi escasso de oportunidades para ver os shows da WWE e, nesse final de ano, ainda menos. Contudo, aproveitei para, com uma ânsia e expectativa que há muito tempo não tinha, ver o segmento de aposentadoria de Daniel Bryan.

De fato, foi algo que me chamou a atenção aquando do anúncio e criou em mim uma aura daquelas que contam-se ínfimas vezes enquanto se é fã de wrestling. O momento foi fantástico, notando aí a atmosfera, a participação do público e o próprio Bryan, apto a, quem diria, gerir as massas (em uma promo) como raros conseguem.

Para mim, esta é a definição de talento.

O talento no wrestling é o movimentar do público.  Este movimentar, por sua vez, pode ser no que tange a promos ou a lutas, pouco importa, desde que se faça.

Embora saibamos que talento não é equivalente a sucesso, muito podemos observar de equivalência entre ambos. Dos lutadores de topo e consolidados na WWE, todos têm talento. Dos que rumam ao main event, alguns.

Não é a toa que Dean Ambrose, ainda que não esteja diretamente ligado na storyline da Autoridade, consegue perpassar seus antigos colegas de Shield e ser o que, até agora, mostra-se mais pronto para o topo. Rollins, por outro lado, é uma aposta correta da WWE a ser carregado nas costas, por hora, já que, para mim, era justamente o que mais precisava de cuidados no findar da stable.

Por fim, cabe-se falar de Roman Reigns – e devo ser extenso.

Perdi a conta das vezes que, neste blog, li o mesmo comentário de fãs insatisfeitos com a posição de John Cena no seio da WWE. O argumento, quase sempre, recai no mesmo ponto: “Qualquer um poderia fazer o papel que John Cena faz.” Não acredito.

Reparem em Roman Reigns e percebam. Reigns tem a locomotiva WWE ao seu lado, puxando-o acima nos rankings de importância na companhia, que incessantemente tenta apresentá-lo como um produto a ser engolido. Sua construção não deixa de ser sólida e, embora prematura, é, ao mesmo tempo, cautelosa. O moldar do, quiçá, próximo grande nome na empresa, entretanto, não corre bem. Explica-se: Reigns não atingiu o status de talento. Seu talento está em fase embrionária, arcaica. Hoje, Reigns não tem capacidades para guiar sequer um PPV.

Suas limitações, que não são poucas, cada vez mais mostram-se claras após o fim dos Shield, que outrora, com maestria, serviam de forma a proteger e esconder os problemas graves que encontra o desenvolvimento de Reigns rumo ao topo.

Poderia Reigns ocupar o papel de John Cena com sucesso? Não. Pronto, cá está o fim da teorização de que um qualquer poderia fazer um papel melhor que John Cena, se tivesse sido escolhido em 2002.

Gostem ou não, Cena é a representação do talento e um modelo a ser seguido por jovens estrelas que almejam no futuro alcançar o plano de equivalência e o plano de pax na carreira, como o que hoje vive Cena. Cena renovou a modalidade em seu tempo, apresentou algo novo que o ligou aos fãs e, embasados nestes, alçou-se rumo à solidez até hoje alcançada por mais ninguém. Sim, com apoio de um plano de metas da WWE, mas sem tirar mérito algum da sua excelência em, mais de uma década depois, continuar como o nome que, em todo o plantel, consegue a melhor reação do público. Cá está: talento.

Sei que meu pensamento não é universal, pois existem muitos fãs, os quais prefiro, sinceramente, ignorar, que, em um lapso da moral e bons costumes ou, costurados adjuntos à opinião pública e o senso comum, preferem dizer que talento não é, exatamente, isto que vos apresento.

Entretanto, sou somente um, desculpem a estupidez, sensacionista. Falo o que vejo.

Se para fazer sucesso na TNA é preciso ser um ex-WWE ou na NJPW ser um exímio wrestler, para mim pouco importa. Escrevo, desde sempre, sobre a WWE. A WWE, não é a toa, é maior que todas essas outras empresas e, lá, o sucesso é equivalente ao carisma, ao mexer com o público. Aqui está algo incontestável. É visto.

É basilar depreender daí que talento, igualmente, não é algo efêmero. A constância com que se arrancam reações das massas é a medida envolvida no processo de separar um Dean Ambrose de um Roman Reigns.

Ou, até mesmo, um Daniel Bryan de um Daniel Bryan.

Retomo aqui o ponto com o qual iniciei este artigo.

Bryan conseguiu, na Wrestlemania XXX, irromper e destruir toda essa minha teoria levantada ao longo das últimas 843 palavras. Isso pois, vendo hoje, afora da alucinógena ascensão de Daniel, todo o processo que correu do Summerslam ’13 ao PPV de abril de ’14 foi totalmente passageiro. A prova foi a ressaca pesada que tomou a carreira de Bryan que, duas semanas após sagrar-se WWE World Heavyweight Champion, estava num patamar pífio, daqueles que me lembram os péssimos reinados de Alberto Del Rio (ou seja, todos os reinados, já que todos foram pésssimos).

Contudo, a minha motivação para o tema desse artigo me leva a reiterar esse último parágrafo. Em dezembro, regressou Bryan à forma original. Regressou ao plano de (espero não estar me precipitando em dizer) constância. A sua volta ao ringues deu-se em um segmento que, na minha visão, foi um dos melhores do ano passado e um dos melhores que já vi.

Foi curto, mas bem gestado. Esteve Bryan à frente do projeto? Talvez. Pouco importa. O talento não é isso. O talento é simplesmente pegar o texto escrito pelos writers e dar o seu melhor, dar um ar de naturalidade e vivacidade que irrompa da mecanização com que 90% dos wrestlers da WWE interpretam suas promos (Reigns, Orton, Rollins, Sheamus, etc.).

Bryan provou ter passado o que sempre foi seu maior obstáculo. Ao mostrar-se apto a gerir uma promo após a Road to Wrestlemania, onde estavam todos tomados no movimento yes, parece-me, finalmente, que o próximo reinado do american dragon não soará tão estranho quanto o primeiro.

A chegada de Daniel a uma posição mais qualificada lhe permite também sanar sérios problemas que perfizeram a WWE no ínterim Summerslam-volta da Autoridade. Bryan é uma lufada de ar fresco. Assim como outrora fora John Cena.

Parece estigmatizado falar em lufada de ar fresco, em épocas onde isso é ridicularizado e qualquer um é capaz disso. Entretanto, Bryan é diferente. Bryan tem aquilo de que carecem os outros que o tentam: talento.

Outra vez, talento não é imposto. Talento se consegue por meio do melhor júri de todos: o público. E não o público de uma blogosfera, mas o público das arenas, aquele que realmente é fã. Aquele que é sensacionista. O que vive o wrestling sem pensar que determinado lutador não presta porque não é bom em ringue. Acordem, amigos, estamos em 2015. Acordem do seu sono molhado de nostalgia, que vê nas indys a chance de retomar uma memória inexistente de um wrestling anterior aos 80’s. O wrestling acabou na década de 90. Hoje vivemos o esporte-entretenimento.

Nele, John Cena é melhor que Dolph Ziggler, por mais que isso machuque a mentalidade alheia.

E Bryan, portanto, é o caminho a seguir na liderança póstuma da WWE. Tem-se aqui um futuro possivelmente gestado, a ser analisado nos próximos meses se, de fato, será outra vez efêmero ou, como prevejo, dessa vez solidificado e arraigado ao sucesso.

Quanto aos Roman Reigns da vida: chorem, aceitem os textos dos writers e continuem nas habituais promos de merda. O sucesso não virá a Reigns. Poderão vir Rumble matches, títulos mundiais e etc. O sucesso, não. E, se o sucesso não vem, devido à falta de talento, então é porque a carreira do lutador está em contagem regressiva para se deteriorar e estar fadada ao purgatório, vulgo mid card. Aqui está The Miz.

Seja sensacionista. Entenda que eu, embora por vezes não goste de expor a verdade, preciso fazê-lo.

“O que nós vemos das cousas são cousas.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver”
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