Ultimas

Slobber Knocker #120: Bound for Glory International Supercard Extravaganza


Sejam todos bem-vindos a mais uma edição do Slobber Knocker e espero que estejam todos bem-dispostos. Para esta semana, volto as costas à WWE por um pouco, apesar de haver sempre algo a acontecer lá para os seus lados. Aqui já me volto aos fãs da TNA e até lhes dirijo já a questão: estão tão cépticos em relação ao cartaz do Bound for Glory quanto eu?

Achei uma manobra arriscada já o evento ser no Japão. E agora que olho para o card anunciado e vejo que é mais um espectáculo inter-companhias em vez do maior evento do ano onde culminam as maiores histórias e estrelas... Vejo um risco descomunal. Não nego que venha a apresentar wrestling de alto calibre, mas muito sinceramente, está a faltar-me aquele "feeling" de Bound for Glory que devia ter. Isto se tivermos em conta que, mesmo que em escala mais reduzida, ainda funciona como a sua Wrestlemania.

Com este artigo, pretendo analisar alguns factores onde possa estar fragilizado e onde se encontre pecado que faça alguns fãs da companhia torcer o nariz. Não pretendo deitar o evento abaixo, de maneira nenhuma, estarei a antecipá-lo e assistirei com todo o gosto com que o faço todos os anos.

Falta de histórias


É o que mais se vê. Seguindo o título que dei a este artigo, parece um supercard preparado com a WRESTLE-1, semelhante àquilo que já fizeram anteriormente e lançaram em PPV na série "One Night Only". Crê-se que o main event seja o culminar da storyline com James Storm, Sanada e o The Great Muta. E crê-se, por ser o único que ainda carregue uma história que já se estende, mais ou menos, desde o Lockdown. Uma história com um desfecho mais que lógico num PPV deste calibre. Esperava-se, talvez na parte cimeira do meio do card a juntar-se a outros culminares fortes. Mas em vez disso, é a história principal. E a única história também, considere-se.

O grande problema a apontar aqui é a forma como se encurralaram em termos de timeline. Os actuais episódios do Impact Wrestling já estão gravados há mesmo muito tempo e tornou-se dificílimo ou impossível construir neles histórias seguras que pudessem construir o card do Bound for Glory, à excepção da tal história com James Storm em missão contra o Great Muta. Já faz bastante tempo que se sabe da perna partida de Davey Richards que o deixou de baixa, mas andamos a vê-lo em combates bem perigosos e candidatos a combates do ano. Porque já faz meses. E para seguir as grandes histórias, temos mesmo que assistir ao Impact Wrestling semanalmente porque é lá que tudo acontece e é lá que tudo culmina. O seu maior PPV, este ano, é apenas um evento à parte. Um supercard. Uma parceria. E muitos fãs, que respeitam e admiram o legado do Bound for Glory, já se alienaram por isso.

Falta de títulos em jogo


Existem dois campeonatos já assinalados no card: Samoa Joe a defender contra Low Ki e Kaz Hayashi, integrante do Wrestle-1, seguindo a estrutura inter-companhias do PPV; Havok a defender o título das Knockouts contra Velvet Sky, num dos poucos combates que não envolve lutadores da promoção Japonesa. Assume-se que os Wolves também fossem defender os títulos mas que a lesão de Davey Richards impossibilitasse tal e que tenham sido substituídos pelos Team 3D num combate contra a equipa de Abyss e Tommy Dreamer, no outro combate sem integrantes Japoneses e que fica a parecer um booking totalmente aleatório - e não é?

A maior lacuna pode residir já aqui: não há título Mundial à vista. Como o poderão vir a acrescentar ainda? Só há mais um Impact Wrestling até lá, gravado há tempos, em que o título ainda anda envolvido numa história sem culminação à vista - e já muita coisa lhe deve ter acontecido no caminho para o PPV, mas para já ainda só permanece gravado até ver a luz do dia eventualmente. Não vai ser na própria noite que se vão lembrar e dizer "Vais defender o título contra fulano!" E lá vão eles. Creio que já dá para assumir que o título Mundial está de fora. E olhando para o card, com a situação do título de equipas, seria o único. Como se estivessem à espera, desde sempre, de não incluir o título principal no card do evento principal do ano. Ou suposto. É possível que, por esta altura, já soubessem bem que a timeline difícil já os estava a tramar.

Com isto entramos numa fase muito constrangedora de wrestling: em ambas as maiores companhias, nos seus PPVs do mês, em semanas seguidas... Não veremos os títulos principais a ser defendidos. Bizarro, no mínimo.

Falta de nomes grandes


Não quer dizer que não existam. Tem The Great Muta, um nome incontornável do wrestling mundial a preencher o main event. Têm alguns dos seus talentos de topo mais jovens, têm Samoa Joe a defender um título e, na noite em que são introduzidos no Hall of Fame, os Team 3D até se encontram com um velho amigo, o veterano, Tommy Dreamer. Há nomes grandes aqui. Mas as ausências também são suficientemente berrantes para se fazer notar.

Não há Bobby Roode, não há Austin Aries. Não há título Mundial, logo não há Bobby Lashley, o seu portador. Mesmo que os seus "star powers" sejam questionáveis, os últimos Campeões Mundiais Eric Young e Magnus também não constam na lista. Com ou sem irmão, também não parece haver Jeff Hardy. Às custas de uma lesão não há títulos Tag Team, nem os seus portadores Wolves. E, devido a um estatuto tremido, lesões frequentes e papel não activo em TV, também não há Kurt Angle onde se veja. Sempre é o que já não se esperava há muito tempo.

Aqui considero uma situação semelhante à do anterior. Não estão no card, por agora. Mas também não estou a ver a situação em que os venham a meter. Não creio que esteja gravada há meses um segmento em que os colocam em acção, que possa sair para o ecrã nesta semana - episódio do Impact Wrestling que já saiu quando este texto sai, mas que está por transmitir enquanto é escrito. E tão pouco estou a ver a probabilidade de os despacharem a todos para o ringue no próprio evento. "Vocês são muitos e não tinha onde vos meter no card. Batalhem lá nalguma battle royal. Quem ganha tem uma oportunidade pelo título, um dia destes. Quando Deus quiser!". Não há história onde os meter. E fica a parecer nocivo e prejudicial para o evento, ao ver que esses nomes tidos como verdadeiras prioridades, nomes de topo, aqueles que devem proteger o seu posto no grande evento, a todo o custo... Não vão lá estar. E como cairá nos atletas ver que o maior evento do ano não os inclui? Como cairá nos atletas ver o seu maior PPV, aquele pelo qual eles tanto anseiam ao longo de todo o ano... Ter uma mudança de formato tão drástica?

Falta de promoção


Esta até já é admitida pelos próprios. Este ano, o Bound for Glory não foi a sua principal prioridade. Estavam mais preocupados num problema de dimensão grande e tinham que sair desse com vida antes de se preocupar com PPVs grandes. Um contrato com uma estação televisiva, com o recente cancelamento da Spike TV. Compreende-se a prioridade e o único que possa ser preocupante é a demora em encontrar interessados. Parece já estar bem encaminhado para prosseguir com o Impact Wrestling e retomá-lo noutra estação no próximo ano, logo talvez tenhamos um Bound for Glory tradicional em 2015.

Relacionado com esse ponto é o facto de guardarem todos os grandes acontecimentos para a TV e para os episódios semanais. Para além da procura de canal, a prioridade também se pode justificar pela elevada qualidade que o programa televisivo tem apresentado nas recentes semanas e pelo destaque e fasquia elevada intencional que dão ao construir e culminar todas as histórias em TV, ocasionalmente criando especiais com os nomes dos antigos PPV - lá com alguma loucura ainda lhes dava para fazer um Bound for Glory em televisão.

Com isso, as histórias em TV - já gravadas há bastante tempo, volto a recordar - são o principal foco e vão decorrendo actualmente sem compromisso e sem a preocupação de culminar num grande palco anual. O tal grande palco anual é construído à parte, com pouquíssimas ligações ao conteúdo televisivo, sem marcar presença no programa para além do normal anúncio e do compreensível hype de ser realizado em Tóquio. Até arrisco dizer que alguns leitores mais distraídos nem soubessem que o evento se realizava já este Domingo, dia 12 de Outubro, por toda a sua construção ser feita fora de ecrã, não ter tease em TV e combates sem história que não podem ter suas feuds construídas em TV semanal, para onde está voltada toda a atenção. Dá para considerar que o Bound for Glory, o grandioso Bound for Glory, tenha sido reduzido a pouco mais, um passinho acima apenas, de um One Night Only.

A partilha


É outro factor importante a apontar. O Bound for Glory nem chega a ser exclusivo da TNA e fazem-no com apoio da Wrestle-1 com quem dividem o card. O grande evento da companhia tornou-se um evento de colaboração entre duas companhias e assemelha-se a um "War of the Worlds" decorrido este ano com a Ring of Honor e a New Japan Pro Wrestling. Ou, claro, um "One Night Only" já gravado e lançado em Julho com o título "Global IMPACT Japan".

É como imaginarem que a Wrestlemania era feita em colaboração com outra companhia qualquer e a maioria do card colocaria uma contra a outra, representadas por diferentes wrestlers, com alguns combates exclusivos de uma só companhia a acrescentar para completar. O Bound for Glory não é a Wrestlemania, de facto, longe está ela de lá chegar, mas ainda é suposto ser vendida como a mais pequena mas prestigiosa Wrestlemania da TNA. E, este ano, é em colaboração com a Wrestle-1, com 4 combates TNA vs Wrestle-1, um campeonato a envolver estrelas de ambas as companhias e um combate tag team exclusivo com estrelas da Wrestle-1. Com este último até apresenta combates inteiramente de outras companhias no maior evento da TNA.

Entende-se que sejam negócios e que esta parceria seja rentável para ambos. Não se pode negar que a TNA atravessa algumas dificuldades de quando a quando e que vai sempre sendo capaz de passar por cima. Acredita-se que esta parceria com uma companhia suficientemente notável - ao ser fundada por uma das maiores lendas do wrestling Japonês - tenha sido uma boa e fulcral medida para fortalecer o chão onde a TNA caminha. E partilhar o seu grande evento com eles é uma medida arriscada mas considera-se uma boa ajuda mútua e pagamento que também rende. E se estavam tão lampeiros em ir para o Japão fazer o evento, compreende-se que queiram garantir um público não alienado ao apresentar-lhes caras conhecidas a fazer o que tanto gostam de ver. Apesar que a ideia de ir para o Japão já deve ter vindo depois e já com esta divisão em mente. Portanto, é compreensível, mas para o fã da TNA fica ali um Bound for Glory bizarro na cronologia a parecer um outro evento colaborativo qualquer.

Um outro público


O anúncio de que o evento seria realizado em Tóquio, no Japão, deu que falar. Era uma manobra arriscada que poderia suscitar interesse. E o primeiro pensamento que nos veio à mente foi que teriam que se esforçar por agradar o público Japonês com o seu conteúdo. Apenas com um mínimo de adaptação, iam apresentar o seu produto a um público estrangeiro com hábito noutro estilo na modalidade. No entanto decidiram fazer o contrário.

Adaptaram todo o produto ao público e levam um espectáculo direccionado ao público Japonês, sugerindo que o seu público nacional é que também terá que se adaptar e verá uma coisa mais "à Japonesa" numa companhia onde não é costume. Não é que seja mau, longe disso, como se fosse possível deitar abaixo o wrestling Japonês de alguma forma, refiro-me apenas a uma questão de hábito do produto. Aqui é quase virado do avesso para que a visita internacional não seja tão arriscada e tenha aquela segurança de que o público não se vire a eles porque uma boa fatia do evento é constituída pelos seus próprios.

Com estas condições, realmente seria difícil fazer culminar histórias, se seria difícil que o público Japonês estivesse a par delas. E daí sai este card diferente e polarizador.

Com certeza que existirão mais factores ainda que se possam apontar à confusão que este card do Bound for Glory pode causar. Mas decido ficar por aqui e deixar listadas as principais razões que são as que mais depressa saltam à mente. Mais alguma coisa que vos esteja a fazer confusão, para além destas mais evidentes, estão à vossa vontade de acrescentar, o artigo é todo vosso. Da mesma forma que podem discordar se acham que existem imensas coisas positivas a reter deste evento. E sei que terá pelo menos uma coisa: wrestling de alto nível, calibre e qualidade. Só não terá aquele feeling de ser um Bound for Glory. Pronto, com isso resumo todo o artigo. Estejam à vontade de debater o assunto e acrescentem:

"Acham que é uma boa jogada internacionalizar o Bound for Glory com um card diferente ou o melhor seria manter o formato tradicional?"

Na próxima semana cá estarei a cumprir o meu hábito e vou fazer uma revisão deste mesmo evento. Esperemos que, em termos de wrestling, só tenha coisas boas a dizer. Até lá fiquem bem, desfrutem do vosso tempo e um bom Bound for Glory para todos os fãs.

Cumprimentos,
Chris JRM

Com tecnologia do Blogger.