Slobber Knocker #52: Ele há coincidências do caraças...
Olá a todos e bem-vindos a mais um Slobber Knocker após uma
semana solarenga e quente em território Português. Agora com um fim-de-semana
mais fresco, porque não começá-lo com um Slobber Knocker repleto de
curiosidades...
Não tenho a certeza se o que apresento aqui cai propriamente na definição de coincidência – umas sim, outras nem por isso -,
mas foi o que lhe pude chamar. A ideia para este artigo veio absolutamente do
nada. Após uma semana a matutar sobre o que raio havia de escrever para esta
edição, num daqueles devaneios pensativos em que me distraio a pensar em nada
em concreto, começo a lembrar-me de casos curiosos de acontecimentos passados
que podem ser encarados de forma totalmente diferente quando um acontecimento
no futuro lhe dá outro significado completamente diferente. Acontecimentos que
em retrospectiva ou são assustadores ou são engraçadíssimos. Se não perceberem
bem o que quero dizer com isso, espero que os exemplos que apresento esclareçam
o conceito. No fundo… Baseiam-se mesmo em coincidências.
O certo é que este tipo de coisas sempre me interessaram e
me entretiveram, são daquelas curiosidades que me prendem a atenção. A ver se
consegue dar-se o mesmo convosco. A primeira metade dos exemplos será mais
macabra e obscura enquanto que a segunda metade penderá um pouco mais para o
cómico. Todos podem ser um pouco bizarros. Vejamos lá:
Starrcade 1997
Actualmente são os melhores amiguinhos com alguns problemas
entre eles. Mas já grandes rivalidades tiveram. Refiro-me a Hulk Hogan e Sting.
Em pleno 1997 Sting encarnou a sua personagem sinistra que vagueava pelas
traves da arena, silencioso e misterioso. Uma referência cinematográfica e
tendo em conta que ele ainda há pouco era o Joker, o homem já andava destinado
a ser uma personagem de filme andante. Mas não é isso que aqui importa. Assim
que se começaram a descobrir os propósitos de Sting, este demonstrou estar
contra os polémicos nWo e isto acabou por culminar num combate entre Hogan, o
Campeão Mundial na altura e Sting, com o título em jogo, no main event do
Starrcade, pay-per-view de Dezembro da WCW.
O que é que há de errado aqui? Os clips promotores da
rivalidade hoje podem ser vistos com ainda mais desconforto do que aquele que
queriam causar na altura. Para parodiar a descida de Sting ao ringue,
utilizaram um boneco seu para figurar a entrada… com o fio a ser cortado e o
boneco de Sting a cair num ringue em brinquedo. Para de seguida vermos o
“action figure Sting” dentro de um caixão. Sim, era suposto ser algo obscuro e
perturbador. Mas se avançarmos um ano e qualquer coisa até ao Over the Edge
1999 e nos lembrarmos do trágico episódio de Owen Hart… O desconforto com que
assistimos a esse clip aumenta. Que previsão tão macabra que eles foram
acidentalmente fazer…
Chris Benoit
Ele é um caso de “Harsher in Hindsight” andante, temos que
admitir. Parece que qualquer coisa que vemos dele a fazer em vídeos antigos nos
traz à memória o seu trágico fim. Todos nós temos uma melhor capacidade de
separar o Benoit lutador do Benoit pessoa no fim da sua vida do que a
companhia… Mas temos que admitir que até mesmo nós temos deslizes. Um “suicide
dive” é um move normal, mas feito por ele fica automaticamente arrepiante. Não
o podemos evitar. Qualquer bump mais extremo que vemos ele a fazer de cabeça –
que eram muitos – é ainda mais doloroso de ver porque estamos a ver um dos
muitos golpes que acumulados deixaram-lhe o cérebro no estado em que ficou. Só
a “taunt” dele antes do finisher já causa desconforto. Tendo em conta o
conceito deste artigo, podia colocar aqui só o nome dele que já encaixava, mas
tenho sempre que desenvolver o assunto. E porque há muita coisa no passado de
Benoit que fica mais difícil de ver no presente devido aos tais acontecimentos
que mudam tudo.
Já a começar pelo programa de tributo à sua memória. A WWE estava a aventurar-se numa storyline em que matariam Vince McMahon – a infame cena da limusina que já foi tão reproduzida. Tiveram que romper o kayfabe. Vince teve que aparecer vivo de novo para explicar a situação. Afinal qual foi o problema? O show que era para ser de tributo a Vince foi remodelado para ser em memória a Chris Benoit… Quando ainda não se sabiam os pormenores das mortes de toda a família. Não tenho a certeza se foi após o programa ou até durante que saiu a informação de que teria sido o próprio Benoit a assassinar a família e a acabar com a sua própria vida em seguida. Vince apercebeu-se que acabara de prestar uma sentida homenagem e louvores a um homicida. Volto a dizer: claro que nós conseguimos separar melhor o Benoit em ringue do Benoit macabro dos últimos momentos da sua vida. O seu talento e a sua carreira são merecidíssimas de uma homenagem e dignos de Hall of Fame. Mas se fossemos os donos da companhia, conseguiríamos pensar igual? Talvez não. E essa “mancha” teve que ser emendada da forma mais bizarra: “apagando” a existência de Chris Benoit. Sim, isto não é nenhuma coincidência, isto é mesmo algo que actua directamente no assunto. Mas achei que ainda encaixava no conceito de “harsher in hindsight” que eu queria abordar mas que não conseguia explicar no título nem em palavras muito concretas. Mas casos mais curiosos e coincidentes do que este? Vejamos:
- Não me recordo com quem foi nem quando foi. Lembro-me de
ter visto numa Botchamania mas não retive informação suficiente para saber
quando foi, muito menos saber em que episódio da BM se encontra. Mas consiste
numa announcer feminina – não me recordo quem fosse, a imagem na minha cabeça é
a da Lillian mas pode ser só por ser a primeira announcer feminina que me
lembre – a enganar-se no seu nome – também não me lembro mas até é capaz de lhe
ter chamado Chris Jericho… São muitos Chris, só faltava lá eu. Para Benoit
conseguir heat para a sua personagem heel, o engano foi aproveitado para um
angle no backstage em que Benoit age de forma rude e agressiva perante ela. Há
qualquer coisa em ver o Benoit a ter uma postura agressiva e violenta para com
uma mulher que seja um pouco perturbador de se ver actualmente…
- Anteriormente ao acidente, uma publicação “smart mark”
publicara uma entrevista com um “mark” com o sentido de compreender a abordagem
e mente de um comum fã de wrestling que ainda siga a modalidade como real. Como
resposta à questão de qual seria a Superstar da WWE que ele não quereria
absolutamente encontrar nalgum beco escuro na vida real… O tal “mark” não
partiu para nenhum dos grandalhões nem para nenhum dos mais desprezíveis heels
ou gimmicks bizarras. A resposta foi Chris Benoit e até teve concordância do
entrevistador. Na altura ele até era conhecido como um paz-de-alma… Mas lá
havia algo de estranho que estes indivíduos viam nele… (Esta informação foi
encontrada entre as minhas pesquisas sem uma fonte, daí que não possa
apresentar a entrevista nem possa comprovar a sua total veracidade)
- Mais bizarro ainda: consta-se que minutos/horas antes dos corpos terem sido encontrados, a página biográfica na Wikipédia de Benoit havia sido alterada para o anunciar como morto... A ele e à família... Ok, essa então é que me faz uns quantos pêlos eriçar-se se for verdade...
Morde a língua, Joey Styles!
Pronto, esta sim já é uma coincidência daquelas. E pode
causar arrepios se forem sensíveis a estas coincidências macabras. Mike Awesome
era um lutador que lutou ao serviço da ECW durante grande parte da década de
90, tornando-se uma peça importante na história da companhia. Assim que a WWE
apresentou a boa ideia que foi o One Night Stand em 2005 que nos trazia várias
estrelas dos dias de glória da ECW, Mike Awesome constou nesse plantel e
defrontou Masato Tanaka num combate aclamado pelo público.
Quem aparentemente não estava muito contente com ele era
Joey Styles que, em personagem, fartou-se de deitar Awesome abaixo pela sua
saída da companhia em 2000 chamando-lhe de “Judas” e um traidor interesseiro. A
pior parte foi após um suicide dive – maldito seja o raio do suicide dive! –
quando Styles lamenta que ele não tivesse mesmo acabado com a sua própria vida
e que não se tivesse mesmo suicidado na aplicação da manobra. É forte mas era a
ECW, logo onde é que está o problema?
Menos de dois anos depois, em Fevereiro de 2007, Mike Awesome foi encontrado morto por um grupo de amigos, na sua casa, pela manhã. Causa da morte? Awesome teria posto fim à sua própria vida enforcando-se. Ai Styles, Styles… O que tu foste dizer…
Edge e Lita escrito há muito tempo…
Passemos para coisas mais leves, mais engraçadas. E porque
não começar pela autobiografia de Edge intitulada “On Edge”? Ora essa, uma
autobiografia contém um lutador a abrir-se para o seu público, a revelar
segredos, a mostrar o seu lado humano e a lembrar-nos o quão difícil é ser um
performer num ringue da WWE. É suposto ser algo bastante sério, o que é que
poderia sair daí que seja tão engraçado? Umas coisita que ele diz lá para o
meio.
Num tom algo jocoso, Edge afirma que uma das melhores
maneira de conseguir heat com a plateia… Era aplicando o spear na Lita. Até é
verdade, Lita sempre foi adorada pelo público e na rivalidade entre os E&C
e os Hardy Boyz, uma boa maneira de ter a certeza que se agitava o público era
atacando a Lita. Com um spear. Um ano e pico após o lançamento do livro e
vai-se a saber que ele andava a aplicar um outro “spear” completamente
diferente na Lita, contribuindo para a instalação de um valente par de “spears”
na cabeça do Matt Hardy! E ainda o mais engraçado? De facto, ele conseguiu mais
heat do que nunca!
Outra coincidência hilariante em retrospectiva? Vão ver o
épico TLC da Wrestlemania X-Seven. Não só porque o combate é excelente mas
também para terem atenção a um épico comentário ingénuo de JR:
“(…) my
God, Lita is here! She’s jerking Edge off… the ladder!”
Oh, JR… As coisas que tu sabias… E que nem sabias que sabias…
“Screwjob” é o seu nome do meio
Possivelmente o árbitro mais conhecido para todos os
apreciadores de wrestling, se não conhecem o nome Earl Hebner não vêem
wrestling há mais de mês e meio. Possivelmente o mais envolvido em angles e
histórias e actualmente deve ser o maior veterano – tão veterano que são muitas
as vezes em que também parece senil. Mas não é o Hebner mais antigo. Seu irmão
gémeo, Dave Hebner já arbitrava na WWF antes do que ele. Daí que desse para a
WWF amanhar ali uma estreia inteligente e bem pensada para Earl Hebner,
aproveitando o facto de terem dois gémeos idênticos em mãos.
Corria o ano de 1988 e no programa televisivo “The Main
Event”, Hulk Hogan defendia o título da WWF contra Andre the Giant. O sempre
manhoso Ted DiBiase lá conseguiu dar voltas para tramar Hogan e a melhor
maneira era trocando o árbitro e para isso entra Earl Hebner, um sósia de Dave
Hebner obtido através de cirurgias plásticas – caramba, tremendas cirurgias,
ficou mesmo igualzinho! Com o falso Hebner a arbitrar, cabia ao Hebner falso
que afinal até era um Hebner verdadeiro,
tramar Hogan e contar o seu pin sem que este estivesse com os ombros no chão durante
os 3 segundos necessários. Screwjobs!
Preciso mesmo de fazer avançar nove anos e relatar um tal
acontecimento em Montreal que deve ser matéria de capa no livro de história do
wrestling? Preciso mesmo de relembrar qual o árbitro envolvido na tramóia?
Confio na vossa memória…
Vai buscar as pás!... Para me desenterrar!
Esta aqui também pode não ser bem uma coincidência. Aliás,
eu acho que aqui está uma justificação para algumas coisas! Se pudéssemos
sentar-nos ao lado de Triple H e ter uma conversa terapêutica com ele, e apresentássemos
este cenário, talvez tivéssemos uma resposta surpreendente e conseguíssemos
desvendar um mistério. Mas vá, agora a sério.
Ultimate Warrior pode ser adorado por uns. Mas tantos ou
mais o consideram uma das coisas mais overrated a alguma vez pisar um ringue.
Variará de indivíduo para indivíduo. O que certamente não será muito bem
aclamado será em pleno 1996, já com um Warrior mais gasto e “washed up”
regressar para… enterrar a malta jovem. Passemos para a Wrestlemania XII.
Grande regresso de Ultimate Warrior, vem com metade do fôlego que tinha antes e
com metade dos fãs ainda a querer saber tanto quanto antes. Colocar alguém over? Não. Em
menos de 2 minutos derrota um pobre midcarder que começava a subir e que
mostrava sinais de ser bastante promissor. Um tal de Hunter Hearst Helmsley…
Que viu um Pedigree a obter um “no sell” absoluto…
Hoje em dia para poderes fazer “kick out” após um Pedigree
tens que mandar uma carta ao Papa e conseguir uma permissão oficial obtida
possivelmente após anos de espera e um ritual de entrada. E se há alguém que
tem fama de ter um ego esmagador de talentos e ser o portador da pá e cuja
principal imagem é a de só enterrar a malta jovem a crescer… Nem pensamos muito
e sabemos que é Triple H que foi rotulado com tal. Mas agora podemos pensar…
Será tudo isso uma reacção traumática ao seu embaraço na Wrestlemania XII?
Brincadeiras à parte, é de facto muito curiosa a
retrospectiva e é engraçado comparar e vermos Triple H do outro lado da fenda,
sendo ele o jovem a lutar para ficar over e a ter dificuldades com ataques de
ego. Lá está, não propriamente uma coincidência, mas cai no conceito de
retrospectiva que quis abordar.
E é isto que vos apresento esta semana. Espero que não
tenham achado o conceito confuso, mesmo que fossem sempre casos diferentes, que
tenham percebido o fio condutor. E claro que também espero que tenham gostado.
Foi uma ideia que me ocorreu repentinamente e que achei que daria um tipo de
artigo que eu gostaria de ler e com o qual me entreteria… Espero que tenha sido
igual convosco.
Um detalhe sobre estes casos… Há muitos mais… Portanto se
vejo que esta ideia não dá barraca posso falar de mais alguns nalguma edição
futura. Isto se aprovarem claro, ainda estou algo relutante quanto a este tema,
mesmo que entusiasmado. Agora com os vossos comentários, perceberei o sucesso
disto. Até à próxima semana se nada me impedir de cá estar.
Cumprimentos,
Chris JRM