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Mac in Touch #21 - "Uma boa Ridicularização da Extensão da Personalidade"


 É com os meus índices de exigência preenchidos no que a wrestling diz respeito que vos escrevo depois do grande combate entre CM Punk e John Cena. Como poderão descobrir/ter descoberto pela minha crónica anterior, tinha as expectativas altas para este combate e ao contrário do que era habitual nestes casos, estas não foram furadas. Houve o tal "big fight feeling", a condução (genial) de CM Punk e algo a que não estamos acostumados a ver (Piledriver!)....
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Cena venceu, tudo acabou como começou e aceita-se que assim seja. Afinal, gira tudo à volta do verdinho e é esse que nos vai permitir ver a WWE e a indústria do wrestling daqui a 20/30 anos.

Depois da edição extra, trago-vos um tema que queria trazer para o MiT já há algum tempo e que está relacionado com uma personagem que me tem intrigado e agarrado ao monitor desde há duas semanas para cá.

"Uma boa Ridicularização da Extensão da Personalidade"

Vince McMahon costuma dizer que todas as personagens que se apresentam nos shows da sua companhia são extensões das próprias personalidades das pessoas que o rodeiam.

A afirmação, por mais extravagante que pareça ser, não traduz mentira nenhuma se a modificarmos um bom bocado à maneira do tio Vince – as personagens da WWE são uma extensão da personalidade… do patrão. Mesmo assim aplicar o conceito “extensão” não seja o termo mais indicado. Talvez ridicularização da extensão da referida personalidade seja aquilo que deveríamos ter em conta quando assim fala o patrão da maior companhia de wrestling mundial.

Pelo menos, podemos olhar assim para uma das mais recentes Superstars (se assim lhe pudermos chamar) da WWE. Um nacionalista que faz olhinhos ao extremista de direita. Alguém com ideais políticos muito vincados, que reclama para os seus compatriotas a sua terra, tendo em vista a invasão das pessoas que atravessam as fronteiras, roubando essa mesma terra e trabalhos a quem lá nasceu. Pontos discutíveis e facilmente argumentáveis em qualquer discussão política, mas não estamos cá para isso.

Falamos, então da mais recente ridicularização da extensão da personalidade de Vince McMahon – Zeb Colter.

Não serei a pessoa mais indicada para vos falar de política, mas é notória a tendência republicana e conservadorista da família McMahon. Basta olhar para a campanha de Linda McMahon ao senado (… sim, mesmo apesar de ter beijado as botas a Obama), que, apesar de tudo, até se afastou das ideologias políticas do marido, as quais são ridicularizadas e exageradas pelo mesmo semanalmente nos shows da WWE através de um homem de metro e meio, com 50 cm de bigode e cara cheia de barba que reclama trabalho para os seus descendentes e colegas que lutaram na guerra para trazer a prosperidade de que “gozam”/gozaram os EUA.

Zeb faz isto abraçando ferrenhamente a ideia da expulsão dos imigrantes, de todos os que tenham línguas e rostos diferentes das dele.

 
Traz portanto, a público, uma nova polémica sob a forma da storyline maior entre as pequenas que nadam pela companhia… afinal vai encabeçar, ao que tudo indica o undercard da Wrestlemania 29, e será lá que irá culminar com a defesa do (outrora) prestigiado título Mundial de pesos-pesados.

Essa polémica está relacionado com o apertar do cinto sentido por muitos países e taxas de desemprego galopantes (forçadas ou não). Aproveita-se a mão-de-obra mais barata, e por norma, significa trabalhadores estrangeiros. Esses roubam os empregos do sector secundário (operários de fábrica, construção…), pois o empregador, em busca do máximo proveito ou não conseguindo honrar os seus ideais patrióticos (dado o apertar do cinto), decide-se por aproveitar quem salta a fronteira para trabalhar para ele.

Os pontos sustentados pela personagem Zeb Colter são assentes nisto mesmo – no privilégio aos trabalhadores estrangeiros em detrimento dos americanos.

Vince sabe que este é um tema sensível pelo medo geral do re-aparecimento nazi (a história diz que tal é provável quando o caos se instala, e as pessoas já a sabem … “Se queres prever o futuro, estuda o passado” dizia Confúcio e parafraseou Fabinho na sua última crónica aqui no WN), pela ascensão dos movimentos de direita e pelo enorme golpe que aplica num dos conceitos mais valiosos nos dias que correm – globalização.

Para já, poucos são os que defendem o despejo dos imigrantes “ilegais” em público, mas o bichinho crescerá dentro de alguns e será isso que Vince tentará colocar entre o povo americano – “até que ponto este caga-tacos de bigode tem de ser visto como o mau da fita?! Ele não diz nada de errado!”.

Fez o mesmo antes com temas sensíveis (casamento gay entre Billy e Chuck), e estes prometem vir a deixar de ser rodeados de tabus, sendo já bem vistos pela sociedade.

A controvérsia gera dinheiro, e quem sabe se daqui a 10 anos não haverá mais Zeb Colter “fora do armário” e olharemos para esta storyline de forma diferente...


Eu não partilho a visão do senhor Colter. Os meus ideais políticos estão longe de estar definidos ao ponto de eu os defender acerrimamente (porque admito a possibilidade de mudar de ideias em tudo o que seja assunto [político ou não]), mas posso considerar-me um liberal, alguém que considera todos os países parte do mundo, e todos os cidadãos parte dele antes de serem de uma pátria. Ou seja, considero que não é por nascer aqui ou acolá que se deve trabalhar ou não nesse país, ou ter direitos diferentes consoante a fronteira que atravessamos… no entanto, gosto de ser entretido, e sempre que Dutch Mantel abre a boca, sinto-me forçado a escutá-lo… e claro que isso é uma coisa boa, tenha ela as implicações que tiver para terceiros. Há que valorizar o seu papel no entretenimento e a quantidade de gente que vai chamar, o heat que vai gerar e a paixão por Del Rio da falange hispânica.

Não vejo outro caminho que não continuar com a mesma… desde que com Dutch Mantel/Zeb Colter, que encaixa na perfeição naquele papel.

Parabéns ao tio Vince por ter posto alguém tão adequado à ridicularização da extensão da sua própria personalidade.
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