Mac in Touch #1 - Os Super-Homens
Antes de alguma coisa, uma nota introdutória aos leitores: Pete O’Mac é o meu nome, sigo wrestling há 7 anos, embora tenha acompanhado a altura da Attittude Era à posteriori. Tenho 21 anos e chego ao Wrestling Notícias depois de 6 meses a voltar a acompanhar wrestling, antecedidos por 3 anos de ausência.
Fui o autor de um “Opinião do Leitor” de há duas semanas atrás, com o tema da agressão de CM Punk a um espectador......
Quanto às minhas posições no wrestling… bem, conhecer-me-ão
melhor ao longo das próximas crónicas ;). Espero ser aquele “heel” que todos
gostam de odiar ou aquele face que unanimemente aprovado…
… e nada do género de Superman Face, que chega a lutar
contra três bestas num Handicap match e ainda sai por cima. Nada contra esses
senhores, que já muito deram a esta indústria, e a quem estou grato e
reconhecido, mas simplesmente não me revejo nesse papel, convenhamos,
irrealista.
Alguns discordarão dessa posição, mas tanto em Portugal como
no Brasil se vive em Democracia, por isso debater é a coisa mais saudável do
mundo… e, sinceramente, foi pelo pontecial de possíveis reacções e posições que
trago este tema para a minha primeira crónica enquanto colaborador oficial do
Wrestling Notícias.
OS SUPER-HOMENS
Se não estivesse a dirigir-me ao vasto público do WN em
formato papel e vos fornecesse esta crónica num formato mais audiovisual (algo
a pensar, claramente), começaria este primeiro artigo com a parte de um famoso
combate da Wrestlemania 3 e a partir do momento em que o babyface que desafia
todas as probabilidades reage à surra que foi levando durante o combate e
baixa-se perante um Big Boot do gigante que enfrenta, derramando toda a sua
alma a partir daí. Depois disso, há menos de um minuto de delírio, durante o
qual há ainda um famosíssimo Slam por parte do tal babyface ao tal gigante! O
evento encerra, assim, com muito mais que a permanência de um campeão ou que
uma simples vitória encorajadora. A Wrestlemania 3 acaba com um novo herói no
coração de cada espectador da programação da WWF.
Mas mudam-se os tempos e as vontades, e por mais que se queira
e que pareça fazer sentido, nunca se deve repetir uma storyline ou um guião
duas vezes. E as upset wins têm de vir regradas, bem doseadas para não caírem no enjoo, tal como aconteceu num passado mais recente com, por exemplo, a cara da
companhia da WWE.
Obviamente que me referia, acima, a três nomes
incontornáveis do wrestling mundial e os quais tenho a certeza que
descortinaram: o gigante Andre the Giant, o super baby face Hulk Hogan e
(ainda) actual face da WWE, John Cena. Pelo menos estes dois últimos fizeram
crescer o wrestling e conseguiram dar sustentabilidade à indústria com as
vitórias heroicas que foram conseguindo.
Hogan viveu num tempo diferente e cuja dimensão do wrestling
profissional não era tão expansível a
cépticos como era agora; e era normal que não houvesse tanto espírito crítico
com aquilo que era apresentado aos fãs, já que o “desporto” era, lá está, uma
forma de entretenimento em crescendo e cuja massificação estava apenas a
começar. Assim, seria normal se se roubassem lancheiras e houvesse pancadaria
nas escolas de Nova Iorque/Boston wtv caso houvesse uma única alma que não
gostasse do verdadeiro herói nacional.
Já Cena apanhou um público mais experimentado a nível de entretenimento
e de impressionismo. Foi para o ringue enfrentar lendas, contra tudo e contra todos. Caía-lhe o céu em cima e
até special guest referees (de cabeça, vem-me Daivari no Survivor Series 2005
quando teve a feud com Angle) que o prejudicavam… mas ele saía sempre por cima.
A WWE pôs a fórmula do Super-Homem a funcionar novamente depois da loucura que
foi a Attitude Era, mas parte do público irou-se. E nos ciclos preparatórios e
liceus nova-iorquinos, havia impropérios para quem ousasse envergar uma
camisola… do verdadeiro herói nacional.
A WWE tentou fazer um implante de mística em John Cena e
conseguiu-o com sucesso. O público da Attitude Era não o aceitou? Não. Os
adolescentes que começaram a ver wrestling nessa altura desconfiaram. Mas
surgiu um novo público. Uma geração inteiramente nova de gente menos crescida
que vê em Cena um ídolo, um herói. Uma geração cuja história do wrestling não
lhe passou pelos olhos e que por isso estaria aberta em abraçar um líder e em
aceitar a explicação de que a sua alma e o coração seriam capazes de enfrentar
e derrotar um elefante.
Resultados práticos? Para o público: mixed reaction; Para a
WWE: Milhões de Dólares. As vendas subiram- as action figures, os cd’s, as
t-shirts, as pulseiras, os bonés… é assim que se mantem um império, com
autênticos seguros de vida. Cena foi e é, com todo o mérito, isso mesmo. O
babyface das pessoas, o homem que todo o miúdo quer ser, a garantia de lucros
extraordinários aos exercícios da empresa.
Nós, fãs de wrestling mais “atentos”, discordamos, enjoamos
ao ver o face genérico a levar porrada durante 20 minutos e levantar-se para
executar 5 manobras e vencer o combate. Mas a atuação de um main babyface,
segundo os livros, é mesmo assim… e obviamente que se continua a dar resultado
para a WWE, quer no que toca à popularidade, quer no que toca ao carregamento
dos cofres da companhia, isso não vai parar e teremos de lidar com isso mesmo.
Assim, é normal que se comecem a fabricar mais “Cena’s” e
que venhamos a apanhar, aqui e ali, um combate em que o face leva porrada de
meia noite durante tempo demais e consegue vencer um lutador mais bem dotado tecnicamente, mais atlético e que na nossa opinião merecia estar mais acima no
card.
É perfeitamente normal que tudo isto se venha a repetir,
assim como é compreensível serem homens da confiança de Vince McMahon ou de
Paul Levesque a assumirem esse papel. Ou seja, alguém que lhes dê garantias de
futuro e que não crie problemas. Alguém que não se deixe corromper com o poder
que possa ter dentro da companhia. Alguém como John Anthony Felix Cena, alguém
como Stephen Farelly (Sheamus).