Slobber Knocker #24: Turn a um murro de distância...
E com os habituais cumprimentos introduzo mais uma edição de
um Slobber Knocker, numa semana parada no que diz respeito a ideias sobre o que
escrever. Às vezes acontece mas felizmente não é sempre. E após muito matutar
lembrei-me de um assunto que até já me viera à cabeça anteriormente mas que eu
não sabia muito bem como desenvolver. “Turns”....
Muito simples, um virar de personagem para Face ou Heel é
uma manobra importantíssima para manter a essência do wrestling vivo, para
trabalhar a versatilidade dos lutadores e claro, para refrescar algumas
personagens mais gastas. Muitas vezes de forma surpreendente e imprevisível,
outras vezes já estamos à espera e anda-se semanas a antecipar e a construir-se
o momento da culminação. Muitos momentos que rapidamente ficaram na história
apenas com isso, alguém a virar Face ou Heel.
No entanto, será que andam a ficar sem impacto? Será que se
esgotam as ideias sobre como virar e começa o processo a ficar repetitivo?
Veremos.
Formas de virar Face
Na minha opinião até é a mais difícil. Para virar a plateia
contra ti, existem golpes bem baixos que se podem tomar e actos bem
desprezíveis que podem colocar toda a plateia a vaiar-te. No entanto, depois
disso ter acontecido e haja a necessidade de se tornar dos “bons” outra vez, acho
que há uma certa dificuldade em tentar deixar esses tais actos desprezíveis
para trás e tentar convencer o público de que agora estão do lado deles.
Maioritariamente um personagem Face na sua forma tradicional
teria uma postura heróica, era um bom indivíduo de morais correctas, que
respeita as regras e os fãs e que através da sua forma limpa de lutar consegue
sempre superar as artimanhas dos Heels, elevando assim ainda mais o seu
heroísmo. Hoje em dia essa descrição ainda se encaixa em muitos dos Faces, mas
com a ajuda da ECW, da Attitude Era e outros afins, quando se deu uma evolução
no wrestling profissional, também se deu uma evolução na forma como se
encaravam estas personagens. Com uma abordagem mais agressiva e madura da
modalidade, não havia muita paciência para bonzinhos. O personagem anti-heróico
começou a sobressair-se cada vez mais e a plateia cada vez mais puxava por
alguém que não usasse maneirismos de Face mas agradasse por isso mesmo. Diga-se
um “badass” impossível de não gostar.
Siga-se o exemplo muito simples: Stone Cold Steve Austin. O
contrário daquilo que se costumava ver dum babyface. Dos mais adorados da
história e ainda hoje se mantém como um dos lutadores que mais entretém com os
seus maneirismos de “redneck” nervoso que quer lá saber das regras. É assim que
gostamos dele. O próprio The Rock partilhou a luz da ribalta com Steve Austin
na sua era. Grandes combates que tiveram, o que significa que costumavam estar
em posições opostas, mas houve suficiente para ambos serem as caras da sua era.
E como é que The Rock tinha e tem os fãs nas palmas da sua mão? Os seus
inigualáveis dotes ao microfone fornecem-nos algumas das mais hilariantes
promos de sempre e muito do recheio deles baseia-se em troçar forte e feio dos
adversários, não propriamente por ser um bonzinho que aperta mãos e beija bebés
– ironicamente ele estreou-se com o intuito de ser um babyface tradicional mas
com heat para um lado e “Die Rocky, Die” para o outro acabou por virar Heel e
com as suas promos a insultar o público e adversários é que viram que o gajo
tinha piada e não era pouca. O progresso para que hoje em dia fazendo-se um Top
5 de promos mais hilariantes de sempre, por aí umas 4 sejam suas, veio
naturalmente…
Outro exemplo também curioso é o de CM Punk que agora voltou a virar-se para o lado negro. Mas a sua Face Turn do Verão passado foi um processo progressivo, não houve nenhum momento específico em que ele virasse concretamente, a plateia simplesmente foi ficando do lado dele – aqueles que ainda não estavam. A primeira paragem foi quando lançou a sua “pipebomb” em que abriu um novo orifício anal à companhia. Foi sendo apoiado basicamente por dizer umas quantas verdades.
Mas afinal quais as formas mais tradicionais de se tornar
Face?
- Ao ser alinhado com outro Face e mostrar respeito e
cooperação deixa esclarecido que está do lado dos bons;
- O efeito “underdog”, quando alguém que trabalha no duro
para fazer os trabalhos sujos de um Heel superior que começa a maltratá-lo. A
plateia começa a sentir pena dele e uma revolta do mesmo eleva-o aos patamares
dos favoritismos dos fãs;
- Sem o efeito “underdog”, virar-se contra um Heel seja por
razões de apercebimento das morais correctas ou por outra razão qualquer, se
feita com sentido também é eficaz;
- Desafiar um heel dominante sem mostrar medo. Basta
lembrar-se do caso de Sheamus no Verão passado…
- Cheap pop: às vezes ser um lambe-botas resulta e elogiar o
público e a cidade onde estão dá pontos;
- Existem casos em que o puro facto de serem bons lutadores
já serve para receberem apoio: Dolph Ziggler ainda é Heel mas é dos mais
adorados no plantel e não me lembro de uma Turn propriamente dita de Tyson Kidd
para além de entrar no ringue todo sorridente e a cumprimentar os fãs…
- Até há pouco tempo, mandar o Michael Cole à fava também
dava muitos pontos…
São as maneiras mais simples das quais dá para lembrar. Com certeza que existirão mais formas menos ortodoxas e que sejam mais interessantes e surpreendentes. Como será uma boa forma de alguém virar Face apanhando alguém de surpresa e ficando na história como um episódio memorável?
Formas de virar Heel
Considero que seja este o mais divertido para os lutadores e
aquele que lhes dê mais gozo. Quem é que há-de gostar de ser apupado? Os nossos
estimados wrestlers adoram. E muitos divertem-se mais a ser o mau-da-fita e
apesar de eu ter considerado anteriormente que achava que virar Face assim tão
simplesmente era mais difícil, virar Heel também está longe de ser fácil. Tem
que se saber se convincente, não vá ele chegar lá, mandar duas postas à plateia
e ouvir grilos. Há que saber fazê-lo.
Da forma típica, um Heel é um vilão odioso, pronto a vencer
para alimentar apenas o seu ego sem querer saber como o faz, não quer saber dos fãs e
despreza-os e tende a ser insultuoso perante os adversários e membros da
plateia. O feitio de um Heel não se alterou muito com o passar do tempo, mas
agora há uma certa tendência a desprezá-los um pouco. A ideia de um vilão seria
a de alguém que deveria causar medo e insegurança, ele não usa tácticas sujas
porque é inferior mas apenas para o fazer mais depressa e à sua maneira. Tem
que ser uma potencial ameaça até o herói utilizar alguma da sua força visceral
para o superar, não porque foi sempre superior mas porque já estava quase
derrotado e teve que se superar a si mesmo. Ultimamente parece que os Heels têm
uma tendência a ser mais covardes, inferiores e os seus maneirismos sujos são à
procura de atalhos porque sabem que não conseguem derrotar o Face. Ao ponto de
existir por vezes alguns Heels cujo único propósito deles é levar com heat e
levar na boca logo a seguir – Heath Slater? Simon Dean, lembram-se dele? –
tirando-lhes qualquer valor que pudessem ter em ringue e fazendo com que
pessoas comecem a não gostar deles por serem legitimamente maus. Será bem
assim? Foi sempre assim? Não tenho a certeza absoluta e também não está
generalizado, ainda há Heels dominantes mas essa situação que descrevi parece
dar-se mais actualmente.
Também existem muitas formas de virar Heel:
- Progressivamente desenvolvendo uma atitude mais hostil
perante adversários que outrora respeitava, culminando em vitórias sujas e
ataques;
- Trair um amigo Face e aliar-se a um Heel;
- Semelhante ao caso anterior mas mais especificamente numa
Tag Team, se um começar a ficar mais egocêntrico e a virar-se contra o parceiro
em situações sem razão;
- Atacar ou insultar um dos principais Faces. Mas atenção,
actualmente se alguém o faz a John Cena ainda lhe caem rosas do público e ainda
recebe um cesto com fruta em casa;
- Se tiver uma atitude superior, rebaixando todo o resto.
Apesar que não se importam muito com o “show off” de Dolph Ziggler nem com
Damien Sandow, ainda fazem gostar deles ainda mais;
- Claro, o bom e velho “Cheap heat” também: insulta os fãs,
chama-os de burros e deita a cidade deles abaixo do nível de esgoto.
- Em ligação a uns parágrafos acima. Se começar a demonstrar
atitudes covardes, começa a perder crédito e a ganhar heat…
- Dar um soco a uma lenda e já tem o passe;
- Mais uma vez, até há pouco tempo, alinhava-se a Michael
Cole ou simplesmente… Agradava Cole e este falava bem dele… Já está na lista
negra do povo.
Mais formas existirão e muitos clichés também existem. No entanto não deixo de achar que uma Heel Turn pode ser ainda mais criativa que uma Face Turn, pode-se sempre explorar novas formas de entrar na pele da plateia e causar-lhes uma sarna insarável. Para além de também considerar que uma Heel Turn é sempre mais chocante. Um tipo de repente ficar bom não tem exactamente o mesmo impacto que aquele indivíduo que noutro tempo fora um ídolo e agora tinha causado uma desilusão tremenda, cometendo actos imperdoáveis. Então e qual seria a Heel Turn mais criativa e surpreendente agora?
Situações “especiais”
Tweeners: Será isto o que é Daniel Bryan actualmente? A
própria palavra vem de “in betweener”, o que indica que nem é bem uma coisa nem
outra. Pode-se referir a indivíduos que tenham reacção mista ou que tenham
maneirismos que tanto dê para um lado como para o outro. Ou até podem ter actos
de Heel mas que agrade a Faces sem ser propriamente um anti-herói. Ou então
coitado, é um jobber com pouco carisma e personagem que nem dá para perceber
bem de que lado é que está e é usado onde der mais jeito. Actualmente na WWE e
na TNA, quem é que acham que se possa considerar um Tweener?
Face por uma noite: Às vezes acontece um lutador que
normalmente é Heel ser bem recebido e tratado como um herói quando chega à sua
terra. Outras vezes até se aproveitam para arranjar mais heat com o “hometown
boy” a virar as costas ao seu povo. Mas uma situação que sempre se verificou
foi nos programas em território Inglês… A ovação a William Regal seria
inevitável, logo mais valia tornarem-no Face de uma vez. Actualmente, o próprio
Regal tem um estatuto veterano pouco activo com o respeito dos fãs, mas mesmo
que o tentassem manter a Heel, não haveria quem parasse uma plateia “smark” de
cantar o seu nome…
Falsos alarmes: Descrevendo de uma forma muito simples, foi
o que aconteceu com John Cena no início deste ano. Tanta história, tanto se
fala de uma Heel Turn para Cena, o bem que lhe fazia. Talvez, mas convém
irmo-nos mentalizando que o mais certo é que ele se reforme como Face. Depois
então é que virá a fase pós-aposentação, Hall of Fame, etc etc e é possível que
as suas ovações melhorem com alguma aparição nem que seja por respeito. No
entanto andaram os primeiros meses do ano a “brincar” com o povo a achar que ia
acontecer. A feud com The Rock, o “encorneamento” ao Zack Ryder, a estalada de
Roddy Piper que ele podia ter respondido com a mesma moeda mas preferiu
engolir, aquela cara assustadora que muito vimos ao longo de toda a Web… Muitos
factores que por vezes nos faziam pensar “é desta!” para que na semana seguinte
se limpasse tudo e nos apercebêssemos que afinal não havia nada. E assim a
brincar captaram-nos o interesse…
Situações da vida real: Esta é uma observação mais
humorística. Mas quantas vezes no nosso dia-a-dia não nos deixamos levar pelo
nosso bichinho viciado na modalidade e associámos situações mundanas a tal? Aquele
tipo que era o vosso melhor amigo e depois faz-vos aquilo? Aquele vizinho chato
que a determinado momento começa a mostrar simpatia e descobrem que até é um
pobre incompreendido? E aquelas vezes em que vos apetece ser um pouquinho mais
malvado e… virar Heel contra um irmão mais novo? Situações parvas, mas se me
disseram que nunca cruzaram a vossa vida real com wrestling, simplesmente estão
a mentir!
E é isto que tenho a dizer esta semana, talvez não tenha
sido propriamente um artigo de opinião mas sim um documento informativo em que
falo de uma data de coisas que vocês já sabem. Peço desculpa se foi fraco, para
a próxima semana venho mais inspirado. Mas ainda assim espero que tenham
gostado e abro agora o espaço para “discussão” em que vocês depositam as vossas
opiniões e comentários quanto a este assunto: Preferem Faces ou Heels? Qual a
melhor Turn que vocês se lembram? Como achariam que se daria uma boa Turn
diferente de todas as outras e bem chocantes? Quem é acham que está a precisar
de uma boa viragem de personagem actualmente? E qual das companhias é que vos
dá a entender que se importa mais com as distinções e que vira os seus
wrestlers com maior frequência? Tudo o que quiserem apontar, está ao vosso
dispor.
É tudo por hoje, para a semana correndo tudo bem, cá estarei
de novo, logo despeço-me até lá.
Cumprimentos,
Chris JRM