Slobber Knocker #15: Maldito PG!
Olá a todos e espero que estejam a ter um bom fim-de-semana,
assim que regresso para mais uma edição do Slobber Knocker. Esta semana volto
com um assunto mais chato e sujeito a debate: a classificação da programação da
WWE!....
Para introduzir falo de quando comecei a assistir à
programação da WWE. Corria o ano de 2005 e o produto ainda apresentava
programação com classificação TV-14, que indicava que não era próprio para
crianças abaixo dos 14 anos, direccionando-se a um povo mais maduro. O
engraçado é que eu, assim como muitos, não nos encaixávamos aí propriamente.
Ironicamente quando cresci e me tornei mais maduro para assistir a isso sem
consciência pesada – como se isso realmente me causasse transtorno – é quando a
companhia decide alterar essa classificação para um formato mais familiar e que
talvez se adequasse um pouco mais à minha situação anterior. Virou um programa
para crianças? Nem por isso.
Vejamos primeiro, antes de aprofundarmos, em que é que
consiste o PG. PG significa “Parental Guidance”, ou seja, atribui-se a um
programa cujo conteúdo pode não ser totalmente próprio para crianças pequenas,
sem que tenham a supervisão dos pais. É das classificações mais frequentes na
TV Americana ao longo do dia com especial no horário nobre, sendo atribuída a
reality shows, séries, entre outras incluindo agora a WWE. Como já reparámos,
existem sempre umas letrinhas por baixo da classificação, que a justifiquem:
- D, que alerta para diálogo sugestivo
- L, como precaução para alguma linguagem menos leve
- S, para o caso de alguma situação sexual ou sugestiva
- V, para violência, mesmo que mais moderada
Como podemos ver, não são os guias para fazer do programa
propriamente adequado para um bloco da manhã de Sábado para as crianças. Mas é
sim, um facto que ficou muito mais acessível e limitado no que diz respeito à
abordagem adulta da programação. Mas afinal, que diferença faz?
A infantilidade da companhia
Não podemos simplesmente apontar o dedo ao estado infantil
da companhia actualmente. Se recuarmos no tempo, tínhamos “Take your vitamins,
say your prayers”, etc. que não eram propriamente direccionadas às pessoas
adultas. Durante a década de 80 levavam-se para o interior daquele ringue
atletas personalizados como super-heróis e vilões como numa banda desenhada.
Hulk Hogan era o ídolo da criançada e a Hulkamania só se compõe de adultos
agora, porque são os que já cresceram daquele tempo. Mas deverá crucificar-se
essa era? Não, há uma razão para lhe chamarem a “Golden Era” e foi aí que se começou
com o wrestling rodeado de situações mais teatrais, como o conhecemos agora.
Dessa forma se foi arrastando, sem ter necessariamente que se manter tão infanto-juvenil. A companhia é que se começou a ver mais à rasca, com a WCW a atrair mais atenção e com uma tal de ECW a apresentar conteúdo muito mais maduro que se mostrava apelativo e revolucionário. Instala-se um período de guerra, em que a WWF implementa como arma aquilo que hoje conhecemos como a “Attitude Era”, período que causa conturbações nas roupas interiores de alguns fãs da modalidade. Aí apresentou-se um produto com mais “atitude” como o nome indica e mais atrevido, controverso e com uma abordagem mais adulta aos assuntos. A falta de travão na língua de ícones como The Rock ou Stone Cold, a perturbadora escuridão de Undertaker ou Kane, as personalidades a representar uma perversidade e um apetite sexual como Val Venis ou Mark Henry, os segmentos com as mulheres do plantel que fizeram levantar muitas bandeiras, se é que me entendem – as competidoras femininas eram muito tratadas como objectos sexuais e presentes à vista em vez de competidoras a sério, daí que também não seja esta era que glorifique no que diz respeito à competição feminina.
No entanto, temos que ter em conta até onde é que consideramos
tal maduro. Maduro, como quem diz, lembremo-nos que esta foi uma época em que a
televisão em geral se encheu de entretenimento mais “porco” assim se diga
recorrendo a um calão de pouca classe. É bem possível que muitos dos
espectadores da programação da WWF no final dos 90s e início dos 00s fossem
miúdos da geração MTV insensível – a MTV daquela altura, não adolescentes
grávidas – que viam o “Beavis & Butthead” e o “Celebrity Deathmatch” que
possivelmente ouviam o Marilyn Manson – que por acaso concedeu um dos seus
maiores singles para música de abertura do Smackdown mais tarde. Logo,
fantásticos combates à parte, existiam alguns segmentos cómicos que eram do
mais infantilóide que poderia haver.
De seguida deu-se um período transitório que alguns consideram como estando perfeito – alguns, claro. Talvez em parte por ser a época em que se deu o “boom” de popularidade cá no nosso país, através da sua exposição na SIC Radical. Era um bom produto, não exagerava no seu conteúdo, mas mantinha-se fiel ao seu “TV-14”, sempre com tremendos combates e umas histórias decentes. A era em que já destaco mais a sua competição feminina. No entanto a explosão de popularidade… Não se deu entre um público adulto, mesmo que não fosse um produto de olhos tão postos nas crianças, foram elas que se sentiram mais atraídas por tal, eu incluído.
Portanto, agora para dar a volta ao texto que pareça sem
sentido por parecer que estou para aqui a atirar que o wrestling sempre foi um
programa para crianças quando os meus leitores já são graúdos: não, o wrestling
não é propriamente para miúdos mas tem sempre que existir alguma fixação neles,
por razões simples que explicarei mais à frente.
Mas porquê o PG?
Eventualmente o produto passou para TV-PG cimentando o facto
que já se iria tornar mais leve e tornar-se num programa mais familiar. E
razões para isto?
A TV Americana em geral: 11 de Setembro, a FCC sempre à
perna e outros factores sensibilizaram os Estados Unidos da América. A TV e a
rádio agora são muito controladas para que não choque os espectadores
sensibilizados. É verdade que o entretenimento em si vai-se tornando cada vez
mais aberto e vemos TV mais madura. No entanto é mais em horários tardios ou em
televisão por cabo e de vez em quando ainda aparecem umas genialidades como o
Jersey Shore que ainda não lhe percebi a intenção de existência. Mas de facto,
mesmo que a WWE ainda aguentasse muito tempo com conteúdo menos próprio após
essa fase tão “tremida”, eventualmente teria que ceder.
As críticas à WWE: Vince McMahon nunca se safou das críticas
de fontes mais conservadoras que consideravam o seu produto indecente e imoral.
A situação conseguiu ser sempre contornada até à gota de água: o caso de Chris
Benoit que abalou por completa a companhia que tinha uma imagem a limpar. Reformular
a programação como mais amigável à família pode combater a má imagem da
companhia como entretenimento “perigoso”.
A crise: Já bem sabemos que Vince é um bilionário daqueles
que até dá nojo, mas também ele sentiu os efeitos da crise. E quando se diz
isso, significa que ele talvez conseguisse fechar a carteira sem ficar com
maços de nota a sair e conseguir fechar um cofre sem ter que fazer muito
esforço para que não transborde. Mas já era preocupante. Sei que é exagero o
que eu disse e foi em tom de troça, mas no mundo dos negócio não podem haver
descuidos. A WWE também necessitava de passar por cima da crise e uma das
maneiras de obter lucro era através de patrocinadores. Muitos mais patrocínios
existem para um programa com uma classificação mais generalista, principalmente
de empresas como a Mattel, responsável pela distribuição de bonecos, uma boa
fatia dos lucros de merchandise a seguir às T-Shirts. Essas e muitas outras que
conseguiram o seu canto na WWE, com um caminho muito mais amplo após a programação
passar a ser PG.
Linda McMahon: A sua candidatura a um cargo político foi
quase uma piada para os seus concorrentes, pois as críticas fluiriam
facilmente. Se algum adversário de Linda quisesse argumentar contra si, tinha
um baú cheio de material da companhia do seu marido e onde ela mesma chegou a
comparecer. Mudando a classificação do programa para algo mais abrangente não
vai alterar o passado, mas pode favorecê-la um pouco – não muito, por acaso.
O lucro do povo-alvo: Agora a parte que fiquei de explicar
sobre o porquê de haver uma atenção especial dada aos miúdos. Muito simples:
lucro. Imaginem um dos que se chamam por aí de “fãs da Internet” a chatear-se
com o conteúdo da programação. Farta-se, já não vê mais e nem vê o próximo PPV.
Portanto jã não o saca no dia seguinte ou arranja algum link online para ver de
graça. Ou seja, não vai fazer diferença. Sei que no nosso caso compreende-se,
não temos acesso ao PPV sem ser dessa forma, mas não me surpreendo que lá nos
próprios EUA existam casos assim. E mesmo no caso de merchandise… É claro que
as T-Shirts de Daniel Bryan andam a vender bem entre os mais graúdos e num iPPV
da Ring of Honor é vê-las em monte no público. Mas os que dão mais lucro à
companhia são os mais juvenis. Logo, porque não classificar a programação para
que seja mais aceitável por “lei” que esses mesmos possam assistir?
São estas as razões que encontro que possa apontar para o
sucedido. E lembro de novo que não pretendo escolher nenhum lado, se sou a
favor ou contra o PG, apenas descrevo aquilo que me parece. Mas vou analisar
agora se o PG é realmente um sério obstáculo à qualidade da programação.
Quais as limitações que o PG traz?
Começo com citações não directas de exemplo generalizando
sobre o que já vi a acontecer. “Tenho saudades de ver sangue nos combates, mas
agora que ficou PG não presta” ou “Agora já nem deixam o Orton utilizar o punt
dele? Acabem com a porcaria do PG!” Exemplos de frases que não as li assim
exactamente mas que representam a ideia que transmitiam. Assumo também que é
possível que algumas das pessoas que falem assim até nem saibam muito bem o que
é o PG de que tanto se fala…
Porque resumindo de forma muito simples: isso nem tem nada a
ver com o PG, mas sim com uma maior preocupação com a segurança dos lutadores,
algo que ficou a reforçar após o caso Benoit, daí que se evitem manobras
perigosas ou cadeiradas na cabeça que possam causar danos, assim como o sangue
totalmente não higiénico ainda para mais a ter em conta infecções ou doenças
transmissíveis. Aqui não é o PG que entra em causa, apenas um maior cuidado com
a saúde dos lutadores que são fortes mas ainda são humanos.
Então quais é que são as limitações que existem, mesmo?
Poucas até. Certo é que aqueles segmentos mais sugestivos e
adultos já não podem existir com frequência – apesar de ainda existir alguns
momentos sugestivos a brincar com a situação. No entanto não é por isso que
vamos ter um programa com menos qualidade. Já não podemos ter o Val Venis a ser
castrado, não veremos nos dias de hoje a Mae Young a dar à luz a mais mãos, as
probabilidades de segmentos lésbicos eróticos com as Divas actuais são muito
improváveis e muito dificilmente veremos um Superstar actual a ser crucificado.
E numa nota à parte, se o PG nos protege de histórias como a da Katie Vick,
então que venha de lá o PG!
Mas o certo é que se hoje existem histórias mal escritas não
é por causa de uma classificação que está lá por estar – tenha-se em conta que
essas duas letrinhas não serviram de travão ao bate-boca entre John Cena e The
Rock antes da Wrestlemania. Se existem maus bookings… É porque existem maus
bookings e não porque é PG – vejam o exemplo da TNA que não segue essa regra
mas ainda apresenta uma história como a actual do AJ Styles e da Dixie Carter.
Nos dias que correm, tenho gostado da história envolvendo
Punk, Bryan, Kane e a AJ, claro que é questão de opinião, alguns podem não
gostar mas eu por acaso tenho apreciado. E se fosse TV-14 não vejo como seria
muito diferente.
Resumindo, os bons combates estão lá, ainda tivemos batalhas épicas entre Punk e Bryan, Punk e Cena ou Triple H e Undertaker. Os talentos estão lá. Os segmentos dolorosamente parvos também, mas se explorarmos bem reparamos que sempre estiveram lá. A WWE já viu melhores dias? Com certeza, mas é por causa do PG? Não me parece. Se os bookings são pobres é apenas por isso mesmo e não por uma classificação no canto do ecrã que alguns se calhar nem notavam se ninguém falasse nele.
Concluo então este meu texto dizendo que, pouco me importa a
classificação do programa e sou tolerante ao PG e não acho que seja isso que
esteja a causar qualquer problema. Fica aí a minha migalha de opinião e o resto
passo para vós: Acham que o PG realmente faz a diferença nos bookings actuais?
Queriam outra era mais agressiva? Está bem como está? A Attitude Era não era
assim tão adulta como parecia? Este artigo não fez sentido? O espaço dos
comentários está totalmente aberto à vossa opinião e conto convosco.
Deixo como sempre os meus cumprimentos,
Chris JRM