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Lucas Headquarters #217 – Netflix e Warner Bros. Discovery: Como fica o wrestling no meio disto tudo?


Ora então boas tardes, comadres, compadres, duendes e renas!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!


Bom, o ano está a acabar, mas já é tradição na História da Humanidade (ou, se quisermos puxar a fita um pouco menos atrás, na História da civilização contemporânea) que um ano civil não se despeça sem provocar no mínimo uma onda de choque que tenha a capacidade de mudar a forma como olhamos e consumimos aquilo que existe para o nosso entretenimento (e reparem que, aqui, não falo apenas de wrestling).


Mas, se quiserem cingir-se apenas ao wrestling para recordar essas ondas, a tarefa também não tem muita dificuldade: Há dois anos, tivemos o regresso de CM Punk à WWE, o maior worst kept secret dos últimos tempos (ainda assim, foi um segredo mais bem guardado do que o regresso de AJ Lee, que aí nem a página da WWEShop se conteve a deixar sair a novidade); no ano passado, um heel turn absolutamente inconsequente por parte dos New Day, quando toda a gente pensava que o foco estaria num possível regresso de Big E à competição; há três anos, todas as quezílias nos bastidores da AEW que – para surpresa de ninguém – também envolveram um tal de CM Punk. Enfim, os exemplos são tantos que não saíamos daqui tão cedo.





A questão é que desde há muito tempo que a raça humana tem esta necessidade de, em vez de distribuir quantitativamente os acontecimentos de grande impacto ao longo do ano, deixá-los todos para a última da hora, como se o impacto de um ano civil fosse medido única e exclusivamente pelos acontecimentos que têm lugar no último trimestre e pelas consequências que vêm daí. Nos últimos anos, a Humanidade, no que diz respeito à forma como gere as coisas no campo do entretenimento, parece aquele estudante no pico da adolescência que só estuda na véspera dos testes para ver se no fim arranca um 9,5 que chegue para passar.


E agora, vocês dir-me-ão, como sempre com razão, que isto de que vos vou falar não tem nada a ver com wrestling. Antes não tivesse, meus caros, antes não tivesse! A verdade é que, não só isto tem muito – ou quase tudo – a ver com este nosso pequeno e amado mundinho como as consequências que isso pode trazer são tão variadas quanto imprevisíveis, e qualquer uma delas poderá, uma vez mais, mudar a forma como olhamos e consumimos este desporto, esta arte, se assim quisermos.


Sem mais delongas, vamos ao acontecimento que marca o artigo de hoje: A Netflix prepara-se para comprar a Warner Bros. Discovery num negócio que fica cifrado em cerca de 83 mil milhões de dólares e resultará também na aquisição da HBO e da HBO Max. Tal operação, porém, só deverá ser oficializada durante o terceiro trimestre do ano que vem, que é o mesmo que dizer durante o próximo Verão. De acordo com a Netflix, a escolha do timing para o anúncio tem a ver com a transformação da Discovery Global numa nova companhia, algo que só ficará efetivado precisamente nesse período.



Como eu vos disse, antes isto não tivesse a ver com wrestling. Mas, na nossa cabeça de fã, quando pensamos em Netflix e Warner Bros. Discovery, não pensamos em séries. Não pensamos em Wednesday, nem em Game of Thrones nem em nada desse género. Quando pensamos em Netflix e Warner Bros Discovery, só há duas siglas que nos vêm à cabeça: WWE e AEW.


Por essa mesma razão, a aquisição da WBD por parte da Netflix deixou a indústria do wrestling em polvorosa – e com toda a propriedade, porque estes negócios multimilionários têm muitas linhas, nuances e caminhos que nós desconhecemos. 


Muitas vozes levantam-se contra o medo de um novo monopólio por parte da WWE, uma vez que a gigante do streaming detém os direitos da transmissão da empresa agora detida pela TKO durante uma década – o primeiro ano desse acordo será cumprido daqui a exatamente um mês – enquanto que outras acham que não, que a AEW não tem nada a ver com todo este processo porque, para todos os efeitos, é uma empresa completamente independente de todo o universo Warner Bros.


Já vamos ver onde é que a AEW vai ficar no meio disto tudo, o que lhe reserva o futuro e todas essas coisas. Para já, é importante dizer o seguinte: Se o problema, na vossa opinião, são as plataformas de streaming, é importante não esquecer que, para além de Netflix e, até aqui, HBO, há ainda uma outra plataforma de streaming: Amazon Prime. Portanto não é por falta de alternativas para a AEW que este negócio acaba por merecer toda a atenção que tem tido.


Se a Amazon Prime terá interesse em transmitir conteúdos da AEW? Ninguém sabe e nem ninguém tem a certeza. Mas, numa situação de extrema necessidade (que eu não acredito que exista), eu penso que se há homem que era capaz de construir uma ponte para assegurar um acordo entre AEW e a Amazon Prime, esse homem era Tony Khan. Para não falar que, já no primeiro trimestre deste ano, a AEW assinou um acordo com a própria Amazon Prime para a distribuição dos seus PPVs…


Onde é que fica a AEW? Devemos temer um novo 

monopólio?




Perante todos estes medos e incertezas, surgem, naturalmente, as perguntas que todos querem ver respondidas: Onde é que fica a AEW no meio disto tudo? Devem os fãs de wrestling temer a possibilidade de um novo monopólio?


Deixem-me começar por dizer que é perfeitamente normal o medo que muitos de nós temos de ver surgir um novo monopólio, porque estes negócios, como disse há pouco, têm muitas nuances, muitas cláusulas e muitos interesses que nós desconhecemos. Muitas das nuances relativamente a este negócio não estão, ainda, muito claras, não sei se por falta de informação ou se por interesse, mas punha as mãos no fogo e não me queimava em como a segunda hipótese é mais provável. Ainda assim, e com um negócio tão impactante como este a acontecer, é bem provável que detalhes ainda mais específicos do que aqueles que já conhecemos sejam revelados, sobretudo quando estivermos mais próximos do Verão, que é quando a parte central da operação se vai desenrolar.


Mas então, o que é que uma operação desta magnitude significa para a AEW? Será que podemos estar a caminho de uma morte lenta para a companhia?


Como disse no início, a Discovery Global transformar-se-á numa nova companhia a partir do Verão, constituindo esta transformação uma parte central da fusão com a Netflix. Isto significa que a Netflix não vai comprar os chamados “canais lineares”, como a TBS e a TNT, que são precisamente os canais que transmitem a programação da AEW. Quer isto dizer que, pelo menos até 2027, o futuro da AEW deverá permanecer inalterado.


Há um outro fator que sustenta isto e que parece estar a escapar a muita gente: O acordo diz apenas respeito aos estúdios de filmes e à HBO Max. Portanto, pelo menos para já, não me parece que os fãs tenham de se preocupar com o futuro da empresa.


O único cenário que poderia complicar as coisas relativamente ao futuro da Elite seria o caso de essa entidade separada que vai ser constituída a partir do Verão ser comprada por uma outra plataforma que não quisesse transmitir a programação da AEW, mas a probabilidade de isso acontecer, pelo menos nos próximos anos, é francamente baixa, para não dizer nula.


Os casos da AEW e da WCW: Há diferenças?




Todo este processo traz à memória um outro episódio de uma outra aquisição que mudou o mundo do wrestling durante quase vinte anos, precisamente porque instaurou o tão temido monopólio: A aquisição da WCW por parte da WWE em 2001. Eu quero acreditar que muitos fãs temem o surgimento de um novo monopólio precisamente por não quererem que a Elite se transforme numa nova WCW, pese embora o contexto seja ligeiramente diferente, uma vez que a Elite não está a passar, nem de perto, pelas mesmas dificuldades financeiras pelas quais a WCW passou na altura.


Dito isto, as consequências dos processos são integralmente diferentes, mais não seja porque Tony Khan irá continuar a ser dono da AEW, que agirá como uma empresa separada de tudo o resto. 


AEW Network?



Uma alternativa menos explorada (mas que me parece que Tony Khan e companhia seriam capazes de pôr em prática) seria dotar a AEW do seu próprio serviço de streaming, demarcando-se da TrillerTV. Seria, acima de tudo, uma forma de salvaguardar a possibilidade de ter de procurar por uma nova plataforma daqui a cinco anos quando o contrato expirar, e uma forma de assegurar também o próprio controlo de conteúdos da empresa de uma forma discricionária, mas, também, eficaz.


A melhor parte é que esta solução, a ir em frente, não precisaria de ser posta em prática de forma imediata. Tony Khan pode optar por esperar que o contrato atual termine lá para 2027, e só depois começar a empreender todos os esforços necessários para criar uma espécie de AEW Network. Nessa altura, o timing e o contexto também serão outros: Em 2027 a AEW já contará com oito anos de existência, tendo produzido material suficiente para satisfazer a curiosidade dos fãs mais recentes e corresponder aos padrões de qualidade dos fãs mais exigentes.


Não me parece, no entanto, haver razão para tanto alarme. Sim, a pouca claridade dos moldes iniciais do negócio justifica alguma apreensão e, até, fatalismo, mas com o futuro da AEW a estar assegurado durante cinco anos (pelo menos), Tony Khan terá tempo para pensar em alternativas, até porque duvido que a WWE queira partilhar a plataforma de streaming com a concorrência…

 

Na vossa opinião, como é que a compra da WBD por parte da Netflix acabará por afetar a AEW?

 

E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas nossas redes sociais, deixar sugestões aí em baixo... o habitual. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!

 

Peace and love, até ao meu regresso!!

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