Lucas Headquarters #213 - Winter of Punk
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão!!
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!!
Escrevo-vos este artigo uma semana depois do Saturday Night’s
Main Event (mais um). Não é que eu preste muita atenção a esse evento. Aliás,
passa-me a impressão que a WWE ainda só o transmite porque quer mascarar um
trabalho criativo abaixo do aceitável com um certo nostalgia pop, um
apelo ao passado, se assim quisermos. A verdade é que, contra todas as
expectativas, a coisa tem resultado razoavelmente bem, uma vez que o Saturday
Night’s Main Event… é apenas e só isso. O Saturday Night’s Main Event.
Não há, geralmente, pontinha de hype associada àquele show,
tirando o facto de que é um terreno pródigo para que wrestlers com um
palmarés bem abaixo do exigível para ser WWE Hall of Famer cheguem lá,
tenham um último combate como prémio por quase se terem matado em ringue uns
anos antes, façam um último discurso e ainda levem com um corte de emissão a
meio da sua prosa. Ah, nada como um evento que expõe aquilo que é a WWE durante
grande parte do ano mascarado como uma coisa do outro mundo! E reparem que eu
agora poderia fazer aqui um paralelismo com o mundo real, nomeadamente com o
futebol, mas não o vou fazer. Deixemos o trauma bonding a quem a
carapuça possa servir.
Geralmente não costumo ver o Saturday Night’s Main Event, mas apanhei-me a mim mesmo com vontade de ver este porque, simplesmente, tinha mais pontos de interesse do que uma rotineira edição desse mesmo certame (desconfio que para o mês que vem será igual, mas por motivos bem mais comoventes, como devem calcular). É incrível como é preciso terem de fazer pelo menos mais cinco edições deste programa (depois de décadas de enterro num baú cheio de pó e teias de aranha) para que ele começasse a despertar o mínimo interesse. Menção honrosa pela transmissão no YouTube, pelo menos torna uma ínfima parte do produto da WWE mais acessível a quem não tem dinheiro para pagar Netflix e não se quer meter a procurar outras alternativas.
Dizia eu que não costumo ver o Saturday Night’s Main Event,
mas a curiosidade foi mais forte do que eu e quase que me obriguei a ver este.
Pela primeira vez, quatro dos mais importantes títulos da WWE estavam em jogo,
e o próprio programa quase parecia um mini PLE!!
O show em si até não foi assim tão mau (também, pior
do que ter de ver o SmackDown semana após semana, no estado em que está… acho complicado).
Drew McIntyre e Cody Rhodes até deram um bom espetáculo (mais uma vez, o McIntyre
no que diz respeito a títulos mundiais… está a ficar para tio). Jade Cargill vs
Tiffany Stratton foi extraordinariamente curto, mas, paradoxalmente, muito bem
construído – parece que a WWE finalmente quer fazer de Cargill alguém minimamente
credível, pode é já ser demasiado tarde – e a Triple Threat pelo Intercontinental
Title também foi boazinha, pese embora tenha feito crescer em mim a sensação de
que o Rusev só voltou para fazer figura, mas a WWE parece estar definitivamente
investida no Dominik Mysterio, o que a mim me parece uma excelente ideia.
Cheguei, então, ao Main Event. Jey Uso vs
CM Punk. Como já ouvi por
aí, tínhamos pela frente o favorito da WWE (e, a esta altura, cada vez mais “desprezado”
pelos fãs pela natureza muito… unidimensional da sua gimmick) contra
aquele que era, sem dúvida, o favorito do público (e que, por razões que bem sabemos,
tinha todos os motivos para odiar a WWE, mas que acabou por lá voltar faz agora
dois anos). Ah, a caixinha de surpresas que é o wrestling!
Ao ver aquele combate – e já irei dar os meus dois cêntimos a
esse respeito – eu dei por mim a pensar em muitas destas… idiossincrasias,
vamos pôr nestes termos, que o wrestling nos proporciona.
Não é impressionante como as coisas, às vezes, descrevem um
círculo completo? Não é impressionante como, às vezes, pensamos que uma coisa
está muito longe de acontecer (ou nunca acontecerá mesmo) e de repente, vemos
que os astros se alinham de uma maneira que faz com que esse acontecimento que
parece remoto suceda, e da maneira mais perfeita possível?
Não é impressionante como alguém que há meia dúzia de meses
estava alavancado por grande parte da comunidade online de wrestling em
redor do mundo, acaba por começar a perder fulgor quase tão depressa como o
ganhou?
Não é impressionante como a vitória de quem o público
praticamente escolheu para ganhar faz com que o combate tenha parecido muito
melhor do que aquilo que realmente foi?
Pois é, meus caros comensais do wrestling, eu sei que
o resultado poderá mascarar este facto, mas o combate entre Jey Uso e CM Punk
pelo World Heavyweight Championship foi, na melhor e mais simpática hipótese,
mediano – e mediano, noutras circunstâncias, já seria sinal de muita benevolência,
mas de facto houve suspense, houve algumas doses de ação, meia dúzia de false
finishes bem feitos e isso também conta. Mas tal como houve suspense, houve
ação, houve wrestlers a copiar os finishers do respetivo
adversário, também houve botches. E houve um Jey Uso que, a chegar aos
quarenta, se arrastou mais em ringue do que o próprio CM Punk, que tem quase cinquenta.
Para já, que raio de neckbreaker foi aquele? E depois,
quantas vezes é que o próprio Uso caiu nos ombros do Punk? Três ou quatro, à
vontade. Eu sei que um spot daqueles dá suspense e aumenta o interesse,
mas o homem já caía nos ombros do adversário a cada dois minutos.
Mas bom, CM Punk lá ganhou e lá escreveu a história que nem Undertaker,
nem Cope, nem Triple H, nem Batista, e nem tantos outros que carregaram consigo
o clássico Big Gold Belt se atreveram a escrever: CM Punk tornou-se no
único wrestler a ostentar quer o Big Gold Belt original, quer
esta espécie de… Big Gold Belt novo-velho que só existe porque a WWE
quis, na altura, espremer sumo de dentro de uma laranja que já não tinha sumo
nenhum. Mas pronto, ao menos serve para podermos dizer que presenciámos estas “pequenas
efemérides”.
Seth Rollins não tinha necessidade de ganhar outra Money In The Bank Briefcase e este seu segundo reinado… não acrescentou grande coisa, tal como a sua stable também não vinha a acrescentar, e parece que a WWE percebeu isso pouco tempo depois.
No entanto, quando veio, veio sempre em boa hora, e mesmo que
Seth Rollins não se tivesse lesionado, eu creio que o caminho a seguir seria
sempre o de fazer CM Punk como campeão mais cedo ou mais tarde. Tudo o que era
preciso fazer era tornar o Punk numa espécie de “loveable loser”, isto é,
alguém que trabalha duro, alguém que consegue chegar mesmo, mesmo perto do seu
objetivo e que conquista o apreço do público no processo, mas depois, na hora
da verdade, capricha, muitas vezes de uma forma um tanto quanto… surpreendente.
É claro que, aqui, havia o risco natural e justificado de
manchar todo o trabalho que Punk fez nestes dois anos, e descredibilizar todos
os esforços que foram feitos para que ele voltasse (possivelmente despertando a
sua ira). Mas Phillip Brooks agora também já está noutra, e desde que regressou
à WWE parece ter caído na real e percebido que tem 47 anos e já não tem idade
para andar a fazer birras nos bastidores.
Mas voltando ao ponto, a ideia de ter CM Punk a campeão é positiva.
Depois do último par de reinados, ter alguém com a experiência de Punk como campeão
pode revitalizar um título que, desde sempre, correu sérios riscos de ser visto
apenas como um “prémio de consolação” (visto que o WWE Championship tem sido
sempre aquele que mais tempo de antena tem merecido por parte da própria WWE, e
também porque, desde que este “título novo-velho” foi instaurado, a sua linhagem
parece ter começado do zero).
Muita desta “positividade” gerada à volta da vitória de Punk tem que ver, também, com a mudança que ainda agora falei: Punk parece ter adotado uma postura mais sábia do que aquela que tinha aquando dos vários incidentes que causou quando estava na AEW, em 2022 e em 2023.
A forma como ele olha para
o que se passa nos bastidores mudou completamente, e já por várias vezes o
próprio Punk foi visto a servir de mentor aos talentos que chegam ao Main
Roster da WWE (e até àqueles que já lá estão, como Rhea Ripley, por exemplo). A
WWE quererá premiar toda esta nova postura de Punk com um último reinado como Campeão
Mundial antes de, possivelmente, encerrar a carreira – e habituemo-nos à ideia
de que já não faltará muito para que isso aconteça.
Com efeito, feuds com Bron Breakker ou Bronson Reed,
um potencial confronto com LA Knight (que só pelo aspeto da mic skill já
seria bastante interessante) ou até um toque moderno em velhos clássicos (como
por exemplo o continuar da feud com Roman Reigns depois de tudo o que
aconteceu na Road to Wrestlemania) seriam excelentes opções para
alcançar este objetivo.
Certo é que estaremos perante o chamado Winter of Punk. Não será tão espetacular quanto o seu Summer em 2011, e tendo em conta as mudanças na linha do tempo, também não é isso que se pede. Mas tudo se perspetiva para que o Second City Saint seja Campeão até à WrestleMania, o que a mim me parece tempo mais que suficiente para deixar marca.
A bola está, agora, do lado da WWE, que terá a obrigação de
dar a Punk um reinado que, em termos de qualidade, só existiu com… Seth Rollins
e o seu primeiro reinado (e cá estão as coincidências novamente!). Isso passará,
também, pela correta escolha do seu sucessor – e potencial vencedor do Royal Rumble:
Um erro que a WWE tem obrigação de corrigir, porque Jey Uso acabou por provar,
contra as expectativas da empresa, porque é que muita gente não o escolheria
para vencedor.
Contentes por ver CM Punk como campeão? O que esperam do seu
reinado?
E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas nossas redes sociais, deixar sugestões aí em baixo... o habitual. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!



