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Lucas Headquarters #212 – Copiar, Colar


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! O Halloween já terminou, não já? Como é que vos correu? Bem? Então olhem meus queridos: Feliz Natal e um bom 2026. Até para o ano!!


Calma, calma, também não cheguemos a tanto. É verdade que a partir de hoje a nossa paciência será posta à prova até ao Dia de Reis (sim, porque o Natal ainda dura para além de 24 e 25),  graças ao sempiterno vozeirão de uma tal de Mariah Carey, mas até lá ainda há muito caminho que percorrer no calendário.


Que tal vos pareceu o MARIGOLD Grand Destiny? Gostaram? Eu certamente não desgostei, mas a verdade é que a cena joshi é tão consistente naquilo que entrega que é pessoalmente difícil encontrar um PPV que seja mau como um todo. Isto não quer dizer que não hajam podres – se assim não fosse, o interesse do público não contava para nada – mas o facto é que, quase sempre, os PPV do wrestling japonês acabam por entregar de forma muito satisfatória. E se já é assim “a feijões”, as coisas tornam-se ainda melhores quando há “prémios” – neste caso, títulos – em jogo.


Senti que o Grand Destiny foi um PPV que cresceu à medida que fomos escavando ainda mais o buraco, isto é, à medida que os combates iam aumentando a sua importância e o que estava em jogo ia tendo cada vez mais valor.


Gostaria de destacar, sobretudo, quatro combates: O combate entre Kizuna Tanaka e Shinno, que foi curtinho, seis minutos apenas. Podíamos dizer que foi uma espécie de “combate de exibição” para quem ainda não conhece a cena joshi no geral, e, mais especificamente, as wrestlers e todo o seu potencial, ou então podíamos enveredar numa abordagem mais simbólica e dizer que foi uma “cerimónia de abertura”, um welcome drink, se quisermos, para o buffet que estava para vir. 


As wrestlers exibiram-se a um nível bastante bom para o tempo que tiveram, embora Kizuna demonstrasse ser muito mais completa ainda do que a própria Shinno. Shinno esteve bem no aspeto técnico, conseguindo prender Kizuna num fujiwara armbar extremamente eficaz, e demonstrou superioridade ao nível do striking, com pontapés muito eficazes.




Segundamente, o combate entre Seri Yamaoka e Chihiro Hashimoto. A capacidade que Seri Yamaoka tem para se adaptar ao estilo da sua adversária é qualquer coisa de impressionante, tendo conseguido parar o ímpeto de Chihiro com uma abordagem mais técnica logo nos primeiros minutos. Claro que Chihiro dominou grande parte do combate, mas houve momentos em que ambas estiveram ao mesmo nível, e quando assim foi, Seri não se coibiu de lançar as suas melhores armas, incluindo dois voos do topo da turnbuckle.



Terceiro, aquele que para mim foi o combate da noite: Mai Sakurai vs Victoria Yuzuki. Sakurai vinha a ter um excelente reinado como United National Champion e é precisamente essa a imagem que deixa. Nota-se que Mai bebeu muito da influência de Giulia, sobretudo na forma intensa como se apresentou no combate e também nalgumas moves que aplicou por diversas vezes, como o Glorious Driver e o STF. Yuzuki também não deu parte fraca, tendo chegado a prender a campeã no Bianca (outra das subjugações usadas por Giulia) e, já na parte final do combate, quando o cansaço se fazia notar, safou-se de uma cover à contagem de… um. Foi acima de tudo um combate onde Mai Sakurai confirmou estar pronta para algo mais e Victoria Yuzuki demonstrou uma maturidade fora do comum para alguém com apenas dois anos no ringue.



E depois, o Main Event: Mayu Iwatani vs IYO SKY. Antes de ver o combate, pensei muitas vezes se veria uma IYO SKY mais livre nos ringues da MARIGOLD do que habitualmente vejo nos da WWE, mas a verdade é que o estilo não mudou assim tanto. Ficou provado que, apesar dos longos anos de afastamento, a Icon e a Genius of the Sky não perderam qualquer química, protagonizando muitos spots semelhantes de forma alternada (quase como quem diz “eu faço melhor do que tu”) mas o que fica deste combate é a resiliência, o desafio do limite físico. Nenhuma delas queria aceitar a derrota, sabendo que só podia haver uma vencedora.



Isto passou-se neste passado Domingo, no Japão. Relativamente ao que se passa no Oeste do globo, a história é outra – e claro que vem sempre mais carregada de opiniões mais incisivas, mais aguerridas, e até de alguma polémica, digamos assim.


Tem circulado por essas redes sociais a fora (sobretudo no X, que é sempre aquela bolha) o vídeo da primeira entrada em conjunto de Zelina Vega e Aleister Black, depois de La Muñeca se ter aliado ao seu marido e consumado um heel turn.


Se uma faceta heel lhe assenta melhor do que uma faceta de babyface, isso é questão que já irei discutir convosco lá mais para a frente. Mas há aqui um detalhe no qual as massas repararam logo: É que a forma como Zelina Vega e Aleister Black se apresentam desde que Vega entrou em cena é exatamente igual à forma como a própria WWE apresentou Karrion Kross e Scarlett, também eles marido e mulher no mundo real, durante todo o tempo em que estiveram contratualmente ligados à empresa.



E aqui tenho de dar a mão à palmatória porque esta é, realmente, uma observação bem feita. De facto, qualquer semelhança entre as gimmicks de Kross e Scarlett e as gimmicks de Zelina e Aleister não é pura coincidência. Há muitas semelhanças – visuais, performativas, etc – entre ambos os casalinhos.


Mas creio que nos estamos a esquecer de algo que é caraterístico do mundo do wrestling, mas que nós muitas vezes insistimos em ignorar: Reciclagem.


O que é que eu quero dizer com “reciclagem”? É simples, meus caros: Quando não se tem ideias novas, reciclam-se outras já usadas. É evidente que os fãs estão a esquecer uma outra nuance que julgo ser importante destacar: Muitas vezes não se recicla apenas porque “sim”. Muitas vezes a reciclagem é feita com o nobre propósito de homenagear wrestlers que nos influenciaram ao longo do nosso percurso, uns que, felizmente, ainda estão vivos, e outros que, para tristeza de todos, já partiram para o Olimpo do wrestling. Quando isso acontece, a “reciclagem” ultrapassa apenas o aspeto da gimmick, e estende-se também ao estilo em ringue.


Para que vocês percebam melhor esta ideia, vou deixar-vos aqui alguns exemplos do conceito de “reciclagem” dentro do wrestling, sem muitas delongas porque são exemplos facilmente reconhecíveis: “Nature Boy” Buddy Rogers e “Nature Boy” Ric Flair; Undertaker (WWF) e Seven (WCW); American Badass Undertaker e Chuck Palumbo; Vladimir Kozlov e Rusev.



Quase todos estes exemplos, à exceção do de Ric Flair (que foi, evidentemente, em jeito de homenagem) são prova daquilo que eu dizia há pouco: Quando não tens ideias novas, recicla as velhas. A grande diferença – e isso é que eu acredito que esteja a causar todo este burburinho – está na capacidade que os wrestlers têm para tornar as coisas credíveis.


Para tornar uma gimmick credível, não basta ser-se bom a encarná-la fora do ringue, também é preciso saber encarná-la lá dentro. Undertaker, por exemplo, tinha toda aquela aura macabra fora do ringue, e dentro do ringue, não raras vezes, até para voar lhe dava (pobres operadores de câmara…). Vladimir Kozlov e Rusev tinham sempre aquela cara de poucos amigos e passavam isso para dentro do ringue, quer fosse a nível do seu move-set quer fosse através da própria interação com o público durante os combates.


E aqui é que está a grande diferença: Karrion Kross, por exemplo, é um wrestler muito limitado, tanto dentro do ringue como fora. Dentro do ringue, tirando a sua subjugação e aquela espécie de reverse hidden blade que conhecemos como Kross Hammer, não há grande sumo que possamos tirar de lá. Kross é um wrestler que encaixa perfeitamente no estilo da WWE, mas ao mesmo tempo… é um wrestler que, se aos 40 anos não consegue evoluir para além disto…


Com Aleister Black, não é esse o caso. Aleister Black é um wrestler muito mais completo dentro do ringue: A sua base é, evidentemente, o muay thai e as artes marcais mistas, mas a sua vertente high-flying aparece-nos apenas como um complemento, como algo que ajuda a dar dimensão não só àquilo que faz dentro do ringue como ao que faz fora dele.





E depois, a questão da gimmick: Aleister Black já se mostrou perfeitamente capaz de encarnar os aspetos da sua gimmick sozinho, independentemente da presença de Zelina. Já o fez no NXT, já o fez na AEW, e fê-lo, até há duas, três semanas, neste regresso à WWE. Qual é o papel da Zelina aqui? É de acrescento. Puro e simples acrescento. Aleister Black continuaria a conseguir desempenhar o seu papel a solo, sem qualquer prejuízo da presença (ou ausência) da esposa.


Por falar em esposa, é, também ela, o principal foco desta “mudança”. Será que uma gimmick mais ao estilo gótico assenta bem em Zelina Vega? Será que ter um papel como valet do marido é bom para ela, depois de um período como babyface em que também serviu como valet de uma stable?


Na minha opinião, sim, mas sob certas condições. Não há dúvida de que, naquilo que mais importa à WWE, Zelina tem o que é preciso para encarnar esse papel mais obscuro, e, em comparação a Scarlett, é uma wrestler com maior desenvoltura em ringue. Sendo Zelina uma latina, também é bom vê-la libertar-se um pouco dessas amarras, que marcaram grande parte da sua carreira (muito embora eu até tenha gostado dos tempos dela na LWO, que não sendo espetaculares, nem pouco mais ou menos, serviram para que o público, sobretudo o mais recente, a conhecesse um pouco melhor).


Agora, Zelina não pode ser uma eterna valet. Se ela é, realmente, melhor que a Scarlett em ringue (e disso não parece haver dúvidas) é preciso capitalizar. Colocá-la, também em feuds com outros talentos do roster. Até porque seria interessante inverter também os papéis do ponto de vista psicológico, e colocar Aleister Black do lado da retórica de vez em quando, até para que ele possa melhorar essa parte.


A conversa do copy, paste parece-me, em suma, um pouco exagerada – como disse, de reciclagens de gimmicks está o wrestling cheio. Mas, ao mesmo tempo, é a expressão natural de um sentimento comum: Karrion Kross devia ter sido melhor aproveitado, mesmo com todas as suas limitações. Porque só assim é que se consegue trabalhar sobre elas e, se for o caso, corrigi-las.



E vocês, acham que a WWE colocou Aleister Black e Zelina Vega a fazer a gimmick de Kross e Scarlett ou tudo isto acaba por ser o curso natural das coisas?

 

E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas nossas redes sociais, deixar sugestões aí em baixo... o habitual. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!!

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