Lucas Headquarters #210 – Só peca por ser tarde
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias, já com a Gabrielle a fazer-se sentir!! Se precisávamos de
mais algum sinal de que o Verão já lá vai e já estamos no Outono… aí o têm!!
Agora temos todos carta branca para enfardar à vontade, afinal de contas o
Natal é já ao virar da esquina…
Mas enquanto a Mariah Carey descongela e não descongela,
digam-me cá: O que é que acharam do All Out? Gostaram? Eu gostei, achei um PPV
porreiro. Claro que nada supera a magnificência daquilo que foi o All In, mas
como se costuma dizer, a cavalo dado não se olha o dente.
O Tag Team Match de abertura foi bastante bom. Eu não costumo dizer isto muitas vezes, mas o estilo simples e eficaz dos FTR faz com que estes facilmente tenham química com qualquer dupla que lhes apareça à frente. E depois, estamos a falar de Cope e Christian Cage... Eu confesso que tinha bastantes reservas acerca da forma como esta reunião iria correr, sobretudo devido à forma excelente como Christian Cage se portou na sua heel run, que foi nada mais nada menos do que sensacional. Admito que vê-lo num outro papel até nem me faz assim muita confusão. Pontos extra pela manutenção de alguns dos traços que o fizeram um heel tão bom: A postura em ringue, a cadência nas promos… tudo detalhes que podem parecer pequenos, mas que Christian Cage transformou em atributos intocáveis.
Depois, o combate entre Mark Briscoe e MJF. Não quero estar
aqui a aproveitar-me do luto das pessoas (até porque certos membros da minha
família mais alargada estão a passar por isso neste momento), mas Mark Briscoe
parece estar cada vez melhor desde a infeliz morte do irmão. Eu não costumo
acreditar muito nestas coisas (não sou gajo de superstições), mas parece que
Jay Briscoe lhe tem dado uma força anímica de tal maneira grande lá de cima que
Mark Briscoe podia agora de repente tornar-se AEW World Champion que ninguém
suspeitava.
O Tables ‘n’ Tacks match foi excelente não apenas pela
brutalidade da ação, não apenas pelos vários spots em que tanto Briscoe como
MJF puseram o seu corpo à prova (e ainda hoje devem estar a sentir as dores de
ter tantos pioneseses cravados na carne) mas também porque nos mostrou o melhor
que cada wrestler tem para oferecer.
MJF é um heel à antiga – todos nós sabemos disso: Gera
heat do público com a facilidade de quem tira um doce a uma criança, e
paradoxalmente, em vez de fazer com que o público o odeie (esse que é o
indicador de que um heel está a fazer um trabalho minimamente decente)
faz com que o público o adore e ainda peça mais. Vejam as reações: A malta
compra toda e qualquer promo, todo e qualquer segmento onde ele apareça.
Mark Briscoe já é um wrestler mais peculiar, se assim
quisermos. Não é um prodígio retórico (apesar de até ter aquele sotaque sopinha
de massa que tem a sua graça) e muito menos um prodígio técnico, o que é
normal, porque funcionou quase sempre em tag team. Mas tem uma qualidade
que faz com que o público olhe para ele com tremendo respeito: É resiliente.
Fisicamente falando, apesar de não ser um superpesado, é dos wrestlers mais
duros de se enfrentar. Porque ele simplesmente não desiste. Não vai abaixo. Não
vira a cara à luta, nem a um desafio.
E depois, o Main Event. Hangman Adam
Page contra Kyle Fletcher. Kyle Fletcher sempre foi um wrestler a quem foi apontado um grande
futuro, mas por incrível que pareça, também foi um wrestler que se viu
quase sempre como a “segunda roda”, se assim quisermos – quer com Will Ospreay,
quer com a Don Callis Family.
Mas uma coisa Kyle Fletcher provou: Ele está mais do que
pronto para esses grandes voos, precisa é de ter vários momentos como teve no
Main Event. Ele soube aproveitar o facto do combate estar a subir de ritmo para
se assumir, depois de uma primeira metade bastante lenta, até, que foi
carregada quase sempre pelo campeão. O desafiante carregou a segunda metade,
dando água pela barba a Hangman que só foi capaz de resolver a coisa com um
Buckshot Lariat bastante espontâneo – acho que nem Schiavone, nem Excalibur e
nem Bryan Danielson contavam que aquele finisher fosse ter lugar naquele
momento.
Mas há aqui outro combate que eu quero destacar – e esse sim,
vai merecer toda a nossa atenção: A fatal-4 way entre Toni Storm, Kris
Statlander, Thekla e Jamie Hayter. Foi dos combates mais curtos do card –
como a esmagadora maioria daqueles que envolvem mulheres dentro da AEW, e isso
é uma coisa que ainda não consegui perceber. Mas, apesar do pouco tempo, fiquei
com uma sensação positiva que me diz respeito a todos os combates femininos da
empresa, e que de certa forma acalma um bocadinho esta minha picuinhice: Na
AEW, as mulheres não precisam de muito tempo para dar um bom espetáculo. E isso
prova a sua qualidade.
Houve uma coisa que me surpreendeu nesta fatal-4 way,
que foi o facto de não estar aqui Athena. A feud delas parecia, quanto a
mim, que tinha potencial para continuar, mais não fosse pelas interações que
tinham entre si. Pareceu-me que Thekla e Jamie Hayter foram jogadas naquele
combate de forma um tanto quanto aleatória, sempre pensei que iriam ter um combate
só para si.
Ainda assim, não deixaram de surpreender. Thekla mostrou que
é uma wrestler de confiança e bastante consistente se lhe forem dadas
oportunidades, e Jamie Hayter continua a justificar o porquê de ser um nome tão
consensual entre os fãs. Tal como Kris Statlander, também Jamie Hayter é o
pacote completo: Arsenal diversificado, carisma e um bom conjunto de power
moves. Apesar de me ter parecido aleatória a maneira como caiu naquele
combate (quase de para-quedas), não posso deixar de louvar a decisão, sobretudo
devido à química que demonstrou quer com Toni Storm, quer com Kris Statlander.
Não me importava de ver Jamie Hayter como a próxima AEW Women’s World Champion.
Não me importava mesmo.
O que surpreendeu mesmo – e com isto, acredito que ninguém
contava – foi o resultado. Contra todas as expectativas, Kris Statlander saiu
campeã, protagonizando um dos plot twists mais inesperados do PPV.
Eu acabei de dizer que o resultado deste combate foi um
resultado que surpreendeu, mas a verdade é que, dada a conjuntura atual, acaba
por não surpreender assim tanto.
Primeiro, a tipologia do combate já abria portas para que
houvesse surpresas. Vale lembrar que, numa fatal 4-way, a campeã não tem de ser
o alvo de uma cover ou de uma subjugação para perder o seu título. Pode
ser algo de insignificante, mas na aceção que fiz quando o combate começou,
pareceu-me logo que no final iria haver uma surpresa.
Segundo, Toni Storm está na sua melhor fase enquanto Timeless
– e bem sei que digo isto muitas vezes, demasiadas até. Mas o trabalho que
ela tem feito desde Fevereiro até agora… muito dificilmente uma outra wrestler
o faria.
Fez com que Mariah May (nka Blake Monroe) saísse em
altas da AEW proporcionando-lhe um último combate que ficará, certamente, nos
melhores do ano. Aquele Hollywood Ending foi tão brutal, tão brutal, que
duvido muito que nos próximos tempos vejamos duas wrestlers a fazer
semelhante coisa.
Depois, envolveu-se em feuds com Mercedes Moné e
também com Athena. E aqui se percebe logo que, depois destas duas feuds,
tudo aquilo que dissesse respeito a Toni Storm como campeã seria como espremer
uma laranja que já só tem três ou quatro gotas de sumo.
Toni, Athena e Mercedes são, talvez, as três melhores e mais
competentes mulheres da atual divisão feminina da AEW (e oh, como eu gostaria
de adicionar Willow Nightingale a essa lista, mas o Tony Khan simplesmente não
vê o diamante que ali está). Ora, quando um terço desse trio de mulheres
competentes derrota as outras duas (e muito provavelmente já derrotou as que
estavam uns patamares abaixo), o que é que se faz a partir daqui? Tudo o que
viesse daqui para a frente era arrastar o reinado da Toni ao ponto de os fãs
perderem o interesse.
E depois, se há alguém que merecia mesmo ganhar este título,
esse alguém era Kris Statlander. Statlander teve todo o tipo de azares que
alguém poderia imaginar – sobretudo a nível físico. A juntar a isto, um character
work que não parecia estar a produzir o efeito desejado – aquela fase em
que ela encarnava a pele de uma alien é, na minha opinião, perfeitamente
esquecível.
No entanto, ela soube superar esses azares, e sobretudo
esperar nos resultados. E isto é algo que facilmente pode frustrar uma wrestler
dentro da Divisão feminina da AEW, porque a divisão feminina da Elite é tão
grande e tão vasta que nós não sabemos muito bem quem é que vai surgir nas
luzes da ribalta. Willow Nightingale teve destaque durante muito tempo, desde o
All-In que parece que não se vê; Mina Shirakawa, que vinha tendo bastante tempo
de antena graças, também, a uma interessante parceria com Toni Storm, no All
Out foi remetida para o pre-show; Riho desaparece durante meses e, de
repente, volta a ter destaque (e ainda bem – quem a criticou por essa internet
fora tem de repensar seriamente o que anda a fazer da sua vida).
Portanto o mais fácil para Statlander era não se importar.
Era, simplesmente, deixar o tempo correr e fingir que estava tudo bem, “deixa
estar que a oportunidade logo há-de aparecer”. Mas não. Ela soube
reinventar-se, superar-se e esperar o seu tempo. Pelo caminho parece ter
desenvolvido ali uma qualquer parceria curiosa com o Wheeler Yuta. Portanto eu
diria que grandes coisas estarão no seu horizonte, e a sua vitória pelo título,
quanto a mim, só peca por tardia.
Uma nota final para esta semana: Agrada-me ver como as
diferentes empresas estão a recompensar as wrestlers que mais têm dado
provas do seu compromisso lá dentro.
A WWE, por exemplo, testemunhou a paixão de Stephanie Vaquer,
o modo como ela se vem afirmando enquanto cumpre o seu sonho, e premiou-a com o
Women’s World Championship; a AEW premiou a superação de Statlander com o AEW
Women’s World Championship no All Out; a STARDOM, por exemplo, recompensou a
lealdade de Momo Watanabe à empresa ao longo da última década com a vitória no
5-STAR GP deste ano.
Pode parecer ilusão – e muito provavelmente é – mas talvez
ainda haja nos impiedosos engravatados que tomam conta das empresas um ténue
sentido de humanidade. Talvez o mérito ainda seja um conceito que vale a pena
ter em conta. Talvez ainda não esteja tudo perdido.
E vocês, o que acharam do All Out e da vitória de Kris Statlander pelo AEW World Women’s Championship em particular?
E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas nossas redes sociais, deixar sugestões aí em baixo... o habitual. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!