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Lucas Headquarters #209 – Um bem necessário


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias, tarde e a más horas, eu sei, mas quando a família chama… Não há volta a dar. E isso muitas vezes está fora do meu controlo.


Ora bem, tivemos um fim-de-semana recheado de wrestling, e vocês sabem como eu gosto dessas alturas em que o que não nos falta é ação. Vossas excelências com certeza desculpar-me-ão, mas os ecos da viagem que fiz ainda permanecem dentro de mim, de tal maneira que só agora estou a regressar à minha “rotina” em termos de wrestling. Quero com isto dizer que não, ainda não vi o All Out (está na minha agenda, tho) e não consegui acompanhar nada sobre joshi no último mês, porque em Agosto também estive a trabalhar em projetos mais pessoais que me tiraram muito tempo para acompanhar wrestling como deve ser.


De tal maneira que não pude, como era meu desejo inicial, fazer a análise daquilo que aconteceu quer no 5-STAR GP da STARDOM, quer no Dream Star GP da MARIGOLD. E sim, já não é a primeira vez que faço rescaldos e não faço antevisões (ou vice-versa, que neste ano calhou a termos antevisões e não rescaldos) mas, se há uma coisa que eu prezo neste espaço é a consistência, muito embora nem sempre seja possível mantê-la, como não foi nestas últimas semanas. É um sinal de respeito por esta arte que seguimos, e por aquilo que fazemos para a manter viva – e tanto que é preciso.


Nesse sentido, e para que o assunto também não fique completamente esquecido, gostava de dar os parabéns às vencedoras dos respetivos torneios: Momo Watanabe (5-STAR GP) e Miku Aono (Dream Star GP). Foram duas wrestlers que, de uma maneira ou de outra, também já foram várias vezes mencionadas aqui no estaminé (Momo Watanabe até já teve algum destaque também) e que, no contexto imprevisível que estes torneios apresentavam, se calhar até acabaram por ser as vencedoras mais adequadas – o tempo confirmará se o são ou não.






Mas estas duas vitórias são, parece-me, vitórias que premeiam uma virtude que eu acho que é muito importante e que sinto que é constantemente desprezada no wrestling hoje em dia: Consistência. 


Podemos até não estar perante o wrestler mais vistoso, aquele que tem a melhor gimmick, aquele que cativa mais e que tem a melhor ligação com o público ou aquele que dentro do ringue é o mais impressionante, mas se, semana após semana, esse dito wrestler continuar a apresentar níveis altos na sua performance, metade do caminho já está feito. Porque para muita gente já não importa o que acontece na pequena travessia que se faz desde a gorilla position até ao ringue: O que interessa é como é que um wrestler dá boa conta de si quando a campainha soa. E, nesse aspeto, Momo Watanabe e Miku Aono são wrestlers de topo – e não há que ter vergonha de o dizer.


Quem também provou ser uma wrestler de topo este fim-de-semana foi Stephanie Vaquer. A wrestler chilena confirmou a ascensão meteórica que teve desde que chegou à WWE e conquistou o Women’s World Championship frente a IYO SKY. Vale lembrar  que o título ficou vago após o anúncio da gravidez da então campeã Naomi.


A vitória da La Primera foi um raio de luz num Wrestlepalooza que prometeu, mas esteve muito longe de cumprir com o que se esperava. Com que necessidade é que John Cena, no seu último ano de carreira do qual já só restam pouco menos de três meses (e meia dúzia de datas), tinha de sair por baixo? Só porque o Brock tinha de continuar a parecer aquele objeto inamovível? Mas a WWE não nos mostrou já que era possível vermos um outro Brock Lesnar, sobretudo no combate contra o Cody Rhodes no Summerslam de 2023? The more things change, the more they stay the same. Mas sobre isto falaremos noutra altura.




Depois, a Guerra de casais. Não me levem a mal, a melhor coisa que podia acontecer à WWE neste momento era o regresso da AJ Lee, numa altura em que a divisão feminina do RAW gira muito à volta de IYO SKY e Rhea Ripley (para além da própria Vaquer). Dá para aquele nostalgia pop e ainda para vários anos de dream matches, tendo em conta o roster atual comparado com aquele que havia há dez anos.


Eu, pessoalmente, gostei do combate. Não vou mentir, foi um combate que me entreteve genuinamente. Todos aqueles teases ao tag da AJ, a parte final do combate onde a ação se confundia, já não se sabia muito bem quais eram as regras, a AJ partia para cima do Seth e o Punk para cima da Becky… tudo isso foi bem pensado. Tudo isso deu espetáculo. Mas se olharmos para trás e revirmos todos esses pormenores, vamos perceber que o combate era apenas isso: Espetáculo.





A AJ Lee estava a voltar depois de uma década fora, portanto era preciso que o regresso dela fosse algo que entretivesse. Que não cumprisse os requisitos, mas que entretivesse. E nesse aspeto a WWE esteve bem. O Main Event foi bom, mas o resultado era aquele que se esperava.


Posto isto, Stephanie Vaquer sai – justamente – com o título de MVP do Wrestlepalooza, quer aos olhos dos fãs e da crítica especializada, quer sobretudo aos olhos dos responsáveis da empresa, que veem confirmadas as expectativas que depositaram nela quando a contrataram, há pouco mais de um ano, na ressaca de uma polémica que pôs a comunidade em alvoroço (vocês lembram-se, eu até escrevi sobre isso).


De qualquer forma, outra das coisas que constato com alguma graça é que, volvidos que estão quase dezoito meses desde que Stephanie Vaquer assinou pela WWE, se calhar já ninguém se lembra disso. Se calhar já ninguém se lembra de que, quando apareceu no Forbidden Door do ano passado, Vaquer não estava sob contrato com a AEW, mas sim com o CMLL. Se calhar já ninguém se lembra das acusações que lhe fizeram, dos impropérios que lhe dirigiram, se calhar já ninguém se lembra de ter chegado tão longe ao ponto de a terem acusado de “queimar pontes”. O que uma vitória não faz, hã?




Mas pronto, aqui chegámos. E, já agora, deixem-me que vos diga uma coisa, que tenho a certeza que vocês sabem: Esta vitória de Stephanie Vaquer não surpreende ninguém – ou, pelo menos, não devia.


Olhando para o atual roster feminino da WWE como um todo e ignorando o facto de estarem ou não no NXT a esta altura, Stephanie Vaquer é, de longe, a wrestler mais experiente do roster, a par de Giulia, IYO SKY, Kairi Sane e Asuka. “Ah, mas está lá a Rhea Ripley”. Correto. Mas o critério preferencial aqui é o percurso fora da WWE, não dentro. Porque quando falamos de alguém que está dentro da WWE e que tem experiência, falamos de alguém que conhece a forma como a WWE funciona, mas não tem noção da forma como funcionam as outras empresas e se movem outros mercados.


Por mais experiente que um wrestler seja, na maioria das vezes é muito difícil a adaptação a um estilo como o da WWE. Porque a WWE, ela própria, não descreve o seu produto como sendo wrestling, antes um filme sobre wrestling – se querem que vos seja sincero, eu acho que nem eles próprios acreditam nisso.


Mas há toda uma série de especificidades (ou simples picuinhices, se quisermos ser um pouco mais mordazes) que tornam o estilo da WWE diferente de tudo o resto, precisamente porque o foco não está na ação, mas sim na componente de “cinema” que leva a que a ação aconteça. Portanto, se se adaptam, porreiro, mas se não se adaptam… provavelmente a melhor opção seria não voltar lá, a não ser que a vossa evolução fosse uma espécie de transfiguração em toda a linha, como aconteceu com o Cody Rhodes. Quando o Triple H dizia “adapt or perish”, ele não estava enganado.


Mas Stephanie Vaquer adaptou-se, e adaptou-se de tal forma que parecia que estava na WWE há décadas. Claro que a parte mental conta sempre muito: A WWE era o sonho de Stephanie Vaquer (até parece estranho dizer isto hoje em dia). 


Ela cresceu a idolatrar o incontornável Rey Mysterio e fez sacrifícios enormes para poder assistir a um live event da empresa no Chile quando tinha apenas catorze anos. Por muito fangirl-ish que isto nos pareça, há aqui uma verdade escondida: Quando somos apaixonados por algo, essa paixão aumenta o nosso foco, o nosso empenho. O mesmo acontece quando nos apaixonamos por alguém: O amor é cego.



O próprio público, tanto no NXT como no Main Roster, também desempenhou um papel fundamental, numa das raras vezes em que fez o seu trabalho de casa e se predispôs a conhecer verdadeiramente alguém que chegava de novo. E, a partir daí, foi fácil para Stephanie criar uma conexão com o público, já que ela tem uma particularidade que a distingue das restantes luchadoras: O estilo dela não é tão vistoso. É muito mais técnico e cerebral, talvez refletindo também a forma como a própria encara o wrestling: Paixão, mas ao mesmo tempo muito empenho. Porque “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”.


Não me recordo, no momento em que escrevo isto, de haver outra wrestler que tenha subido ao topo em tão pouco tempo na WWE. Talvez apenas Charlotte seja o último caso disso: Ganhou o então Divas Championship na WrestleMania 32, nove meses depois daquele RAW no qual se estreou ao lado de Becky Lynch e Sasha Banks (nka Mercedes Moné) e que deu início à Women’s Revolution. Por essa razão, tem surgido muita conversa a dizer que o push dado a Vaquer foi demasiado rápido, que se calhar as coisas não deviam ter sido assim.


Eu discordo, e aqui não falo só da parte da experiência ou do currículo. Como disse há pouco, a divisão feminina do RAW estava, até à chegada da AJ Lee, a debater-se com um problema de bipartidarismo de campeãs: O Women’s World Championship alternava livremente entre IYO SKY e Rhea Ripley, sem que houvesse alguém que lhes pudesse fazer frente (Naomi está grávida e Liv Morgan recupera de lesão).


Ora, ter Stephanie Vaquer a vencer o título e contar com uma nova desafiante são duas doses de um excelente remédio contra a monotonia: A divisão feminina do RAW ganha uma porta-voz de qualidade (sobretudo se olharmos ao que realmente interessa, e ela própria já fez questão de realçar isso), complementada com um excelente capital de experiência, que demonstrou estar na melhor forma possível. Ter Stephanie Vaquer como campeã não foi um push demasiado rápido, foi antes um bem necessário.



O que acham de ter Stephanie Vaquer como Women’s World Champion? Irá a Chilena ter um bom reinado?

 

E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas nossas redes sociais, deixar sugestões aí em baixo... o habitual. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!

 

Peace and love, até ao meu regresso!!

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