Lucas Headquarters #203 – 5-STAR GP 2025: Ausências e regressos no caminho para o sucesso
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!!
Ontem, quando nada o fazia prever, fomos surpreendidos com a
trágica e inesperada morte de Hulk Hogan, aos 71 anos, de ataque cardíaco.
Dedicar-lhe um artigo inteiro é redundante, isto porque normalmente faço uma
retrospetiva da vida e carreira, mas creio que a história de vida de Hulk Hogan
é do conhecimento geral, porque muita gente cresceu com ele, graças às
transmissões de wrestling na RTP nas décadas de 80 e 90, comentadas pelo
saudoso Tarzan Taborda.
Ao mesmo tempo, dedicar-lhe um artigo é também arriscado:
Terry Bollea não é um homem sem a sua mácula de controvérsia, e pelos vistos
nem na morte conseguiu unir os fãs. Mas julgo que dedicar-lhe uns quantos parágrafos
neste início de artigo não fará mal.
Vou, por isso, contar-vos um pouco da minha experiência pessoal.
Nos primeiros tempos em que comecei a ver wrestling, naturalmente
entusiasmado com a descoberta daquele novo mundo tão fascinante e tão diferente
do que tinha visto até então, lembro-me das muitas histórias que o meu pai me
contava sobre o Hulk Hogan. Sobre como ele era um dos símbolos da sua geração, uma
geração que procurava finalmente a liberdade para ser e fazer depois de décadas
amarrados pelo silêncio, pela desconfiança e pela opressão.
Claro que, eu sendo um novato nas andanças do wrestling, ouvia aquilo com a expectativa de uma criança que ouvia o avô a contar-lhe uma história, mas ao mesmo tempo não percebia o porquê de colocarem Hulk Hogan em tão grande pedestal.
Não demorou muito tempo até entender – também com recurso
aos filmes que protagonizou – que Hulk Hogan tinha o condão de deixar a sua
marca em tudo o que fazia, dentro e fora do ringue, com um carisma absolutamente
anormal para quem se assumia como a cara de uma forma de entretenimento, de um “desporto”
que só a partir de meados da década de 80 se começou a emancipar.
Ao mesmo tempo, julgo ser importante saber distinguir a diferença entre Terry Bollea, o homem que ontem nos deixou, e Hulk Hogan, a personagem que encarnou. É importante perceber que o facto do homem ter muitas vezes manipulado a política de bastidores a seu favor, de ter feito comentários desrespeitosos e racistas, de ter apoiado personalidades com intenções políticas no mínimo… duvidosas, vá, não impede que a personagem não seja algo de transcendental.
E aqui é possível fazer um paralelo com Ozzy Osbourne, que
nos deixou há quatro dias: Também ele teve uma vida de excessos, abusos, rebeldias.
Foi expulso da banda que criou e com quem lançou as bases do Heavy Metal. Não foi
o melhor marido quando, no auge da sua carreira, estava constantemente sob
efeito de drogas. E, no entanto, aquando da sua morte, ninguém apaga ou
desmerece a sua contribuição de cinquenta anos para o mundo da música. Porque é
que agora o quererão fazer com o Hulk Hogan? Se é para aplicar os critérios
sempre tão retos da moral e da justiça popular, porque é que não canalizaram
toda essa revolta em ambos?
Pode Terry Bollea ter sido alguém que, nos últimos anos,
manchou toda uma reputação e toda uma esfera do entretenimento? Claro! Mas isso
não apaga o que ele, enquanto Hulk Hogan, deu à indústria: Popularidade,
projeção internacional e, consequentemente, milhares e milhares de fãs que
ainda hoje seguem o produto. Polémico ou não, o que é certo é que Hulk Hogan
deixou uma marca em todos, mesmo aqueles a quem o wrestling nada diz.
Paz à sua alma.
Chegámos então à segunda metade do Verão, Julho está no fim, o
querido mês de Agosto está aí a chegar. Sabem o que isso significa? Que os
emigrantes vêm em massa para matar saudades de casa e para levarem consigo uma
saudade que só se esbaterá no Verão do ano que vem. Ah, isso e que os dois
torneios que marcam a cena joshi estão aí!
Neste e no próximo fim-de-semana, terão início os torneios
que vão abanar toda a estrutura de duas das principais empresas do joshi
wrestling. O 5-STAR GP da STARDOM e o Dream Star GP, da MARIGOLD. Como
devem calcular, nesta e na próxima edição, o nosso foco estará por aqui.
Começando pelo 5-STAR GP, longe já parecem ir os tempos de
incerteza e aflição que marcaram a edição do ano passado. O produto da empresa
de Taro Okada estabilizou finalmente, muito embora este ano fosse marcado por
um acontecimento que ainda está a ecoar na mente dos fãs: O fim da carreira
de Tam Nakano em Abril, após perder o combate com Saya Kamitani pelo World of
STARDOM Championship. E é com muitas caras conhecidas de fora, mas também
com grandes oportunidades para ver a juventude brilhar, que chegamos a uma das
mais atípicas, mas também mais imprevisíveis, edições de todo o torneio.
Como funciona o 5-STAR GP?
Durante a era de Rossy Ogawa, o formato do 5-STAR GP era
bastante simples e direto: 20 wrestlers competiam em dois blocos de 10 num torneio
ao estilo round-robin, com a vitória a valer dois pontos, o empate, um, e
a derrota, zero. E assim se desenrolava a ação durante dois meses, mais ou
menos, até que, na última noite, as vencedoras dos dois blocos se enfrentariam
na final.
Ora, em 2023, a STARDOM foi afetada por uma crise de lesões
durante o torneio. A vencedora planeada, Saya Kamitani, lesionou-se logo na
primeira noite, e outras mais, como Starlight Kid ou Utami Hayashishita, foram caindo
fisicamente ao longo do torneio. A vencedora acabou por ser Suzu Suzuki, no que
foi visto como uma solução de emergência.
No ano passado, já com Taro Okada ao leme, o formato mudou,
de modo a evitar nova razia. O formato round-robin mantém-se, mas fica
mais curto, dando depois lugar a uma série de eliminatórias que culmina na
final, que mantém o formato tradicional em que se enfrentam as representantes
de cada bloco. Os blocos, em vez de dois, passam a ser quatro, contendo 8 wrestlers
cada: Blue Stars A, Blue Stars B, Red Stars A e Red Stars B. Os
quartos-de-final e as meias-finais terão lugar a 20 de Agosto e a final terá
lugar a 23 de Agosto.
As 32 participantes são, pois, as seguintes:
Blue Stars A: Akira Kurogane, Bozilla, Aya Sakura, Miyu Amasaki,
Saya Iida, Saori Anou, Ami Sourei e Ruaka;
Blue Stars B: Sareee, Momo Watanabe, HANAKO, Hina, Momo
Kohgo, Ranna Yagami, Suzu Suzuki e Konami;
Red Stars A: Bea Priestley, Waka Tsukiyama, Yuna Mizumori, Hanan,
Saya Kamitani (c), Mei Seira, Lady C e Azusa Inaba;
Red Stars B: Rina, Rian, Sayaka Kurara, AZM, Starlight Kid,
Natsupoi, Tomoka Inaba e Natsuko Tora.
(c) – Representa a World of STARDOM Champion à data do início
do torneio.
Bea Priestley: A surpresa das surpresas
Muita gente tem criticado a STARDOM pelo facto de o
alinhamento do GP deste ano ser dos mais fracos da história do torneio. O facto
é que, neste ano, o 5-STAR GP terá quatro ausências de peso: Syuri, Maika, Koguma
e Hazuki, isto não contando já com Tam Nakano, que terminou a carreira há
três meses.
Em contrapartida, entram em cena três nomes igualmente pesados:
Bozilla, Sareee e… Bea Priestley!
Bea Priestley é, talvez, o principal ponto de interesse do
5-STAR deste ano: Talvez a única wrestler que, dadas as circunstâncias,
consegue tirar o foco do torneio a uma potencial vencedora.
Isto acontece porque Priestley é das wrestlers estrangeiras
que mais currículo construiu durante os quatro anos em que fez parte da
empresa. Entre 2017 e 2021, a wrestler britânica conquistou praticamente
todos os títulos da STARDOM: Foi Artist of STARDOM Champion por uma vez (ao
lado de Natsuko Tora e Saki Kashima), Goddess of STARDOM Champion por duas
vezes (uma com Jamie Hayter e outra com Konami), SWA Champion e World of
STARDOM Champion, tendo ganho ainda uma edição da Goddess of STARDOM Tag League
ao lado de Kelly Klein.
Todo este currículo posiciona Bea Priestley como, possivelmente,
a melhor gaijin a lutar na STARDOM, uma honraria que talvez só Toni Storm
consiga disputar. Por essa razão, independentemente do torneio que fizer, ter
Bea Priestley neste torneio já será uma vitória.
Size does matter!!
Foi uma das grandes surpresas deste Verão, e certamente que o
impacto do seu regresso ao Japão ainda perdura: Um mês depois de ter saído da
MARIGOLD por motivos pessoais, Bozilla assinava pela STARDOM como parte das Mi
Vida Loca, provando que não fica parada por muito tempo.
Até agora, a jovem wrestler alemã ainda não teve
muitas oportunidades para se poder mostrar (o que é natural, está apenas com um
mês de casa) mas já fez questão de comprovar porque é que lhe são dirigidos
tantos elogios, quando anteontem ajudou AZM a ter o seu melhor combate neste
ano, muito embora não tenha conseguido ganhar o NJPW Strong Women’s Title.
Não se sabe muito bem o que esperar de Bozilla neste torneio:
Colocá-la como favorita seria demasiado prematuro, mas também não seria justo
para ela dizer que estamos perante algum tipo de dark horse. Bozilla tem
condições mais que suficientes para passar de forma tranquila aos
quartos-de-final, e a partir daí todos acreditam que já terá feito aquilo que
lhe compete na competição.
Favoritas à vitória
Natsupoi
(Red Stars B)
Tem sido sempre das wrestlers mais consistentes desde que, em 2022, trocou as DDM pelas Cosmic Angels. A troca, já aqui o disse várias vezes, favoreceu-a em grande escala: Tornou-se o braço direito da então líder Tam Nakano e desde aí conquistou vários títulos, entre os quais o Wonder of STARDOM Championship.
A conquista do referido título (que teve lugar há um
ano) e o reinado de cinco meses que lhe seguiu mostram que está mais que
preparada para assumir a liderança das Kozuen e ser o babyface de topo
que a STARDOM procura. Para além disso, Poi sempre foi muito popular entre o
público, e a empresa deverá ter isso em conta.
Sareee (Blue Stars B)
Estar a falar de um torneio como o 5-STAR GP e não ter Sareee
como favorita à vitória seria como ir a Roma e não ver o Papa.
Desde que saiu da WWE que Sareee tem dominado por completo a
cena joshi. No espaço de um ano, a Sun God ajudou a lançar a MARIGOLD
(e também apadrinhou a estreia de Bozilla no primeiro PPV da empresa), teve um
dos combates de 2024 com Giulia pelo MARIGOLD World Championship, defendeu o
Beyond The Sea Single Championship da SEAdLINNNG (estabelecendo o maior reinado
da História do título em 511 dias, perdendo para Veny em Janeiro deste ano) e
organizou vários eventos denominados Sareee-ISM, estabelecendo-se como uma heel
de topo. Para completar o ramalhete,
Sareee derrotou Syuri pelo IWGP Women’s Championship, após um brutal combate de
mais de meia hora no STARDOM The Conversion de Junho.
Sareee será talvez a única wrestler da atualidade cujo
título não a impede, à partida, de vencer o que quer que seja. De facto, até se
pode dizer que as semelhanças do que Syuri tem feito de há um ano para cá com
aquilo que Jon Moxley fez até ao All In são imensas: Syuri também não parece
estar disposta a abdicar do seu lugar no topo até que encontre alguém digno de
lhe suceder. Quem sabe se essa procura não acontece durante o torneio…
Dark Horses
Hanan
(Red Stars A)
Tem sido das wrestlers que mais evoluiu desde 2023, e
até tem sido apontada como uma das favoritas à vitória no torneio. No entanto,
a jogar contra ela está o facto de, mesmo com tantas ausências de vulto, o
alinhamento estar composto de nomes que ou já fizeram grandes carreiras na
STARDOM ou dominam atualmente a sua cena Main Event.
Ainda por cima, quis o destino que calhasse no mesmo bloco de
Bea Priestley e da atual World of STARDOM Champion, Saya Kamitani, o que lhe
reduz em grande medida as hipóteses de chegar às fases a eliminar. Ainda assim,
se conseguir fazer uma boa prestação contra as suas duas adversárias mais
fortes, Hanan poderá submeter uma forte candidatura a vencer a edição do
próximo ano.
Miyu Amasaki
(Blue Stars A)
Tal como Hanan, a Miyu Amasaki de 2025 é completamente
diferente daquela de há, pelo menos, dois anos, com a diferença de que mudar de
stable era a única opção que Amasaki teria para se afirmar, e Hanan não
precisou disso porque, dentro das STARS (e até há bem pouco tempo), apenas Mayu
Iwatani e Hazuki poderiam ser considerados nomes de peso.
Pois bem, Amasaki foi uma das wrestlers que fundou as
Neo Genesis e o destaque que lhe tem sido dado desde aí tem sido um fator
essencial para a sua evolução. Embora a sua situação a nível do que a espera no
seu bloco seja a mesma do que Hanan (Bozilla e Saori Anou não estão no torneio
para marcar presença…) serve-lhe de conforto o facto de, pelo menos para já,
não ter de se cruzar com a World of STARDOM Champion, o que poderá aumentar um
bocadinho as suas chances. O seu combate com Mei Seira, atual High-Speed
Champion e sua companheira de stable, tem tudo para ser um dos pontos altos
da sua participação no torneio deste ano.
Tal como Hanan, a Miyu Amasaki de 2025 é completamente
diferente daquela de há, pelo menos, dois anos, com a diferença de que mudar de
stable era a única opção que Amasaki teria para se afirmar, e Hanan não
precisou disso porque, dentro das STARS (e até há bem pouco tempo), apenas Mayu
Iwatani e Hazuki poderiam ser considerados nomes de peso.
Pois bem, Amasaki foi uma das wrestlers que fundou as
Neo Genesis e o destaque que lhe tem sido dado desde aí tem sido um fator
essencial para a sua evolução. Embora a sua situação a nível do que a espera no
seu bloco seja a mesma do que Hanan (Bozilla e Saori Anou não estão no torneio
para marcar presença…) serve-lhe de conforto o facto de, pelo menos para já,
não ter de se cruzar com a World of STARDOM Champion, o que poderá aumentar um
bocadinho as suas chances. O seu combate com Mei Seira, atual High-Speed
Champion e sua companheira de stable, tem tudo para ser um dos pontos altos
da sua participação no torneio deste ano.
E vocês, quem acham que vencerá o 5-STAR GP de 2025?
E assim termina esta já longa edição de "Lucas Headquarters"! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelas redes sociais, pelo canal de YouTube (novo episódio de “Lucas Headquarters” para breve!), sugerir temas… o que vocês costumam fazer. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!! Que seja um 5-STAR GP para a História, e que a vencedora seja a mais justa!!