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Lucas Headquarters #196 – Caminhos inversos



Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters”, aqui no WrestlingNotícias!!


Eu gostava de começar esta edição de hoje com uma palavra de apreço e, subsequentemente (ou não), com uma crítica. Eu ainda não sei se vou abordar este tema na próxima semana ou não – depende do que for acontecendo ao longo dos próximos dias – mas vendo as proporções que isto tomou (e porque provavelmente isto vai de encontro aquilo que é o tema desta semana) eu sinto-me na obrigação de, enquanto conhecedor das manhas e das tendências milionárias da indústria do wrestling mas acima de tudo enquanto fã desta modalidade, abordar este assunto, nem que seja de uma forma muito breve (pelo menos para já).


Sim senhor, aquilo que aconteceu no mais recente episódio do NXT foi muito bonito e pôs toda a gente a falar nela (já vão descobrir a quem é que me refiro, mas a maior parte de vocês há de saber). Mas não vamos ser hipócritas nem ignorar a realidade: Desde o passado domingo que não se fala de outra coisa que não seja a saída do R-Truth.


Deste modo, permitam-me começar pela palavra de apreço: Truth, meu rapaz, tu és aquilo a que em bom português chamamos uma “máquina”. Quanto muitos saíram da WWE a procurar alternativas melhores, quando muitos bateram com a porta tentando defender e reivindicar os seus direitos enquanto wrestlers (nada contra) e quando muitos partiram deste mundo para o Olimpo do wrestling, tu ficaste. Ficaste e assumiste o risco de fazer papéis que muitos veriam – e ainda veem – como ridículos. Como vexatórios. Como atentados à própria dignidade, talvez.




De babyface carismático a um dos melhores alívios cómicos de toda a indústria do wrestling (passando por um papel de heel que, embora imprevisível e fora da caixa, se calhar não te assentou assim tão bem), tudo o que fizeste, fizeste-o bem. Dentro e fora do ringue. E o apreço que os teus colegas de balneário te demonstraram na hora da tua saída é prova disso. Não haverá um fã que tenha algo de mau a dizer de ti, ou do teu trabalho.


Estás com 53 anos, pelo que fazer futurologia, ainda para mais com essa idade, é um risco ainda maior. Mas, independentemente de tudo, os anos em que serviste a WWE dificilmente serão apagados da memória dos fãs.


E agora, a parte crítica. Se, à partida, a fusão da WWE com a UFC e consequente criação da TKO até começou por trazer alguma coisa de bom (mais não fosse a saída de cena do Tio Vince), a verdade é que, e exercendo aqui o papel de advogado do Diabo, as coisas estão a piorar a olhos vistos.


Se a WWE já estava, há muito, desviada daquilo que devia ser o seu foco principal (e demos graças à AEW porque, entre muitos desvios que também já vão acontecendo, o wrestling não passou totalmente para segundo plano), eu arrisco dizer que, agora mais do que nunca, o desvio é quase total e a empresa, pelo menos a nível de gestão, está uma sombra daquilo que já foi. Claro que o caos estará sempre mais controlado porque, aconteça o que acontecer, os fãs vão continuar a comprar merch e a ir aos shows ao vivo, mas é inegável que os novos donos da empresa só têm uma coisa na cabeça: O lucro que podem fazer com ela.


A TKO não renova os contratos com R-Truth e Carlito. E sim, poderíamos alegar que, nos últimos anos, estes dois desempenharam papéis que não fazem uma real diferença na forma como a WWE se movimenta, tendo em conta que, se a TKO olha apenas para o dinheiro, então o foco tem de estar em quem pode mais facilmente gerá-lo – os nomes que estão no topo.



A questão é que Truth e Carlito são dois exemplos (dos poucos que já vão restando) da parte mais autêntica do wrestling e daquilo que é ser fã de wrestling. Porque uma das razões pelas quais muitos fãs ainda hoje investem o seu tempo a ver os shows tem a ver com esta questão do nonsensical humor que para uns é pura e simplesmente uma coisa parva, para outros é a razão pela qual as pessoas esquecem que ontem tiveram um dia mau no trabalho. Ou que estão a meio de um processo de divórcio, e correm o risco de perder a guarda dos filhos. Ou que a mãe ou a avó morreram com um cancro.


E quando a Valhalla diz, no seu Instagram para toda a gente ver (inclusive colegas de trabalho) que está a escrever uma carta de despedida a uma empresa que não vai sentir a falta dela, então está a resumir tudo aquilo que a WWE é atualmente.




 Mas enfim, vamos falar do assunto que nos traz cá hoje, porque a minha intenção não é fazer um artigo inteiro à volta disto.


Vocês não adoram aquela sensação de quando estão a prever algo que quase de certeza que vai acontecer… e depois acertam?


Vocês não adoram aquela sensação de quando formulam uma hipótese (por mais distante que pareça) e, contra todas as expectativas, acabam por acertar?


É uma das melhores sensações da vida. E é assim que me tenho sentido desde esta quarta-feira (quinta-feira em Portugal) quando a Mariah May apareceu no NXT, revelando um dos segredos mais mal guardados do wrestling nas últimas semanas, e o segredo mais mal guardado desde o regresso do CM Punk à WWE no final de 2023.




Mas outra das grandes sensações da vida (e acreditem, não há nada mais satisfatório do que isto) é ver a Mariah May chegar à WWE com toda a bagagem que já leva de trás. Não me interpretem mal: Ainda bem que chegar à WWE deixou de ser o objetivo para muitos, porque se há coisa que a indústria do wrestling nos tem mostrado nos últimos anos é que, na equação do sucesso, a empresa agora detida pela TKO já não tem tanta preponderância como antes tinha. Continua a ser legítimo que haja quem tenha o sonho de lá chegar (a própria Mariah e a Stephanie Vaquer que o digam), mas hoje em dia, se olharmos para nomes como Kenny Omega, Kazuchika Okada, Konosuke Takeshita, Will Ospreay… percebemos que disfrutam do mesmo capital de sucesso sem precisar de se sujeitar à pouca flexibilidade da empresa.


Mariah May é um caso de sucesso não só pela forma meteórica como ascendeu, mas também porque não vem para a WWE para conquistar o sucesso, mas para consolidá-lo. Porque a sua passagem pela AEW, apesar de relativamente curta na linha do tempo, foi um período em que as luzes da ribalta muito raramente deixaram de apontar para si. E agora, com a certeza de que já é um nome conhecido em todo o mundo do wrestling, com a certeza de que, das suas novas colegas de balneário, talvez apenas Rhea Ripley tivesse a mesma parcela de sucesso que Mariah May tem aos 26 (quase 27) anos, Mariah May pode tirar um pouco o pé do acelerador e simplesmente… disfrutar.



Reparem: Mariah May fez um percurso da STARDOM à WWE de Dezembro de 2022 (quando entrou nas então Club Venus pela mão da Mina Shirakawa) até Junho de 2025. Mariah May chegou ao pináculo do wrestling em menos de três anos. Quem faz um percurso destes, bem pode dizer que ganhou o jogo da vida… e toda uma carreira.



O mesmo não se poderá dizer de Thekla, por razões óbvias. Mas a wrestler austríaca guarda um interessante paradoxo: Sendo obviamente mais velha que Mariah May (Mariah tem, à data que este artigo sai, 26 anos; Thekla tem 32), parece estar agora a iniciar um verdadeiro percurso de ascensão no wrestling.




Não se lhe pode atribuir culpa por só agora estar em rota ascendente: Mais para o mal do que para o bem, a STARDOM nunca viu nela uma gaijin de topo, como viu em Toni Storm, como viu em Bea Priestley. Para a STARDOM, Thekla foi sempre alguém que foi usado para “arredondar contas” nos grupos por onde passou, para “compor o ramalhete” e deixar que outros membros brilhem enquanto ela serve apenas e só de “apoio logístico”. Exceção feita ao último ano e meio das Donna del Mondo, em que Thekla formou as Mafia Bella ao lado de Giulia e, acrescentando Mai Sakurai, as Baribari Bombers, tendo sido Artist of STARDOM Champion como parte deste trio.



O interessante é que, mesmo assim, o público parece estar todo a seu lado (pese embora o facto de ela se apresentar como uma heel) o que fundamenta ainda mais o seu percurso de ascensão. Ainda há muitas incógnitas sobre o futuro de Thekla na AEW (o combate com Mina Shirakawa com certeza não será uma delas, vai acontecer mais cedo do que tarde) mas, para já, em termos de comunhão com a audiência, a Toxic Spider está a disfrutar de um excelente início.


AEW: Uma “stepping stone”?



Cody Rhodes, Aleister Black, Rusev, e agora, Mariah May. O que é que estes quatro nomes têm em comum, para além da profissão? Todos eles, para surpresa de alguém (ou se calhar, de ninguém) trocaram a AEW pela WWE, depois de, nos últimos anos, terem apontado duras críticas, de forma mais ou menos indireta, à gestão de talentos e de recursos humanos da empresa.


No futuro, dependendo de como correrem as coisas, pode existir a hipótese de acrescentar o nome de Thekla a este quarteto, mais não seja porque Giulia está, agora, ao serviço da concorrência, e ambas partilharam o mesmo ringue durante largos anos.


Serve isto para dizer que há um par de dias deparei-me, no X, com um tweet que, mais palavra menos palavra, exortava à contratação de talentos que quisessem estar a cem por cento na AEW e que não usassem a empresa como uma stepping stone, uma “rampa de lançamento” para chegar a algo maior. Mas será que é mesmo assim? Será que a AEW é mesmo uma “rampa de lançamento” nesta fase?



Meus amigos, quem pensa que a AEW é uma rampa de lançamento para o que quer que seja, não está a ver bem o propósito da AEW. O mundo do wrestling não é, nem nunca deve ser, uma coisa estática: Quando o for, quer dizer que um dos lados (seja All Elite ou seja WWE) monopolizou a coisa, o que só faz mais mal que bem à causa.


Sendo que o mundo do wrestling não é uma coisa estática, está bem de ver que nenhuma das empresas garante futuros. Aleister Black, por exemplo, andava perdido no sistema da AEW e o seu papel não era mais do que ser o líder de um grupo, também ele, a precisar de renovação. Da mesma forma que Toni Storm nunca teve na WWE o reconhecimento que alcançou enquanto esteve no Japão (e que levou a WWE a contratá-la em 2018, depois de já ter participado na primeira edição do Mae Young Classic) e que, como parte da AEW, soube reinventar-se e afirmar-se como uma das melhores wrestlers da atualidade.


Mariah May teve uma estadia curta na AEW, e talvez a maior falha dessa estadia tenha sido o facto de 80% dela ter girado à volta de uma feud com Toni. Mas enquanto lá esteve, entregou excelentes combates (aquele Hollywood Ending foi a cereja no topo do bolo), foi campeã, brilhou, deu à AEW tudo o que a AEW lhe pediu. Quando uma estadia é curta, mas é frutífera, não se pode apontar nada ao wrestler.






Da mesma forma que Thekla poderá seguir o mesmo caminho. Poderá começar por baixo, ser campeã, brilhar e sair para lutar outro dia. Desde que dê à AEW motivos para continuarem a atrair público e fazer shows, desde que haja sempre uma parcela do público que a queira ver, é isso que interessa. Mas é injusto estar a fazer referência à AEW como uma stepping stone.


Muito mais stepping stone seria a All Elite se Thekla ou Mariah May não fizessem por lá nada de relevante, saíssem para a concorrência e esquecessem a AEW, como se esta não tivesse contribuído para que tenham a carreira que têm hoje. E sim, é claro que as empresas vão sempre as obrigas a debitar discursos com indiretas, críticas camufladas, piadinhas de mau gosto. Por muito que nós apelemos ao contrário (e devemos continuar a fazê-lo!) é assim a lei da concorrência. Mas os wrestlers sabem reconhecer quem acredita neles.


E nunca nos esqueçamos de uma coisa: O coração do mundo do wrestling nunca foi um conjunto de empresas geridas por empresários megalómanos: O coração do wrestling são sempre os fãs com a mais pura das paixões. E aos nossos olhos, Mariah May e Thekla nunca serão simples instrumentos para o sucesso da WWE ou da AEW: Serão sempre wrestlers. Pura e simplesmente wrestlers.



E vocês, que diferença acham que Mariah May e Thekla poderão ter na WWE ou na AEW? Estarão destinadas ao sucesso?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! E assim termina mais uma edição de "Lucas Headquarters"!! Não se esqueçam de passar pelas nossas redes sociais, Facebook, Instagram, Telegram, de darem uma voltinha pelo nosso canal de YouTube (novo episódio de Saligia's Masterclass em breve!), deixar as vossas opiniões aí em baixo, o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, 
até ao meu regresso!!

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