Lucas Headquarters #169 – Dez anos de New Day: Unicórnios, panquecas, cereais e outras coisas tais
Ora então boas tardes, comadres, compadres, duendes e renas
do Pai Natal!! Como estão, sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas
Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!
Pois é, meus caros comensais do wrestling, Novembro
está a chegar ao fim, o Natal já está aí a espreitar, portanto não será
coincidência abrirmos a época natalícia aqui no estaminé a falar de coisas
positivas, de pessoas que têm marcado o mundo do wrestling pela força do
paradoxo (ou talvez seja).
Mas primeiro, para dar contexto, vou falar um pouco sobre
várias questões que, à partida, podem parecer algo sensíveis, até mesmo
controversas, mas que eu acho relevantes o suficiente para trazer para aqui (e
assim fazemos ponte com aquilo que foi um terço da reflexão da semana passada).
No artigo da semana passada, enquanto fazia uma análise ao estado atual da All Elite Wrestling, apontei a forma como a WWE olha para os wrestlers de etnia negra por comparação à AEW. Durante anos, representatividade negra na WWE foi quase como que um tabu.
E com isto não estou a dizer que esses wrestlers não tivessem
algum destaque a nível televisivo: Mark Henry, já na sua fase Sexual Chocolate, vinha disfrutando de algum tempo de antena,
mas o seu reinado como World Heavyweight Champion foi extraordinariamente curto;
Viscera ganhou o King of the Ring em 1995 e chegou a trabalhar com Undertaker
durante a sua fase Ministry of
Darkness, mas depois disso… e como
estes exemplos existem outros tantos. O problema é que, por muito tempo de
antena que estes wrestlers negros possam ter, na esmagadora maioria dos
casos, esse tempo de antena é complementado com conquistas irrelevantes, ou que
não são capitalizadas como deviam.
A stable de que vos
vou falar hoje conseguiu, de certa forma, mudar esse paradigma e quebrar esse
preconceito. Muitos poderão dizer que isso foi relativamente fácil porque, à
data do seu começo, um dos membros já tinha um currículo digno de Hall of Fame
e o outro já tinha sido Intercontinental Champion pelo menos um par de vezes,
tendo, também, trabalhado ao lado de nomes como Dolph Ziggler e AJ Lee.
Não o fizeram sem antes
experimentar na pele aquilo que já naquela altura começava a ser uma das marcas
registadas de Vince McMahon: A transformação de wrestlers em
estereótipos deles próprios. O que é que se faz com três wrestlers negros que querem passar uma imagem de positividade
e capturar a imaginação, fazendo com que os fãs pensem que tudo é possível?
Transforma-se esses wrestlers numa
espécie de “pregadores” ao estilo gospel, pois
claro!!
Se isso resultou? Obviamente que
não. Mas é interessante verificar que, no falhanço do “primeiro rascunho”,
chamemos-lhe assim, daquilo que este trio viria a ser, houve uma coisa que
resultou, e daí a menção ao “paradoxo” que fiz inicialmente.
O wrestling é um
produto que chega até nós com uma aparência durona, um produto que nos é
vendido com uma aura que nos faz acreditar que qualquer um pode ser, no mínimo,
um anti-herói durão. Isso era evidente sobretudo na primeira década de 2000,
quando estávamos em plena Ruthless Agression Era e o wrestling casava quase perfeitamente com a onda alternativa
do Rock e do Metal que era extremamente popular nesse tempo.
Tudo bem, essa aura já começava a
desvanecer quando eles apareceram, mas ainda é a tendência para muita gente e
aposto que muitos de nós sentem uma certa nostalgia desses tempos. Mas num
mundo do wrestling que ainda era dominado por essa
conceção, eles ainda foram capazes de granjear uma popularidade de tal ordem
grande que desafiou toda e qualquer probabilidade.
Creio que já perceberam que vou
falar dos New Day.
Falar dos New Day é falar de um
dos poucos casos que não sofreu o “Vinceismo” que até há uns anos costumava ser
o fim das Tag Teams e das stables entre seis
meses a um ano depois da sua formação, e sem que nesse período tenham ganho o
que quer que seja. Para mal dos nossos pecados, os exemplos disso são tantos
que um artigo destes não daria para fazer menção a todos.
Como é que isso aconteceu? Até
hoje, ninguém sabe. Mas quero acreditar que a amizade que os Kofi Kingston,
Xavier Woods e Big E criaram fora do ecrã (e que até já redundou em outros
projetos, como o podcast Feel The Power ou o
filme/mini-jogo Escape The Undertaker) também
ajudou a que aquilo que se passava nos ecrãs não tivesse o fim que era tão
típico.
E nem no momento da separação a
WWE foi capaz de encerrar o capítulo New Day: Em Outubro de 2020, os membros
foram separados, com Kofi e Xavier a irem para o RAW e Big E a ficar no
SmackDown. Mas a própria WWE se apressou a clarificar que não existiria
qualquer separação, com o trio a continuar a apresentar o referido podcast.
Até que chegamos ao fim de 2024 e
reparamos que há sinais de que os melhores anos dos New Day podem já fazer
parte no passado. Kofi Kingston e Xavier Woods estão, há largos meses, em
convulsão, e tudo isto se dá às portas da celebração do seu décimo aniversário
enquanto grupo.
O que vai acontecer a partir
daqui? Vai haver separação definitiva? Vão conseguir fazer as pazes e esquecer
as divergências que os separam? E que papel terá Big E nisto tudo, ele que tem
a pairar sobre si um misto de incerteza e esperança?
Creio que só poderemos ter as
respostas a todas essas questões na madrugada de terça-feira. Bem sei, bem sei:
É impossível conter as expectativas. Mas, para ajudar a acalmar essa ânsia,
decidi trazer para vocês alguns dos momentos mais divertidos desta década em
que o poder da positividade foi uma constante.
Preparados para mais uma viagem no
tempo? Let’s
FEEEEEELLLL THE POWWAAHHHH!!
3 - The Usos vs New Day: A Batalha de rap
A feud que opôs
os Usos aos New Day foi uma das melhores feuds desta
última década, mas tendo em conta que frente a frente estiveram aquelas que são
as melhores tag teams em largos
anos, talvez classifica-la como uma das melhores feuds da última
década seja francamente redutor.
Seja como for, seria justo pensar
que um confronto entre as duas forças que dominavam a divisão Tag Team de toda
a WWE na altura seria uma coisa completamente séria. Mas vale a pena relembrar
que é dos New Day que estamos a falar, portanto as coisas nunca podem ser
completamente sérias.
Numa fase em que a feud que os confrontava já estava bem quente, tanto os
Usos como os New Day resolveram tornar mais leve o peso daquilo que os separava
e fazer… uma batalha de rap. Isso mesmo. A ideia até
poderia parecer um tanto quanto extravagante ou dadaísta, então, para combater
um possível absurdismo, resolveu recrutar-se o rapper Wale para
mediar a coisa.
Claro que não estamos a falar de uma batalha de rap ao nível daquelas que John Cena fazia com os fãs em meio aos eventos da WWE, ou daquelas rimas que ele costumava fazer sem grande esforço durante aquela fase do Doctor of Thuganomics, isso já é todo um outro nível.
Mas este segmento ainda foi
responsável por um bom par de pérolas no que a promos diz respeito. Momentos
como o “hey Big E, let’s just keep it PG!”, ou a
rima que envolveu a participação de Naomi (esposa de Jimmy) no Total Divas, a
batalha de rap entre os New Day e os Usos
demonstrou que o rap, um género tantas vezes criticado e vitimado pelo preconceito, pode
também ter um lado divertido, e continua a ser considerada um dos melhores
momentos da WWE na insípida década de 2010.
2 - A máquina do tempo
Recuemos uns meses antes dessa batalha de rap. Lembram-se
dos Vaudevillains? Muita gente sim, outros nem tanto, é daquelas duplas que
prometeram muito e entregaram pouco. De qualquer forma, houve um curto período
de tempo em que Simon Gotch e Aiden English até foram levados a sério, e esse
período de tempo coincidiu com uma feud com os New Day.
Ora, os Vaudevillains andavam sempre a apregoar que queriam
implementar um regresso ao passado na WWE, nomeadamente à era de Vaudeville,
que durou desde o final do séc. XIX (1880) até ao fim dos anos 20 do séc. XX
(1930), coincidindo com o período da invenção da fotografia e da popularidade
do ragtime e do cinema mudo.
Baseando-se nesta vontade dos Vaudevillains em impor esse
regresso ao passado na WWE, os New Day responderam à letra e trouxeram… uma
máquina do tempo. A parte mais icónica deste segmento foi, sem dúvida, o
“regresso” de Kofi Kingston ao seu passado jamaicano, com sotaque e tudo. Mesmo
que por um curto período de tempo, é seguro dizer que there was trouble… in
paradise!!
1 - Saved
by the be pancake
Vamos falar
das vezes que os New Day safaram o Kofi no Royal Rumble? Vamos sim senhor!!
Na altura em
que isto se dá, Kofi já tinha um longo historial de milagrosas escapatórias do
referido combate, coisas tão inimagináveis como, por exemplo, usar a cadeira do
JBL como pogo stick, ou empoleirar-se na barricada e desafiar a lei da
gravidade saltando até à borda do ringue.
Um desses casos envolveu panquecas. No Royal Rumble de 2018, Kofi Kingston esteve perto de ser eliminado por Jinder Mahal, mas tanto ele como os New Day resolveram ser mais papistas do que o Papa: Aproveitando a regra que a eliminação do Royal Rumble só se consuma quando o wrestler passar por cima da corda e ambos os pés tocarem no chão, os New Day colocaram um prato de panquecas precisamente onde Kofi aterrou, fazendo com que um dos pés ficasse, primeiro, em cima do peito de Xavier Woods, e depois… em cima de um prato de panquecas.
Mas não foi
tudo: Para evitar qualquer descuido que eliminasse aquele que viria a ser o
primeiro WWE Champion dentro do grupo, Big E e Xavier juntaram as mãos,
formando um degrau e permitindo que Kofi subisse para regressar ao ringue, para
incredulidade de Jinder e deleite de todo o público, que acabara de presenciar
mais um momento incrível.
Que análise
fazem dos dez anos de carreira dos New Day? Destes três momentos, qual é o
vosso favorito? Que outros momentos destacam da carreira deste trio?
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não
se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí
em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um
artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!