Lucas Headquarters #150 – Stephanie Vaquer: Deixem-na cumprir o sonho!
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! Vamos ter uma semana em grande e para todos os gostos, hã? Quem diria? Marigold e Sendai com bons eventos (vocês nem fazem ideia do hype que tenho para o Summer Destiny) e – cereja no topo do bolo – a final do Euro!! Spanish or English?
Não caiam nessa, porque esse, antes de ser aquele jogo que
vai coroar um novo campeão europeu, é um meme no qual eu já caí várias vezes, e
não recomendo que vos aconteça o mesmo. Vamos antes voltar ao ponto inicial
deste artigo: Semana em grande e para todos os gostos.
Se aplicássemos esta frase apenas aos eventos e aos jogos aos
quais vamos poder assistir, já dávamos o nosso tempo por bem empregue. Afinal,
qual é o cidadão na face desta terra que não gosta de passar o dia a ver wrestling e, ao fim do dia, ser brindado
com um bom jogo de bola?
Ok, compreendo, há malta por aqui que não é fã de futebol,
mas como eu estava a dizer: Semana em grande e para todos os gostos.
Semana em grande e para todos os gostos porque, praticamente
no mesmo dia (ou em dias diferentes, no caso português) rebentaram duas ondas
de choque que colocaram o mundo do wrestling
num estado que mistura alvoroço e expectativa: Na AEW, Mariah May trai Toni
Storm num dos segmentos que melhor foram executados nas últimas décadas. Quer
dizer, já toda a gente sabia que isso ia acontecer, numa storyline destas é a ordem natural das coisas. Ainda assim,
emocionalmente, acredito que o impacto causado no público só é ultrapassado por
uma cadeirada histórica.
Na WWE, a onda de choque foi igual ou maior. Não só pela
forma repentina como as coisas aconteceram, mas também por certas acusações de
falta de profissionalismo (o que é, no mínimo, risível, o que não falta são por
aí casos destes e poucos são os wrestlers
a quem não pode ser apontado nada nesse aspeto) que ainda vão fazer com que
muitas línguas falem e muita tinta corra até ao fim do mês, pelo menos.
Ana Stephanie Vaquer González. Stephanie Vaquer,
simplesmente. Até à passada quarta-feira, foi este o nome da principal cara da
divisão feminina do Consejo Mundial de Lucha Libre (CMLL). E diz-se foi e não
é, porque quarta-feira ao fim do dia saía a confirmação daquilo que os fãs
especulavam há já algumas horas: Stephanie Vaquer assinava pela WWE.
Já vos vou falar do processo em si, de como tudo aconteceu. O
que é importante destacar aqui, antes de mais nada, é que se está a observar na
América o mesmo que na Europa: Se na Europa a produção de talentos no wrestling já não se confina, tão
somente, ao Reino Unido e à Irlanda (Áustria, Alemanha, Itália, Suíça e até
Portugal são alguns dos países que já deram wrestlers
às grandes empresas mundiais), também na América a exportação de wrestlers para as grandes ligas deixa de
se resumir só a Estados Unidos e México. Os nossos irmãos brasileiros, por
exemplo, já nos deram Tay Melo para a AEW. Mas e se falarmos no Chile?
Pois é. Stephanie Vaquer vem de um país que supostamente não
tem tradição no wrestling mas que,
para além dela, já deu ao ringue Zatara (freelancer
que ficou conhecida pela participação na edição de 2018 do Mae Young
Classic) e ainda Bemita Saldias, que o mundo do wrestling conhece como Akari (atualmente na Pure-J, mas com
passagens pela Ice Ribbon e uma participação no primeiro Sareee-ISM). E agora,
esse país vai ver uma filha sua chegar à principal empresa do mundo do wrestling. Quem nos dera que Portugal se
safasse assim tão bem.
Stephanie Vaquer assina, então, pela WWE. E o facto de muita gente ter encarado isto como uma surpresa até se aceita, afinal, há duas semanas, Vaquer esteve no Forbidden Door, onde lutou contra Mercedes Moné, perdendo o NJPW Strong Women’s Championship que tinha ganho a… Giulia, com quem em breve vai partilhar balneário no NXT. O wrestling está cheio de coincidências.
E sim, só pela presença no Forbidden Door há duas semanas,
muita gente esperava que o destino de Vaquer fosse a All Elite. Mas, olhando
para aquilo que aconteceu, isso nunca poderia acontecer. La Primera foi despojada do CMLL World Women’s Championship e do
CMLL World Women’s Tag Team Championship pela empresa, algo que nunca sucederia
se Vaquer pusesse a tinta no papel para ir para a AEW, dada a parceria entre
ambas as companhias.
“Queimando pontes”?
No seguimento disto, vêm as tais acusações de falta de
profissionalismo. Como já vos tinha dito, a saída de Stephanie do CMLL
aconteceu de forma surpreendente (sem dúvida) mas sobretudo muito abrupta e
diria até que impessoal, porque a primeira evidência vem de um comunicado da
empresa e só algumas horas depois a própria chilena confirma estar de saída.
Eu quero acreditar que essas acusações de falta de
profissionalismo são feitas com mais coração que cabeça (e alimentadas pelo
tribalismo que já se tornou o pão nosso de cada dia). Mas vou confessar-vos, em
tom de ironia, que me rio à brava quando, cada vez que um wrestler sai de uma empresa, oiço falar de falta de
profissionalismo.
Peguemos, pois, no caso da Stephanie. É uma saída abrupta e que ainda por cima causa impacto, ela que era a principal cara da divisão feminina da CMLL, tinha dois títulos consigo e ainda há pouco tempo eram três, contando que ela era a NJPW Strong Women’s Champion. Mesmo sem ouro a seu cargo, Stephanie Vaquer é considerada uma das melhores wrestlers da atualidade – ou mesmo a melhor, falando no feminino – portanto é perfeitamente normal que a sua saída faça mossa.
Então, mas e a Mercedes Moné, quando o nome era outro? Não
bateu com a porta a meio de uma disputa criativa e nunca mais apareceu,
obrigando a WWE a negociar?
CM Punk, quando saiu a mal da WWE já lá vai uma década,
também não forçou a saída? E não disse que nunca mais voltava à WWE até Novembro
do ano passado?
Então e a Giulia, quando foi da Ice Ribbon para a STARDOM,
não fez exatamente a mesma coisa que acusam a Stephanie de estar a fazer agora?
E Toni Storm, também não forçou a saída da WWE para negociar
com a AEW?
Meus amigos, se querem ouvir dos outros, escutem de vocês
primeiro. Nenhum wrestler é perfeito,
nem mesmo aqueles dos quais nós somos fãs. Quem é fã da Mercedes – o que,
pessoalmente, não é o meu caso – lembrar-se-á perfeitamente do caso com os WWE
Women’s Tag Team Championships, e continua a ser fã dela mesmo assim. Quem é fã
da Giulia, lembrar-se-á da forma igualmente repentina e pouco clara como saiu
da Ice Ribbon, e continua a ser fã dela mesmo assim. Quem é fã da Toni, idem.
Quem é fã do CM Punk, idem.
Portanto, se estamos de certa forma a branquear estes atos (e
outros semelhantes, dependendo do wrestler)
porque é que vamos perder o sono a criticar a Stephanie Vaquer pela forma como
escolheu sair e dar o próximo passo?
Se vocês viram uma thread no X (já com alguns anos) em que Stephanie conta que teve que vender cachorros quentes para ir a um Live Event que a WWE fez no Chile em 2008 (tinha ela 15 anos na altura dos factos) vão perceber que chegar à WWE para ela era um sonho, um objetivo de carreira.
Quiero compartirles esta historia
— Stephanie Vaquer (@Steph_Vaquer) April 23, 2020
Era 2008 y yo solo tenia 14 años, estaba viendo televisor cuando de repente se anuncia el gran show de WWE en Chile,
Brinque del sillón emocionada porque por primera vez WWE estaría en Chile 14 de febrero de 2008 (fecha que nunca olvidare) pic.twitter.com/IxoxoI0cQI
Deste modo, é natural que, chegada à altura da carreira em que lhe aparecem ofertas da WWE e da AEW, ela queira dar prioridade à WWE. Ela tem a possibilidade de viver o seu sonho e vai fazê-lo. A mim, todas estas acusações me parecem tribalistas e não fazem qualquer sentido. É natural que existam preferências acerca da companhia onde queremos ver os wrestlers: Há wrestlers que eu gostava de ver na WWE pelas mais variadas razões (Vaquer e Giulia sendo duas delas) e há wrestlers que eu gostava mais de ver na AEW por outro punhado de motivos.
Outro exemplo que nada tem a ver com este e, ao mesmo tempo,
tem: Desde que se tornou público que Stephanie Vaquer assinou com a WWE nesta
passada quarta-feira, muita gente começou a falar no nome de Akari e a
pedir-lhe, através das DM’s do Instagram, que se juntasse à sua compatriota na
empresa.
Akari veio, esta manhã, esclarecer que, embora esteja muito feliz
por ver Stephanie chegar à WWE (não só pela qualidade que tem, mas também por
serem do mesmo país) o seu objetivo de carreira não passa por lá. E antes que
especulem, nem sabemos se passa pela AEW.
Isto para dizer que estamos todos no mesmo barco, mas nem
todos temos os mesmos objetivos. Para a Stephanie, uma carreira no wrestling
pode ser o cumprir de um sonho, uma maneira de ficar nos anais da História.
Para a Akari, o wrestling pode ser (e provavelmente será) também uma
paixão, mas ao mesmo tempo um meio de apenas garantir que a sua família que vive
do lado oposto do globo tem comida na mesa no dia seguinte. E não deixam de ser
as duas melhores ou piores wrestlers por serem mais ou menos ambiciosas
nos seus objetivos.
Nós não somos ninguém para falar sobre o rumo das carreiras
dos wrestlers ou dizer-lhes que decisões devem tomar. Contentemo-nos
apenas em vê-los no ecrã, em falar neles, em fazer fantasy booking e
tudo mais. Todos eles já tomaram a mesma decisão da Stephanie, da mesma forma
que a Stephanie. E nós lá estamos, na primeira fila, de cartaz em punho, a
declarar o quanto gostamos deles.
Deixem-na, apenas, viver o seu sonho. É pedir assim tanto?
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não
se esqueçam de passar pelo site e pelas redes sociais, deixem a vossa
opinião aí em baixo, sugiram temas… Para a semana cá estarei com mais um
artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!