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Lucas Headquarters #145 – Para onde vai o wrestling em Portugal?


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam amais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! Não é a toa que chamam este mês de “Jejunho”: Acaba-se a época futebolística, os políticos entram em férias… portanto, há pouca coisa a dizer. O mês de Junho deste ano deste ano nemsequer vem ao caso, quer dizer: Há o Europeu, há a Copa América… e no fim do mês há Forbidden Door, portanto não se pode dizer que este ano o mês de Junho seja uma seca.


No entanto, até que o Forbidden Door aconteça, prevê-se que as coisas andem mais ou menos pacíficas, e os artigos semanais sofrem com isso. No entanto, temos de ver o copo meio cheio: É também uma oportunidade para mergulharmos mais um pouco no mundo do wrestling e falarmos de wrestlers e de situações que nem toda a gente está a par.


Comemora-se já nesta segunda-feira (10 de Junho) o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Este é o dia nacional do nosso país por excelência (apesar de atribuírem esse mesmo peso a dias como o 5 de Outubro ou o 25 de Abril), o dia em que se comemora toda a sua história, as suas origens, o que somos, de onde viemos, para onde vamos, o que nos espera nos próximos anos. Mais do que entrar aqui em politiquices ou coisas do género, este é o dia em que os portugueses agradecem, mas também questionam. E eu quis entrar no espírito, ou melhor, quis adaptar isso ao wrestling: Agradecer, mas também questionar.


Vocês sabem que, em muitos dos artigos que já tenho aqui publicado, falo sobre a evolução do wrestling em Portugal ao longo das últimas duas décadas – mais para dar contexto, porque aí há um par de anos, se bem se lembram, já fiz uma espécie de revisionismo histórico sobre a evolução do wrestling no nosso país ao longo dos últimos cinquenta anos.



A questão é que, nessas vezes que falei e nessa retrospetiva que fiz, falei quase sempre no passado. Nas histórias que contamos, nas análises que fazemos, nas situações que expomos no nosso dia-a-dia, falamos quase sempre no passado, depois fazemos uma ponte com o presente, mas raramente falamos em futuro. Talvez porque o futuro é aquela coisa que ninguém consegue agarrar com a força das suas duas mãos. Talvez porque ninguém, nem mesmo o mais brilhante vidente, consegue prever com exatidão o que vai acontecer amanhã, daqui a uma semana, daqui a um mês, daqui a um ano.


Com o wrestling é exatamente a mesma coisa, mas para que vocês percebam melhor onde é que eu quero chegar com isto tudo, vou colocar-vos três perguntas: Alguma vez, em 1970, alguém diria que um wrestler português iria lutar na então WWWF no final da década? Alguma vez, em 2017, alguém diria que dali a um ano e meio, dois anos, iria aparecer uma nova concorrente à WWE? Alguma vez, em 2018, alguém seria capaz de imaginar que Portugal iria ter duas wrestlers a competir em duas grandes empresas do ramo?





Exatamente. Não se fala do futuro porque, uma vez mais, não fazemos ideia do que ele nos reserva. Mas essa é a beleza do futuro: Quando não sabemos o que ele nos traz, maior é a probabilidade de ficarmos surpreendidos, não é?


Para entrar no espírito do 10 de Junho, e porque já lá vai uma considerável quantidade de tempo desde que dediquei um artigo ao wrestling nacional, a edição desta semana debruça-se sobre esta pergunta: Para onde vai o wrestling em Portugal?


Esta é uma pergunta que, como é natural, não gera consenso. Há quem diga que o wrestling em Portugal já há muito que não tem futuro, porque os fãs portugueses já não vivem a modalidade da forma como o faziam quando estávamos no auge do boom lusitano que atravessou os anos 90, mas principalmente a década de 2000, muito graças ao esforço da televisão pública (e mais tarde, da privada) em trazer uma outra face da cultura americana para as TV’s portuguesas, uma face que não se encerrasse só no cinema, nas séries, ou na música.


Outros há que pensam o contrário: Acham que ainda há futuro para o wrestling no nosso país, que aquele desencanto que vivemos depois do fim desse boom dos anos 90 e 2000 tem a ver com a massificação das redes sociais, que mataram o kayfabe e retiraram aquele que muitos consideravam – e ainda hoje dizem ser - o ponto central desta modalidade: O efeito surpresa, a suspensão da descrença gerada por sabermos que a natureza pré-determinada do wrestling existe, mas fazermos de conta que ela não está lá por duas ou três horas.



Esta crença otimista alimenta-se, claro está, do relativo sucesso que o wrestling português teve lá fora nos últimos anos: Mais uma vez, quem é que, aqui há dez anos atrás, nos diria a nós, um país tão geograficamente pequeno à beira-mar plantado, que seríamos capazes de exportar duas wrestlers?


Mas a “fonte de alimentação” não se esgota tão somente aí. Claro que muitos destes sites foram criados quando estávamos no auge do primeiro boom, mas o facto de ainda existirem, por essa internet fora, páginas, blogs, sites na lusofonia que se dedicam a acompanhar e a trazer novidades sobre o wrestling faz com que exista sempre alguém a ganhar interesse. Há sempre um amigo nosso que colabora num desses sites, ou que conhece alguém que colabora num desses sites, ou esse alguém conhece outra pessoa que colabora num desses sites, e é essa “bola de neve” que, apesar do menor vigor que o wrestling tem tido por cá, vai mantendo a chama viva.


E depois temos as redes sociais, mas dentro das redes sociais há duas que queria destacar, e que fazem um trabalho excelente na promoção do wrestling de fora para dentro e de dentro para fora: X (que, para mim e para todos vocês, será o eterno Twitter) e o Discord. 


O caso do X é um pouco mais complexo, já que, por muito bom fã de wrestling que por lá se encontre (e acreditem que, ainda assim, são muitos), outros há que se aproveitam do wrestling para gerar toxicidade, sobretudo através da partilha de informação íntima não autorizada. Mas creio que, apesar de tudo, o X cumpre a missão de juntar os fãs em pequenas grandes comunidades, discutir pontos de vista e encontrar common grounds.


O Discord faz isso, mas de maneira mais privada. A malta junta-se em group chats (ou comunidades, como prefiro chamar) e dá-se a sensação de que toda a gente se conhece há anos, que há uma intimidade partilhada que é preciso respeitar. De resto, eu já tenho essa experiência (enquanto parte do Moonsault Collective) e posso confirmar que, até mesmo com membros de outros pontos do mundo, há uma grande curiosidade e aceitação para com a forma como os fãs de wrestling portugueses vêem wrestling.


Falemos, agora, da parte técnica, isto é, da forma como o wrestling em Portugal se organiza, comunica e faz notar.


O wrestling em Portugal é um desporto minúsculo. As principais academias situam-se nas grandes cidades – e mesmo assim, a maior parte está em Lisboa – e às vezes parece existir a sensação de que, em bom português, nunca se vai passar da cepa torta.


No entanto, é com algum orgulho que posso dizer, e acho que todos vocês vão concordar comigo, que essa pequenez logística e geográfica tem sido arduamente combatida, e mesmo que os resultados não sejam imediatos, meus amigos, é inegável que o esforço que tem sido feito se está a notar.



Uma das grandes iniciativas que tem contribuído para a visibilidade do wrestling em Portugal tem sido a PT Wrestlefest. É certo que a forma como se organizam, como se apresentam, como interagem em ringue e fora dele tem muito aquela vibe de empresa indie a dar os primeiros passos, mas a questão é que mesmo com os poucos recursos que dispõem, parece haver uma adesão cada vez maior do público a cada evento, e acredito até que, para muitos, aquela seja a primeira vez que ouvem falar de wrestling.



Se me permitem o paralelismo, o PT Wrestlefest tem o mesmo efeito por cá que a Sukeban tem, por exemplo, nos Estados Unidos. A cena joshi era, até há uns meses, quase exclusiva do seu Japão natal – quem não pagasse uns quantos euritos por serviços de streaming não se safava. Hoje em dia já não é assim: Arriscou-se, criou-se uma iniciativa que permite à malta americana conhecer um pouco do wrestling feminino no Japão (ainda que de uma maneira um tanto quanto over-the-top) e houve a preocupação de fazer com que todos os episódios ficassem acessíveis a quem os quisesse ver, através do YouTube.





Tomando como exemplo aquilo que tem sido feito pela malta que organiza o PT Wrestlefest, é possível dizer que o wrestling em Portugal também traz consigo esta componente de risco. Recursos? Poucos. Público? Pouco mais de uma centena. Mas mesmo assim a coisa faz-se. E fez-se de tal forma que wrestlers internacionais, como são os casos da irlandesa Amira Blair e da italiana Laura di Matteo, já tomaram parte nestes eventos. E só isso já é motivo de orgulho.



E com este exemplo voltamos à questão inicial: Para onde vai o wrestling em Portugal?


Honestamente, ninguém sabe. E não está nas nossas mãos definir o seu rumo. Nós vemos, comentamos, opinamos, mas somos meros espetadores e nada mais do que isso.


Mas eu quero acreditar que o futuro do wrestling neste país à beira-mar plantado pode – e vai – ser risonho. Não temos o maior número de wrestlers a chegar às grandes ligas, não temos a cobertura e o alcance entre os fãs que tivemos outrora. Mas vamos fazendo a nossa parte: Com eventos, com duas wrestlers a competir ou já ter competido em grandes empresas.


Eu acredito que o wrestling em Portugal vai por um caminho cada vez mais risonho e positivo. O que é preciso é continuarmos a fazer estes esforços, porque acreditem, a sorte protege os audazes e, um dia mais tarde, tudo valerá a pena. Já agora, fica a questão: Para quando uma convenção de fãs de wrestling no nosso país? Seria uma iniciativa a considerar, na minha opinião.




Para onde acham que poderá ir o wrestling em Portugal? Acham que o futuro é positivo ou negativo?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!

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