Lucas Headquarters #144 – Jordynne Grace e três (possíveis) conclusões para o futuro
Ora então boas tardes, comadres e compadres? Tudo em cima?
Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias!!
Que vos pareceu o Double Or Nothing? Bom, mau, não aquece nem
arrefece? Eu achei um PPV bastante satisfatório – e esse é o nível de
consistência a que a All Elite nos tem habituado – no entanto, achei também que
foi demasiado longo.
Compreendo, em parte, o contexto que leva a AEW a fazer do
Double Or Nothing um dos mais importantes e mais longos PPV do seu calendário:
O Double Or Nothing é, na opinião geral, o mais importante PPV da empresa, que,
se emparelhado com o Revolution, All Out e Full Gear, constitui os seus Grand
Slam PPVs, da mesma forma que, no calendário da WWE, os chamados big
four são, indiscutivelmente e por ordem de calendário, o Royal Rumble, a
WrestleMania, o Summerslam e o Survivor Series.
Por detrás do Double or Nothing está, para além da
importância no calendário, a importância histórica: O Double or Nothing foi o
primeiro PPV que a AEW transmitiu, corria o dia 25 de Maio de 2019. Portanto,
este ano, a efeméride é ainda mais especial, já que se cumprem cinco anos de
existência da AEW no mundo do wrestling (ver artigo da semana passada).
Portanto, não é surpresa para ninguém que o DoN –
chamemos-lhe assim até ao fim deste artigo – tenha durado quatro horas e meia.
Mas a questão fica por aí.
Para já, porque é humanamente impossível que a mente de um fã
de wrestling – como de qualquer outro ser humano na face da Terra – se
mantenha concentrada durante quatro horas e meia de forma continua, e tivemos
um exemplo disso quando a WWE organizou uma WrestleMania 35 que durou sete
horas, mais coisa menos coisa.
E depois… a AEW faz isto de forma a que todos os momentos potencialmente interessantes para o público estejam mal distribuídos. O regresso de MJF foi um dos melhores momentos da noite e a sua promo foi 10/10, mas eu tenho as minhas dúvidas se pelo menos a promo encaixaria bem ali. Poderíamos ter ficado apenas com o low blow de MJF a Adam Cole – toda a gente ficava feliz à mesma – guardado a promo de MJF para o último Dynamite e assim continuávamos a manter o interesse.
Obviamente que isso não nos impede de olhar para o que houve
de bom: Will Ospreay é finalmente campeão, tendo ganho um título de uma forma
quase tão rápida como a de Kazuchika Okada; Malakai Black e Adam Copeland
protagonizaram um dos combates da noite (Cope foi do oito ao oitenta: Entrou ao
som de Slayer e acabou a fraturar a tíbia e precisar de operação, o que nos
ensina uma lição valiosa: Nem todos nascem com os genes do Sting); e a Anarchy
in the Arena voltou a ser digno da nomenclatura Main Event, trazendo-nos
a prova de que se os gatos têm sete vidas, Darby Allin tem catorze.
O DoN não foi, de resto, a única coisa espantosa a acontecer
esta semana. No mais recente episódio do NXT, durante um segmento que envolveu
a atual NXT Women’s Champion Roxanne Perez e a General Manager Ava Raine, a
atual TNA Knockouts Champion Jordynne Grace voltou a aparecer, para delírio dos
fãs que estavam a assistir ao vivo e para surpresa de outros tantos que
assistiram em diferido.
E esta aparição de Jordynne Grace dá azo a um par de
considerações que eu acho que vale a pena explorar um pouco:
1 – Grande trabalho da WWE e da TNA ao manterem tudo isto em
segredo. Estamos
numa era em que o brilho que o wrestling tem é constantemente ameaçado
pela facilidade com que se divulgam informações do que está para acontecer nos shows.
E se é verdade que isso “matou” o kayfabe – o que aconteceria mais
ano menos ano, independentemente da importância que as redes sociais tivessem
nesse processo, simplesmente porque as coisas estão sempre a evoluir – as
consequências podem até ser mais graves: Desde tirar interesse e significado ao
próprio momento até afastar os fãs do wrestling em geral, como acabou
por acontecer com muitos.
Já se sabia – a própria Jordynne já o tinha dito quando
esteve no Royal Rumble feminino – que aquela não seria a última vez que a
veríamos alguém da TNA pisar os ringues da WWE. Só não
saberíamos quando isso aconteceria.
Thank you, @WWE Universe.
— Jordynne Grace (@JordynneGrace) January 28, 2024
This won’t be the last you’ll see of @ThisIsTNA.
E aqui, a WWE e a TNA fizeram um excelente trabalho. Tudo
isto porque provavelmente a próxima aparição de Grace na WWE já estava acordada
desde há algumas semanas, presumo eu – estes acontecimentos costumam sempre ser
planeados com uma certa dose de antecipação – mas nenhuma das empresas tomou a
decisão de anunciar o sucedido.
E bem, porque assim voltaríamos ao que ainda agora disse: Um
anúncio da aparição de Jordynne Grace no início deste mês, por exemplo, e já o
interesse no acontecimento em si se teria dissipado. Assim, ninguém especulou,
ninguém avançou prazos, ninguém avançou com teorias da conspiração e todos nós
aproveitámos cada segundo deste momento. Muito bem jogado.
2 – Giulia vs Roxanne Perez no Heatwave é cada vez mais
possível. Tudo vai
depender da forma como Giulia estiver a recuperar da sua lesão (e,
consequentemente, dos prognósticos e previsões para o seu retorno que se forem
fazendo em resultado disso), mas eu diria que a aparição de Jordynne Grace e o
consequente combate no Battleground será a primeira pedra lançada na tão
aguardada estreia da anglo-nipo-italiana na WWE, que decorrerá, assim o espera
a empresa, já no Heatwave, que está marcado para 7 de Julho.
O argumento aqui – e isto tem toda e qualquer lógica – é que
Roxanne já derrotou praticamente toda a concorrência que havia dentro de
portas, pelo que começou a ter de procurar fora (e é aqui que Jordynne Grace
aparece). Obviamente que a atual TNA Knockouts Champion não vai derrotar a NXT
Women’s Champion, e qualquer outro cenário não faria sentido. Mas isto só vai
contribuir para que o combate se vá construindo até Julho, com Roxanne a dizer
que se Jordynne não a conseguiu derrotar, mais ninguém fora da WWE consegue.
Giulia aparece, e o resto é aquilo que está previsto que aconteça.
Mas não é apenas o contributo de Jordynne Grace para a storyline
que torna tudo isto uma possibilidade cada vez maior. A sustentar o futuro
combate entre Giulia e Roxanne no Heatwave estão dois fatores circunstanciais.
O primeiro é que Roxanne tem recebido ordens por parte dos responsáveis da WWE para adotar um estilo mais agressivo e rígido nos seus combates. Este estilo agressivo e rígido, muitas vezes no limite do físico, é a principal marca de Giulia enquanto wrestler (basta vermos que grande parte do seu move-set assenta em moves onde a adversária aterra de cabeça ou de nuca, como a Northern Lights Bomb ou um dos seus finishers, Glorious Driver, bem como os headbutts – que deverão ser a única parte do seu arsenal que a WWE quererá retirar, por razões óbvias).
Ora, se a WWE anda por esta altura a pedir a Roxanne que faça isso como forma de preparação… quer dizer que é muito provável que o combate venha a acontecer no mais curto prazo possível.
O segundo é que, mesmo que Giulia tenha sido operada ao
pulso, foi a própria WWE que teve influência na decisão e que a aconselhou a optar
pela cirurgia.
Por aqui se vê o quanto a WWE quer ter Giulia nos seus
quadros, aqui se vê a confiança que a WWE tem no ativo que Giulia representa.
Porque a questão não é tão somente o facto de Giulia recuperar mais rápido se
for operada (o que, sendo sincero, é uma verdade de La Palice), mas sim porque
a empresa quer mesmo ter Giulia disponível para o Heatwave, se a sua condição
física assim o permitir.
3 – Haverá uma parceria entre TNA e WWE, depois de falhada a
cooperação com a AEW? É o termo que está na moda no mundo do wrestling e do qual já
várias vezes aqui se falou – forbidden door. Para quem não está a par,
o termo forbidden door consiste na cooperação entre duas empresas que,
outrora, tinham um forte sentimento de rivalidade (ou, no mínimo, suave concorrência)
a si associadas. A AEW popularizou este termo ao oficializar uma relação de
cooperação com a New Japan e ao usá-lo para dar nome ao PPV, que vai ter lugar
no fim do mês que agora começa.
Digamos que, enquanto Vince McMahon esteve no poder, era
impensável falar-se em abrir portas proibidas dentro da WWE, fosse pelo
orgulho, fosse pelo ego. Era o típico conservadorismo associado ao chefão que
achava que o caminho e estadia no topo se fazem a solo. A única exceção foi
Mickie James, uma lenda da WWE que estava na então IMPACT quando entrou pelo
Royal Rumble adentro na qualidade de IMPACT Women’s Champion.
Jordynne Grace fez o mesmo no Royal Rumble deste ano, mas,
apesar da surpresa, muita gente relativizou, pensando que era apenas algo que
fosse feito para atrair interesse. À segunda, já se começa a instalar a
pergunta: Será a WWE capaz de abrir a porta proibida para a TNA?
Eu não duvido que, neste novo regime, a WWE não seja capaz de
se “abrir” para outras empresas – aliás, se assim não fosse, talvez a empresa
não tivesse cedido a todas as exigências que Giulia fez para assinar contrato e
não tivesse permitido que Rossy Ogawa a acompanhasse. Mas esta questão coloca a
“bola” do lado da TNA, isto porque já não é a primeira vez que esta última
tenta trabalhar em conjunto com outras companhias.
Isto porque, se bem se lembram, em 2020 a AEW e a TNA (então
chamada IMPACT) estabeleceram uma parceria que tinha tudo para correr bem: Houve
várias trocas de talentos, Kenny Omega tornou-se uma das principais atrações da
IMPACT durante meses (tendo vencido o IMPACT Wrestling World Title contra Rich
Swann no Rebellion de 2021 e defendido o título contra nomes como Moose e Sami
Callihan) e as coisas pareciam promissoras para uma Elite que tinha pouco mais
de ano e meio de existência, na prática.
Só que, aos poucos, as empresas foram-se afastando, e a
“afiliação” com a NJPW significou oficialmente o fim da parceria AEW/IMPACT.
Agora que o regime na WWE mudou, é natural que a TNA queira voltar a tentar,
tendo nas aparições de Jordynne Grace a principal “arma”.
Eu acho que esta possível parceria tem pernas para andar e,
mais tarde ou mais cedo, vai acabar por se consumar. Seria, no entanto,
especialmente eficaz que se mantivesse pelo NXT porque: 1 – Alargá-la ao Main
Roster vai acabar por fazer com que a TNA se torne numa farm team da
WWE; 2 – Fazer com que os nomes mais experientes da TNA trabalhem com as
futuras grandes estrelas no NXT iria proporcionar a estas últimas um grande
capital de experiência, que poderá vir a ser decisivo no futuro.
Em suma, as recentes aparições de Jordynne Grace trazem tudo
de positivo à WWE, mas eu acho que o principal “ganho” da empresa em poder
contar, ainda que temporariamente, com um dos maiores nomes da TNA tem a ver
precisamente com esta ideia de abertura que Triple H tem conseguido passar,
primeiro com Giulia, e agora com a própria TNA Knockouts Champion.
Isto poderá voltar a fazer com que os mais céticos deem uma
nova chance à empresa... e talvez abra as portas para que, um dia, Jordynne
Grace se mude de armas e bagagens para Stamford. Eu arriscaria dizer que esse
dia já esteve mais distante…
E vocês, que conclusões tiram desta nova pequena passagem de
Jordynne Grace pelo NXT?
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não
se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí
em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um
artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!