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Lucas Headquarters #143 – Cinco anos de AEW: É preciso mudar ou está bem assim?


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!


Que vos pareceu o primeiro evento da MARIGOLD? Bom? Mau? Assim-assim? Honestamente, eu acho que superou todas e quaisquer expectativas, mas sobretudo, parece que o Marigold Fields Forever criou em nós toda uma miríade de sensações.


Primeiro, uma lufada de ar fresco: Numa cena joshi completamente dominada, em termos de mainstream, pela STARDOM e pela TJPW (com a SEAdLINNNG a aparecer a espaços, em grande parte devido ao trabalho de Arisa Nakajima – que se vai retirar este Verão), havia, claramente, a necessidade de aparecer uma empresa capaz de quebrar essa bipolaridade, e Rossy Ogawa terá sentido isso depois de se ter apercebido que talvez já tenha feito tudo o que era humanamente possível na STARDOM.


Segundo, criou-se a sensação de estarmos aqui perante um last hurrah: Rossy Ogawa tem 67 anos feitos há três semanas, e na indústria do wrestling, sobretudo por detrás da Gorilla Position, vai deixando de haver lugar para os velhos sábios. A geração mais nova – encabeçada, como bem sabemos, por Tony Khan e Triple H – parece ter melhor noção daquilo que os fãs querem ver, sobretudo quando um deles passou trinta anos dentro do círculo quadrado.




Ora, Rossy Ogawa parece aperceber-se que, com a idade que tem, as oportunidades para criar impacto estão a escassear. E a melhor maneira de o fazer é virar tudo do avesso, é dar aquilo que o público não espera, para que depois as coisas saiam melhor do que a encomenda. E a verdade é que saíram.


Victoria Yuzuki, uma das que fez história em conjunto com Nanae Takahashi ao participar no primeiro combate de sempre da História da empresa, parece estar a criar em seu redor uma aura que a vai levar, muito em breve, a altos voos.




Fiquei também positivamente impressionado com Kouki Amarei, que fez equipa com Chika Goto contra Misa Matsui e Natsumi Showzuki. Parece-me ser uma wrestler muito completa, bastante ágil para a sua estatura, e com um power game muito interessante para acompanhar. É uma wrestler que considero muito semelhante a Utami Hayashishita, mas que na minha opinião é ligeiramente superior, precisamente por ser mais ágil.



E vamos falar de Bozilla? Quem é que, aos 20 anos de idade, consegue ter o público todo a puxar organicamente por ela? E sim, aquele spot em que ela combina o Fallaway Slam com um Samoan Drop correu-lhe mal e resultou na lesão de Giulia, o que não a fará cair nas graças dos mais exigentes. Mas não é toda a gente com a altura dela que consegue ir lá acima e safar-se (veja-se, por exemplo, o Moonsault já perto do fim) e nem é toda a gente que consegue fazer com que ela pareça um big deal. Todo o mérito a Giulia e Utami por isso.



Mas enfim, de MARIGOLD já falamos na semana passada, e como diz o Freddie, o show tem de continuar. E esta semana não era apenas especial porque havia uma nova empresa a apresentar o seu show de estreia, senão também porque se assinala uma efeméride que muita gente pensou que nunca viria a ser assinalada: A All Elite Wrestling chega aos cinco anos de existência.




 Muitos de vós devem estar neste momento a pensar “bah, cinco anos é pouco, vamos é ver se ela chega aos dez e depois logo se vê”. E têm toda a razão: Cinco anos, no mundo do wrestling, é um grão de areia no deserto. Mas, mesmo que seja pouco tempo, os cinco anos da AEW merecem ser assinalados convenientemente e por várias razões.


Primeiro, porque a AEW é, também, um veículo de mudança. Mas desengane-se quem pensar que foi uma mudança radical, porque não foi, e em boa verdade está muito, muito longe de o ser. Mas o que importa é que a AEW mudou muito a forma como consumimos wrestling.


Quando o wrestling estava monopolizado pela WWE, nós praticamente só consumíamos WWE. E eu já aqui tenho dito imensas vezes: Isso em si, não tem mal nenhum, porque há fãs que, devido a uma imensidão de fatores, só têm efetivamente tempo para consumir o produto que a WWE lhes apresenta.


O problema – e isto é uma coisa que ficou até hoje – é que nós só consumíamos WWE e não queríamos saber de mais nada. Nós colocávamos a WWE num pedestal ao qual não pertence nem nunca pode pertencer nenhuma empresa, e estávamos – passo a expressão – a marimbar-se para o resto. 


Não conhecíamos sequer metade dos nomes que estavam nas indies, à exceção daqueles que apareciam todos os anos no WrestleKingdom da NJPW, muitos dos quais acabaram mesmo por ir parar à WWE: Finn Bálor, AJ Styles, Shinsuke Nakamura, Luke Gallows (que já lá havia estado uns anos antes mas talvez seja um perfeito desconhecido para a nova geração de fãs), Karl Anderson e outros. 






A AEW veio mudar tudo isso. Desde logo porque, nos primeiros tempos, colocou no topo da sua Divisão Feminina uma aparente desconhecida, mas que hoje é um dos nomes mais consensuais não só na Elite, mas no joshi em geral: Riho.


Essa decisão foi arriscada e arrojada. Riho era uma perfeita desconhecida na altura, tendo apenas 22 anos, o que aumentou a curiosidade para ver o que é que ela era capaz de fazer, mas aumentou também a preocupação, pois havia quem achasse que Riho não estava, ainda, preparada para assumir as rédeas de uma Divisão Feminina que se quer repleta de estrelas que saibam o que é preciso para estar à altura.


Este foi um dos primeiros erros de Tony Khan: Colocar alguém que ainda não tinha a experiência necessária no topo. Felizmente, esse erro foi corrigido poucos meses depois, com a vitória de Hikaru Shida contra a então campeã Nyla Rosa, faz precisamente quatro anos por esta altura, estávamos no Double or Nothing de 2020. Shida acabaria por ter o primeiro de três reinados como AEW World Women’s Champion – e o maior da História até agora em termos de dias totais de reinado – 372 (Toni Storm conta, até agora, com 189, neste seu atual reinado).




Mas voltando às mudanças que a AEW implementou – e para concluir este ponto – Riho não foi a única wrestler que a Elite nos “obrigou” a conhecer. Com ela, veio a própria Hikaru Shida ou a veteraníssima Emi Sakura. Portanto, se há coisa que podemos dizer que a AEW fez bem foi contribuir para alargar o nosso conhecimento sobre wrestling quando muita gente insistia em estar dentro da “bolha” a que a WWE nos confinou.


A segunda razão pela qual os cinco anos da AEW merecem ser assinalados convenientemente é porque, pelo menos no início, a empresa esforçou-se por ser diferente.


Quando a WWE não queria sair da era PG, a AEW apresentou-se ao serviço com o regresso de programas TV-14, que obrigatoriamente significaria mais sangue, mais gestos obscenos, mais palavrões e coisas do género. E digo “pelo menos no início” porque, numa primeira fase, isso resultou que nem ginjas. Mas agora existem elementos que começam a não resultar tão bem porque são usados demasiadas vezes, o que acaba por fazer com que se perca um certo “efeito surpresa” que na altura existia.


Dou-vos um exemplo recorrente: Existe mesmo a necessidade de Jon Moxley sangrar em cada combate que entra? Será que o público ainda não percebeu que a gimmick dele é a de um gajo que tem uma espécie de clube de combate com mais três ou quatro e que gostam todos de andar à porrada com outros gajos? (para que conste, eu sou fã dos BCC). 


Isso era algo que era fixe ao início, porque marcava realmente uma posição em relação às mais variadas restrições que marcaram os anos em que Moxley foi parte da WWE. Mas acho que o público já percebeu qual é que é a essência da gimmick e dos maneirismos de Jon Moxley, pelo que tal detalhe já começa a perder a eficácia.



Apesar de tudo, no início houve todo um esforço para marcar a diferença, e acho que a AEW conseguiu fazê-lo – e continua a conseguir, embora não de forma tão espampanante e com mais ênfase na própria ação em ringue (vejam o combate entre Bryan Danielson e Will Ospreay e comprovem). 


Acho que o que impede a AEW de marcar a diferença de uma forma tão marcada como o fez entre 2019 e 2021 é o facto do seu roster estar um pouco sobrelotado, o que impede potenciais futuras estrelas de conseguirem destacar-se. Este é um problema que a WWE teve nos anos anteriores ao aparecimento da AEW, e que parece estar a ser lentamente mitigado pelo novo regime de Triple H, que sabe quando – e como – deve lançar os novos ativos.


É preciso mudar ou está bem assim?



Esta é a pergunta que muitos fãs fazem - ou devem fazer - ao fim destes cinco anos. Mas antes dos fãs, os primeiros a fazer esta pergunta devem ser Tony Khan, os Young Bucks e Kenny Omega. Porque chegar aos cinco anos de existência foi relativamente fácil - e a principal razão para isso, quer queiramos quer não, foi a descrença e o afastamento quase total do público em relação à WWE, motivados por decisões criativas muito questionáveis e casos hediondos que minam o prestígio da empresa e de quem, até há poucos meses, a geria - e ainda hoje deixam marca.


Por muito que eu quisesse dar-vos uma resposta concreta a esta questão, a verdade é que não consigo, porque a resposta não está nem no preto nem no branco. Há coisas que precisam de ser mudadas sim, sobretudo a questão da sobrelotação do roster, mas também há coisas que é importante manter, como por exemplo a parceria com a STARDOM, que apesar de, aos olhos de muitos, servir apenas para credibilizar os ativos da Elite, continua a carregar consigo essa função de “quebra de bolha”, dando ao público japonês a oportunidade de conhecer wrestlers que muitas vezes lhes passam ao lado.


Uma coisa é certa: Por muitos defeitos e qualidades que possam existir, por muitas coisas e menos boas que são feitas e ajuizadas, a existência da All Elite Wrestling merece ser celebrada. A AEW veio “despertar” o mundo do wrestling do longo sono em que dormia, no melhor e no pior. A AEW veio dar tons novos à paisagem. A AEW voltou a apaixonar fãs que já se tinham esquecido do quão espetacular é o wrestling.


Não importa se de hoje para amanhã a AEW se vê obrigada a fechar (o que espero, sinceramente, que nunca venha a acontecer). Não importa se daqui para a frente só vinte ou trinta pessoas vão assistir ao vivo aos shows. Tudo o que a Elite fez pelo wrestling nestes cinco anos é digno de nota e é a razão de ser do artigo de hoje.


E vocês, acham que a AEW está a ir pelo bom caminho ou acham que é preciso mudar alguma coisa?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”!! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, redes sociais, deixem a vossa opinião aí em baixo… as macacadas do costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!!

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