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Lucas Headquarters #134 – Como é que os fãs veem o wrestling atualmente? (Moonsault Collective)


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! E essas poeiras do norte de África, hã? Cá para mim, essa malta presta um excelente serviço público ao mandar essas poeiras para cá: Pelo menos faz-nos ensaiar para o Rock in Rio, onde temos sempre a certeza que a Ivete Sangalo vai participar.


Este mês de março tem sido um mês… atípico, vá. Nos primeiros dois meses do ano tivemos vários pontos de interesse para desenvolver (tudo o que se tem passado na STARDOM, o Royal Rumble, os escândalos do Vince…) mas neste mês, tirando o fim da carreira de Sting e a coincidência – ou não – da entrada de Bull Nakano no Hall of Fame este ano, não há um ponto que nos dê garantia de ter dois ou três artigos por mês e do qual possamos partir.


Pronto, tínhamos a parceria AEW/STARDOM, mas isso é algo que, mais mês menos mês, se iria obviamente concretizar. Se duvidas ainda existem, vejam o combate entre Mina Shirakawa e Anna Jay na mais recente edição de Ring of Honor. E já falámos tanto de STARDOM nestes últimos dois meses que é sempre bom variarmos um pouco.




Como não há, julgo eu, grandes pontos de interesse, há alguns meses que tenho andado a refletir – como se não o fizesse em mais de 130 edições deste espaço – mas tenho andado a refletir na forma como nós, os fãs, vemos o wrestling. Quando falo em “ver wrestling” não me refiro apenas a ser espectador dos shows semanais que as empresas nos oferecem, mas antes: Como é que nós percebemos tudo o que se passa neste ramo? Como é que nós nos posicionamos perante tudo isso? Como é que nós interagimos com quem, como nós, partilham desta paixão?


São perguntas para as quais não há, nem nunca haverá, uma resposta exata – a origem de cada testemunho é puramente empírica, isto é, dependerá, quase sempre, da experiência de cada um e de como é que o wrestling entrou nas suas vidas e por lá se manteve. Mas posso contar-vos um pouco sobre como é que me surgiram estas perguntas, como é que me levaram a esta reflexão.


Há dias, numa troca de mensagens com um amigo meu, ele próprio me disse que já tinha posto em dia todos os episódios da AEW e, por isso, ia deixar de ver wrestling depois de mais de quinze anos. Obviamente que isso me deixou triste, porque creio que concordarão comigo quando vos digo que os fãs são a parte mais essencial do wrestling, como de qualquer desporto, individual ou coletivo. Sem fãs, os desportistas não conseguem fazer aquilo para que são pagos, porque não há uma justificação para que o façam – justificação essa que encarna nos fãs.




É natural que, com o passar do tempo, percamos o interesse com certas coisas – faz parte do nosso desenvolvimento enquanto seres humanos, é perfeitamente natural que moldemos a nossa personalidade conforme os nossos gostos e que, para isso, deixemos alguns desses gostos de lado. Mas o que me suscita preocupação não é quando uma pessoa deixa de ver wrestling porque simplesmente conseguiu encontrar algo para além disso. O que me preocupa é quando ele me diz que deixou de ver porque “o wrestling já não é o que era”.


Oi? Como é que é? O que é que é suposto que o wrestling seja? O que é que nós esperamos que o wrestling seja?


Então não somos nós que, muitas vezes, nos queixamos de que “empresa X já não consegue produzir estrelas” (o que muitas vezes é verdade, e tanto WWE como AEW mostram algumas dificuldades nesse capítulo), não somos nós que muitas vezes exigimos que as empresas evoluam em certos e determinados aspetos (como, por exemplo, a igualdade de tempo de antena entre wrestlers no masculino e no feminino, onde ainda há uma diferença… considerável, para ser simpático)?



Ao dizermos que “o wrestling já não é o que era”, o que é que estamos a fazer, exatamente? Estamos, em primeiro lugar, a constatar o óbvio: O wrestling nunca é o que era. O que era o wrestling em 2023 nunca será igual aquilo que é o wrestling em 2024, da mesma maneira que a forma monopolista com que olhávamos para o wrestling em 2018 mudou radicalmente a partir de 2019 – e todos sabemos porquê.




Quando nós dizemos que “o wrestling já não é o que era” estamos, para além de constatar o óbvio, a entrar numa enorme contradição, e isto é, em si mesmo, um grande paradoxo. Quando nós dizemos que “o wrestling já não é o que era” estamos a desistir das reivindicações que normalmente fazemos, e que citei há uns parágrafos atrás.


Quando dizemos isso, estamos a fazer uma coisa que nunca, em circunstância nenhuma, deve ser feita: A subjugar o próprio wrestling. A passar-lhe por cima. Estamos a tentar fazer com que o wrestling, enquanto modalidade, enquanto desporto, se conforme àquilo que nós esperamos dele. E não é por o wrestling não ser, na sua totalidade, um desporto coletivo – porque há contextos onde o é, evidentemente – que nós o devemos fazer.


Exemplo: Em desportos como o futebol, o basquetebol, ou qualquer outro desporto que é disputado por equipas – para não estar aqui a repetir-me com a palavra “coletivo”, quando a nossa equipa não ganha um jogo, um campeonato, um troféu… nós vamos descarregar nela as nossas frustrações, como muitas vezes se faz? Não deveríamos, não é? Quanto muito, deveríamos incentivá-los a prepararem-se melhor, a treinarem mais, a preverem melhor as situações, de forma a que no ano seguinte, num contexto semelhante ou exatamente igual, a equipa conseguisse fazer melhor e ganhar o tal troféu, sabendo perfeitamente que o contexto dessa próxima vez não será igual ao do tempo presente.


O wrestling  nunca pode ser aquilo que era. Se nos fechamos eternamente nesse chavão, como é que abrimos espaço para que ele evolua?


Como é que nós interagimos com quem, como nós, partilham desta paixão?: Moonsault Collective




Para que uma modalidade encontre sucesso, para que se desenvolva e possa crescer a um ritmo constante, é sempre essencial que consiga reunir para si uma fanbase: Ao início será pequena, mas, através de várias iniciativas, várias pessoas vão tendo conhecimento dela e de quem a pratica e vão ganhando gosto e paixão.


Com o wrestling não é exceção, mas o caso do wrestling é… delicado, à falta de um melhor termo: Isto porque, tal como o wrestling não é estático, a sua fanbase também não é. E não estou a falar de coisas tão triviais como concordar e discordar de opiniões sobre este wrestler ou aquela empresa – isso é o expectável e o mais natural que pode haver.


Estou a falar do constante movimento que há, no sentido em que, todos os dias, há quem se apaixone pelo wrestling, há quem perca essa paixão, há quem entre e quem saia deste “comboio maluco”, para citar o Tio Ozzy. As razões para esta constante movimentação? Só cada qual é que sabe, e não vale a pena estar a especular. Mas todos nós, enquanto fãs, temos obrigação de manter a chama acesa, e isso é algo que só quem consegue fazer sozinho é quem faz vida de comentários e análises de wrestling.




Nesse sentido, há um exemplo que eu acho que vale a pena ser dado, pelas razões mais positivas possíveis. Falo-vos da Moonsault Collective, uma grande comunidade – talvez a maior – que existe na Comunidade de wrestling online. Não sei muito bem como começou – na verdade, só faço parte dela há três ou quatro dias, se tanto – mas desses três ou quatro dias, aquilo que vos posso dizer é que não existe melhor exemplo daquilo que deve ser a paixão pelo wrestling.



E isto acontece precisamente porque a Moonsault Collective, enquanto comunidade, consegue fazer aquilo que é mais essencial no que diz respeito à paixão pelo wrestling: Ali, não se conhecem a fundo as origens de cada um dos membros, nada sabemos da sua história, como é que a vida lhes corre, o que o futuro lhes reserva. 


Sabemos, sim, que para todos os que lá estão, existe um escape. Existe algo que faz com que os corações batam mais depressa, algo que acrescenta, como diz a canção, “um brilhozinho nos olhos”. Na Moonsault Collective fala-se de wrestling nas suas mais variadas formas, mas também se fala de tudo o que não diz propriamente respeito à modalidade, porque o wrestling também tem este poder: O de transformar um desconhecido em família, um qualquer indivíduo com interesses comuns num irmão de armas.


A existência da Moonsault Collective é importantíssima para o wrestling, mais não seja porque, como já vos tinha dito, só quem consegue manter acesa a chama do wrestling a nível individual é quem faz vida da análise e do comentário da modalidade.


Mas a importância aumenta quando olhamos à nossa volta, lemos opiniões, e percebemos que estas estão cada vez mais extremadas por conta do tribalismo. Nesse sentido, a existência da Moonsault Collective é uma lufada de ar fresco precisamente porque ali não se vestem camisolas, não se – perdoem a expressão um bocado obscena, mas que é a única que consigo encontrar – “medem pilas”. Quem está ali, está ali apenas por amor. Amor àquilo que, como dizia o falecido Bray Wyatt, é “uma fantasia que muitos não conseguem compreender, mas um espetáculo que ninguém consegue ignorar”.



E vocês, como é que acham que os fãs veem o wrestling atualmente? Pertencem a alguma comunidade de fãs de wrestling?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Instagram, pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!

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