Lucas Headquarters #133 – Here Comes The Moné
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais um “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!
Toda a gente sabe a letra daquela música, vocês sabem, aquela que diz:
“Moné, Moné, Moné…”
Mal sabiam os ABBA que aquela música havia de fazer tanto
sentido na década de 70 como em 2024. Esta, meus amigos, é a prova que boa
música não só não envelhece como pode até encontrar um lugar ao sol noutras
áreas que não a própria arte musical em si.
Caso ainda não tenham reparado, estamos em plena Road to
WrestleMania. O próprio evento acontece daqui a menos de um mês – 6 e 7 de
Abril – e, apesar de estarmos já a mais de metade do caminho percorrido, ainda
parece que há tanto por acontecer. Há os redemption arcs de Bayley e
Cody Rhodes, há o combate entre Jimmy e Jey Uso – numa história que vai muito
mais além do próprio epíteto Uso – que em tagalog quer dizer
“irmão”.
Mas há um pequeno detalhe no meio disto tudo que eu acabo por
achar engraçado, fazendo agora a transição para aquilo que vos quero falar
hoje. É algo que eu não noto há alguns anos – aliás, o sentimento dominante que
me tem assolado nas últimas Roads to Wrestlemania não corresponde muito
à real qualidade do evento – o evento em si tem sido bom, mas eu noto que a malta
não se costuma entusiasmar tanto com o caminho que nos leva ao Maior Evento do Ano
como o está a fazer em 2024. Este ano, noto algumas diferenças.
Nós investimos horas, e horas, e horas do nosso dia-a-dia a
observar com paixão este fenómeno, para depois colocarmos cada pedacinho dessa
mesma paixão nas tais opiniões que publicamos nas redes sociais. Mas parece-me
que essa paixão, este ano, é verdadeiramente genuína, contrastando com o
aparente desinteresse que tenho visto nos últimos anos relativamente ao que a
WWE apresenta.
E isso não é difícil de explicar, aliás, explica-se em si
mesmo. Mas tanto quanto este fenómeno se explica em si mesmo – e que mostra o enorme
poder que alguém como Dwayne The Rock Johnson ainda possui, apesar de
ter estado afastado do wrestling durante anos e de até ter dito, em
2019, que se tinha “pacificamente retirado” do wrestling – demonstra,
uma vez mais, a dificuldade da WWE em atrair o interesse do público que outrora
teve nas mãos sem ser pelo meio de alguém que fará parte de um conjunto de WWE
Hall of Famers.
Paradoxalmente, isto prova a capacidade que a WWE tem para
contar uma história com cabeça, tronco e membros, e revela também muito sobre a
forma como nós, fãs, queremos forçosamente que o produto seja apresentado: De
uma forma pouco cuidada e muito apressada, por oposição a uma forma bem
trabalhada e onde as gimmicks têm, evidentemente, alguma profundidade.
Isto revela também uma grande diferença do modo como Triple H faz booking em
relação a Vince McMahon: No tempo do eterno chefão, as gimmicks eram
muito superficiais, e muitos dos wrestlers eram jogados em storylines
ao acaso.
Com Triple H, o que se passa é que os wrestlers fazem
parte de toda uma teia histórica onde há vários objetivos a serem cumpridos
antes de se cumprir o objetivo principal. A dinâmica assemelha-se muito a um videojogo
onde temos que fazer várias side quests para poder progredir na história
principal e – pun definitely not intended – acabá-la.
Serve esta verborreia toda para dizer o quê? Que essa estrada
para a WrestleMania, este caminho, se assim quisermos, é suposto entusiasmar as
pessoas à volta da WWE. E, com efeito, está a cumprir exatamente esse objetivo
a que se propõe. Basta ver que fomos brindados com dois redemption arcs que
continuam a despertar a atenção dos fãs, mais não seja porque um já vem da
WrestleMania passada e outro já era previsível. A WWE trouxe-nos o The Rock de
volta.
A WWE trouxe-nos o The Rock de volta, e a AEW trouxe-nos…
Moné. Mercedes Moné.
O regresso de Mercedes Moné ao wrestling pela porta da
Elite não era propriamente uma novidade – o facto de ela ter, no passado, feito
cameos pela Elite e ter saído em termos pouco abonatórios da WWE já
fazia antever que isto acontecesse.
E é interessante ver como Mercedes Moné esteve ausente do wrestling
durante algum tempo, é interessante ver como a sua ausência permitiu que
outras tantas wrestlers brilharam noutras paragens enquanto ela esteve
ausente - a chilena Stephanie Vaquer, porta-estandarte da CMLL, é o mais
recente exemplo ao ter sido protagonista de um excelente combate com Giulia,
onde venceu o NJPW Strong Women’s Championship, num combate que serviu também
para anunciar a saída de Giulia da STARDOM a quem ainda não estava ciente disso
– e mesmo assim ainda há arenas que explodem – perdoem-me o termo – quando veem
Mercedes Moné em pessoa.
É interessante ver como os últimos anos de carreira de
Mercedes Moné foram indelevelmente marcados pela polémica – uma polémica que
facilmente estaria resolvida, não fosse a dimensão mundial da empresa que
Mercedes representou durante uma década. E mesmo assim, independentemente de
tudo aquilo que marcou a sua saída da WWE, as pessoas continuam a demonstrar
apreço pelo seu trabalho, continuam a dar-lhe o valor que merece e a reconhecer
o talento que já demonstrou que tem.
É interessante ver que, num mundo do wrestling que se move cada vez mais a dinheiro – assim como tudo o resto – aquilo que Mercedes Moné faz ainda é eminentemente movido ao amor pela modalidade. Não acreditam? (Re)vejam a promo que ela fez quando chegou à AEW.
A forma como falou da
importância que o wrestling tem para ela, profissionalmente, mas acima
de tudo pessoalmente. Reparem na forma como falou na influência que Eddie
Guerrero teve no seu percurso, primeiro enquanto fã, depois enquanto wrestler;
na forma como falou do wrestling também como um nobre meio para garantir
a sobrevivência, sobretudo quando se tem um irmão autista. Para muitos wrestlers,
o wrestling é um meio para garantir a sobrevivência, para Mercedes, o wrestling
é um meio para garantir a felicidade.
Impacto negativo logo à chegada?
Já que falamos da promo de Mercedes no início do Dynamite Big
Business, vale a pena destacar um aspeto que no meio desta declaração de
amor ao wrestling, acabou por passar despercebida.
Já Mercedes estava bem a meio do seu monólogo quando desistiu
de se esforçar para não mencionar a concorrência e acabou por deixar que a boca
lhe fugisse para a verdade, dizendo que, mais ano menos ano, acabaria por
voltar à WWE. Esta referência à concorrência logo na primeira promo causou,
evidentemente, mal estar: Afinal, Mercedes falar da WWE enquanto está na AEW e
o mesmo que um qualquer de nós falar na ex quando acabou de arranjar uma nova
namorada.
Compreendo que as reações à forma como Mercedes falou na WWE
tenham gerado algum mal-estar – afinal, quando nós representamos uma empresa, o
nosso primeiro dever é defendê-la, nem que para isso tenhamos de fazer de conta
que a concorrência não existe.
No entanto, é importante que se tenha uma coisa em mente: O
mundo do wrestling, como quase tudo o que envolve dinheiro, está a
tornar-se cada vez mais num negócio. As próprias declarações de Will Ospreay, feitas
pouco depois da chegada à AEW, confirmam-no: Os wrestlers, hoje em dia,
preferem ter um calendário menos apertado do que um calendário mais cheio,
mesmo que a ganhar as mesmas quantidades de dinheiro – e isso pode ajudar, em
grande parte, a explicar porque é que a WWE já não consegue atrair os grandes
nomes da indústria com tanta facilidade como o fazia há um par de anos.
Will Ospreay talked about the deals he was being offered by AEW & WWE:
— Dark Puroresu Flowsion (@PuroresuFlow) March 13, 2024
"Yeah, of course, but it was night and day. Even in differences of what they were offering and what AEW was offering, AEW was way better.
The scheduling, everything about AEW was completely the right option… pic.twitter.com/rYdhcIg032
Partindo deste ponto, seria legítimo começarmos a pensar no modelo que envolve atualmente tudo o que diz respeito ao wrestling da mesma forma que pensamos no modelo que envolve tudo o que se passa nos desportos coletivos: Hoje em dia, raros são os jogadores que representam a mesma equipa durante dez anos (e cinco anos já é, em muitos casos, um exagero). No máximo, dois a quatro anos é a norma. Mas quando os atletas saem dos clubes, não deixam de falar mal deles, bem pelo contrário – a experiência, em certos casos, pode ser de tal forma marcante a nível de conquistas (sejam elas individuais ou coletivas) que os jogadores ficam com as equipas no coração e passam, evidentemente, a torcer por elas.
No caso de Mercedes Moné a situação é mais ou menos a mesma.
É verdade que a saída da WWE não se deu da melhor forma e ainda hoje divide os
fãs: Muitos acham que Mercedes merecia mais do que o que lhe estavam a dar,
outros acham que a atitude dela revelou falta de profissionalismo. Mas nada
disso poderá apagar ou reescrever o que ela escreveu nos livros da História da
WWE; nada disso lhe poderá tirar sete campeonatos mundiais, Triple Crowns,
Grand Slams.
Tudo isto faz com que eu não consiga perceber muito bem o
porquê destas reações. Eu compreendo o sentimento das pessoas atrás da gorilla
position – como já disse, o nosso primeiro dever quando fazemos uma empresa
funcionar é defendê-la. Mas ao mesmo tempo fico com a impressão que as pessoas
que estão por trás das grandes companhias não compreendem muito bem que tudo isto
e um negócio: Hoje estamos nesta companhia, amanhã estamos noutra, o que
interessa é que nos paguem e que façamos sonhar o público.
Independentemente da componente negocial do wrestling,
fica claro que o público parece estar disposto a aproveitar a CEO enquanto ela
por ali estiver, e a julgar pelas reações que Mercedes consegue arrancar, Tony
Khan pode finalmente ter encontrado alguém para dar à divisão feminina da AEW a
dose de adrenalina que ela tanto precisa.
No entanto, é importante que o manda chuva da Elite tenha
consciência que isso não resolve tudo: É importante dar às mulheres o tempo que
precisam para que brilhem tanto como os homens, ou, se este tempo não pode ser
dado, façam com que cada uma entregue o melhor que tem no seu arsenal, que o
combate não seja apenas sete ou oito minutos disputados a um ritmo mediano com
um climax mais ou menos apressado. Riho e Willow Nightingale já deram o exemplo
nesta quarta-feira; acho que não custa assim tanto segui-lo.
O que acharam da chegada de Mercedes Moné à AEW? Acham que a
CEO pode ser a peça que faltava na divisão feminina da companhia?
E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não
se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram e demais redes
sociais, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá
estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!