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Lucas Headquarters #127 –Muita parra, pouca uva


Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!! Finalmente passou Janeiro, e confesso-vos que cheguei a Fevereiro com um medo terrível (eu que nem sou um gajo medricas), um medo que me fazia perder o sono, que me deixava cheio de tudo quanto fosse suores frios, incontinência urinária, arrepios na espinha… digamos que cheguei a Fevereiro com medo de acordar e estar preso no dia 32 daquele infindável primeiro mês do ano, mas enfim, acho que podemos todos dizer que, se sobrevivemos a Janeiro, o resto do ano será peanuts.


Estamos no início do ano, e no que toca a WWE, as coisas não seguem propriamente o rumo natural das coisas, no que diz respeito à disposição das expectativas dos fãs ao longo do ano.


Normalmente, o que acontece na maior parte dos casos é que o ano – assim como a maioria das situações na vida – vai evoluindo em crescendo, isto é, no início as expectativas estão, naturalmente, baixas, mas à medida que os acontecimentos se vão desenrolando e que vamos sabendo mais e mais acerca de certos acontecimentos, o hype cresce, a esperança ganha forma e é alimentada pela ilusão, pela crença de que tudo vai acabar como esperamos, que o Universo conspira sempre a nosso favor.


No caso da WWE, como já devem ter reparado, não é isso que acontece. Para começar, as expectativas estão sempre altas, quer a nível do produto apresentado, quer a nível do que se passa nos bastidores – e isto é mais importante agora que sabemos que a empresa navega em águas agitadas devido à descoberta de informações, no mínimo, perturbadoras sobre os escândalos sexuais que envolvem o perpétuo “manda-chuva” da empresa, Vincent K. McMahon.



Digamos que, na WWE (e falando agora do produto apresentado) as expectativas não seguem o crescendo tradicional que a vida impõe. Em vez disso, estão distribuídas de igual forma e são continuamente renovadas.


Por exemplo: Durante este mês que passou, as expectativas estavam elevadas para o Royal Rumble; depois, quando passa o Royal Rumble e começa finalmente a Road To Wrestlemania, ditas expectativas renovam-se tendo em vista o Maior Evento do Ano. Passada a Wrestlemania, olha-se para dois eventos em particular: Primeiro, para o Money In The Bank – porque o direito a ostentar a mala já é tão propenso a definir – ou estragar – carreiras como ganhar (ou fazer boa figura) no Royal Rumble, e depois, para o SummerSlam, depois para o Survivor Series e… bem, não interessa, vocês já perceberam.


Quando isso acontece, o mais provável é que aconteça aquilo que nunca queremos que aconteça: Ir com muita sede ao pote, isto é, ir para alguma coisa com as expectativas muito altas e depois apanhar uma valente desilusão. E, meus caros comensais do wrestling, detesto dizer isto, até porque o Royal Rumble é dos meus PLE favoritos do ano (no que diz respeito à WWE), mas a edição deste ano, no seu todo, ficou bem abaixo daquilo que estávamos à espera.


E muita gente poderá argumentar que o produto pouco acabado que tivemos no Royal Rumble deste ano poderá ter a ver precisamente com todos os escândalos com os quais a WWE se bate neste momento. E a isso já iremos com mais detalhes, até porque há que falar da resposta… interessante que Triple H deu na tradicional conferência de imprensa que sucede ao evento.


Mas, queiramos ou não admiti-lo, isso também poderá ter um papel relevante no resultado final do PLE. Não tem tanto a ver com a forma como os wrestlers desempenharam a sua função em ringue – eu quero acreditar que eles têm experiência e arcaboiço mental suficiente para saber separar as águas, limpar a cabeça e fazer aquilo para o qual são pagos, alguns deles, a peso bastante dourado.


A questão aqui tem mais a ver com o público, e nós bem sabemos que o público tem um papel tão ou mais fundamental naquilo que é o desenrolar de um combate, ou falando de forma mais abrangente, de uma storyline. E é tão simples quanto isto: Se o público não estiver interessado ou não estiver a reagir com o devido entusiasmo ao que se passa em ringue, então talvez haja alguma coisa que não está a correr bem nesse aspeto. Mas, estranhamente, não me pareceu que fosse esse o caso.


O que se passa é que, mesmo que o público quisesse beber o pouco sumo que o Royal Rumble nos trouxe… não conseguiam. Simplesmente não conseguiam. Não conseguiam porque aquilo que aconteceu antes do Royal Rumble foi grave demais para que o público conseguisse manter o foco no que se passava.


Muita gente manifestou, por essa internet fora, sinais evidentes de preocupação misturada com fortes doses de repúdio – como só agora é que se tivesse descoberto que o todo-poderoso chefão não era, afinal, flor que se cheirasse. 



E com razão, afinal, há o sério risco de se abrir aqui um procedimento, sobretudo quando, no final do ano, surgiram notícias de má conduta sexual por parte de Chris Jericho, logo um daqueles que pertence ao restrito grupo a que chamamos os GOAT. “Afinal, se um dos maiores de sempre e o eterno patrão da maior empresa de wrestling mundial podem abusar sexualmente de mulheres, qualquer wrestler o pode fazer”, pensamos muitos de nós enquanto olhamos, estupefactos, para aquilo que se vai sucedendo.



Embora as questões que envolvem Vince McMahon possam ter influência naquilo que vimos no último fim-de-semana do mês, a verdade é que essa razão não é uma justificação em si mesma, ou seja, por si só não desculpa todo. Nem deve.


O que vimos no Royal Rumble não foi nada de extraordinário, o que faz com que se comece a desenhar aqui um padrão que nos remete para o fim da fase romântica em relação ao booking que Triple H faz destes eventos.


Há, aqui, vários pontos fracos no booking que o The Game faz para os quais importa alertar. Mas acho que não vale a pena mergulhar nestes defeitos um por um, pelo menos para já. O que importa dizer é o seguinte: Quando não tem nada em jogo, Triple H tudo promete e tudo dá. 


Mas quando a hora da verdade surge e é altura de bookar combates que envolvam surpresas ou elementos mais “fora da caixa” (como seja um Royal Rumble, uma Elimination Chamber), Hunter acaba por entregar muito menos do que sabe que pode. Acaba por jogar sempre pelo seguro, preferindo opções menos arriscadas e cenários menos comprometedores. 



Só que, se não existe o tal elemento “fora da caixa”, se não existe uma perpétua sensação que algo de surpreendente está para acontecer, um evento como o Royal Rumble acaba por ser só mais um PLE, daqueles que acontecem a meio do ano e em que já sabemos os resultados antes dos combates acontecerem.


Por essa razão, o Royal Rumble enquanto evento acaba por ser… mediano, à falta de melhor termo. Nem bom, nem mau, já dizia o nosso velho amigo Fernando Mendes. Apenas um PLE… com pouco conteúdo interessante, dentro daquilo que eram os habituais pontos de interesse para um evento desta natureza.


Acaba por ser um daqueles eventos onde houve um elemento – neste caso, um combate – que, por milagre divino, salvou o evento de ser um desastre de proporções épicas, mas que não teve combates tão maus assim para poder ser considerado como mau (a própria Fatal 4-Way pelo Undisputed WWE Universal Championship teve pormenores bastante interessantes, e eu confesso que não esperava que fosse AJ Styles, acabado de regressar, a sofrer o pinfall).





Houve o regresso de Naomi – regresso esse que, confesso, não estava na minha lista, uma vez que esta parecia estar a dar bastante boa conta de si na agora TNA. Por falar em TNA, houve Jordynne Grace, outra daquelas que não esperava ver aparecer, ainda por cima ostentando um prémio tão cobiçado como o TNA Knockouts World Championship) e, mais surpreendente ainda, houve Jade Cargill (será que irá participar na WrestleMania?).










Não tão surpreendente foi a vitória de Bayley. Poderíamos até apostar que Becky Lynch voltaria a repetir a façanha de 2019, quando estava no auge da sua popularidade; ou o rumor de que Nia Jax iria sair vencedora poderia até ter-se concretizado. 


Apesar de tudo, creio que a vitória até assenta melhor à Role Model – não pelo que acontecerá daqui para a frente em termos de storyline, acho que isso é mais ou menos óbvio – mas pelo facto de Bayley sempre ter sido o “parente pobre” das chamadas Four Horsewomen: Enquanto Charlotte Flair, Becky Lynch e Mercedes Moné (fka Sasha Banks) pareceram ter carreiras, no mínimo, com mais exposição televisiva, Bayley pareceu sempre ficar para segundo plano, exceção feita à run histórica que teve no NXT (onde essa “honraria” pertenceu a Becky Lynch).





O combate masculino, por outro lado, nada ofereceu que fosse verdadeiramente interessante (nem sequer o regresso de Andrade). O vencedor foi aquele que tinha de ser (de outra forma, como é que o seu redemption arc faria sentido?) e como perverso bónus ainda ficámos a saber da lesão de CM Punk, que fisicamente se apresentou uns furos abaixo – vicissitudes da idade, talvez.





Triple H chuta os escândalos para canto




Outro exemplo de “muita parra, pouca uva” que sai deste Royal Rumble é a resposta pouco esclarecedora que Triple H dá a todas as informações que surgiram acerca dos escândalos que envolvem o sogro. E sobre isto, apraz-me esclarecer umas quantas coisas que me parece que não estão bem explícitas.


Primeiro, entende-se que Triple H tenha querido evitar abordar diretamente todos esses temas. No entanto, fica a sensação de que o fez da pior maneira possível, tentando salvar a sua pele e fugir com o rabo à seringa – passo a expressão – em relação a tudo isto. A forma como respondeu (que me pareceu, no mínimo, desatabalhoada e tirada a ferros) deixa no ar a ideia de que das duas uma: Ou Hunter está efetivamente envolvido neste terrível imbróglio, ou estará a tentar encobrir o próprio sogro.




Não obstante, e ainda que a maneira como o fez não tenha deixado a melhor das impressões, quem esperava que Triple H começasse a revelar a torto e a direito os detalhes do processo que envolvem o sogro talvez não se tenha apercebido o quão difícil é o seu papel aqui.


Não vale a pena estarmos aqui com coisas: Aconteça o que acontecer, os responsáveis da WWE estão formatados para falar eternamente bem do eterno chefão da empresa, mesmo que agora o dono seja outro e se verifique aquilo que há quatro décadas não sucedia: Nenhum McMahon trabalha para a WWE neste momento (Triple H não conta porque não é consanguíneo).


Por outro lado, ninguém sabe o quão envolvido estará Triple H neste escândalo. Suspeita-se, mas não há evidências concretas. É importante não esquecer que todo o arguido em qualquer caso é inocente até que se prove o contrário. Qual é o erro em aplicar a presunção de inocência a Paul Levesque se não temos nenhuma evidência concreta contra ele como temos contra Vince?


Que Bruce Prichard seja corrido da empresa, isso é imperativo que aconteça, ele que era um dos “lacaios” mais próximos de Vince e será sempre o seu “testa de ferro”. Mas despedir Triple H, do ponto de vista do melhoramento do produto, é um risco. Ninguém conhece o negócio como ele, porque ninguém tem, na conjuntura atual da WWE, tanta experiência (dentro e fora do ringue) como ele. Se para alguns o produto apresentado já é mau, como ficará se Triple H for demitido?


O que acharam do Royal Rumble? Os vencedores foram justos? E qual a vossa análise à forma como Triple H reagiu a todo este escândalo?


E assim termina mais uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Instagram, pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!


Peace and love, até ao meu regresso!


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