Lucas Headquarters #124 – WWE/NJPW/STARDOM: Uma parceria impedida pela autopreservação?
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!
E este frio que se pôs aí, hã? E esta tarasca que até faz com que um gajo
qualquer bata o dente? Estou a gozar, afinal, quem vive no Norte já está mais que
habituado a isto, quem vive no Centro e no Sul… bem… vai-se habituando, não é
mesmo? Andavam aí a fazer um grande escândalo com o frio, que tudo nesta nação e
mais além ia congelar… e afinal até está uma coisa bastante… suportável, no
mínimo.
Provavelmente não perguntei isto na edição da semana passada
(porque na semana passada tivemos um tópico muito específico, ao contrário do
que inicialmente tinha previsto) mas o que é que vocês esperam deste ano no que
toca a wrestling? Que combates querem ver? Que novos talentos querem ver
a despontar? E dos que já estamos habituados a ver no nosso ecrã, quem esperam
que tenha um 2024 para mais tarde recordar?
Vem isto a propósito de, apesar de 2024 já contar com duas
semanas, já termos tido a nossa dose de combates espetaculares (quando se tem
WrestleKingdom, Tokyo Joshi Pro ’24 e STARDOM Ittenyon Gate no mesmo dia, a
probabilidade de haver candidatos a MOTY aumenta – e foi isso que aconteceu)
ainda há muitas arestas por limar e coisas que afinal podem não correr da forma
que estamos à espera.
Não acreditam? Pois bem, eu também não acreditei até que, há
coisa de duas semanas, vi o The Rock entrar pelo RAW adentro para transformar
Jinder Mahal num bobo da corte (papel onde ele próprio já tem alguma
experiência), pôr toda a gente a cantar uma versão do hino norte-americano bem
ao seu estilo e ainda desafiar o primo.
Mas agora vieram a público informações que Roman Reigns nem
sequer vai estar no Elimination Chamber, o que nos deixa automaticamente a
pensar: O que será que vai acontecer quando chegarmos à WrestleMania? Vamos ter
Roman Reigns a defender o título em duas noites, ganhando numa e perdendo
noutra? E CM Punk, onde é que fica? Tantas questões…
…que vamos deixar, provavelmente, para daqui a duas semanas, quando
chegar até nós o Royal Rumble e já começarmos a vislumbrar a WrestleMania no
horizonte.
Para já, hoje é noite de Battle In The Valley (onde, entre outros
combates, teremos Giulia vs Trish Adora pelo NJPW STRONG Women’s Championship,
portanto se vocês ainda não conhecem esta wrestler por quem Triple H tem
perdido tanto sono, esta noite pode ser uma boa oportunidade para o fazerem) e
lembrei-me de falar num assunto que já se vem discutindo há algumas semanas,
sobre o qual de vez em quando aparecem notícias, rumores, “afinal há hipótese”,
“afinal não há” e por aí adiante. No fundo, é mais uma consequência da política
de abertura de Triple H que parece, agora, encontrar resistência do outro lado.
Estou a falar-vos das notícias que têm vindo a público nas últimas
semanas relativamente às hipóteses da WWE fechar uma parceria com a New Japan
Pro Wrestling ou com a STARDOM. No entanto, tais notícias não surgem apenas “porque
sim”: A WWE fechou, há pouco tempo, parceria com a AJPW, que permitiu a Charlie
Dempsey tomar parte nos eventos da empresa japonesa que decorreram nos dias 31
de Dezembro, 2 de Janeiro e 3 de Janeiro, desafiando também Katsuhiko Nakajima
pelo AJPW Triple Crown Heavyweight Championship.
Tudo bem, a intenção de Triple H é, no mínimo,
bem-aventurada, e representa já um grande passo relativamente àquilo que era a
abordagem de Vince McMahon, que fazia com que a WWE se movimentasse no mundo do
wrestling como um eucalipto que seca todas as outras árvores à sua
volta. Vince McMahon queria, a todo o custo, fazer aquilo que, sendo sempre
necessário, não é um objetivo assim tão urgente: Afirmar a WWE como um gigante
no mundo do wrestling.
E sendo sempre necessário, não é tão urgente porquê? Porque a afirmação fê-la o próprio Vince quando, há pouco mais de quatro décadas, comprou a WWE do próprio pai e idealizou, de forma contínua, aquilo que viria a ser o que hoje conhecemos como WrestleMania.
Mas esse já deixou de ser um
objetivo urgente porque, em caso de dúvida (ou persistência dos sintomas) a bola
vai sempre cair para o lado da WWE, fruto dos fãs mais casuais que, não vendo wrestling
de forma tão regular como muitos de nós, escolhem sempre assistir a eventos
da WWE porque é aquela empresa que, ao longo dos anos, tem tido mais difusão contínua,
sobretudo no que toca aos media.
Esta notícia da parceria entre WWE e AJPW vem juntar-se à
possibilidade cada vez mais real de Giulia fazer definitivamente a travessia
desde a Terra do Sol Nascente até à Terra das Oportunidades, possibilidade essa
que vem sendo falava desde, pelo menos, Novembro.
E, pela altura em que os rumores de Giulia na WWE começam a
ganhar forma, Kairi Sane regressa à WWE depois de quase dois anos ao serviço da
STARDOM, onde era uma das principais atrações. Portanto, é perfeitamente
natural que estas notícias venham a público, que suscitem divisões, opiniões, “sins”
e “nãos”. Do lado japonês, contudo, a reação tem sido mais de “não” do que “sim”,
algo que os fãs, apesar de tudo, parecem compreender.
E não se pode dizer que, por exemplo, Rossy Ogawa ou Hiroshi Tanahashi
(que, para os mais distraídos, foi recentemente apontado como o novo presidente
da New Japan) não tenham uma certa razão. Afinal, vamos transpor isto para a
vida real: Se vocês têm crush nalguma miúda, ela não vos liga nenhuma e
de repente vem até vocês como se nada fosse e com refinadas doses de lábia, vocês
também iam desconfiar, certo?
Aqui, passa-se exatamente a mesma coisa. Não é que Ogawa ou
Tanahashi não queiram fechar parceria com a WWE, mas a WWE, durante anos, nunca
quis saber deles para nada, e, portanto, eles próprios consideram não haver necessidade
para um acordo desse tipo.
Uns argumentarão que a malta da Bushiroad não precisa da WWE
para nada. E, em boa verdade, não precisa, basta ver a forma como, desde que a empresa
de jogos de cartas comprou a New Japan (2012) e mais tarde a STARDOM (2019),
estas duas empresas se expandiram (a STARDOM vai fazer um evento nos Estados
Unidos pela primeira vez em cinco anos e já conseguiu, desde aí, ter no seu
roster nomes como Toni Storm, Bea Priestley, Mariah May e agora Megan Bayne,
todas com elevado grau de aproveitamento).
Outros dirão que é, simplesmente, um exercício de auto-preservação
movido, também ele, pelo orgulho. E quando falo em auto-preservação não tem a
ver com o facto das grandes empresas do wrestling serem os tais eucaliptos
que secam tudo à volta – acho que, nestes trezes anos em que há STARDOM e
nestes mais de cinquenta de New Japan Pro Wrestling, estas já conseguiram
desenvolver mecanismos e estratégias para renovarem e regenerarem o seu roster.
Falo, antes, da forma como o talento japonês é tratado na América,
algo que tem valido recorrentes críticas às empresas americanas (sobretudo à
WWE, mas acho que também se poderia apontar o dedo à AEW, principalmente pela imagem
que tem passado de talentos japoneses que já deram tanto ao wrestling como
Hikaru Shida) e que origina, também ele, tribalismo, colocando os fãs de joshi
e de puroresu contra os fãs de wrestling mais ocidental,
digamos.
As críticas são, no entanto, justificadas, e quem gere as
empresas de puroresu no Japão sabe-o tão bem como nós. No caso da AEW já
dei o exemplo da forma como Hikaru Shida é tratada (tendo ela sido três vezes
AEW Women’s World Champion e tendo dado a cara pela empresa com um reinado de
371 dias durante a pandemia, nestes últimos dois reinados foi apresentada
apenas como uma campeã de transição, não segurando o título por mais de dois
meses), mas no caso da WWE os exemplos são mais que muitos.
Se olharmos para a WWE, verificamos que Asuka foi, se calhar,
o talento japonês que a empresa melhor soube aproveitar, isto já desde os
tempos do NXT. E, se calhar, não a soube aproveitar na sua plenitude, decidindo
acabar a sua streak de 914 dias sem derrotas para alguém como Charlotte
Flair (que já nessa altura tinha bastante currículo) e devendo-lhe, pelo menos,
um par de reinados.
Shinsuke Nakamura é outro caso igual. Começou fortíssimo, foi duas vezes NXT Champion e quando chegou ao Main Roster ganhou o Royal Rumble Match Masculino.
Mas depois do fiasco de combate que teve contra AJ
Styles na WrestleMania 34, a WWE parece ter perdido a confiança nele ao ponto
de lhe dar uma gimmick heel que o obrigava a não fazer mais do que dizer
“no speak english” – e tanta matéria para memes essa gimmick me deu… - e de o tornar num midcarder
ao qual muita gente, a esta altura, já nem deve passar cartão – não porque
ele seja mau wrestler (precisamente o seu contrário) mas porque as suas skills
não chegam para tornar interessante a mais medíocre das storylines.
Portanto, quando se olha para a possibilidade de algum dia
uma empresa de puroresu fechar uma parceria com a WWE, percebemos que a
relutância do lado japonês em fazê-lo, isto é, a tal autopreservação de que vos
falo, não tem tanto a ver com o facto de ser a WWE ou a AEW em si a fecharem
parceria.
Claro que os fãs de wrestling que vivem nessa bolha
vão sempre levar isso mais a peito, mas há que perceber que, quando o assunto é
parceria e cooperação, no wrestling como em qualquer desporto, as coisas
desenvolvem-se sob a perspetiva da valorização de ativos.
Se virmos bem, isto aplica-se, também, na nossa vida pessoal:
Se nas nossas relações interpessoais, preferimos estar perto de quem nos faz
bem, claro que as empresas preferem “emprestar” os seus ativos a quem os
valoriza. E a NJPW/STARDOM recusa-se a fazer isso com a WWE porque, não podendo
permanecer numa bolha onde tudo é lindo e perfeito, olha à volta e vê como os
seus ativos foram ou são tratados. Para já, vamos ver como a WWE trata a Kairi
Sane desta vez. Sobre a Giulia, bem… mais à frente veremos, mas será prudente
manter as expectativas baixas.
E vocês, acham que a WWE alguma vez conseguirá fechar uma parceria
com a NJPW/STARDOM?
E assim termina mais
uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site,
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o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!!