Lucas Headquarters #120 – Retrospetiva 2023: O bom, o mau, talvez o terrível...
Ora então boas tardes, comadres, compadres, duendes e renas do
Pai Natal!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters”
aqui no sítio do costume, o WrestlingNotícias!!
Pois bem, estamos a uma semana do Natal, e a duas semanas do
fim do ano. Normalmente é um bocado cedo para fazer retrospetivas de fim de
ano, uma vez que, como já aqui disse várias vezes, o mundo do wrestling é
um mundo que nunca para de girar.
Todas as semanas há um tópico do qual vale a pena falar,
todos os dias acontece algo que chama a nossa atenção, e o facto de Dezembro ser
um mês de balanço e reflexão não põe nada disto em causa. Até ao dia 31 ainda
vamos ter muitas polémicas para dissecar, muitos PPV para analisar (sobretudo
no que diz respeito a STARDOM e AEW, Dream Queendom a 29 e World’s End a 30,
bela maneira de acabar o ano) pelo que ainda vamos ter muito que falar nas
próximas duas semanas.
Outra das razões pelas quais esta retrospetiva aparece em meados do último mês do ano tem a ver com uma certa inconsistência da minha parte durante o decorrer de 2022. Como é do conhecimento geral – pelo menos de quem me lê aqui no site todas as semanas – 2022 foi um ano em que foi difícil para mim gerir muitas coisas na minha vida.
A pior parte da minha luta contra a
ansiedade já tinha passado, mas a juntar, ainda, a alguns resquícios dessa árdua
batalha (que de vez em quando ainda se manifestam) havia agora a responsabilidade
do mercado de trabalho, que muitas vezes me tirava o tempo e a disposição para
ter uma rotina para escrever.
Isto acaba, acreditem ou não, por ser, de certa forma,
irónico: Assim que o meu estágio acabou, eu voltei a escrever semanalmente aqui
nos Headquarters, na esperança de implementar definitivamente essa rotina e de
acrescentar consistência a um tipo de espaços que é sempre fundamental que exista
em sites com milhares de visitantes por dia, por semana e por mês. E tem
resultado, porque creio que, desde Setembro passado, só estive completamente
ausente durante duas semanas: A semana do Natal de 2022 e a terceira semana de Agosto
deste ano.
E falando de inconsistência, a nossa retrospetiva aparece nesta altura por um motivo muito particular: Se bem se lembram, eu há um ano a esta parte estava precisamente a terminar a retrospetiva de 2022, e tinha-vos prometido um artigo com um tema mais natalício para a edição seguinte, que cairia precisamente na Véspera de Natal, 24.
E eu tinha pensado em mais um artigo com
tema natalício sobretudo porque, no Natal de 2021, eu escrevi um artigo onde elenquei
cinco dos melhores momentos de Natal da WWE. Prometi a mesma coisa nesse ano, e
infelizmente não fui capaz de cumprir.
Vou tentar fazê-lo neste ano, e é com isso em mente que vou
já dar por feita a retrospetiva do que houve de bom (e mau) em 2023. Não sei se
para o ano vou voltar a conseguir fazer tudo de uma vez, mas pelo menos este ano
gostava de vos trazer a edição natalícia que faltou há um ano, pelo que peço
desde já desculpas se o artigo for demasiado longo.
Ora bem, começando no geral para depois irmos ao particular,
considero que 2023 foi, à semelhança de 2022, um ano bastante mais positivo do
que negativo em termos de wrestling. Mas isso não invalida, de todo, que
2023 tenha sido um ano com algumas máculas por eliminar, ou com momentos menos
alegres que nos deixaram… a refletir, no mínimo. Ter um ano sem quaisquer “defeitos
de fabrico” não só é puramente utópico como é dar razões aos presidentes das
companhias para achar que está tudo bem e não quererem melhorar.
Por outro lado, penso que 2023 merece ser referido como “um ano para mais tarde recordar”.
Sim, fazer uma afirmação destas é um risco e soa
a cliché, mas a verdade é que, entre combates que ficarão para sempre gravados
na nossa memória (Kenny Omega e Will Ospreay que o digam) a um evento
igualmente memorável que teve lugar em Londres em Agosto (e que abriu as portas
para que a WWE organize dois PLE’s na Europa durante o ano que vem), 2023
provou ser o ano que pode finalmente dar condições a ambas as empresas para voltarem
a colocar os olhos em mercados que vão perdendo expressão relativamente a consumo
de wrestling, o que, só por si, já merece ser considerado como um ponto
positivo.
Linhas gerais traçadas, vamos então divagar para o particular.
Como é costume, vou elencar cinco momentos que marcaram o ano quer pela
positiva, quer pela negativa. Peço-vos, como sempre, que ignorem olimpicamente
a ordem em que as entradas aparecem, já que as coisas têm que estar organizadas
de alguma forma, e isso não significa que um momento seja melhor ou pior do que
outro que está mais acima ou mais abaixo na ordem.
Estão prontos? Vamos a isto!!
O mau
#5 – Ressaca pós-Wrestlemania (WWE)
Comecemos, pois, pelo que de mau houve. Sem fatalismos nem
pessimismos, até porque há de ser mais fácil encontrar momentos menos felizes
do que aqueles que efetivamente o foram, tendo em conta que, como já disse,
considero 2023 um ano positivo a nível de wrestling.
Mas seria impossível falar em momentos maus e não falar no pior RAW pós-Wrestlemania dos 30 anos de história do Monday Night RAW. Em 2h30 de show, o tempo reservado para o wrestling puro e duro foi de apenas… meia hora.
E se dividirmos essa meia-hora em partes (para que vocês percebam), ficamos com o seguinte: O combate entre Omos e Elias teve apenas 1:41, e o combate entre Bobby Lashley e Mustafa Ali teve apenas… 38 segundos.
Cody
Rhodes, já depois de ter perdido para Roman Reigns na Wrestlemania, foi
reduzido a nada após um ataque de Brock Lesnar (que acabou por começar a feud
que até nem foi assim tão má)… Ao mesmo tempo que este RAW foi a prova viva
de que Vince McMahon tinha voltado uns meses antes, gosto de pensar que foi por
este fiasco de edição #1558 que o mandaram embora. É uma coisa minha, sei lá…
#4 – Cody Rhodes: Do céu ao inferno (WWE)
O sentimento é que este tinha tudo para ser o ano de Cody
Rhodes. O “American Nightmare” regressou após a tal lesão no peitoral, e de
forma triunfal, diga-se, pois venceu o Royal Rumble. Estavam reunidas as
condições para Rhodes conseguir aquilo que nem pai, nem irmão conseguiram.
A única coisa que faltou dizer é que Roman tem mais de 40 primos, e nós nunca sabemos qual é que vai aparecer para ajudar o Tribal Chief. Apareceu Solo Sikoa, que acertou com um Samoan Spike já perto do fim para dar um final anticlimático a um combate onde já toda a gente esperava ver Cody campeão.
Escusado será dizer que a desilusão foi geral, e maior se tornou quando uma equipa
de futebol que nunca tinha sido Campeã Europeia atingiu tal feito ainda antes do
American Nightmare “terminar a história”. If you know, you know.
#3 – A morte, sempre a morte...
Já no ano passado tínhamos tido mortes que tinham marcado o
ano, entre as quais a de Antonio Inoki, o fundador da NJPW que marcou também
uma era nos desportos de combate.
Mas 2023 não foi mais compadecido no que a partidas deste mundo
diz respeito. Bushwhacker Butch, Billy Graham e The Iron Sheik foram apenas
alguns dos nomes da nossa modalidade que partiram para a eternidade, mas não
poderia falar das mortes que marcaram 2023 sem falar de Bray Wyatt e Jay
Briscoe. Dois dos wrestlers mais queridos e respeitados por todo o mundo
do wrestling que estavam destinados a um 2023 memorável e que, por
crueldade da vida, foram embora mais cedo.
As mortes de Bray e Jay marcam-nos especialmente até ao dia
de hoje, não só por terem feito sonhar milhares de fãs ao redor do mundo, como
também pela forma como, no caso de Bray, a realidade aparecia misturada com a
ficção, dotando cada mundo seu de uma ímpar singularidade. Não obstante, muitos
foram os wrestlers que partiram para o Olimpo da modalidade e, por cada
vez que isso acontece, um pedacinho de nós, enquanto fãs, vai com eles. Que todos
descansem em paz.
#2 – A crise de lesões (STARDOM)
É, sem dúvida, o acontecimento que marca o último trimestre
de 2023 e que nos mostra como é importante que as empresas giram a boa forma
física dos seus wrestlers.
O 5 STAR GP deste ano foi uma das mais imprevisíveis edições do torneio, mas também uma das mais intensas e fisicamente exigentes, o que levou a uma onda de lesões nunca vista na STARDOM. Saya Kamitani, Utami Hayashishita e Starlight Kid, por azar, lesionaram-se durante o período do torneio, mas a lista não se ficou por aqui.
A outros nomes como Hanan, Mayu Iwatani e até a vencedora Suzu Suzuki, juntaram-se os de Tam Nakano e Natsupoi, o que obrigou a companhia a dar reinados potencialmente bons por acabados sem que as campeãs tenham perdido os seus títulos.
Isto será interessante tendo em conta que Maika poderá
potencialmente sair como campeã sem que a campeã tenha perdido o título, e um futuro
combate entre as AphroditE e a equipa de Natsupoi e Saori Anou poderá
significar o fim de um reinado que tem tudo para ser bom. Mas isso será tema para
outro episódio.
#1 – O (curioso) caso de CM Punk (AEW)
Indubitavelmente, este é o acontecimento que marca 2023, mais
não seja pelas suas consequências. Mas o caso do despedimento de CM Punk da AEW
é algo que vai marcar de forma indelével os próximos tempos no círculo quadrado,
independentemente de sermos fãs dele ou não.
E isto acontece sobretudo porque considero que nenhuma das
partes saiu com boa imagem deste conflito: Punk por ter feito o que fez, e Tony
Khan por ter vindo retratar isto como um caso de “vida ou morte” quando
claramente não o era, pondo a decisão do despedimento de Phil Brooks nas mãos
de quem, hierarquicamente falando, é seu semelhante. Tudo isto põe a nu duas
coisas que nos parecem óbvias: Tony Khan tem graves sintomas de falta de
liderança; e este caso ainda gerará muita conversa.
O bom
#5 – Mami is
always on top! (WWE)
Rhea Ripley é, acho que já todos o sabemos, o exemplo mais
brilhante de como se sobe a montanha de um desporto como o wrestling ainda
antes dos 30 anos. Quando CM Punk deixou a WWE em Janeiro de 2014, Ripley ainda
andava na escola, e poucos meses depois, em Maio desse ano, começou a entrar num
ringue pelas primeiras vezes.
Dez anos depois, a Mami dos Judgment Day já ganhou
praticamente tudo o que havia para ganhar na WWE, entre NXT UK Championship, NXT
Championship, WWE Women’s Championship, Women’s World Championship e Royal
Rumble Match feminino, onde se tornou a primeira mulher a vencer tal combate na
posição #1. Meses depois, derrotou Charlotte Flair na Wrestlemania, num combate
onde se mostrou ao mesmo nível da adversária e onde compensou a derrota de 2020
com uma prestação que lhe valeu o ouro.
A sua nomeação para líder da PWI Women’s 250 deste ano foi
controversa (e até justificada), tendo em conta que a Nightmare passou
mais tempo como valet do que dentro do ringue. Mas a vitória no Rumble Feminino
e o Women’s World Championship logo a seguir, aliados ao trabalho que vai
desempenhando como líder dos Judgment Day, são os grandes responsáveis
por um 2023 que dificilmente ela própria conseguirá replicar.
#4 – Saya Kamitani: A campeã do Povo (STARDOM)
Se 2023 foi o ano de Rhea Ripley no wrestling a Ocidente, o
ano que está prestes a terminar foi claramente dominado por Saya Kamitani no wrestling
a Oriente.
A Golden Phoenix entrou no ano como Wonder of STARDOM
Champion depois de um 2022 já de si francamente positivo. Mas, por incrível que
pareça – e contra todas as expectativas – Saya Kamitani conseguiu exceder-se em
2023, terminando o ano quase tão bem como o começou – com ouro à cintura.
Do incrível combate com Hazuki nas finais do Triangle Derby
de 4 de Março até ao Cage Match memorável entre as OEDO Tai e as Queen’s Quest
(onde protagonizou um spot incrível ao lado de Utami Hayashishita) sem
esquecer o combate que teve com Mina Shirakawa no All Star Grand Dream Queendom
em Abril, Saya pode até ter perdido o título e estado quatro meses fora, mas
uma coisa é certa: Pelo que entregou este ano, muitos fãs de joshi já a
consideram a “Campeã do Povo”, mais até que um tal The Rock.
#3 – LA Knight, YEAH! (WWE)
Falava-se de Rhea Ripley, falava-se de Saya Kamitani e não se
falava de LA Knight? Ultraje!
A verdade é que faz todo o sentido que o seu nome figure
nesta lista. Não pela sua ascensão em si (o que, mesmo assim, já era razão
suficiente) mas porque a ascensão de LA Knight vai contra tudo aquilo que a WWE
tem feito no que diz respeito aos pushes de wrestlers nos últimos
anos e porque é exemplo de onde o poder de decisão relativamente a pushes deve
verdadeiramente estar: Nos fãs.
Já contra Bray Wyatt muitos tinham visto qualquer coisa de especial,
mas não foi até à altura do Money In The Bank que o seu apoio verdadeiramente
disparou. A partir daí, cada vez que a sua música soa, o público explode em pops
nunca antes vistos e faz ver que o que importa não é a idade, mas sim a
qualidade. Até custa a acreditar que já lhe chamaram Max Dupri…
#2 – Omega vs
Ospreay/Hangman vs Swerve (AEW)
Para mim, os dois combates que marcaram o ano, não só pelo star
power neles envolvido, mas porque deixaram nos fãs aquele gostinho hardcore
pelo qual muitos têm ansiado.
Honestamente, ainda hoje me é difícil escolher qual dos três
o melhor. Talvez, por ordem cronológica, Omega vs Ospreay leve ligeira vantagem,
mas o facto de Hangman vs Swerve no Full Gear ter sido constantemente marcado
por spots como o “Buckshot Lariat” logo no início, ou o Death Valley
Driver no bloco de cimento, as cadeiras envoltas em arame farpado e o spot que
consagra Swerve como vencedor… o difícil é mesmo escolher.
#1 – Cult of Personality (WWE)
CM Punk deve ser o único wrestler da história a
protagonizar momentos tanto bons como maus num curto espaço de tempo. Mas a
verdade é que o fez e arrancou o melhor pop desta década, a par daquele
que marcou o regresso de Edge (nka Adam Copeland) aos ringues no Royal
Rumble de 2020.
Por mais curioso que pareça, a música de entrada de CM Punk
serve-lhe na perfeição: Tem estado no topo das vendas de merch, os seus
segmentos batem recordes nas redes sociais, vai entrar em feud com quem
dominou a WWE na sua ausência… mas o mais importante, já aqui o tinha dito, é
algo muito mais valioso que tudo isto: Phil Brooks parece estar a ganhar
novamente amor pelo wrestling. E só por isso já devemos estar felizes.
Que momentos bons e maus destacam neste ano de 2023?
E assim termina esta já longa edição de “Lucas Headquarters”!
Não se esqueçam de passar pelo nosso site, pelo nosso Telegram… e para a semana
cá estaremos de novo, se tudo correr bem.
Peace and love, até ao meu regresso!!