Lucas Headquarters #114 – Crown Jewel 2023: O bom e o menos bom
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no WrestlingNotícias!!
Seus malandrecos, pensavam que não havia artigo esta semana? Não se livram de
mim assim tão facilmente… Foi tudo uma questão de estratégia.
Como sabem, ontem tivemos o raro privilégio de assistir em
direto a um evento de wrestling. E para quem mora na Europa Ocidental,
isto é um evento tão raro que, quando acontece, ganha contornos especiais. Faz-nos
planear com antecedência, adiar compromissos, faz-nos recusar fazer certas e
determinadas coisas porque “às 17h dá o Crown Jewel”. Quando isso
acontece, temos o direito de, enquanto fãs de wrestling, fazer girar a
nossa vida em torno disso.
E, por muito que sejamos mais ou menos “tribalistas” – se bem que esse é um conceito que nunca vou entender, ainda para mais numa altura em que há tanto e tão bom wrestling para ver – há que admitir uma coisa: Quando estamos perante uma ocasião destas, o nome da empresa é o que menos importa: Seja WWE, seja AEW, seja New Japan, STARDOM, TJPW… o que a malta quer é ver wrestling.
O que nós queremos é estar lá, ser um só com o público que teve mais sorte
que nós e comprou bilhete para ir ver três horas de wrestling. Assim foi
com o All Out em Agosto (e assim será, novamente, em Agosto do próximo ano) e,
mais uma vez, assim foi com o Crown Jewel, aquele evento da WWE que, como
costumo dizer, é mais ou menos como uma consulta de rotina no dentista: Pelo
menos uma vez por ano tem que acontecer.
vem isto a propósito de um facto que, quando chega a altura
do Crown Jewel, eu faço sempre questão de mencionar: Eventos na WWE nas Arábias
é coisa que não me interessa nem um bocadinho. E nem tem a ver com o facto de
ser na Arábia ou noutro sítio qualquer – embora isso também tenha a sua importância
– mas quem tem dois dedos de testa sabe perfeitamente que a WWE nunca vai lá
porque queira, verdadeiramente, promover o wrestling. Isso é uma desculpa
tão básica e tão esfarrapada que muito pouca gente cai dela abaixo.
A WWE vai lá, apenas e só, pelo dinheiro. Desde que se
implementou essa moda, o Crown Jewel é um evento que tem feito sempre sucesso e,
por conseguinte, tem contribuído para estreitar relações entre a WWE e o
mercado árabe (tanto que, quando Vince McMahon pôs o seu “plano” em prática no
início do ano, chegaram a sair notícias (falsas) de que a empresa teria sido
vendida ao Fundo de Investimento Público saudita – uma decisão que, sejamos
honestos, acabaria com esta modalidade conforme a conhecemos.
Mas também é verdade que a WWE não precisa do dinheiro da Arábia Saudita, porque, feliz ou infelizmente, fazer dinheiro não é algo em que a maior empresa de wrestling do globo terrestre mostra dificuldades.
Este
tipo de eventos de wrestling são a demonstração viva de uma das razões
pelas quais investimos tanto tempo a acompanhar tudo o que a esta modalidade
diz respeito: o wrestling, entre muitas outras coisas, é um veículo de
utopia. É uma forma de esquecermos o mundo real, de colocarmos alguma cor num
mundo a preto e branco. E, por menos consensual que possa ser a natureza de
eventos de wrestling na Arábia Saudita, ambas as partes cumprem muito
bem essa missão. Ambas as partes conseguem, num grande esforço coletivo,
conseguem trabalhar para que a malta tenha, pelo menos, o interesse.
Por
essa razão, por muito pouco apelativos que sejam os Crown Jewels que todos os anos por esta altura aparecem no ecrã, eu não consigo passar
sem ver. Nem que seja um ou dois combates que me suscitem mais interesse.
Porque esta conjugação de fatores – a raridade de eventos de wrestling em
direto para quem vive na Europa e o prazer de ver wrestling por si só –
exercem sobre mim um pathos de tal maneira forte que eu não tenho
coragem de o combater – e, para ser honesto, nem quero.
Mas enfim, Crown Jewel 2023. O quinto desta série de eventos na Arábia depois de 2018, 2019, 2021 e 2022 (em 2020 não aconteceu, pelas razões que são do conhecimento geral). Um evento que, como já fiz questão de dizer, não me cativava assim tanto, a não ser pelo combate que opôs LA Knight (YEAH!) a Roman Reigns.
Apanho o evento já in medias res – o combate entre
Drew McIntyre e Seth Rollins tinha acabado de terminar e seguia-se a Fatal
5-Way para determinar a próxima Women’s World Champion – mas ainda assim com
bastante ação pela frente, pelo que o impacto por ter perdido o combate entre
Seth e Drew pelo World Heavyweight Championship não foi assim tão grande.
E acabei, efetivamente, por permanecer até ao final, já
depois das 20h. No geral, posso dizer que o evento em si, não tendo sido nada
de extraordinário, até foi bastante satisfatório. Muitos podem até dizer que os
resultados acabaram por ser aquilo que se previa (e lá terão as suas razões
para isso) mas eu acho que pelo menos um desses resultados pode abrir caminho
para uma feud interessante.
Diria até que o evento foi de tal maneira consistente que ninguém deu pela falta daquele que tem sido um dos grandes wrestlers da WWE (e do qual aqui falei há poucas semanas): Gunther. Tendo em conta a aura que carrega e os combates que tem protagonizado ao longo das últimas semanas (onde entrega performances que facilmente se destacam de tudo o resto), a sua presença só teria contribuído para adicionar mais qualidade ao evento.
Mas ser
um cidadão estrangeiro nos Estados Unidos é uma complicação tão grande, tão grande
que até custa acreditar que seja criada por um país que se diz “land of the
free”, como diz o hino.
Dito isto, e tendo em conta que adiámos estrategicamente o
artigo para um Domingo precisamente por causa do Crown Jewel, aquilo que tenho
para vocês hoje é um rescaldo do PPV. Porque, apesar de tudo, ainda houve
bastantes coisas que há que destacar, que há que dissecar. Momentos que
surpreenderam, que nos deixaram felizes; e outros que nos desiludiram, que nos
deixaram a coçar a cabeça e a perguntar “porquê?”.
Para efeitos de artigo, vamos, pois, dividir a nossa análise
em “positivo”, “assim-assim” e “negativo”. Isto vai ajudar quem não viu em
direto a decidir se é do seu interesse ver ou não, portanto considerem o que se
vai passar a partir daqui como uma espécie de “serviço público” que vos faço
todas as semanas.
Positivo
Rhea Ripley retém o seu título
Este momento tem tanto de “positivo” como de “assim-assim”.
Rhea Ripley – a controversa líder do PWI 250 deste ano – sobreviveu a um
combate que foi quase sempre caótico e de onde foi muito arriscado tirar os
olhos. Não só isso, como, na prática, conseguiu sobreviver à sua mais forte
adversária – literalmente – até agora: Nia Jax.
A parte do assim-assim tem a ver com algo que tem sido muito discutido entre a comunidade de wrestling online em Portugal: Rhea Ripley tornou-se campeã na primeira noite da WrestleMania, derrotando Charlotte Flair naquele que, em termos de wrestling puro e duro, é bem capaz de ter sido o melhor combate do evento.
No entanto, passa metade do ano como valet,
agindo como a verdadeira líder dos Judgment Day mas raramente tomando parte na
ação, acompanhando quase sempre Dominik Mysterio à medida que este se vai
tornando, semana após semana, num dos melhores heels dos últimos anos (e
digo isto sem ponta de exagero).
O que é que a vitória de Rhea Ripley tem de positivo? Apesar
do seu reinado estar a ser pouco convincente (fruto da insistência criativa em colocá-la
como valet), Rhea Ripley reteve o título porque, a esta altura, é
simplesmente a melhor do quinteto que a WWE bookou para este combate.
O que é que a vitória de Rhea Ripley tem de positivo? Apesar
do seu reinado estar a ser pouco convincente (fruto da insistência criativa em colocá-la
como valet), Rhea Ripley reteve o título porque, a esta altura, é
simplesmente a melhor do quinteto que a WWE bookou para este combate.
Se Nia Jax ganhasse, a revolta seria ainda maior, fruto dos famosos
incidentes que protagonizou (sobretudo com Kairi Sane e Becky Lynch, o último
dos quais serviu, paradoxalmente, para cimentar o seu estatuto) e que já lhe renderam
má fama;
Raquel Rodriguez, por muito que continue a melhorar em ringue,
não apresenta uma gimmick que faça clique com a audiência (o que é
essencial para quem ostenta um título com a dimensão do Women’s World Championship)
limitando-se apenas a sorrir e a mostrar os trapézios;
Shayna Baszler e Zoey Stark têm andado meio perdidas no roster,
e nem a ausência de Ronda Rousey tem ajudado a credibilizar a Queen of
Spades.
Portanto, não é surpresa que Rhea tenha saído vencedora da
contenda. Mas parte do resultado também revela a incapacidade da WWE em criar
estrelas, o que faz com que o seu reinado, embora pouco brilhante, ainda seja a
melhor opção e a vitória, ainda que previsível, seja o resultado que mais se
adequa.
O regresso da Princesa Pirata
Já todos sabíamos que ia voltar, só não sabíamos quando:
Kairi Sane regressou à WWE pouco mais de três anos depois de ter saído da
programação da empresa e praticamente dois anos depois do seu contrato na
empresa ter expirado, ela que desempenhou funções mais executivas para a
empresa entre Junho de 2020 e Dezembro de 2021 antes de regressar à STARDOM em
2022.
Um regresso que até confundiu alguns (já que o penteado era
bastante semelhante ao de Dakota Kai) mas ao qual o público presente parece ter
aderido com bastante entusiasmo. Para já, Kairi Sane posiciona-se como aliada
das Damage CTRL, mas talvez a possibilidade de um combate entre IYO SKY e Kairi
Sane na próxima WrestleMania não seja assim tão infundada?
Assim-assim
Logan, campeão?
É uma decisão sobretudo meritocrática: Logan Paul tem
melhorado a olhos vistos dentro do ringue, dando continuidade a um esforço que
tem sido cada vez mais notório desde o Crown Jewel do ano passado, quando
assinou o seu melhor combate até agora ao enfrentar o Tribal Chief Roman
Reigns. Portanto, é justo dizer que, mais tarde ou mais cedo, acabaria por ser
tomada. E, se tivéssemos visto o combate com Rey Mysterio, também não
discutíamos esta mudança de título: Foi um combate onde Logan se apresentou,
mais uma vez, a um nível bastante alto, tendo Rey Mysterio conseguido tirar
tudo o que havia de bom do novo campeão.
A minha relutância com esta decisão tem simplesmente a ver
com o facto de Logan ser, para já, um part-timer. Ora, Roman Reigns já
trabalha a um ritmo suficientemente desacelerado para se poder considerar part-timer,
no entanto já reina como Campeão há mais de 1200 dias e assim continuará, em
princípio, até à WrestleMania.
Ter dois campeões part-timers na WWE é algo
extremamente desencorajador, não só para a audiência (que tem nestes wrestlers
os que mais deseja ver ao vivo) mas também porque há toda uma mão cheia de wrestlers
que trabalham para merecer a oportunidade de uma vida e nunca a chegam a
ter na altura devida, obrigando a WWE a tomar medidas alternativas para
contrariar esse problema (como a criação de novos títulos).
Eu quero acreditar que Logan será apenas um campeão de
transição, entrando para uma feud com LA Knight que permitirá à Megastar
conquistar o ouro. Mas mesmo esse cenário, para aquilo que Logan tem
mostrado, seria extremamente injusto para ele. Já viram o dilema que se criou?
Negativo
A estrela que não deixaram brilhar
Ok, admito, este ponto é um bocado “mentiroso”. Não é que não
tenham deixado brilhar LA Knight, porque ele brilhou, efetivamente. Não lhe
deram foi tempo para que ele brilhasse ainda mais do que brilhou. Isto tendo em
conta que os combates de Roman Reigns têm, quase todos, durado meia-hora a
quarenta minutos. Este durou… sensivelmente metade.
Foi um combate que senti que foi feito à pressa, onde não
houve tempo para que a história pudesse ser contada como deve ser. Para não
falar que fizeram exatamente o mesmo que costumam fazer, mas desta vez numa
escala ligeiramente maior: Já o combate tinha passado dos 10 minutos e já Solo
Sikoa e Jimmy Uso tinham feito sentir a sua presença.
Não só o combate foi demasiado previsível (como sempre) como não
deram a LA Knight condições para levar o público a acreditar que era possível,
para além de um BFT seguido de um pin onde Jimmy pôs os pés de Roman na
corda inferior.
Muitos dirão que o push de LA Knight não sai
comprometido porque, de qualquer maneira, a derrota dele não é “limpa”. Mas eu
não consigo deixar de pensar que Knight sai da Arábia um pouco
descredibilizado, porque não lhe deram tempo para mostrar o que vale.
O que acharam do Crown Jewel este ano? O que destacam de bom
e de mau no evento?
E assim termina mais
uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site,
pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a
semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!