Lucas Headquarters #113 – Cinco stables que nos fazem (ou fizeram) arrepiar a espinha
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Bem-vindos sejam a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no Wrestling Notícias!! Chegámos, enfim, ao final do mês de Outubro, o que quer dizer que está aí o Halloween. E, por muito que o Halloween seja algo divertido de se celebrar, há sempre “bela com senão”.
Portanto, tenho más notícias para vos
dar: O processo de descongelamento da Mariah Carey está quase completo, e a
partir desta quarta-feira já vamos poder passar a tarde a ouvir “All I Want For
Christmas Is You” passar trezentas mil vezes nas rádios nacionais. E atenção,
eu gosto bastante do Natal, é a minha época favorita do ano, mas aquela música,
de tão cringe que se tornou, consegue fazer qualquer um virar o Grinch…
Adiante. Halloween. Palavra inglesa que vem da
expressão All Hallow’s Eve, que em português quer dizer “Noite de Todos
os Santos” e que corresponde, por isso, à noite que antecede o feriado católico
que se comemora todos os anos a 1 de Novembro e que tem como uma das suas
principais tradições a lembrança aos que já partiram, através de variadas
homenagens, simples ou complexas.
O que é que toda esta descrição tem a ver com o artigo de
hoje? À partida, nada. À partida, tudo.
À partida nada porque vai-se a ver e esta descrição que vos
fiz não acrescenta absolutamente nada ao que aqui está escrito a não ser o
contexto cronológico em que o artigo se insere. À partida tudo porque, estando
em semana de Halloween, fugir a este tema seria ficar um pouco a
destoar, mesmo que o autor deste artigo não seja o mais fervoroso adepto desta
data, e que a ele lhe pareça que só será justo celebrar o Halloween quando
os americanos passarem os três meses de Verão a dançar e a fazes comboinhos nas
ruas ao som da tão ilustre discografia de artistas como Quim Barreiros, Rosinha
ou o já falecido Leonel Nunes.
O wrestling não é um desporto que seja conhecido por
ser terreno fértil para gimmicks do género gótico/suspense/terror. Para
já, porque muitas das gimmicks que se inserem nestes três campos são,
não raras vezes, cópias descaradas de gimmicks originais que deixaram
marca.
Vou dar-vos um exemplo: Mordecai. Vocês lembram-se, o tal que
começou como um ultrarreligioso que apontava todo e qualquer pecado que
audiência tivesse cometido (numa atitude que, talvez, já demonstrava algum
excesso de zelo) e que, ainda antes da WWECW se tornar quase numa brand de
desenvolvimento, havia de causar algum impacto como o vampiro chamado Kevin
Thorn.
A intenção da gimmick era nobre e, até, bastante
interessante, já que passava por dar ao macabro Undertaker um seu contrário que
fosse capaz, dali a uns meses, de rivalizar com ele. Era basicamente o conceito
inverso daquele que Mark Calaway popularizou, na altura, ao largo de quase uma
década e meia. E a construção de Mordecai até ao ponto em que se encontraria
com Undertaker até estava a ser mais ou menos bem feita: Promos típicas de uma
personagem daquela natureza, e foco nos jobbers ou wrestlers fisicamente
mais fracos para poder causar impacto.
Mas ao mesmo tempo era fácil constatar que era uma gimmick
muito unidimensional, e que não seríamos capazes de arrancar das mãos de
Kevin Fertig muito mais do que o que tinha acontecido durante aquele curto
período, isto a não ser que, como veio a suceder, lhe mudássemos quase
radicalmente de personagem.
E esta é a segunda razão: O mais importante não é a gimmick,
ou o seu conceito, ou caraterísticas. O mais importante é o homem que a faz. Eu
sou suspeito para falar, dark gimmicks (ou gimmicks que
apresentem uma forte componente psicológica) sempre foram das coisas que mais
me atraiu no wrestling, quanto muito porque são muito mais complexas do
que as gimmicks do lado “da luz” – vamos pôr assim. E mesmo quando não o
são assim tanto, muitas vezes quem faz a diferença ao encarnar esse tipo de
personagens é o homem por detrás do seu papel.
Tivessem dado a outro gajo qualquer a gimmick de (agente
funerário) morto-vivo que Mark Calaway popularizou durante trinta anos e esta
não teria durado nem seis meses, talvez.
Tivessem dado a outro gajo muito menos erudito a gimmick de líder
de culto que deram ao Bray Wyatt (ou alguma que misture transtorno de
personalidade e terror ou horror) e nenhuma delas teria feito tanto impacto
(especialmente a última).
Mas respondendo à vossa pergunta em relação ao porquê das dark
gimmicks serem, na minha ótica, mais complexas, devo dizer que a razão é
simples, e de tão simples que é, pode até ser facilmente refutável: Muitas
vezes as dark gimmicks, para extrair verdadeiramente o elemento dark,
não recorrem às referências do mundo do fantástico que muitas vezes são
exploradas (e por referências do mundo do fantástico, entenda-se algo que tenha
a ver com vampiros, lobisomens e zombies, as criaturas fantásticas por excelência,
e que tantas vezes são retratadas na (sétima) arte).
Por incrível que pareça, as dark gimmicks na sua
esmagadora maioria recorrem a fontes literárias (como livros de H.P. Lovecraft
ou Edgar Allan Poe), a filmes do género terror/suspense (por exemplo, Final
Destination) ou até a gimmicks do passado nos quais se podia extrair
algum elemento mais… terrorífico – quantas referências a Waylon Mercy não fez
Bray Wyatt no desenvolvimento das suas duas maiores gimmicks?
A questão é que, muitas vezes, um homem só pode não chegar
para que uma dark gimmick faça sucesso. Podem até existir casos em que o
papel desempenhado funciona de forma igualmente perfeita a solo, mas quando
juntamos à equação mais dois ou três ativos, a coisa roça mesmo a perfeição.
Por essa razão, hoje não vou entrar pelo caminho dos clichés
e falar-vos de “cinco dark gimmicks que ficam na História” ou algo igualmente
banal. Isso seria cair em redundância e dedicar sempre 80% aos nomes de que
todos nos lembramos e que até já foram mencionados aqui.
E foi então que pensei: Como o Halloween em si é uma atividade feita quase sempre em
grupo (há lá quem faça doçura ou
travessura sozinho?) porque não dar
destaque ao coletivo em vez de insistir no individual? Teria muito mais lógica, não é?
Pois sendo assim, o exercício que vos
proponho neste fim de semana é que viajem comigo pela história de cinco dos
grupos mais assustadores que o wrestling já teve.
Como sempre, ignorem olimpicamente a ordem que aqui vos aparece: Não quer dizer
que o número 5 seja a stable menos macabra
entre as que aqui vão estar, nem que a número 1 seja a mais macabra e que não haja
outras ainda piores. Mas as coisas têm que se organizar de alguma forma, não é?
Estão prontos? Então boa viagem…
se tiverem coragem!!
#5 – Los Psycho Circus (AAA)
Esta é, se calhar, a mais
desconhecida de todas as entradas que vão encontrar neste top 5 - razão pela
qual aparece tão em baixo nesta lista – mas isso não lhe tira, de maneira
nenhuma, a malvadas.
Los Psycho Circus foram uma das
grandes atrações do final da primeira década do século na empresa mexicana AAA
(Asistencia, Asesoría y Administración) e eram,
simplesmente, três enmascarados que
encarnavam a gimmick de horror clowns e se chamavam,
precisamente, Psycho Clown, Monster Clown e Murder Clown (houve mais uns quantos,
mas estes eram os três principais).
Foram duas vezes AAA World Trios
Champions e ainda os últimos Mexican National Atomicos Champions da História (Mexican
National Atomicos Championship era um título destinado a ser ostentado por
equipas de quatro wrestlers – os atómicos, como são chamados na lucha libre).
Estrearam-se em 2007 e separaram-se
em 2016, quando Monster Clown e Murder Clown viraram costas ao Psycho Clown
para formarem parceria com Pagano – um wrestler que, se
virmos bem, não tem maneirismos muito diferentes destes três, quanto muito, o
conceito menos dark a que o
podemos associar é a um Demon Finn Bálor
mexicano.
Ficam na história da lucha libre por uma streak de
proporções quase semidivinas – seiscentos (!!!) combates sem perder desde a sua
estreia, a 14 de Dezembro de 2007, até ao dia 5 de Dezembro de 2010, o que
significa uma onda invicta de quase três anos. Facto que não surpreende,
afinal, quem é que se atreveria, no seu perfeitíssimo juízo, a fazer frente a
tão medonhas criaturas? Eu nunca mais dormia descansado…
#4 - Disciples of the New Church (NWA: TNA)
Nos primórdios daquilo que viria a
ser a TNA (mais tarde IMPACT, e novamente TNA a partir de Janeiro) surgiu
aquela que eu considero uma das primeiras stables dentro do
espectro dark a ganhar um considerável tempo de
antena (quais terão sido as outras? Não é difícil adivinhar!).
O conceito, quando comparado com a
Ministry of Darkness, era muito mais gótico do que macabro (pelo menos não implicava
a existência de sacrifícios de uma forma tão destacada), mas ainda assim havia
algumas semelhanças: Por exemplo, na sua primeira promo perante Ken Shamrock (o
NWA Champion da altura), Father James
Mitchell dizia estar numa missão dada por Deus (que era um Deus só dele, não do
público) e que para isso, os seus discípulos iriam assegurar que a sua
organização controlava o destinos do NWA World Heavyweight Championship.
Se os Disciples tiveram o mesmo
impacto dos Ministry uns anos antes? Provavelmente não. Mas estar frente a
frente com o campeão da altura foi uma excelente maneira de causar impacto.
#3 – The Brood (WWE)
“Quais terão sido as outras”?
Antes de ter havido Disciples,
tivemos os Ministry; e antes dos Ministry, tivemos os The Brood. E os The Brood
foram a verdadeira definição de uma stable de conceito simples mas eficaz que
marcou uma era e fez imenso sucesso.
O conceito dos The Brood era nada mais nada menos do que… um
simples clã de vampiros. Gangrel ao centro, carregando um cálice de sangue; Edge
de um lado e Christian do outro (no tempo em que este último ainda não tinha
descoberto como adotar filhos de pais mortos).
Os The Brood são, também, um exemplo de como os pequenos
detalhes eram uma importante fonte de carisma: Fosse pela entrada em que Gangrel
bebia do seu cálice e depois cuspia o sangue perante o público, fosse
pela questão dos “banhos de sangue”, que aconteciam antes ou depois dos
combates, e que consistiam simplesmente em banhar um dos seus adversários em
sangue depois de apagadas as luzes.
O que é certo é que todo este sucesso lhes deu, como
recompensa, a oportunidade de trabalharem ao lado de Undertaker (que já naquela
altura era nome respeitado no balneário) e de fazerem parte da Ministry of
Darkness. Se, numa primeira fase, foram alvo de toda a proteção por parte do
seu malvado líder (até foram eles quem desceu a corda naquele spot do
enforcamento do Big Boss Man, na Wrestlemania XV), a verdade é que também
foram, muitas vezes, alvo de pancada (por castigo ou por lealdade).
Num desses casos, Undertaker obrigou-os a sacrificar
Christian e Ken Shamrock como prova de lealdade, que Edge e Gangrel recusaram e
atacaram os Acolytes e virando costas aos Ministry – sendo os únicos a fazê-lo
antes da fusão com a Corporation.
Tudo isto voltou a colocar os The Brood em primeiro plano, mas
o regresso à ribalta não durou muito, já que pouco depois veio a feud com os Hardy
Boyz que ditou a separação.
#2 – House of Black (AEW)
Numa edição deste espaço que escrevi em Março passado, disse
que os House of Black foram “o culto que deu certo”: Seja pela gimmick em
si, pela forma como se complementam, por aquilo que o passado de Malakai Black
pode dar à stable…
Mas outra das provas de como a House of Black faz bom uso da
sua gimmick está naquilo que levou Julia Hart a fazer parte do grupo.
Julia Hart fazia inicialmente parte dos Varsity Blondes, até que estes se viram em feud com os House of Black. Hart teve a infelicidade – ou talvez não – de ser atingida com o black mist de Malakai Black, e esse foi o detalhe que bastou para mudar a sua personagem.
Depois disto, Julia Hart juntou-se ao “lado negro” que
batalhara até ali. Mas o busílis aqui é precisamente todo o processo que leva até
aí, e que não só é deliciosamente macabro e maravilhosamente bem contado como
é, de certa forma, uma excelente lembrança daquilo que Bray Wyatt fazia nos
seus tempos da gimmick de Firefly Funhouse.
Hoje em dia, Julia Hart é aquele elemento – perdoem o piropo –
fatalmente sexy, que acrescenta uma camada de sedução fatal ao grupo. Mas não
nos iludamos, mesmo antes de Julia Hart, os House of Black tinham todo o mérito
para figurar neste top 5.
#1 – Ministry of Darkness (WWE)
Quando o assunto é stables e terror/suspense, claro
que o número um da lista tem obrigatoriamente que ser Ministry of Darkness. Os
Ministry of Darkness representam Undertaker no sentido mais macabro possível,
um macabro que, mesmo estando em plena Attitude Era, era algo impensável
para muitos.
No curto período em que Undertaker foi líder de um verdadeiro
culto, houve maldades para todos os gostos: O embalsamamento de Steve Austin, o
sacrifício a Mideon, o já citado enforcamento a Big Boss Man, o “casamento” com
Stephanie McMahon… enfim, o difícil é escolher.
Talvez o grande mal desta stable tenha sido a sua
curta duração (finais de 1998 – meados de 1999) mas o facto da sua existência
ter sido relativamente curta faz com que este seja dos períodos que os fãs que
o presenciaram na primeira pessoa recordam com mais nostalgia, bem como o
período em que o conceito de Undertaker foi aplicado numa dimensão que
muitos tentaram replicar, mas não conseguiram chegar lá perto.
Qual é a vossa stable macabra favorita deste top 5?
Deixem a vossa opinião na caixinha dos comentários aí em
baixo, que o “Lucas Headquarters” desta semana fica por aqui. Para a semana,
como habitual, cá estarei para mais um artigo!
Peace and love, até ao meu regresso!!