Lucas Headquarters #105 – All In 2023: Fez história e fica na história
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão?
Sejam bem-vindos a mais uma edição de “Lucas Headquarters” aqui no
WrestlingNotícias, a primeira deste nono mês do ano que agora iniciamos. Porra,
se este ano passou rápido! Ainda ontem parece que era Janeiro, e estávamos a
fazer previsões para tudo e mais alguma coisa, e daqui a três meses já
estaremos a preparar tudo para mais um Natal, à medida que fazemos a
retrospetiva do ano que termina. Mas isso ficará para Dezembro, evidentemente.
Hoje, como seria de esperar, venho ter com vocês para fazer o
rescaldo do All In. Isto apesar desta noite ser noite de Payback, o PPV de
Setembro da WWE.
O All In evento que, na sua generalidade, foi “montado” com
bastante cuidado, com bastante brio, com bastante ponderação, diga-se;
chegou-se às últimas duas semanas e tinha apenas uns cinco combates marcados,
mas, no geral, acabou por cumprir e por elevar bastante a fasquia, sobretudo
quando de quando em vez lá chegam notícias de que a WWE planeia fazer uma
Wrestlemania em solo europeu.
E sim, sabemos que esse cenário só se concretizará, no mínimo
dos mínimos, em 2026. Portanto, podemos cair na tentação de pensar que “ainda
falta muito tempo”. E é verdade, faltam cerca de dois anos e meio (o que,
apesar de ser, na teoria, tempo suficiente para que esse cliché seja
minimamente credível, é uma ínfima partícula de tempo que irá passar num piscar
de olhos).
No entanto, e como deixei implícito ainda agora, preparar um
evento de wrestling requer muito cuidado, muito brio e um grau de
meticulosidade que muitas vezes não vemos noutros desportos ou noutras áreas do
entretenimento.
É preciso preparar as possíveis storylines e escrevê-las de uma maneira que possa fazer sentido, para quem executa e para quem vê. É preciso reservar o sítio onde o evento vai acontecer – o que, bem o sabemos, acontece sempre com a devida antecedência.
No caso da Wrestlemania,
pode até chegar quase a um ano – se bem me lembro, foi em Outubro, por altura
do Extreme Rules, que foi anunciado que a Wrestlemania 40 teria lugar em
Filadélfia. Para não falar de toda a preparação logística que um evento desta
envergadura deve ter, e que, dada a sua natureza óbvia, não vale a pena vir
aqui especificar.
Portanto sim, não nos doa a cabeça até 2026 e depois disso,
muita água vai correr debaixo da ponte e sabemos lá se a All Elite ainda
existirá quando chegarmos a esse ponto do calendário (não é que esteja com o
rabo de tal maneira apertado que tenha de deixar de existir, mas as coisas no wrestling
dão sempre voltas enormes).
Mas eu diria que a WWE tem que começar a pensar se realmente
quer avançar para uma Wrestlemania em solo Europeu, porque a AEW colocou as
coisas numa fasquia… não diria inultrapassável (porque para a WWE não é difícil
meter o mesmo número de pessoas que a AEW meteu dentro de um estádio, senão até
mais) mas num nível muito alto.
Comecemos precisamente por aí: o público. Como disse
ainda agora, não é difícil para a WWE colocar oitenta mil pessoas dentro de um
estádio, diria até que 81035 pessoas é um número acessível, muito acessível
para a WWE.
Mas quando falo no público, não falo no número de pessoas que se colocam dentro de um estádio para assistir a um evento, se fosse por aí estávamos nós bem, e a WWE, pela dimensão que tinha, saía sempre por cima.
Falo
na relação hype/qualidade. E o que é isto, perguntam vocês? É algo do
mesmo género da relação preço/qualidade de um produto. Imaginem vocês
que pagavam centenas de euros para ver essa tal Wrestlemania em solo europeu, e
afinal aquilo não correspondia nada ao que vocês pensavam: Segmentos sem nexo,
combates que prometiam muito e entregavam pouco… enfim, um fiasco. Não
justificava o vosso investimento, pois não?
E aí é que entra o fator do público. Porque o difícil, minha
gente, não é colocar oitenta mil pessoas dentro de um qualquer estádio ou de
uma qualquer arena – existe gente que, independentemente da má qualidade de um
produto de wrestling, estará lá de qualquer forma. O difícil é
satisfazer esse público.
Porque uma coisa que este florescer do mundo do wrestling nos trouxe de bom, apesar de todas as guerrinhas nas quais perdemos tempo a tentar ver qual das empresas é melhor, é que nos fez aumentar a exigência daquilo que queremos ver.
Deixamos de admitir a mediocridade que, durante muitos anos, criticamos (sobretudo no que diz respeito à WWE). Deixamos de nos contentar com o aforismo do “pá, só que façam isto já é bom.” e passamos, quase nós, a fazer uma chantagem emocional com quem está por trás das cortinas (não que seja correto, mas nestes casos, muitas vezes costuma funcionar).
Mas isto é apenas o superficial. É apenas a análise ao
impacto que quem vai ver um evento como o All In pode ter no seu sucesso, e
acreditem, é um papel tão fundamental quanto o dos wrestlers. Agora
vamos, pois, àquilo que está por baixo da superfície, aquilo que é a derme
disto tudo. E comecemos por um deja vu, shall we?
Ele, ele, ele, sempre ele…
Se bem se recordam, há exatamente um ano a esta parte, eu fiz
uma análise em duas partes a um incidente que aconteceu depois do All Out e que
envolveu CM Punk e os Young Bucks. Nessa altura, CM Punk criticou duramente os
Vice-Presidentes Executivos da empresa (bem como Kenny Omega, também ele EVP) e
envolveu-se em cenas de pancadaria no backstage. O resultado, pois
claro, é que foi tudo suspenso, não só os intervenientes ditos “diretos”, senão
outros também potencialmente implicados: Pat Buck, Christopher Daniels, Michael
Nakazawa, Brandon Cutler e ainda Ace Steel.
Volvido um ano, vira o disco e toca (quase) o mesmo. Antes do
evento propriamente dito, Punk voltou a molhar a sopa, só que desta vez o
visado foi Jack Perry. Tal como sucedeu há um ano atrás (e segundo relatos de
testemunhas oculares) também houve contacto físico, mas as coisas atingiram
contornos bem mais gravosos.
Depois do dito incidente, CM Punk avançou furiosamente em
direção a Tony Khan, tendo gritado e proferido injúrias ao presidente da
companhia, dizendo que “desistia” e que “odiava a AEW”.
Primeiro: CM Punk armou confusão há um ano, foi suspenso, mas teve a benesse de estar a lidar com uma lesão, acabou por voltar, fez uma promo épica em toda a linha e reformulou (kind of) os CMFTR, pelo que se pode dizer que se ficou a rir, de alguma maneira.
Depois disto, o que lhe reserva o futuro? Não se sabe.
Sabe-se, sim – e aqui entra o segundo ponto - que Punk é repetente nestas
situações e que a AEW é a única tábua de salvação de uma carreira que tinha
tudo para ser brilhante, mas que vai ser sempre recordada pelas polémicas dos
últimos anos.
A semana do All In ficou marcada por duas partidas: Terry
Funk deixou-nos na quarta-feira aos 79 anos, mas 24 horas depois o mundo do wrestling
chorava aquela que foi, sem dúvida, a mais repentina, inesperada e chocante
perda desde aquela que ocorreu no já longínquo 13 de Novembro de 2005, quando
Eddie Guerrero deixou este mundo no auge da sua capacidade e com 38 anos
contados.
A inesperada morte de Bray Wyatt lançou uma valente onda de
choque em todo o mundo do wrestling, cujo impacto deverá levar uns bons
meses a ser debelado, tanto por aqueles que o admiravam todas as semanas como
por quem com ele trabalhou de perto.
Mas – voltando um pouco ao elogio fúnebre que escrevi a
Windham Rotunda há sete dias atrás – talvez o elemento que realmente define o
quão consensual e amado ele era neste nosso mundo louco é que os tributos e as
homenagens à sua pessoa chegam de todos os quadrantes e de todas as empresas, o
que não é, de todo, vulgar, sobretudo quando no wrestling existe sempre
uma espécie de paz armada, isto é, aparentemente está tudo bem, mas ao
mínimo deslize, ao mínimo erro de booking, à mínima storyline que
não é contada da maneira que os fãs pedem toda a gente se apressa a cascar – é
mesmo esta a expressão – no concorrente mais próximo, quando muitas das vezes
não tem moral para isso.
As homenagens ao Bray são reveladoras de que estávamos, de facto, perante alguém que fez muito mais do que apenas lutar ou fazer promos intrigantes, mas verdadeiras e geniais. Bray Wyatt foi um homem que inspirou outros wrestlers a fazer o que quiserem com a sua criatividade, a irem para lá dos seus próprios limites, e foi alguém que definiu o que era wrestling partindo do mesmo amor que um fã que não é mais do que um funcionário público tem por esta modalidade. Podem ver a homenagem da Renee clicando aqui.
Malakai Black é disso exemplo, já que a House
of Black é vagamente inspirada naquilo que foi a Wyatt Family. Foi, aliás,
a House of Black quem carregou um dos sempiternos símbolos do Bray: A lanterna
que iluminou o seu caminho até ao lugar onde se contam todas as histórias,
acompanhada por milhares de fireflies que deixaram, em uníssono, brilhar
aquela luz, nem que fosse uma derradeira vez.
Friends will be friends
Podia destacar aqui o combate entre os FTR e os Young Bucks,
que foi um hino ao tag team wrestling. Podia destacar aqui o combate
entre Will Ospreay e Chris Jericho, que foi o confronto perfeito entre a
ofensiva high flying de Ospreay e a experiência que se renova a cada dia
no Y2J. Mas vou destacar o MJF vs Adam Cole pelo AEW World Championship.
E faço-o simplesmente porque o combate não correu como eu esperava que corresse. Não se preocupem, a qualidade não é problema, essa foi de topo e não se esperava outra coisa.
Falo, por exemplo, dos momentos finais do combate em que aparece Roderick Strong e Adam Cole, seu amigo de longa data, fica na dúvida. Há ali breves momentos em que os fãs ficam em suspense, Adam Cole parece estar decidido a trair MJF… mas faltou-lhe coragem e pesou-lhe o facto de terem ganho os ROH Tag Team Championships no início do PPV.
E por isso digo que o combate não correu como eu esperava. Eu disse-o em off – e penso que todos concordam comigo – toda a gente esperava que Adam Cole traísse MJF, já que este último está a dar os primeiros passos como babyface e, até agora, não tem deixado a desejar.
Mas o
facto de tal não ter acontecido pode até deixar aberta a possibilidade disso
acontecer, mas mais tarde; ou de simplesmente, ambos os indivíduos disfrutarem
de uma bela run como campeões e melhores amigos, embora essa
possibilidade me pareça um pouco… insossa, no mínimo.
Em suma, pode dizer-se que o All In fez história e fica na História.
Fez história porque, pelo menos até à hipotética Wrestlemania na Europa, deixa
uma marca como o maior show de wrestling de sempre, seja em
termos de público, de magnitude, hype…. E é precisamente por isso que
fica na História: Porque, ao querer fazer a tal Wrestlemania na Europa, a WWE
terá uma fasquia muito alta para ultrapassar, embora, volto a realçar, não seja
difícil pôr 80 mil pessoas dentro de um estádio. It’s getting
them to book such show that’s the trick.
E vocês, o que acharam do All In e que momentos destacam do
PPV?
E assim termina mais
uma edição de “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo nosso site,
pelo nosso Telegram, deixar a vossa opinião aí em baixo… o costume. Para a
semana cá estarei com mais um artigo!!
Peace and love, até ao meu regresso!