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Lucas Headquarters #80 – Tronos no Horizonte


 

Ora então boas tardes, comadres e compadres! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição dos “Lucas Headquarters”, um maravilhoso espaço de divagação (às vezes séria, às vezes não) aqui no WrestlingNotícias!! Oito dezenas de edições… estamos a atingir números cada vez mais redondos e, se tudo correr bem, lá para o Verão chegaremos à centena! Como dizem os nossos amigos ingleses… it’s been a ride! 


Mas essas lamechices guardá-las-ei lá para Julho, quando evidentemente atingirmos esse número, até porque eu nem sou gajo de ligar muito a essas coisas, eu sou quero escrever e/ou falar sobre wrestling.


Na edição de hoje vou falar-vos de um velho conhecido nosso (que no entanto não é nenhum wrestler) e que se tornou uma das marcas da então WWF no início da sua expansão, nos anos 80 e 90. Isto porque, ao longo desta última semana, semana e meia (mais coisa menos coisa) correram por aí notícias de que a WWE traria de volta o torneio do King of the Ring, que deverá ter lugar no próximo evento que a empresa realizar na Arábia Saudita (se a memória não atraiçoa, tal evento está marcado para 27 de Maio).


Prognósticos, análises e antevisões, fá-las-emos em alturas mais oportunas, porque agora estamos a entrar na silly season da Road To Wrestlemania, começamos também a falar do WWE Hall of Fame, vamos ter o Cinderella Tournament da STARDOM já no fim deste mês, portanto não nos faltará assunto para falar.


Para esta semana importa recapitular um pouco da História do Torneio (não que vocês não a saibam, mas convém sempre dar algum contexto) e, mais importante ainda, tentar perceber porque é que aquela que foi a “rampa de lançamento” de tantos wrestlers e futuras estrelas – Steve Austin ou Booker T, por exemplo – não está a ser tão eficaz a lançar gente para o topo como antigamente.









O King of the Ring, na sua mais verdadeira essência, é o mais próximo que a WWE tem daqueles torneios que, periodicamente, vão alterando as dinâmicas do wrestling japonês. A STARDOM e a NJPW usam, respetivamente, torneios como o já supracitado Cinderella Tournament, o 5 STAR GP e o G1 Climax para refrescar o roster e lançar novos nomes para o topo.


Basta ver, por exemplo, no caso do Cinderella Tournament, as maravilhas que fez pela jovem carreira de uma igualmente jovem MIRAI, que tinha acabado de se fazer notar não havia um par de meses, tinha sido levada por Syuri para a sua stable e tinha acabado de ganhar o direito a ter o combate que quisesse, quando quisesse. 


Ora, parece-me a mim que só é possível colocar esse tipo de decisões nas mãos de dois tipos de wrestlers: Ou wrestlers em quem se confia muito (como seria, por exemplo, um Jon Moxley ou um Kofi Kingston) ou wrestlers em quem se vê um grande futuro.






O King of The Ring não era esse tipo de torneio, ou seja, a vitória de um certo wrestler e a sua “coroação” como Rei (e nos últimos anos, também como Rainha) era meramente simbólica, e no fundo o prémio era um push que tanto podia levar um wrestler às estrelas e torna-lo – passo a redundância – numa estrela – como podia acabar abruptamente, tirar um rumo à sua carreira e transformar esse wrestler num jobber. Mas já lá iremos.


O Torneio em si aparece, como já tinha dito, em 1985 – Don Muraco faz história e torna-se no primeiro “King of the Ring” de sempre – mas em 1993, tal torneio ganha novo estatuto e passa a PPV, ocupando o mês de Junho. Mantém-se nesse formato até 2002 (depois disso volta ao formato torneio) e reaparece como um evento transmitido no formato PPV em 2015, tendo a edição de 2019 sido a última vez – até este ano – que vimos tal iniciativa no ecrã.




A sua popularidade no final dos anos 80 e meados de 90 era de tal forma grande que o King of the Ring enquanto evento que foi chegou a ser considerado como o quinto Grand Slam – ao lado do Royal Rumble, Wrestlemania, Summerslam e Survivor Series, cronologicamente ordenando. Portanto seria difícil, nessa data, de prever que tão popular evento/torneio acabaria por cair quase irremediavelmente no fundo do poço.


Posto isto, voltamos à questão inicial: Porque é que o King of the Ring falha no seu propósito? Há uma série de razões para que se possa responder a esta questão, todas elas intrinsecamente válidas. 


A primeira razão tem a ver com o que acontece imediatamente depois do fim do torneio, ou seja, há a coroação do vencedor como Rei (simbolicamente falando) e logo a seguir o dito wrestler acaba por incorporar traços régios na sua gimmick. Assim aconteceu com Booker T, Wade Barrett, Xavier Woods e Baron, Happy, Sad, Lonely, Angry, Stubborn, every adjective there is-Corbin. Todos estes acabaram por adotar uma gimmick de verdadeiros reis, alguns com direito a trono, decretos reais e uma corte ao vivo e a cores.



O principal problema – ou problemas – que esta mudança tem é que é feita de uma maneira repetitiva e sem seguimento algum (tomando o elemento régio, muitas vezes, uma proporção cómica e depreciativa aos olhos da audiência) e acaba quase sempre por ser atribuída a wrestlers por quem o público já perdeu o interesse devido a um mau booking no passado. Aliás, dos nomes que mencionei, apenas Booker T e Xavier Woods conseguiram “contornar” essa perda de interesse, mas isso leva-nos à segunda razão.


Como todos sabemos, uma das grandes componentes do wrestling, sobretudo do wrestling ao estilo de entretenimento desportivo como é o caso da WWE, reside na habilidade dos wrestlers e encarnar uma – e muitas vezes várias – personagens ao longo da carreira. 


Mas nem toda a gente é um Undertaker, que em matéria de meses passa de líder de uma seita a um motoqueiro que vai às concentrações de Faro, e muito menos um Booker T, que misturou os atributos régios com uma atitude heel com pinceladas de street thug e se tornou no mais memorável vencedor do King of the Ring dos últimos tempos.






Quer isto dizer que nem toda a gente consegue encarnar uma gimmick régia de uma maneira que nos convença. E, no fim de contas, não há mal nenhum com isso, nem toda a gente tem que ser um excelente ator. Mas a incapacidade de alguém em encarnar um personagem específico é algo que se vê à distância. Desse modo, não se deve insistir na ideia de ter alguém a vestir papel de Rei só porque sim. Recordo-me agora do caso do supracionado Wade Barrett, que me parece que só foi King Of The Ring porque veio de um país com tradição régia por natureza…




O King of the Ring aparece, enquanto torneio e evento numa altura em que conceitos como o Money In The Bank ou a Elimination Chamber ainda estavam longe de ser uma realidade, ou seja, o King of the Ring era a única maneira que a WWE tinha de, na altura, preparar os próximos porta-estandartes da empresa. 


Com o aparecimento destes dois tipos de combate (sobretudo do Money In The Bank, que dá uma oportunidade virtual pelo Título Mundial ao seu detentor) o King of the Ring perde muita importância como rampa de lançamento dos wrestlers, pelo que a WWE acaba também por deixar de investir nele.




E é isto que não se compreende. A WWE parece, durante as últimas edições, ter perdido o interesse no conceito do King of the Ring. E tudo bem, com as oportunidades de que dispõe para lançar novos nomes, é natural que tal torneio caia quase no esquecimento. 


Mas se a WWE, nos últimos anos, não tem demonstrado interesse nisso, porque é que se lembra, do dia para a noite, a realizá-lo? É que, a julgar pelo que tenho visto, o destino do vencedor já está mais do que traçado… lower card, despedimento, sucesso na AEW, recontratação, vitória num torneio do mesmo género, repetir.


E vocês, o que acham da decisão da WWE em voltar a realizar o “King of The Ring” e a fazê-lo na Arábia Saudita?


E assim termina mais uma edição dos “Lucas Headquarters”! Não se esqueçam de passar pelo site do WN, pelo nosso Telegram, deixem opiniões aí em baixo, sugiram temas, o costume. Para a semana, se tudo correr bem, cá estarei com mais um artigo.


Peace and love, e até ao meu regresso!  



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