Lucas Headquarters #61 – 5★Star Grand Prix 2022: As revelações, as desilusões, a vencedora e as vencidas
Ora então boas tardes, comadres e compadres!! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição dos “Lucas Headquarters”, aqui no WrestlingNotícias! Pois é, meus amigos: Já entrámos em Outubro, o Halloween está à porta (eu não acredito em bruxas, mas que as há…) e os próximos meses serão meses de grandes expectativas e grandes decisões (sobretudo no que toca ao indie wrestling). E é precisamente no campo do indie wrestling que nos vamos manter e, vejam lá vocês, nem sequer vamos sair do Japão (onde chegámos na semana passada com o artigo sobre a vida do falecido Antonio Inoki).
Tal como deixei no ar há duas semanas atrás, trago-vos hoje o
rescaldo da subida à Escadaria para o Paraíso que vinte wrestlers da STARDOM
tentaram encetar ao longo de dois meses, desde 30 de Julho até ao passado Sábado,
1 de Outubro. A décima primeira edição do 5 STAR Grand Prix terminou com altas
doses de emoção e incerteza e, em linhas gerais, posso dizer que cumpriu com o
excitante propósito com que se apresenta, e ao longo desta edição terão a oportunidade
de ver porquê.
Agradáveis surpresas, inesperadas desilusões, remontadas
épicas… Esta edição do maior torneio deste beemote do wrestling feminino
teve tudo e mais alguma coisa, mas a melhor parte – e complementando a ideia de
que o 5 STAR GP cumpriu com o seu papel – é que nunca chegámos a antever
antecipadamente o vencedor, isto é, nunca chegámos ao fim do primeiro mês de
torneio a dizer “já está, é x que vai vencer”. Bem pelo contrário: Houve
emoção até ao fim, e no caso das Red Stars só mesmo no último dia é que o bloco
ficou decidido.
Antes de avançarmos para uma análise mais específica, vale a
pena recordar as wrestlers que deram corpo aos dois blocos: Blue Stars
Block e Red Stars Block, assim como quem venceu e foi vencida na edição do ano
passado.
Blue Stars Block: Giulia, MIRAI, Mayu Iwatani, Suzu Suzuki, Hazuki,
Saya Kamitani, Starlight Kid, Natsupoi, Momo Watanabe, Ami Sourei, Mina
Shirakawa, Saya Iida e Hanan;
Red Stars Block: Tam Nakano, Himeka, Maika, Risa Sera, AZM, Utami
Hayashishita, Koguma, Syuri, Saki Kashima, SAKI, Mai Sakurai, Momo Kohgo e Unagi
Sayaka.
Vencedora da edição 2021: Syuri.
Finalista vencida da edição 2021: Momo Watanabe.
Agora que já distribuímos o bem pelas aldeias, vamos sem mais
delongas ao tão esperado rescaldo da edição deste ano. Para que possam entender
melhor tudo o que se passou nestes dois meses, vou fazer a análise pela seguinte
ordem: Revelações, Desilusões, Combate(s) do Torneio, A remontada e, por
fim, A Vencedora.
Revelações
MIRAI (Blue
Stars Block, 15 pontos)
Seria hipocrisia da pura estar a apontar revelações desta
edição e não incluir uma wrestler que tem sido, ela própria, uma
revelação em toda a linha.
Dona de um arsenal de murros e pontapés capazes de deixar
qualquer adversária com hematomas dos pés à cabeça, MIRAI foi, talvez, a
revelação mais inesperada, no sentido em que, tendo ganho o Cinderella
Tournament há uns meses atrás, muita gente pensava que seria num contexto onde as
expectativas se elevam a grandes níveis que a jovem de 22 anos iria acabar por
claudicar. Little did they know.
MIRAI liderou o seu bloco, isolada ou não, durante grande
parte do primeiro mês e arrancou vitórias a nomes como Mayu Iwatani ou Giulia,
impondo ainda um empate a Saya Kamitani na noite 16. Se uma performance destas
é suficiente para incluir MIRAI no lote de candidatas a vencer futuras edições?
Talvez sim, talvez não. Mas é impossível que a sua performance tenha deixado
alguém indiferente. Não tendo ganho o torneio, MIRAI viu o 5 STAR GP como mais
uma oportunidade para confirmar o excelente 2022 que tem tido. E conseguiu.
Suzu Suzuki (Blue
Stars Block, 15 pontos)
Suzu Suzuki é apontada como uma das meninas-prodígio da atual
geração do joshi wrestling, mas no que toca a STARDOM tem andado quase
sempre na sombra da sua stablemate e líder das Prominence, Risa Sera.
Mas, se uma semana antes do torneio começar já tinha dado boas indicações do
que poderíamos ver da parte dela (quando derrotou Giulia e Mai Sakurai num
Hardcore Tag Match no Showcase Vol 1), então não seria no 5 STAR GP que a
pequenina Suzu nos ia deixar ficar mal.
Muita gente, eu inclusive, não esperava grande coisa da Suzu,
precisamente porque o facto de estar quase sempre na sombra de Risa Sera não
lhe dava grande destaque. Mas a intensidade com que se apresentou em ringue e a
forma aguerrida como nunca deu um combate por perdido tiveram 15 pontos e a
decisão das Blue Stars contra Giulia nas finais como a merecida recompensa. E
se dúvidas havia que Suzu Suzuki é o futuro da STARDOM, elas aqui estão. Em boa
hora Rossy Ogawa e companhia começaram a perceber isso.
AZM (Red Stars
Block, 14 pontos)
É do conhecimento geral que Azumi (AZM para os amigos) muito
provavelmente não iria vencer o torneio por ser a High Speed Champion (pese
embora o facto de SAKI parecer uma trophy case com pernas). Mas isso não
a impediu de convencer o público com o seu estilo voador, que desde cedo a
colocou no topo do seu bloco, apesar da falsa partida contra Syuri. 14 pontos
ao fim de 20 noites é um excelente registo para quem não se esperavam grandes
coisas neste torneio por já estar em posse de ouro, e talvez seja o ponto de
partida para maiores conquistas em futuras edições.
Hazuki (Blue
Stars Block, 14 pontos)
É verdade
que a vitória da integrante das Stars seria extremamente anticlimática e que a
STARDOM não estaria assim tão disposta a arriscar quando tem wrestlers no
roster que estão mais over do que ela, mas a performance de Hazuki
nestes dois meses revestiu-se de uma extraordinária consistência, e só por isso
já merece crédito.
Himeka (Red
Stars Block, 15 pontos)
O caso de Himeka é em todo semelhante ao de Suzu Suzuki, na
medida em que ambas vivem na sombra das líderes da respetiva stable. Mas
Himeka conseguiu surpreender porque, ao contrário de Suzu, a sua performance foi
bem mais inconsistente e, mesmo assim, conseguiu acabar o torneio com 15
pontos, apenas um ponto atrás de Tam Nakano, a vencedora do seu bloco.
Mas se é verdade que, nos primeiros cinco combates que disputou, Himeka conseguiu apenas duas vitórias (frente a Utami Hayashishita e Koguma) também se pode dizer que a performance da integrante das Donna del Mondo foi impressionante, não só no cômputo das ring skills como também na forma como se bateu frente a adversárias mais experimentadas do que ela.
Afinal, na noite 10, Himeka arrumou Saki Kashima em menos de cinco minutos e
acabou a discutir uma passagem à final até perder no confronto direto com a
líder das Cosmic Angels. Se Himeka podia ter feito melhor ao início? Sim. Se há
alguma coisa a apontar ao seu desempenho ao fim de dois meses? Nem por sombras.
Desilusões
Hanan e
Saya Iida (Blue Stars Block, 4 pontos cada)
Se eu vos disser que Hanan é a Future of Stardom Champion e
que, por isso, é encarada como uma futura estrela da empresa, vocês acharão
estranho eu estar a colocá-la aqui. Mas não. Hanan foi a maior desilusão do
torneio deste ano, a par da sua stablemate Saya Iida, tendo as
integrantes das STARS vencido apenas… duas vezes, sabendo que cada vitória vale
dois pontos.
Isto lança muitas dúvidas relativamente a ambas as wrestlers:
Será que Hanan é realmente encarada como o futuro da STARDOM (na mesma
medida de outras como Tomoka Inaba, Ram Kaichow ou Suzu Suzuki) ou que só é
vista assim porque os seus maneirismos são, efetivamente, semelhantes a uma idol
(e por isso mais fáceis de serem difundidos através de marketing?). Será
que Saya Iida está a fazer um trabalho que mereça a confiança dos responsáveis
da empresa, ela que apesar de pequenina tem uma grande compleição física?
É que, se formos a fazer contas, as duas wrestlers amealharam quatro pontos, menos seis do que Mina Shirakawa, das Cosmic Angels. A única proeza que Saya Iida conseguiu, para além de vencer a finalista da edição passada (Momo Watanabe), foi tirar pontos a uma Hazuki que acabou por fazer um torneio brilhante.
Hanan apenas venceu a própria Iida (num combate que teve lugar na
semana passada, Showcase vol 2) e a supracitada Shirakawa. Há aqui muito a
repensar, sobretudo quando, a nível físico, Iida é uma wrestler com
bastante potencial e Hanan é apresentada como campeã.
Unagi Sayaka
(Red Stars Block, 4 pontos)
Outra das que mais surpreendeu pela negativa foi Unagi Sayaka, das Cosmic Angels. E a má prestação de Unagi ainda ganha contornos mais graves se considerarmos que, no geral, as Cosmic Angels fizeram um torneio bastante positivo:
A líder Tam Nakano ganhou o Red Stars Block com 16 pontos; SAKI, do sub-grupo COLOR’S, fez 10 pontos; Natsupoi, no Blue Stars Block, amealhou 12 pontos e Mina Shirakawa, no mesmo bloco, apesar de ter ficado, também ela, abaixo do razoável, tirou partido do mau torneio de Saya Iida e Hanan e fez 10 pontos (há ainda Waka Tsukiyama, mas essa não fez qualquer ponto na fase de qualificação).
Tendo isto em conta, parece estranho que Unagi Sayaka tenha ficado tão abaixo das expectativas, nesta que pode ser uma das últimas oportunidades que a STARDOM tem para capitalizar no seu talento. É que nem as vitórias contra Momo Kohgo, das STARS, e Saki Kashima, das Oedo Tai, servem de atenuante, apesar do pouco tempo que foi preciso para as conseguir. O único ponto positivo que se tira é que Unagi venceu uma das Artist of STARDOM Champions, mas de resto…
Combates do torneio:
Giulia vs Starlight Kid (Noite 9, 27 de Agosto)
Digam o que disserem, em termos da agressividade que tem que se ver no wrestling, o combate da noite 9 entre Giulia e Starlight Kid foi dos melhores que nos foram apresentados. Ambas as wrestlers se mostraram sedentas de sangue, usando todas as partes do corpo para sua vantagem e trocando headbutts como se não houvesse amanhã.
Nem quando o combate foi para fora do ringue a intensidade abrandou, bem pelo contrário: As integrantes das Oedo Tai quiseram interceder em favor de SLK, mas acabaram por ajudar Giulia a executar uma espécie de Poetry in Motion; e ainda houve tempo para cadeiradas e para Giulia tentar tirar a máscara à sua adversária. Ao fim de 11 minutos e meio, Giulia venceu com o Gannosuke Clutch, mas a animosidade permaneceu e a coisa está longe de estar resolvida.
Suzu Suzuki vs Saya Kamitani (Noite 13, 11 de Setembro)
Um combate igualmente intenso, numa altura em que o 5 STAR GP começou a entrar na fase decisiva. Mais do que conquistar dois pontos, Suzu Suzuki tinha um objetivo maior: Vencer uma campeã em título e dar um passo de gigante rumo à sua consolidação como prodígio do joshi.
E o facto é que não foi fácil, Saya Kamitani apresentou-se a um excelente nível e deu bastante trabalho a Suzu com todo o tipo de moves, desde as mais aéreas até às mais técnicas, mas a intensidade de Suzuki foi demasiado para a Wonder of STARDOM Champion.
Esta nunca teve medo de arriscar em zonas perigosas do ringue, fossem
elas borda ou topo, e esse risco pagou dividendos quando Suzu acertou um dos
seus German Suplexes a partir da borda e mandou Kamitani a voar para o ringside,
num spot que praticamente arrumou a campeã. Excelente performance por parte de
ambas as wrestlers naquele que foi um combate que merece um rematch
à altura.
Mayu Iwatani vs Giulia (Noite 13, 11 de Setembro)
Quando a STARDOM Original enfrenta a wrestler mais
popular da empresa atualmente (não esquecer, principal favorita à vitória), o
resultado só podia ser aquele que é considerado unanimemente como sendo o
combate do torneio deste ano. E não foi para menos.
Cada qual apresentou as suas melhores armas, quase sempre
alternando entre power moves (Giulia a apostar muito em Saito suplexes), murros
e subjugações mais ou menos técnicas, ficou bem clara a importância deste
combate para ambas as partes: Giulia, que na altura estava com apenas dois
pontos de desvantagem para Hazuki, não podia perder terreno, mas Mayu, sendo
uma das melhores wrestlers do mundo e um pilar da STARDOM, também não
podia sair dali derrotada. O resultado: Um empate ao fim de 15 minutos. Justo,
mas premonitório de quem seria a vencedora do torneio…
A remontada: Giulia
Wrestling é muito mais do que murros, pontapés, moves,
vitórias, derrotas. Há no wrestling toda uma componente que apela às emoções,
que suscita desejos e dúvidas, que faz vibrar, que nos cola ao ecrã, que emociona.
E a STARDOM tirou partido disso ao cavalgar Giulia para uma remontada que ao
fim do primeiro mês já muita gente punha em causa.
Giulia não começou bem: Perdeu para Hazuki na primeira noite
e para MIRAI na segunda, e só voltaria a competir a valer na noite 7, a 14 de
Agosto, ao derrotar Hanan em 9 minutos. Mas a verdade é que, a partir daí, o
torneio foi todo dela: Apenas dois empates (Mayu Iwatani, noite 13, e Suzu
Suzuki na final, quando um empate lhe bastava para ganhar o seu bloco) e uma
derrota para Momo Watanabe na noite 18. Que conclusões é que podemos tirar daqui?
Que a STARDOM, brincando com os corações dos fãs, fê-lo para
que a performance de Giulia ao longo do torneio apelasse verdadeiramente às emoções,
fossem elas de alegria ou de raiva. E resultou.
A vencedora: GIULIA!
É curioso como, na edição #43 deste espaço (onde fiz a antevisão à edição do torneio do ano passado) apontei Giulia e Tam Nakano como duas das favoritas à vitória (Syuri, a vencedora, era a terceira) e foram essas duas favoritas a chegar ao derradeiro combate deste ano, cada qual vencendo o respetivo bloco com 16 pontos.
Era uma reedição do combate hair vs hair de
Março de 2021 no All Star Dream Cinderella que Tam Nakano havia vencido,
obrigando Giulia a rapar o cabelo. A anglo-nipo-italiana tinha agora a sua
desforra, e desta vez, com o público do lado dela depois de uma épica
recuperação. Por essa razão, o vencedor já estava decidido antes da campainha
dar início ao combate de todas as decisões, quanto mais não fosse porque Nakano
já era Goddess of STARDOM Champion quando para lá entrou.
Mas a vitória de Giulia não é resultado só das circunstâncias
em que a adversária se apresentou, senão também da construção da sua
popularidade ao longo dos anos. Giulia, pelo seu move-set, pela sua
apresentação ou por outros motivos mais supérfluos ainda, sempre foi uma das wrestlers
mais populares da STARDOM, e assim permanece em conjunto com Syuri, SLK,
Utami Hayashishita ou Saya Kamitani.
Por essa razão, já no ano passado os fãs clamavam pela coroação
de Giulia como vencedora, mas a verdade é que, para desilusão geral, a
anglo-nipo-italiana amealhou apenas 6 pontos dentro das Red Stars. Com Giulia a
chegar aos 29 anos em Fevereiro, estava ali a oportunidade de ouro, sobretudo
por sabermos que há muitos assuntos por resolver com a campeã Syuri, e que não
ficaram bem esclarecidos desde o World Climax em Março.
O que interessa dizer aqui é que a vitória de Giulia é inteiramente justa, pelo apoio que recebe dos fãs e pelo torneio que fez.
Para além disso, Syuri, tendo tido um excelente reinado, tem que ter alguém igualmente capacitado a quem passar o testemunho se perder no Dream Queendom a 29 de Dezembro, e a vitória de Giulia vai colocar Syuri em ringue com alguém que conhece extremamente bem e com quem é capaz de entregar um excelente combate, terminando uma storyline excelente em todos os aspetos.
Se não fosse agora, provavelmente Giulia venceria em 2023, mas com outra World of STARDOM Champion ao leme nessa altura, o combate pelo título não tinha tanto significado. Vitória mais que merecida e altamente poética.
【🏆5★STAR GP 2022‼】
— スターダム✪STARDOM (@wwr_stardom) October 1, 2022
本日は5★STAR GP 2022優勝決定戦、ご来場、ご視聴頂きありがとうございました❣
📺PPVのアーカイブは10/4(火)まで視聴可能‼
🔻PPV購入はこちらhttps://t.co/eATw9FtSXm
🔻PPV for fans from overseas(Japanese commentary)https://t.co/cZcKD5wXdX#STARDOM pic.twitter.com/q2L5VGDgkP
E vocês, o que acharam do 5 STAR GP deste ano?
Assim termina mais uma edição dos “Lucas Headquarters” com as
devidas desculpas pela lonjura da edição desta semana :P . Não se esqueçam de passar
pelo site do WN e sugerir futuros temas, e se tudo correr bem, para a semana cá
estarei com mais um artigo.
Peace and love, até ao meu regresso!