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Lucas Headquarters #35 – Queres ser bom? Morre ou ausenta-te!


Ora então boas tardes, comadres e compadres! Como estão? Sejam bem-vindos a mais uma edição do “Lucas Headquarters”, aqui no nosso cantinho preferido chamado WrestlingNotícias! Espero encontrar-vos mais desconfinados que desconfiados, e espero que estejam prontos para recuar uns valentes anitos, porque o assunto que trago hoje para vocês tem muito que ver com a WWE no final dos anos 90 e com a Attitude Era, pelo que, suponho eu, deve despertar (e muito) o vosso interesse.

Mas antes, venho pedir-vos que tirem o cavalinho da chuva (a sério, tirem mesmo, senão o bichinho constipa-se, coitado) porque apesar do artigo desta semana ter, em parte, que ver com aquela que muitos consideram como sendo a “Era Dourada” da WWE, eu não vou entrar no cliché de desejar que a empresa volte a produzir conteúdo como nessa época. 

O desejo é forte, confesso-vos que sim, o espírito também, mas a carne é fraca. A dos responsáveis da WWE, não a minha. A minha é só um bocado atrofiada, por razões que não vale a pena escrutinar aqui.


Passada que está a fase da longa e chata introdução, vamos finalmente direitos ao assunto.

Vai fazer amanhã uma semana desde o dia em que passaram cinco anos da inesperada partida de Joanie Christine Laurer (conhecida entre todos nós como Chyna), com apenas 46 anos, vítima de – triste fim para tanto famoso, wrestler ou não – uma overdose dita “acidental” de drogas.

Para quem começou recentemente a ver wrestling e ainda não teve tempo de se inteirar da sua vasta História, vale a pena dizer que Chyna foi, na minha opinião, a verdadeira tribalizer no que diz respeito ao papel das mulheres nesta modalidade. 

Ela não era transsexual (acho que no final dos anos 90 esse conceito ainda era um tanto quanto desconhecido) mas certamente que também não nos enganaríamos se disséssemos que Chyna era uma mulher num corpo de homem. Mais ainda, era uma mulher que divagava num mundo concebido inteiramente para homens, um peixinho num mar feito para tubarões, se assim quisermos.

Para que melhor se perceba a influência que Chyna teve na modalidade, convém mencionar que a Ninth Wonder of the World foi duas vezes Intercontinental Champion (isso mesmo, ela ganhou por duas vezes um título que só os homens disputavam) e ainda foi Women’s Champion, embora tenha tido essa honra apenas uma vez na sua carreira.



A juntar a tudo isto, Chyna venceu ainda o Corporate Royal Rumble, que foi precisamente uma versão do tradicional Royal Rumble Match em que membros da Corporation e dos D-Generation-X disputavam uma entrada como #30 no Royal Rumble Match de 1999. Chyna venceu eliminando por último Vince McMahon. (para melhor ilustrar o meu ponto de vista, vamos considerar isto como um Royal Rumble Match).

Ora, vamos lá fazer contas:

2x Intercontinental Champion
1x Women’s Champion
Vencedora de um Royal Rumble

OK, talvez no somatório total de títulos, três títulos individuais e um Royal Rumble pareça pouco ou quase nada. 

Mas depois vejo gajos como Goldberg, que em pleno direito só foi uma vez World Heavyweight Champion (teve duas runs como Universal Champion completamente oferecidas, e à custa de dois dos wrestlers mais populares da WWE) e que quase se suicidou e matou outrem em combate (SuperShowDown da Arábia Saudita em 2019, does anyone remember?) e cada vez mais concordo com a opinião do Sabu, que disse, a propósito de revelar a entrada de Rob Van Dam na classe deste ano, que o WWE Hall of Fame é das coisas mais cínicas e falsas que a empresa tem neste momento.



Eu sei, eu sei que neste momento passei a ser uma desilusão para todas as pessoas que são fãs de wrestling em Portugal e no mundo, e se eu muitas vezes desejei que pessoas que fizessem a comparação que acabei de fazer fizessem mergulho numa piscina com alcatrão e asfalto misturados lá dentro, é natural que a partir de hoje vocês me desejem o mesmo. Ou isso ou ouvir Maria Leal até morrer, estou pronto para aceitar as consequências.

Mas vamos lá ver uma coisa, já cansa ver que uma mulher que se jogou de cabeça num mundo do wrestling que na altura era talhado só para indivíduos masculinos apenas tenha reconhecimento cinco anos depois da sua infeliz e desgraçada morte. É quase como se, de repente, a Chyna só fosse importante já depois de só lhe restarem os ossos.

Enquanto ela esteve viva, onde é que andou o reconhecimento pelo facto de Chyna ter competido em combates criados para homens, ter ganhado títulos disputados por homens, ter sido uma wrestler que se bateu bastante bem em todas as circunstâncias? Andou à espera que ela morresse? Ainda por cima quando a morte é triste e desditada?


E como é que a WWE disfarça isto? “Ah, vamos pô-la no Hall of Fame como parte dos DX”. Não, minha gente, não é assim que as coisas se resolvem no caso dela. Trish Stratus, Lita, Charlotte Flair. O que estas três fizeram e fazem em ringue é incomparável, inigualável, inatingível, e tanto Trish e Lita merecem ser WWE Hall of Famers como a Charlotte merecerá, queira Deus (porque o Vince quer com certeza) também essa honra.



Mas para que estas três, entre outras tantas, pudessem aparecer no mapa (e vingar numa WWE mais modernizada), teve que estar lá uma a desbravar caminho e a quebrar barreiras e preconceitos numa altura em que as coisas no wrestling ainda não eram tão crystal clear como são hoje. 

Enfim, enquanto a Chyna não ganha uma introdução individual no Hall of Fame, ficamos com uma frase que a minha mãe muitas vezes me diz, a respeito destas injustiças post-mortem:

“Queres ser bom? Morre ou ausenta-te!”


E vocês, acham que Chyna merece uma introdução individual no WWE Hall of Fame a título póstumo?

E assim termina mais uma edição dos "Lucas Headquarters" aqui no WrestlingNotícias! Não se esqueçam de passar pela página do WN, de deixar os vossos comentários na caixa aí de baixo, de sugerir temas... o costume. Para a semana cá estarei com mais um artigo.

Peace and love, malta! Até ao próximo Sábado!



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