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Unscripted Promo #2 - O mundo ao contrário

Encontrem o erro:

- Território de desenvolvimento. Combates com duração significativa onde, algumas vezes, a marca da meia hora é ultrapassada. Histórias convincentes, capazes de sustentar rivalidades por mais do que um ano, em certas ocasiões.

 - Programas principais. Combates curtos e padronizados que não permitem, na maioria das vezes, explorar a verdadeira qualidade dos atletas. Histórias pensadas a curto prazo, sem qualquer fio de lógica, o que impede, por parte dos fãs, um investimento real nas personagens que estão a ser apresentadas.

Há muito tempo que a hierarquia Main Roster – NXT não faz qualquer sentido. O que começou por se apresentar como uma reinvenção de um programa que se focava em tudo menos wrestling (quem não se lembra daquela queda, a primeira, de Titus O’Neil, de barril na mão?), acabou por se transfigurar num oásis de qualidade, apesar de bem escondido, dentro da oferta disponibilizada pela WWE.

 Bem sei que conferir a NXT esta faceta de “segredo bem escondido” é um erro, pela dimensão que o programa ocupa na mente dos seguidores de wrestling, especialmente tendo em conta a mais recente inclusão da brand dourada na programação televisiva semanal da empresa de Stamford. Mas hoje não me queria debruçar nas Wednesday Night Wars. Procuro sim fazer uma reflexão do que NXT tem apresentado, em termos de produto, ao mundo do wrestling desde a sua conceção e sugerir alguns pontos de comparação com o chamado “plantel principal”.

E se há ponto onde a diferença de qualidade não é significativa é aí mesmo. Nos plantéis. Isto porque, em primeiro lugar, Raw e SmackDown estão recheados de talento. Aliás, defender que NXT tem tido rosters superiores ao longo desta meia década em que se afirmou no panorama do wrestling internacional é uma tarefa complicada, nem que seja apenas pela dimensão da equipa de atletas que constituem os programas principais.



Mas esta hipótese de que figuram wrestlers superiores em determinada brand tem de ser completamente posta de lado devido a casos como Shinsuke Nakamura, Bayley ou os Revival. Estes três nomes, tal como tantos outros, vivenciaram experiências completamente diferentes em Full Sail University quando comparados aos momentos em que “subiram” ao roster principal. E, lá está, tratam-se das mesmas pessoas.

 De forma resumida, até porque gostava de analisar com maior detalhe pelo menos um destes exemplos em futuros artigos, Shinsuke Nakamura foi utilizado por de forma comedida pela brand às mãos de Triple H, e essa utilização racional, com combates e aparições limitadas nunca retiraram charme e o sentimento de “ocasião especial” quando o lendário IWGP Intercontinental Champion fazia parte dos planos de booking da comitiva de Orlando.

Poucos meses depois da estreia no main roster, Nakamura já aparecia em todo e qualquer programa que a WWE emitia, com uma quantidade absurdamente desnecessária de promos, e despenhando o papel que qualquer babyface desempenha nas “big leagues”, ao ser distraído, com ridícula facilidade, pelos acompanhantes, neste caso, de Jinder Mahal. Já não havia nada especial em relação a ele. Tornou-se banal, igual a todos os outros. E esta frase não resumirá na perfeição a incapacidade da WWE em criar estrelas na última década? Uma reflexão para outra ocasião.



Passando também o caso de Bayley à frente, por haver tanro para dizer acerca de Bayley, os Revival são uma das melhores materializações daquilo que NXT representa. Eu não fazia ideia que era fã de tag team wrestling até começar a assistir aos combates da divisão de equipas de NXT. A reinvenção do momento “pré hot tag”, das infinitas formas como os Revival afastavam a equipa babyface do respetivo canto e os momentos em que nos faziam acreditar que o herói iria conseguir chegar ao parceiro, para, no último segundo, retirar o tapete dos nossos pés, são vistas por mim, ainda hoje, como abordagens visionárias.

Depois “subiram” e, no contexto de main roster, por clara falta de tempo para desenvolverem os combates, raras foram as ocasiões em que conseguiram implementar essa tensão nas contendas, esse desespero que o adversário tinha para sair da teia dos “Top Guys”, sentimento que devia estar a ser transmitido ao público. Eram mais uma tag team heel, a distrair o árbitro para conseguir vitórias a partir de métodos que qualquer fã de WWE conhece como a palma da mão, isto quando ganhavam. 

Em suma, penso que estes são os dois fatores que mais têm contribuído para a disparidade de qualidade entre NXT e WWE. O tempo dado aos wrestlers para desenvolverem, lá está, wrestling, e a anulação quase imediata das características que os fariam ganhar destaque em relação aos parceiros de balneário.

 Anos e anos de evolução, num destes casos, e de regressão, no contexto oposto, resultaram nesta confusão. Neste sentimento de que o wrestling de qualidade está onde os holofotes não estão e vice-versa. De que, de uma maneira ou de outra, o mundo está ao contrário.
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