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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 14 - Parte 4


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

O meu regresso à WWE foi um segredo muito bem guardado. Eu voei até Los Angeles nesse Domingo de manhã, do evento a 15 de Agosto, e fiquei num hotel diferente daquele onde o resto do talento e da equipa ficou durante essa semana para todos os eventos a construir para o SummerSlam. A WWE contratou um carro privado para me levar ao Staples Center, e eu não cheguei até bem logo a seguir ao início do pay-per-view. Mandaram-me usar uma camisola de carapuço e roupas discretas para que ninguém me identificasse ou notasse enquanto eu era apressado do carro para um balneário privado.

Quando cheguei aos bastidores, foi-me ordenado aguentar, então eu esperei. Pouco depois, todos os tipos no combate foram trazidos para a sala. Com a excepção de alguns dos integrantes da equipa do John Cena, não acho que mais alguém soubesse que eu estava no combate. Jamie Noble foi um dos produtores para o combate, e ele já tinha trabalhado com alguns dos gajos dos Nexus para abordar as coisas que o "sétimo homem surpresa" pudesse querer fazer, mas essas coisas eram suficientemente genéricas para que a maioria não chegasse lá até me ver. Eu na verdade não ia estar dentro do combate por muito tempo, logo eu só tive que trabalhar algumas coisas com algumas pessoas.

Apesar da pressão de estar no evento principal do SummerSlam, eu não estava nada preocupado com a parte do wrestling. O que me deixava mais nervoso era a reacção que eu obteria ao aparecer. Eu estava bastante preocupado que quando o Cena me anunciasse como o membro final da equipa, a plateia teria uma reacção anti-climática. A equipa do Cena consistia maioritariamente em estrelas estabelecidas; Bret Hart, Chris Jericho e o Edge estavam todos na equipa, e normalmente surpresas devem ser grandes. Antes de ser despedido, eu tinha perdido basicamente todos os combates em TV e era retratado como um nerd/falhado pelos comentadores. Eu assumi que o fã casual da WWE ficaria do tipo, "O quê?! Por alma de quem escolheram este gajo?!" A preocupação pesava forte na minha cabeça antes do combate.

Eles queriam que eu continuasse a usar a minha hoodie para que ninguém me visse quando eu caminhasse para a "Gorilla position" para a minha entrada, o que eu achava que era um pouco excessivo dado que era apenas momentos antes do combate. Após o combate, fiquei a saber que o WWE.com tinha revelado que eu era o sétimo membro minutos antes de sair. Dado todo o secretismo o dia inteiro, achei isso bastante engraçado.

Quando o John Cena me anunciou como o membro surpresa da sua equipa, de maneira nenhuma que eu tive a reacção de megaestrela por parte do público do Staples Center, mas também não foi a reacção apática que eu tinha antecipado. Diria que foi mais do tipo aplausos de cortesia que rapidamente se viraram a meu favor quando eu comecei o combate e consegui uma submissão rápida sobre o Darren Young, que desistiu perante o LeBell Lock. O combate foi estruturado para que eu não estivesse muito no ringue, mas a cada vez que estava, eu via-me óptimo. Não entrei uma segunda vez bem até depois dos vinte minutos, mas entrei com o fogo todo, e após eu aplicar um suicide dive para o exterior, o público começou a cantar o meu nome. Tinha resultado. Depois submeti o Heath Slater, de novo utilizando o LeBell Lock. Numa noite, fui instantaneamente tornado mais importante que eu alguma vez tinha parecido durante todo o meu tempo no NXT.

Alguns momentos mais tarde, o Miz, que não estava no combate, interferiu para me atingir com a mala porque ele estava ficticiamente incomodado por não ter sido escolhido como o sétimo homem do Cena em vez do seu outrora Rookie. As acções do Miz levaram à minha eliminação do combate, o que foi óptimo para mim porque também originava facilmente uma história com o Miz dali em diante. Considerei-a uma noite de muito sucesso. Bem, para mim pelo menos.

Após eu ter sido eliminado, ficou reduzido ao Cena contra o Wade Barrett e o Justin Gabriel, e o Cena derrotou-os aos dois. Os Nexus tinham criado bastante interesse, e o grupo precisava de uma vitória para se solidificarem como uma força a ter em conta. Eles não obtiveram a vitória quando precisavam dela, e após o SummerSlam, eles passaram de ser tipos perigosos em vantagem para apenas outra facção de maus.

Na noite imediatamente após o SummerSlam, gravámos dois episódios do Monday Night Raw, porque a tripulação do Raw dirigia-se ao estrangeiro. Eu estava a sentir-me bem quanto ao pay-per-view, e estava ansioso por dedicar-me à nova história com o Miz. O primeiro Raw correu muito bem. Mesmo apesar de eu ter perdido um combate rápido para o membro dos Nexus Michael Tarver, foi devido à interferência do Miz e resultou numa briga entre o Miz e eu. Durante a segunda gravação, eu tinha que interferir e atacar o Miz no ringue. Eu achei que tinha corrido bem, mas quando atravessei as cortinas para as traseiras, o Vince estava furioso. Ele disse, "Isso foi horrível!" e a seguir mandou-me de volta à arena para fazer a mesma coisa, à frente do mesmo público.

Era um show gravado, logo a equipa de produção podia editar o melhor. Esta foi a primeira vez na minha carreira que eu já tive que refazer algo em frente a uma plateia ao vivo. Foi embaraçoso, fez-me sentir terrível e, na minha mente, justificou qualquer um dos meus detractores que olhavam para mim como o gajo independente que não conseguia fazer bem as coisas da liga grande. A segunda tentativa, como disseram, foi muito melhor mas não retirou aquela sensação de falhanço. É como funciona o wrestling: um dia estás no alto, no outro estás em baixo, e ao início de cada dia, nunca sabes o que esperar.

Nesse Setembro, em Chicago, tive o meu primeiro combate em pay-per-view da WWE, no seguinte grande evento, Night of Champions. Também foi a minha primeira vitória por um título na WWE, visto que derrotei o Miz pelo United States Championship. Tivemos um combatezinho bom, mas nada de estupendo, e eu sabia que eles me tinham feito ganhar apenas para tirar o título U.S. ao Miz. Tinham grandes planos para ele no futuro próximo - ganhar o WWE Championship e estar no evento principal da Wrestlemania - mas precisavam de retirar o título do Miz. Eu sabia que a vitória pelo título não significava muito no que dizia respeito a quanto a WWE me queria dar um push, mas ainda assim foi uma excelente oportunidade. Na altura, ambos os títulos U.S. e Intercontinental eram consistentemente defendidos em pay-per-view, e pelo menos teria mais espectáculos em que pelo menos competiria num combate do que aqueles em que não. Era difícil meter muito tempo de wrestling no Raw com o programa tendo apenas duas horas, mas eu estava confiante que podia ganhar algum gás se pudesse ter um combate sólido em pay-per-view todos os meses e lutar pelo menos dez minutos.

Após ter vencido o título United States, pedi para mudarem a minha música de entrada. Tinha andado a entrar ao som de música pesada do tipo metal génerico que não encaixava comigo, e música é uma parte enorme da apresentação. Admito que sempre tive gosto questionável em música de entrada. Sair ao som da "Born in the U.S.A." no meu primeiro combate foi uma decisão do Shawn Michaels, logo não posso ficar com os "créditos" dessa. Quando eu tinha uma barba grande e a cabeça rapada em 2005, usava uma capa gigante de veludo para o ringue e entrava na arena ao som da "Imperial March" do Star Wars. Mas durante os meus últimos anos nas independentes, a canção com a qual saía era instantaneamente reconhecível e, para os fãs mais hardcore, tornou-se sinónimo de mim: a "Final Countdown" dos Europe.

Eu estava no Japão em 2004, a dar uma olhadela a uma revista de música que listava as cem piores músicas de todos os tempos. Contemple-se, "Final Countdown" era a número um, votada como a pior música de sempre. Eu adorava essa música, mas já não a ouvia há muito tempo. Apesar da letra horrível sobre abandonar a Terra por Vénus, assim que voltei a ouvir aquele trompetear do início, eu sabia que seria um excelente tema de entrada. Não levou muito tempo até que eu começasse a usar a balada para a audiência inteira cantar, mesmo antes de chegar ao refrão: "It's the final countdown!" Infelizmente, a WWE não podia usar a "Final Countdown", sem pagar uma taxa exorbitante de direitos, então eu sugeri utilizar uma peça de música clássica, a "Ride of the Valkyries" do Richard Wagner, que está em domínio público e pode ser usada gratuitamente. Um dos meus wrestlers Japoneses old-school favoritos, Yoshiaki Fujiwara, entrava ao som dela e era do caraças.

Assim que o sugeri, pensei que levaria algumas semanas para que fosse autorizada e aprovada. Desta vez não. Nessa mesma noite no Raw, ia lutar com o Edge, que já tinha feito a sua entrada. Mesmo antes de eu sair, o produtor da WWE Billy Kidman estava com um headset na "Gorilla" e disse-me, "OK, vais entrar com nova música." Eu estava mesmo prestes a perguntar se era a "Ride of the Valkyries" quando começou a tocar. A versão da música que eles tocaram - há muitas diferentes - não era a que eu pretendia, contudo. Esta era muito... Suave. Quando atravessei a cortina, podia ver uma arena inteira cheia de rostos confusos, algumas pessoas de boca aberta. O Edge estava visivelmente a rir-se no ringue. O Miz estava nos comentários com o Michael Cole, e os dois estavam a gozar a maior enquanto me chamavam nerd. Não foi bem tão "badass" como o Fujiwara. Alterámo-la um pouco e agora tornou-se a minha cena. Foi uma partida difícil, no entanto.

Ao longo dos seguintes meses, eu estava numa posição interessante em que eu faria TV no Raw, pay-per-views, e alguns eventos ao vivo contra o Miz, mas depois iria fazer os meus espectáculos independentes restantes, onde eu desfrutava da oportunidade de trazer novos fãs baseados na minha exposição na WWE. Durante este intervalo, trabalhei o meu combate final para o Gabe num espectáculo da Dragon Gate USA em Milwaukee: Era eu contra o Jon Moxley (Dean Ambrose) numa briga louca por todo o pequeno edifício. Existem poucas coisas no wrestling que acrescentem drama a um combate como sangue, e porque eu sabia que seria a minha última oportunidade de adicionar esse tipo de drama em muito tempo, tirei total partido e sangrei nessa noite para a minha despedida. De modo geral, foi estranho andar para trás e para a frente das independentes para a WWE. Eu era muito bem respeitado nas independentes, e os fãs viam-me como um wrestler badass de submissão que pontapeava as cabeças das pessoas. Porém na WWE, eu podia notar que a direcção não achava grande coisa de mim; não ouviam propriamente as minhas ideias, e estavam constantemente a tentar retratar-me como um nerd na televisão.

O seguinte pay-per-view da WWE foi o Hell in a Cell, onde lutei com o Miz e o John Morrison num combate triple threat de apenas submissões. Apesar de nenhum adversário realmente usar alguma manobra de submissão, transformou-se num combate sólido. Soube bem atravessar a cortina, e de repente estavam a gritar comigo outra vez. O Alex Riley tinha vindo ajudar o Miz durante o combate enquanto estávamos todos a lutar no palco. Eu fui atrás do Riley e acabei atirando-o do palco abaixo; infelizmente, ele aterrou encima de um cameraman chamado Stu. Ficaram lívidos. Não só foi perigoso para o Stu (e podia potencialmente ter aberto um processo), mas durante o processo, ele também deixou cair uma câmara - e essas câmaras são caras, valiam bem mais para a companhia do que o Riley ou eu, naquela altura. Ambos levámos nas orelhas nessa noite e mais no dia seguinte. No Raw, o Riley e eu fomos chamados ao escritório do Laurinaitis e foi-nos mostrada a gravação. De alguma forma, eles acharam que nós tínhamos feito de propósito para nos colocar over. Eu já tinha tido o problema após o ataque dos Nexus em 2010, e a última coisa que eu precisava era de algo assim, onde eu voltei a irritar a gerência da WWE.

Com este incidente, comecei a arrepender-me de voltar à WWE e caí para um mau sítio mental no qual odiava todos os segundos que lá estava. Quando eu estava dentro do ringue era a única altura em que eu podia afastar-me daquilo, mas sempre que atravessava a cortina de volta, voltava para onde tinha começado. Não obstante, mantive-me de boca calada, continuei a trabalhar duro, e esperei que a forma como me sentia mudasse em breve. Mudou mas demorou muito tempo.

Em direcção ao evento WWE Bragging Rights de 2010, onde Superstars do Raw lutavam com Superstars da marca rival Smackdown, eu fui direccionado a desafiar o Campeão Intercontinental Dolph Ziggler para um combate "campeão contra campeão" no pay-per-view. Era tempo raro ao microfone; por cima disso, eu acabaria por ter a oportunidade de trabalhar com o Dolph, um dos melhores lutadores da companhia, logo eu estava entusiasmado. Depois disseram-me o que eu queria que fizesse depois de desafiar o Dolph: Ele e eu entraríamos numa pequena briga e enquanto estávamos no chão, uma data de Divas viriam para descarregar confetti na Vickie Guerrero, que era manager do Dolph na altura. OK, que seja. A cena é que, após a Vickie fugir, eles queriam que eu entrasse no ringue com as Divas, ficar supertímido como se não quisesse ter nada a ver com o assunto, depois desatar numa dança enquanto as Divas todas dançavam à minha volta. Odiava a ideia. No entanto, coloquei um sorriso na cara enquanto passámos pelo ensaio, e dei o meu melhor para o tornar divertido no programa. Entretanto, nos comentários, o Michael Cole continuava a gozar-me, a declarar que eu nunca tinha estado num encontro na vida. Ele estava apenas a interpretar a sua personagem (que aleatoriamente me odiava); contudo, para mim, os comentários do Cole eram indicativos da percepção que a companhia tinha de mim: apenas um nerd que tinha sorte de estar sequer no plantel da WWE.

O Dolph e eu tivemos um bom combate no Bragging Rights, e eu tive outra forte exibição em pay-per-view contra o Ted DiBiase Jr. no mês seguinte no Survivor Series. Nesse Novembro foi a primeira vez que eu pude trabalhar com o Teddy desde que estivéramos juntos no Japão após ele ter estado apenas em dezasseis combates. Ele era bom na altura, mas tinha ficado bem melhor no ringue, e após o Survivor Series lutámos um com o outro em todos os eventos ao vivo, o que foi bastante divertido. No meio de tudo isso, parti para a minha primeira digressão Europeia com a WWE: duas semanas seguidas de espectáculos todas as noites, e pude lutar com o Regal em quase todos. Fui a primeira vez que o Regal e eu tivemos a chance de lutar desde 2001, logo nós íamos lá e tínhamos combates de wrestling a sério, incorporando muito wrestling do estilo Europeu. Foi o máximo, e por um tempo, fazer esse tipo de combates, levantou-me os espíritos. Mesmo que eu fosse um cromo em TV, eu poderia ir aos eventos ao vivo e lutar como bem quisesse.

Após ter tido quatro bons combates em pay-per-view seguidos, achei que os fãs da WWE estavam a começar a aperceber-se que podiam contar comigo para proporcionar combates verdadeiramente entusiasmantes pelos quais podiam ansiar. No entanto, o combate com o Teddy foi o último combate singular em pay-per-view que eu tive por mais de dez meses, e a minha história virou completamente.

No próximo capítulo: Bom, pela forma como ele acabou este capítulo, dá a entender que vem aí um período negro, certo? Quase. Mas nem tanto. Vem sim, uma história bizarra... Que por acaso até lhe trouxe uma das melhores e mais importantes coisas da sua vida! Sabem o que é? Estejam cá na próxima semana para conferir...

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