Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 7 - Parte 2
Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.
Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!
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Tivemos muitos wrestlers - uma miscelânea de pessoas - a entrar e a sair de Memphis enquanto lá estivemos. Tivemos tipos como o Mabel e os Headbangers, que já tinham estado na TV. Tivemos os Mean Street Posse, que estavam em TV na altura como os estarolas do Shane McMahon e estavam a ser ensinados a lutar (com a excepção do Joey Abs, que já o sabia mas estava disposto a Memphis na mesma). Também tínhamos os jovens em desenvolvimento a tentar obter a sua primeira chance de estar na TV, que éramos o maior grupo - Joey Matthews, Christian York, Charlie e Russ Haas, Rosey e Jamal (que acabou a ser o Umaga), R-Truth (antes de se ter tornado o K-Kwik), e outros incontáveis durante o ano que lá estive. Outro talento por lá era a Molly Holly, que inadvertidamente trouxe uma grande mudança para o grupo inteiro e procedimentos em Memphis.
Antes de nós os quatro (eu, o Lance, o Shooter e o Brian), não tenho a certeza quem era responsável por montar o ringue, mas pouco depois de chegarmos, tornou-se o nosso trabalho, presumivelmente porque éramos tão novos na indústria e tínhamos de pagar as nossas quotas. Normalmente tínhamos, no mínimo, três espectáculos por semana, logo nesses dias, chegávamos ao edifício cedo para armar o ringue e depois ficávamos até tarde para o deitar abaixo. Isso continuou até a Nora Greenwald, que veio a tornar-se a Molly Holly, chegar a Memphis. Ela tinha acabado de vir da WCW e não ia estar em Memphis por muito tempo, logo não tinha razões para se preocupar com quem lidava com a construção do ringue, mas quando ela reparou que nós estávamos a fazê-lo e mais ninguém estava, ela ofereceu-se para ajudar no final dos espectáculos. Pouco depois, alguém do escritório da gestão e relação de talentos estava no espectáculo, e quando viu a Nora a ajudar a montar o ringue, ele instantaneamente perguntou porque é que ela o estava a fazer. O Terry explicou que era suposto sermos apenas os quatro a fazê-lo e que a Nora apenas se tinha voluntariado. Quando a palavra chegou aos escritórios, começaram a fazer toda a gente - tanto refugiados do plantel principal como caras novas - trabalhar no ringue. Desnecessário será dizer que as pessoas não estavam contentes, especialmente visto que a MCW era uma organização relativamente desmoralizadora em primeiro lugar.
Uma das razões para o Shawn Michaels me ter colocado uma máscara já na TWA foi porque eu não era muito expressivo - uma crítica recorrente ao longo dos meus dias independentes. Eventualmente, Shawn e Rudy acharam que eu tinha começado a desenvolver expressões faciais, então tiraram-me a máscara e mudaram a minha personagem. Assim que cheguei à MCW, disseram-me que queriam-me de máscara outra vez.
Os espectáculos da MCW que fazíamos normalmente tinham plateias muito pequenas. Fazíamos um espectáculo todas as semanas, às Quartas-Feiras à noite, em Oxford, Mississippi, num bar onde as pessoas nem sequer tinham que pagar para nos ver. As quarenta-e-cinco pessoas que normalmente compareciam, estavam lá mais para beber, e entre goles, viam o espectáculo e repreendiam-nos.
A MCW também gravava programas televisivos. Inicialmente filmávamos num sítio muito fixe em Beale Street, mas isso não durou muito tempo. Em breve estaríamos a filmar onde quer que nos deixassem, como em arsenais ou ginásios de liceu metade vazios. Pelo fim da MCW, andávamos a fazer espectáculos em estações de gasolina e localizações aleatórias como essa. O meu local favorito onde fizemos televisão foi num parque de estacionamento do Walmart, onde carrinhos de compras também serviam de barreira de segurança e todos fazíamos a nossa entrada a partir da caravana onde todos nos vestíamos. Isto criou um cenário semi-cómico onde os maus saíam a correr da caravana para atacar um bom, mais bons saíam da mesma caravana para perseguir e espantar os maus de volta para a caravana, e depois os bons dirigiam-se para a mesma caravana momentos depois. Outro verdadeiro desmoralizador para a maioria do pessoal era que muitos poucos estavam a ser chamados ao plantel principal, a partir de Memphis. Não me perturbava muito porque nunca tinha as esperanças muito altas sobre ser elevado a qualquer altura em breve. A única vez que eu ser chamado a TV veio à baila na WWE foi perto da Royal Rumble de 2001, quando nos disseram que a WWE procurava começar uma nova divisão cruiserweight como a que era popular na WCW. Foi-nos dito a mim e ao Brian que queriam usar-nos para ela. Claro, isso nunca aconteceu.
Certamente também houve bons momentos. Em Fevereiro de 2001, a WWE renovou todos os nossos quatro contratos por mais um ano, e eu pude guardar algum dinheiro. Ganhei suficiente para comprar um Ford Focus de 2000 e substituir o meu carro velho, que já estava a ir abaixo. Não tinha suficiente para o pagar em dinheiro, logo tive que fazer pagamentos em prestações, o que veio a tornar-se um grande erro, dado o que viria a acontecer alguns meses depois, em Junho. Também comprei a minha primeira cama após mais de um ano e meio a dormir no chão e em colchões insufláveis. Quando consegui uma cama e um carro, sentia mesmo que estava a viver uma vida de luxo.
Os momentos positivos continuaram quando a WWE enviou o Regal para um grande espectáculo e eu pude lutar com ele pela primeira vez. Estávamos a chegar ao fim de um combate bastante divertido, que era suposto ele ter vencido. Eu fui à corda superior, saltei e acertei-lhe com um Flying Dropkick. Enquanto o cobria, ele disse ao árbitro para contar os três e não fez o "kick out". Num acto completamente altruísta, ele deixou-me ganhar. Por essa altura, eu já tinha aprendido muito com ele, mas não há melhor maneira de aprender com alguém do que estando no ringue com ele. Aprendi imenso nesse combate. E não apenas sobre wrestling.
Em Junho de 2001, pouco depois da WWE ter comprado a WCW, fomos para o centro de treinos para o que pensávamos ser mais um dia normal. Quando entrámos podíamos notar que algo se passava. O Terry apresentou um gajo que eu não conhecia do departamento de gestão de talentos da WWE, e fizeram-nos saber que iam fechar o território de desenvolvimento em Memphis. Foi-nos dito que alguns de nós seriam enviados para outros territórios de desenvolvimento no Cincinnati ou em Louisville mas, infelizmente, alguns de nós seriam despedidos. Iriam deixar-nos saber os nossos destinos, um por um, quando nos chamariam ao escritório. Eu fui o terceiro; dos dois tipos que foram antes de mim, um foi despedido e outro foi enviado para Cincinnati. Quanto entrei, sabia a "pontuação". O homem disse que apesar de achar que eu era muito talentoso, não tinham actuais planos para mim e iam deixar-me ir. Alguns dos que acabaram despedidos chatearam-se e atiraram coisas pelos ares. Eu estava apenas devastado, sem ideia do que fazer a seguir.
Sob os nossos contratos, se fossemos despedidos, ainda seríamos pagos por noventa dias. Mas de modo a que obtivessemos o nosso dinheiro, tínhamos que ficar em Memphis e continuar a trabalhar os restantes espectáculos da MCW. A moral estava compreensivelmente baixa e estes espectáculos foram os piores dos que eu já fiz parte. Mesmo os que tinham sido mantidos ou a ser enviados para outro sítio não conseguiam estar entusiasmados ou bem-dispostos, porque metade do balneário tinha sido despedido. Houve muita bebida nos bastidores (e provavelmente mais alguma coisa da qual eu não estivesse ciente), e finalmente Memphis retirou-se em lamúria. O último espectáculo que tínhamos agendado foi num parque de estacionamento de uma loja de penhores. Estávamos a mudar-nos no WC da loja quando, repentinamente, começou a chover. Terry decidiu apenas cancelar o show. Fomos todos lá para fora, carregámos o ringue à chuva, e tirámos uma fotografia de grupo em frente ao trailer. Assim acabou a Memphis Championship Wrestling.
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No próximo capítulo: Agora é que as coisas vão começar a aquecer! A MCW pode ter acabado mas Bryan já tinha captado atenções e é aqui que inicia o seu percurso propriamente dito nas independentes. Ainda coisas pequeninas mas o que ele já foi conseguindo! E que caras novas hoje famosas veio ele a conhecer? Não podem perder a terceira parte do sétimo capítulo!