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Opinião Pacífica #9 - Carta Aberta ao Pai Natal



Bons dias caros leitores do Wrestling Noticias e sejam bem vindos a mais um Opinião Pacífica. Venho trazer-vos uma noticia um pouco triste para mim e, certamente, também para vocês. Este será o ultimo Opinião Pacífica que eu irei escrever... antes do natal. Afinal de contas, é já no domingo! Ou, para maior parte das famílias, é amanhã à noite, visto que maior parte das pessoas já não esperam pelo dia 25 e abrem as prendas no dia 24 à noite, ali por volta das dez da noite, porque há crianças na família e elas não podem ficar acordadas até muito tarde. 

A verdade é que, falando de um ponto de vista pessoal, acho que o espírito natalício se perdeu. Se é que este alguma vez existiu, visto que existem argumentos bem conviventes de que o natal e o pai natal é uma festividade inventada pela Coca-Cola. Mas pronto, isto são teorias de conspiração para outras alturas.

Como eu estava a dizer, desde que eu sou criança, parece que o espírito natalício se desvaneceu de mim. Deixei de ter aquela ânsia pelo natal que começava um mês antes de este sequer chegar, a alegria de fazer a árvore de natal, a euforia de abrir as prendas. 

A verdade é que passei a ver o natal de uma forma imensamente diferente. Comecei a dar mais valor a coisas muito mais simples, como a simples presença da minha família que se junta toda na noite de consoada e no dia, para fazermos jus a todo o dinheiro despendido em doces festivos, borrego, bacalhau e mais uma panóplia de alimentos tradicionalmente natalícios (ah! e o Ferrero Roche! Natal não é natal sem Ferrero Roche...).

Passei a dar muito mais valor a todos os filmes que passam pela milésima primeira vez em qualquer um dos canais generalistas, seja um dos sozinhos em casa, do qual todos rimos como se fosse a primeira vez que vemos o filme, apesar de estar na parte de trás da nossa mente o estado degradável que está aquela criança, hoje em dia, ou uma qualquer edição de natal do Shrek ou um desses filmes da Disney de sucesso.

E isto é algo que eu, pelo menos no ultimo ano que foi quando realmente me apercebi que isto acontecia, que esta contemplação da simplicidade do natal acontecia, decidi trazer esta para o resto da minha vida e, como não poderia deixar de ser, para a minha experiência de apreciador, fã e, por vezes, pseudo-critico de wrestling. 

Não vou aqui criticar a fanbase, mas sim, fazer uma autocrítica e, se acharem que se revêm, tudo bem. Corro o risco de ninguém se identificar com este texto, mas mesmo assim, acho que vale a pena ser feito.

Enquanto fã de wrestling, tenho o costume de criticar. Alias, enquanto fã de wrestling e enquanto bom português que sou, para mim, nada nunca está bem, existe sempre algo mal e coisas para reclamar. Em tudo na vida, encontro sempre algo fora do sitio ou que poderia estar melhor e, às vezes, perco mais tempo a chatear-me com os pormenores menos bons, do que tudo o de bom e espectacular existe em redor. 

No wrestling acontece-me o mesmo. Durante muitos anos, queixava-me do estado do produto que assistia. Da forma como usavam os meus lutadores favoritos. Dos combates que aconteciam em show. Da maneira que os wrestlers aplicavam os golpes. Queixava-me de tudo aquilo que eu podia queixar. Queixava-me antes de sequer existir motivos para me queixar, mas queixava-me, porque era isso que eu sabia fazer, como fã que amava (e ama) este tipo de entretenimento e só quer que ele seja o melhor possível, mas, a forma como o tratava não era a melhor.

Eu era como aqueles pais que, apesar dos filhos tirarem excelentes notas, por causa de uma nota menos boa, já se chateiam e gritam com eles, ignorando todas as outras excelentes notas.

Eu era aquela pessoa que passava a vida a reclamar do quão mau aproveitado o Daniel Bryan andava a ser, ou o facto de não darem o destaque merecido ao CM Punk, quando na verdade, o Bryan estava a ser construído para ser o maior babyface desde o SCSA e o Punk teve o melhor e maior reinado de campeão da WWE dos últimos anos. 

Por isso, no inicio deste ano, decidi gastar menos tempo a criticar aquilo que não gostava e a apreciar aquilo que eu realmente adorava no wrestling: as histórias, sejam elas contadas dentro ou fora do ringue; as personagens bem trabalhadas; os combates; os lutadores. Decidi perder menos tempo com companhias que só me dessem desilusões atrás de desilusões e gastar esse tempo com companhias que realmente me dessem gosto ver.

No final de 2016, contando com todas as companhias que assistia regularmente e outras que ia vendo algumas coisinhas, acompanhava cerca de quinze federações diferentes.

No final de 2017, acompanho duas companhias religiosamente e vou vendo algumas coisas de mais duas. Mas não é por isto que deixei de ser tão fã ou de gostar tanto de wrestling. Alias, hoje sou um fã muito mais "saudável", voltei a ter a paixão que sentia quando era criança, ou pelo menos, o mais próximo que já senti desse sentimento desde que voltei a acompanhar a modalidade, em 2011. 

Tenho tentado mudar, que é aquilo que se tenta fazer todos os anos no inicio do ano. Ainda tenho as minhas irritações e queixas, como é normal. Ainda chateio-me cada vez que vejo o Chris Hero a ser desperdiçado no NXT quando podia andar a partir tudo e a ser um dos melhores do mundo, como o foi em 2016, ou quando vejo o Jonathan Gresham enterrado no lowcard da ROH. Ainda me irrito por ouvir falar na Womens Revolution quando o que aconteceu foi uma apropriação de algo que quatro mulheres construíram no NXT. Ainda me irrito cada vez que vejo o Daniel Bryan de camisa e calças de ganga e penso que ele podia andar a fazer pessoas desistir, não fossem as malfadadas das lesões. 

Mas, sobretudo, ainda me irrito por irritar-me com coisas que não posso controlar. Sou humano, é a minha natureza não gostar de ter o controlo daquilo que gosto. Mas a verdade, é que de wrestling eu percebo pouco e, se fosse eu a mandar, as coisas ainda seriam piores do que já são. Mas ter a noção disso, já é bom e é um passo em frente. 

Hoje, tento ser aqueles pais que ao ver o filho ter uma nota mais baixa, olha para todas as outras excelentes e tenta motivar o filho, porque sabe que ele consegue melhor, e congratula-o por se ter esforçado tanto.

Este foi o Opinião Pacífica desta semana, um pouco diferente do habitual, mas sinto que era necessário. A todos, desejo um bom natal. 

PS: Aproveito para dar os parabéns à Kelly, uma portuguesa que anda a marcar a diferença no mundo do wrestling, por se ter tornado na campeão feminina inaugural da wXw, uma das maiores companhias independentes da Europa e do mundo. 
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