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Literatura Wrestling | Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 2 - Parte 1


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!



Capítulo 2: A Conferência "Yes!"
Terça-feira, 1 de Abril, 2014 11:16

Doze horas e duzentas milhas antes, um Daniel Bryan armado de "kendo stick" aparecia no Monday Night Raw para ferozmente bater numa das estrelas com mais sucesso no jogo: Triple H, seu adversário na Wrestlemania e Campeão Mundial por treze vezes. Engolido pela azáfama de Manhattan, Bryan prepara-se agora para partilhar um palco com o seu inimigo - e mais alguns como Hulk Hogan, John Cena ou Batista - na conferência de imprensa final antes do espectáculo anual de sports entertainment.

Membros da staff de produção da WWE, de headsets, apressam-se por corredores por trás de um palco no Hard Rock Cafe enquanto a mídia começa a encher assentos para a conferência de imprensa oficial da Wrestlemania. Num recanto mais sossegado, Bryan descontrai-se com a Bella prestes a ser sua noiva, Brie. Minutos antes do evento ao vivo começar, o potencial WWE World Heavyweight Champion sente a pressão auto-imposta de falar em frente à mídia nova-iorquina. De acordo com Bryan, ele comprimiu o seu fato no seu quarto de hotel até às 4 da manhã por ser "bastante mau" a passar a ferro, enquanto obcecava sobre dobras e costuras enquanto enfrentava e batalhava com a ansiedade deste discurso público.

"Aquela coisa deixa-me mais nervoso do que lutar frente a setenta mil pessoas," revela Bryan. "Eu estou confortável a lutar. Eu divirto-me a lutar. Colocas-me de spandex em frente a um grupo de pessoas e estou 100% na boa. Colocas-me de fato numa sala com cinquenta pessoas da imprensa e fico muito nervoso."

Ansioso ou não, não o saberias no momento em que Daniel Bryan chega ao pódio. Ele pega no tema dos "sonhos", primeiramente discutido por Triple H, que já falara imediatamente antes do seu barbudo rival. O sonho de Bryan torna-se uma incrível realidade na Wrestlemania 30 e ele está repleto de gratidão perante o WWE Universe - aqueles que o apoiaram até este momento.

"Eu estou aqui por causa das pessoas.", ele diz à plateia na assistência. "Eles não iam deixar as suas vozes ser negadas."

O discurso é apaixonado e há muito "Yes!-ing", apenas para ser eclipsado por uma desconfortável sessão fotográfica (era mais um confronto) com Triple H, Batista e Randy Orton - os três homens que Bryan potencialmente iria pontapear, retorcer e a quem se arremessaria pelas cordas a altas velocidades, dias depois. Fotógrafos conseguem o shot enquanto Bryan e os seus colegas performers partilham uma pose que definitivamente representa a 'Mania deste ano. Ele é o foco. É o seu caminho sob o calor da ribalta.

Bryan afasta-se da plataforma com o alívio de uma declaração bem entregue, apesar de ainda estar a sacudir os sentimentos que restam em relação à sua anterior conferência de imprensa pela segunda maior extravaganza anual da WWE.

"Senti que o SummerSlam foi um falhanço," admite Bryan sobre o seu primeiro discurso num evento de imprensa, meses antes. "Esta, sinto que a fiz bem. É sempre bom fazer algo que te coloca fora da tua zona de conforto e na qual melhoras."

A paragem seguinte de Bryan é Nova Orleães, e a sua Road to Wrestlemania está prestes a trocar do soalho para o céu. Ele, a sua bela donzela e um bando de colegas Superstars saem de Midtown na rota para o Aeroporto La Guardia para uma partida às 15:30 para "NOLA".

Com o check-in feito e confortavelmente à espera, o Superstar barbudo senta-se com o casaco do fato sobre o colo e a Brie imediatamente ao seu lado. O voo promete ser repleto de estrelas; um relance à volta do espaço de espera detecta seis WWE Divas, três gigantes de mais de 200lb (Big Show, Mark Henry e o Great Khali), e até mesmo o homem que detém o prémio que Bryan lutou toda a vida para trajar: o WWE World Heavyweight Champion Randy Orton. De repente a área de espera da linha aérea lembra o balneário de uma arena.

Há algo de único e jovial quanto ao talento congregado no exterior da entrada do avião, seguindo-se um evento tão importante. Uma breve calma antes da tempestade da semana da Wrestlemania para a qual estão prestes a voar. O voo enche-se e Bryan, a sua noiva, e os outros passageiros extraordinários embarcam na sua viagem ao destino. Da próxima vez que colocarem os pés no chão, terão chegado ao lar do Show of Shows.


Uns bons seis meses antes de começar a minha carreira no wrestling profissional, eu estava no secundário, sentado numa aula de Inglês onde íamos todos ler as nossas composições em voz alta. O professor, Dr. Carter, gostava de organizar as nossas secretárias na forma de um U à volta da sala, para não termos que ir para a frente da turma. Levantar, ler a composição, sentar imediatamente - era tudo o que tínhamos que fazer. Eu estava aterrorizado.

Algumas pessoas prosperam quando estão a olhar para elas e alimentam-se da energia de ser colocado sob a ribalta. Eu não. Eu odiava isso. Desde miúdo que era tímido. A personalidade é uma coisa incrível e fascinante. Todos nascemos com certas tendências e predilecções em termos de tipos de coisas que gostamos. Algum é de natureza, outro é de estímulo, mas é um dos muitos mistérios espectaculares da vida. Todos somos únicos.

Ao ver os filhos da minha irmã crescer, maravilho-me com o quão diferentes são um do outro e como ficaram assim. Ela e eu somos igualmente diferentes. Por exemplo, eu não acho que ela tenha tido algum problema com falar em frente a pessoas. Mesmo agora, ela parece fazê-lo com a maior das facilidades. No ensaio do meu casamento, causei-lhe algumas dificuldades. Não porque eu queria, mas mais porque eu não faço grande ideia sobre como qualquer coisa prática funciona, incluindo casamentos e todo o caos que o rodeia. Aprendi um pouco tarde que, aparentemente, um membro da família da noiva e do noivo dão, por norma, as boas-vindas à nova pessoa na família com um discurso e um presente. Eu não fazia ideia!

Então três minutos antes de se levantar para o fazer, eu disse à minha irmã que ela precisava de fazer um discurso a dar as boas-vindas à minha maravilhosa noiva à família. Isto não só era em frente a cerca de trinta pessoas - sendo a maioria gente que ela mal conhecia - mas também em frente a toda uma equipa de câmaras de reality TV, a filmar toda esta brincadeira para o Total Divas do E!... o que significava que podia muito bem ser visto por mais de um milhão de pessoas.

A Billie Sue deu-me um olhar meio exasperado, pediu alguns conselhos ao meu padrinho de casamento, Evan, e depois prosseguiu a falar. Ela fê-lo com a firmeza perfeita e foi engraçada, querida e, à sua própria maneira, elegante. Dizendo simplesmente, acertou-lhe em cheio. Não só acertou em cheio como também estava consciente deste costume dos presentes e deu à minha esposa uma pá de escavar moluscos para lhe dar as boas-vindas à nossa família. Se os papéis estivessem invertidos, eu provavelmente teria vomitado, mesmo após anos de experiência a sair e a dar entrevistas à frente de estranhos, praticamente na minha roupa interior.

Antes desses anos de experiência, eu era ainda pior. Sentado ali na sala em U, na aula de Inglês do liceu, eu fui o quinto a ler a minha composição. Assisti, um por um, cada pessoa que se levantava, falava - uns melhores que outros, mas todos eles decentes - e em seguida se sentavam. A cada vez que alguém acabava, o sentimento de pavor apenas ficava mais forte.

Não é assim tão difícil, continuava eu a dizer a mim mesmo. Atravessa isso, apenas. Pela altura em que o Dr. Carter chamou o meu nome, eu estava cheio de ansiedade, húmido com o suor, e francamente, assustado de morte. Por acaso até comecei bem; atravessei o primeiro parágrafo a correr, sacrificando o efeito máximo da mensagem da minha composição para me despachar mais depressa, achando que era o correcto a fazer, dado como me estava a sentir. Começando o segundo parágrafo, comecei a gaguejar, um problema que tenho tido desde que era um miúdo pequeno.

Tornando-me vivamente consciente dos olhos a olhar para mim, continuei a ler, e a gaguez só ficava cada vez pior. Pausei, tentei começar outra vez, pausei, tentei começar outra vez. Por esta altura já estava a tropeçar em quase todas as palavras - o suor a gotear da minha testa, com força - e estava a tremer. Finalmente parei.

Após uma longa pausa, olhei para o Dr. Carter e timidamente expliquei-lhe que não achava que conseguisse continuar. Não conseguia fazê-lo. Ele deu-me autorização para me sentar de volta no conforto do U e, horrorizado, sentei-me para que o próximo aluno tivesse a sua vez. Nunca acabei de ler a minha composição e fui o único que não conseguiu aguentar até ao fim. Estava incrivelmente envergonhado.

(...)

No próximo capítulo: Concluiremos o segundo capítulo, ainda referente aos problemas de Bryan ao falar em público. Como lidar com isso na sua estreia... no NXT? Não percam!

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