O meu Desabafo: Como assistir a Wrestlemania XXX
'mea culpa.'
Apesar de gostar imenso de participar efetivamente dos processos no blog e na comunidade em geral, postando, lendo, comentando, interagindo, nos últimos meses iniciei uma etapa de estudos em direção ao ano advindo de 2015 e por isso necessito de uma carga horária de dez horas diárias de estudo. Destarte, tenho tido pouco tempo para vir cá. Mesmo assim, nesta semana, decidi escrever – algo que já não faço a algum tempo (pelo menos no que atina a wrestling). Acho que é bastante importante o que vou tecer aqui, sobretudo se entenderem o cerne da minha teoria.
Nunca vi todas as Wrestlemanias. Ainda que acredite que este seja o evento que mais se identifique com o que busco ao ver a modalidade, simplesmente nunca as vi, no pleno de suas vinte e nove edições.
Mas gosto. Gosto tanto que as coleciono, partindo do ano de 2008. E com esta videoteca, pude ao extenso de pouco menos de três anos vê-las uma infinidade de vezes. Costumo, ou melhor, outrora costumava retirar a última semana de Wrestlemania as ver de novo. E de novo. E de novo.
A Wrestlemania é um PPV que em geral não precisa da ocasião para ser vista. E isso não só a mim. Como um bom showbiz, amplia a todos os gostos e consegue atingir a todos tipos. Tem para quem goste de técnica. Tem para quem, como eu, goste do entretenimento. É um conceito amplo para as quatro horas de evento.
E é este o difÃcil ponto que derradeiramente preciso desenvolver.
Algo que percebi - e se me permitem fazer essa breve analogia, nesse inÃcio de ano de estudo, foi que a humanidade se desenvolve em cima dela mesma. Muitos dos conceitos do mundo estão ali, imutáveis e parados, tanto quanto um bilhão de anos atrás. O que impediu, por exemplo, Thomson de descobrir o modelo atômico como Rutherford? Os átomos eram os mesmos nos dois casos, mas talvez a humanidade não estivesse pronta, oxalá.
Quando apresentado, um PPV tem a mesma significância do átomo. Ele existe, e não muda. A variável, neste caso, é como nós, os pseudo-crÃticos (porque como todo mundo tem o direito a opinião, todos somos crÃticos, infelizmente), iremos olhar a este PPV.
Vou tentar explicar melhor, fixando-os na Wrestlemania XXVI. Pela primeira vez que pude assistir a este evento, me senti bastante iludido. Esperava mais. Esperava que fosse diferente. Que os tempos dos combates fossem maiores e que algumas lutas, em especial Edge VS. Chris Jericho e CM Punk VS. Rey Mysterio pudessem estar em melhor nÃvel. E esta é uma visão embaçada. Nos próximos meses, tive de rever o evento outras tantas vezes até passar a gostá-lo. E gostá-lo talvez até pelas caracterÃsticas que me fizeram odiá-lo. Combates sólidos. Sem grande perda de qualidade ao longo das quatro horas. Uma, em geral, consistência.
O que mudou?
O fato de que eu inicialmente via o evento com expectativas em algo que não me foi sequer prometido.
Chegamos a Wrestlemania XXX.
Amanhã. Estamos no sábado. Ainda não aconteceu.
Porém mesmo assim vejo pessoas vibrando com a vitória de Daniel Bryan contra Triple H e sua vindoura conquista ao WWE World Heavyweight Championship. Leio dezenas felizes com a streak de The Undertaker ampliando-se para 22-0. Alguns até já dão como certas as voltas de CM Punk e Sting à luta-livre.
Mas e se o contrário acontecer?
E se Bryan perder em dez segundos para Triple H. Isto prejudicará de alguma forma a integridade do PPV enquanto evento? Será mesmo que uma indisposição como esta arruinará a qualidade de um PPV tão magno?
Muitos podem considerar as adversidades que propus como se todas fossem erradas. Como se, caso alguma delas acontecesse, fosse o fim da WWE. A WWE é um show e como show tem de visar o melhor para o seu produto e a longevidade deste. Tem de prezar por fãs, mas não pelo contentamento deles e sim pelo entretenimento.
Como quando nos deram o melhor combate de todas as Wrestlemanias na edição de número vinte e oito, entre The Rock VS. John Cena, muito poucos foram aqueles que gostaram, talvez guiados pela soberba de achar que sabem o por quê de, na sua visão, Rock ou Cena serem ruins. Para mim, a luta dos dois foi muito equiparada a de Shawn Michaels VS. The Undertaker na Wrestlemania XXV. O público, pelo menos, mostrou as mesmas reações na arena. O que conta no wrestling muitas vezes não é o que está acontecendo, mas como você está vendo.
Você pode ver os socos fingidos. Ou o lutador que busca um estilete para cortar sua testa e simular sangue. Talvez você veja o The Undertaker saindo de baixo do ringue quando as luzes se apagam. Ou, como eu, você pode tentar ao máximo adentrar no espÃrito de literatura do wrestling. A linguagem do wrestling onde você expressa, muitas vezes não por palavras, mas por atos, uma bela poesia. Eu vejo os socos firmes, tentando derrubar o oponente. Eu vejo o sangue verdadeiro. Eu vejo o Deadman e seus poderes sobrenaturais.
Mas isto sou eu.
Será que é idiota dizer que acredito no wrestling?
Ou será que o idiota é quem procura reparar nos finishers repetitivos de Rock VS. Cena, mas que se alegra quando Shawn Michaels aplica três sweet chin musics seguidos?
A Wrestlemania se aproxima e embora o meu tempo seja deveras escasso, quando entrar no mundo do wrestling, estarei ali centrado no que estou a ver. Interpretando aquilo como algo afiadÃssimo, que não dá margens para julgar.
Para mim, a luta-livre é muito mais guiada pelas emoções do que mat wrestling. O que faz algo ser bom é você sentir que o foi.
Infelizmente, existem inúmeros condicionamentos que cercam um indivÃduo e o podem inutilizar. São como formadores de caráter que pegam em uma pessoa e a transformam. Dizem o que devem fazer. O que gostar.
"Odeie John Cena.
Adore Daniel Bryan.
A WWE é ruim.
A TNA é ruim.
Bom mesmo é o wrestling independente!"
E esses condicionamentos afetam o produto. O declÃnio claro de qualidade na luta-livre nas últimas décadas tem, certamente, uma divisão de culpas, em encargo do público e, em outra razão, em fator das empresas gestoras. Também pudera! A internet é hoje em dia uma arma que muda tudo. Campanhas publicitárias precisam mudar. A televisão precisa mudar, em sua constante queda de audiência. Não se sabe mais o que ou a que público fixar o alvo, afinal à s informações são rápidas e com elas muitas mudanças de pensamentos se limitam à alternância.
Eu vejo a Wrestlemania XXX como um ponto de virada. Tanto em termos de produção e desenvolvimento, como em entrega. O card desde ano é inovador e praticamente uma lufada de ar fresco. Temos Daniel Bryan no main event. Temos Bray Wyatt no main event. Temos a perspectiva de várias estrelas a terem margem para mostrar o seu valor em uma interessante battle royal.
Estes conceitos supracitados não deveriam ser novidade. Mas tendo em conta os últimos, no mÃnimo, três anos, o são. Toda novidade motiva, incita, excita, deixa os fãs em polvorosa na curiosidade.
A WWE ao marcar três décadas de seu maior evento abre as janelas para acompanharmos o futuro da empresa. Pouco a pouco, a frente das câmeras, a direção passa de Vince McMahon para Triple H. Pouco a pouco, vão se firmando lutadores que em outros tempos estariam fadados ao fracasso – Daniel Bryan incluÃdo. Pouco a pouco se aprende que o sucesso é simples e é medido em uma fórmula: faz-se novo aquilo que já é velho.
Já vimos uma autoridade do mal.
Já vimos personagens espalhafatosas como a de Bray Wyatt.
Já vimos powerhouses emergindo para o sucesso, como Roman Reigns.
Mas tudo parece novo. São novas pessoas, revivendo personagens antigos. Muitas vezes, até melhores que os originais. Que o diga Heath Ledger e Jack Nicholson.
Durante duzentos e quarenta minutos, iremos entrar em uma experiência. Não é algo falso. É um mundo. Ali estão imagens do que nosso ego alimenta. Muitas vezes, coisas que nós querÃamos ser. Vamos, antes de mais nada, visualizarmos a Wrestlemania XXX a terminar de maneira a ter qualidade. Qualidade não significa terminar como você quer. Vamos sentir a Wrestlemania como um sentimento e participar dela. Vamos aderir ao mundo que nos é apresentado.
Vamos nos colocar no lugar de quem ali está.
A Wrestlemania é o ápice do que para mim é wrestling.
Eu posso extravasar de um mundo frequentemente triste, de um mundo arrogante e corrupto.
É o meu pão e circo.
Aproveitem. Boa Wrestlemania.