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Free Thoughts IX - O factor Americano


A eterna dualidade

O charmoso e educado nobre, cujo sangue que lhe corre nas veias é de um azul profundo, recheado de sofisticação, subtileza, perspicácia e altividade? Ou o eterno e mais puro dos sarrafeiros, completamente desprovido de boas maneiras e de espatafúrdias regras de etiqueta, que apenas deseja providenciar, às temerárias criaturas que se ousam atravessar no seu sinuoso percurso, uma considerável quantidade de nódoas negras, dentes partidos e ossos fracturados? Este eterno e enigmático paradoxo persigui-lo-á para todo o resto da sua efémera existência.

Em certas ocasiões, o protagonista deste texto de hoje, vivenciou o topo, o destaque, a avareza, a ganância e a ribalta. A seus pés tudo teve, desde títulos, a mulheres, a poder e a fama. Todavia, noutros momentos, certamente menos saudosos da sua turbulenta história, esta distinta personalidade foi forçada a lidar com a embriaguez, a violência, a quase total perda das faculdades mentais, a droga, em suma (e para quê tanta pompa para anunciar tão nefasta e evidente circunstância?) a decadência...

Todo este considerável conjunto de palavras caras e pretenciosas, pode parecer, à primeira vista desnecessário, porém garanto-vos que cada sílaba aqui empregue é requerida para caracterizar com toda a clareza, lucidez e objectividade, a peculiar e intrigante personagem que se oculta por trás da imponente figura de Darren Mathews.
A vida deste curioso sujeito, fez-se de misteriosos contrastes, tudo começou na Grã-Bretanha, em recônditos e brumosos tempos. Nesses dias cada vez mais longínquos, a vida era penosa e terrivelmente fatigante.
Infelizmente, nem todos tinham a sorte de possuir uma mera côdea de pão para ingerir de modo a saciarem a malograda fome. Tendo em conta a terrível miséria reinante, a personagem que hoje procuro destacar tinha de lutar com toda a sua característica perserverança, e não afirmo isto no sentido metafórico da palavra, de maneira a conseguir prover para si a tão requerida e urgente alimentação.

A incursão na aventura

Com o ditoso passar dos anos, a fama, a glória e, consequentemente, o proveito pessoal chegaram de modo amistoso e prazenteiro. Afinal de contas ele podia não ser propriamente detentor de uma face particularmente esbelta ou de um corpo extremamente definido por colossais músculos, capaz de deixar em delírio um bando de adolescentes histéricas, contudo tinha algo mais importante: talento.

Atenção! Não estou para aqui a dissertar inutilmente sobre um mísero talento comum. Na realidade estou a abordar um autêntico fenómeno para a subtil e engenhosa arte que é inerente a um combate de wrestling profissional.

Caso se depare com um adversário mais forte fisicamente, Mathews, torna-se num competidor vil, cruel e intenso, capaz de recorrer, sistematicamente, a golpes baixos e a manobras de submissão de modo a proporcionar à plateia uma contenda articulada, plausível, coerente e, sobretudo, credível.
Na também possível hipótese de se deparar com um oponente fisicamente mais fraco, então, Darren, coloca de parte qualquer tipo de compaixão ou piedade humana para assim apenas um temível sentimento permanecer no seu mirrado coração: a vontade de destruir por completo o seu adversário (isto, obviamente, falando no ponto de vista do kayfabe e da representação adjacente ao pro-wrestling).

Esta imaculada e irrepreensível técnica em ringue pode sugerir-nos uma carreira recheada do terno sucesso, porém esse feliz acontecimento não se verificou; não se verifica e, tendo em conta a já avançada idade de Darren que, a pouco e pouco, lhe vai roubando a mobilidade de outrora, acredito devotamente que nunca se verificará. Porquê? Esta é a questão que impera, será por alguma falta de eloquência ou carisma?

As possíveis razões de um falhanço

A meu ver, se há coisa de que Darren Mathews não padece é de falta de carisma, eloquência e sobretudo versatilidade. Quer seja como membro patente da alta condição nobiliárquica ou como um mero salafrário da plebe, este homem, consegue sempre, como já mencionei, proporcionar um óptimo espectáculo.
No meu parecer também com o microfone nas mãos ele é extremamente completo, não por uma grande fogosidade e emotividade, mas sim pela sua arrogância, pelo seu elevado grau de sarcasmo, pelo seu discurso calmo e pausado provido com uma grande dose do arrogante sotaque Britânico e, principalmente, pela sua grande tendência a preconizar situações de um humor altamente sombrio.
Será então a falta de dedicação que o impediu de brilhar num palco maior do que aquele em que este hoje habita? Talvez...infelizmente, o seu comportamento nem sempre foi o mais íntegro. Numa certa ocasião deplorável, este ilustre senhor foi acusado de tentar urinar em cima de uma hospedeira de avião e ainda há bem pouco tempo este foi vitima de uma breve e, como não poderia deixar de ser, polémica suspensão devido ao seu alegado envolvimento com substâncias ílicitas.

Tendo em conta estes agouerentos indicadores, sou forçado a aceder ao facto de que Darren pode muito bem ser um índividuo com um carácter problemático para não dizer mesmo totalmente irascível...
Mas, sinceramente, consideram que um indíviduo, com graves problemas cardíacos diagnosticados, que dignamente e sem lamúrias ou queixumes desnecessários, se dirige para o centro do ringue todas as noites de maneira a nos providenciar um soberbo e coeso combate de wrestling padece de falta de dedicação? A meu ver não.




O factor Americano

O que terá afinal impedido o índividuo aqui focado de alcançar o tão almejado cúmulo da montanha do sublime triunfo? A minha teoria poderá parecer tão rebuscada, que no futuro, pode perfeitamente vir a cair na mais pura das imbecilidades, no entanto vou-me pronunciar sem quaisquer receios.
No meu parecer, Darren Mathews, mais conhecido pelo grande público pelo seu nome de ringue William Regal, nunca alcançou o sucesso por apenas uma simplória, imunda e revoltante razão: o factor Americano.

Quando casualmente, a meio de uma cordial conversa, falamos sobre os habitantes da Terra do tio Sam, dialogamos sobre um povo para o qual chamar uma brigada policial de intervenção S.W.A.T para deter um miserável larápio de malas de senhoras da terceira idade, é algo absolutamente perceptível e usual.
Para além disso, nos Estados Unidos oferece-se uma clara primazia a filmes de acção que envolvam espectaculares cenas de violência gratuita ou mirabolantes efeitos especiais. Em oposição, lá para os outros lados do vasto oceano Atlântico, filmes que puxem um pouco mais pelo intelecto acabam por estar, irrevogavelmente, condenados ao completo e inquestionável fracasso.

Por fim, não posso deixar de glorificar os magnificos e aterradores conhecimentos da população dos EUA acerca de geografia mundial. No fim de contas, para a maioria destes senhores, a Europa fica em África e a Ásia é uma gloriosa nação que se estende pelo colossal continente Chinês.
Bom, antes demais, gostaria de deixar bem claro que, com estes últimos parágrafos, não queria de modo algum ofender nenhum individuo que tenha uma possível ligação de afectividade com a brava nação Americana. Na realidade, com estes meros excertos de texto, pretendia apenas realizar uma pequena e discreta chamada de atenção para o facto de que, a maioria do povo Norte-Americano, costuma apresentar um grau de sensibilidade semelhante ao de um elefante que, pacificamente, calcorrea a savana Africana ou as florestas Indianas.

Regressando a Regal, tendo em conta essa predisposição natural da população dos EUA para colossais e exuberantes espectáculos. Na minha opinião, não é de estranhar que, infelizmente, Darren Mathews tenha sido sempre, ao longo da sua carreira profissional, remetido para um papel pouca importância quer no seio da WCW, quer no seio da WWE.
No término de tudo, este mundo é movido ao malogrado e sujo dinheiro, quer queíramos quer não, a verdade é que os nossos amigos da terra do Tio Sam (principais consumidores do produto oferecido pela companhia de Vince) preferem muito mais ter o, pelo menos para mim, imperceptível privilégio de contemplar uma aberração genética dos moldes de Great Khali, a observar um metódico, organizado e coerente combate de wrestling à moda antiga ou a presenciar uma promo calma e pausada, mas que, no entanto, se encontra altamente embuída de sarcasmo, ironia e humor.
Em suma, os conterrâneos de Vince Mcmahon não são grandes apreciadores da típica sofisticação Britânica de William Regal, situação que acreditem, ou não, me entristece bastante, uma vez que, no meu parecer, este distinto senhor é o altivo possuidor de um engenho e de uma mestria simplesmente invejáveis que lhe poderiam perfeitamente ter concedido uma das mais credenciadas carreiras da história da modalidade.

Para concluir, em definitivo, a crónica de hoje, deixo-vos aqui um breve vídeo dos já longínquos tempos da WCW, em que Regal mostra ao, supostamente, instransponível Bill Goldberg, com quantos paus se faz uma canoa, ou neste caso, como deve decorrer um combate de wrestling baseado no solene e ritmado estilo de luta greco-romana.


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